Muitas pessoas aceitam a situação de massacres de populações indefesas em Gaza e noutras paragens, porque foram condicionadas durante muito tempo a verem certos povos como "inimigos". Porém, as pessoas de qualquer povo estão sobretudo preocupadas com os seus afazeres quotidianos e , salvo tenham sido também sujeitas a campanhas de ódio pelos seus governos, não nutrem antagonismo por outro povo. Na verdade, os inimigos são as elites governantes e as detentoras das maiores riquezas de qualquer país. São elas que instigam os sentimentos de ódio através da média que controlam.
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terça-feira, 20 de novembro de 2018

NÓS, OS PEQUENOS DEUSES (nº3)

[continuação dos artigos nº1nº2, neste blogue] 

A construção de um consenso é fundamental para fazer funcionar a sociedade capitalista; esta possui muitas articulações da economia com o Estado. 
Seria por demais ingénuo supor que existe o Estado, por um lado, com um certo número de funções eletivas e onde as vontades dos cidadãos - supostamente - se traduzem numa determinada política e, por outro, empresas, o mundo da economia, onde empresários e gestores decidem e os empregados executam. 

Na realidade, a imagem, que as pessoas têm da organização política e económica do país e do mundo, é distorcida. Mas, isso é intencional, é resultante da ocultação e deformação constantes. 
É esta ausência de lucidez da generalidade dos cidadãos, justamente, que cria um consenso mínimo e possibilita esta governação (pseudo) democrática. 
A razão desta estratégia é muito fácil de compreender: As classes dominantes, em todo o mundo, sabem que é mais fácil manter uma fachada de democracia, do que exercer sua ditadura sem máscara. 
Porém, fruto das condições da crise que se generaliza, a narrativa do poder está constantemente a entrar em contradição com a sua prática. Tal constitui sinal claro de que o Estado de «democracia liberal» tem os seus dias contados.

A emergência recente de tendências ditas «populistas», sobretudo na Europa, parece-me um último recurso para reconstruir o tal consenso, fundamental para a conservação do Estado e do sistema capitalista. 
As pessoas estão numa situação de ignorância na prática, sobre os mecanismos da política. Embora seja vista como algo de exterior, apercebem-se dos efeitos graves que ela exerce sobre suas vidas. 
Então, imaginam que haverá alguém que os compreende, que será seu porta-voz e que não estará corrompido: uma parte da população adere, entusiasta, a tais movimentos e personagens, mais do que às ideologias ou programas políticos, na esperança ingénua de que sejam pessoas íntegras, incorruptíveis. Os partidos e líderes populistas ascenderão então ao poder.

Mas, chegará um dia em que estas forças populistas, confrontadas com o exercício do poder, terão de atender às pressões do grande capital e  do «Estado profundo» (corpos não eleitos: funcionários, polícias, militares, tribunais), com capacidade de bloqueio, quando não mesmo, de derrube do governo. 
Sujeitos a esta chantagem, os políticos populistas terão de reagir, de uma ou doutra maneira. Mas, em geral, não adotarão medidas extremas para reprimir violentamente a oposição no interior da máquina estatal. 
Vão preferir compor com elas; isso significa que certas medidas prometidas não serão tomadas, que haverá uma redefinição discreta de objetivos, tentando salvar a face com explicações sobre a conjuntura económica, etc.
Dececionados com o desempenho daqueles que ingenuamente tomaram como seus salvadores, as pessoas não equacionarão o facto de que a crise é sistémica e global, pelo que não haverá um qualquer retorno à «democracia pura» e ao «capitalismo puro» que, aliás, nunca existiram. 

Com o agravamento da crise económica, com o desespero da classe média pauperizada e a rutura completa do contrato social, que permitia manter os economicamente mais fragilizados fora das situações extremas de pobreza, criam-se condições para uma mudança radical. 
Porém, esta mudança pode bem ser em direção a um totalitarismo. Poderá ser um totalitarismo, com características próprias, mas igual - na essência - aos outros totalitarismos, historicamente conhecidos. 

Não apenas é realista este cenário, como está a acontecer diante dos nossos olhos: Basta ver a deriva autoritária de vários regimes, ditos de democracia liberal. Ocorre, não em países periféricos, mas em praticamente todo o chamado «Ocidente» (América do Norte, Europa, Japão, Austrália...). 
Somos testemunhos, em muitos países, de um deslizar para um «fascismo cinzento», ou seja, um autoritarismo sem clara e definida viragem do discurso ideológico, guardando aparências de governo e instituições formais, mas onde o verdadeiro poder está nas mãos da oligarquia que controla tudo: meios de produção,  média subserviente, aparelho de Estado, partidos políticos.

Penso que muitas pessoas estão completamente desprevenidas e, portanto, incapazes de se defenderem.  Para isso contribui a viragem das forças de esquerda, parlamentares ou não-parlamentares, para posições reformistas e de cogestão do capitalismo e do Estado. Nesta deriva, desde os anos oitenta do século passado, elas evoluíram de reivindicações de classe e de lutas com o objetivo explícito da mudança em direção ao socialismo, para reivindicações hedonistas, identitárias e que não colocam sequer a hipótese de mudança geral da sociedade, seja ela pacífica ou não.

sexta-feira, 4 de maio de 2018

GLOBALISMO NÃO É AQUILO QUE AS PESSOAS PENSAM!

                   


A chamada nova ordem mundial é um projecto totalitário que se esconde por detrás de uma propaganda habilidosa. O truque dele se mascarar com uma capa de «progressismo» e doutros valores normalmente associados com a «esquerda», tem como efeito manter distraídos ou fazer baixar a guarda, aqueles mesmos que poderiam ser seus inimigos. 
A esquerda «liberal» está possuída desde há muito tempo de um «complexo de Estocolmo» (um complexo que leva as vítimas a desculpar e mesmo fazer causa comum com os seus raptores, ocorreu num assalto com tomada de reféns em Estocolmo, daí o nome). 
Brandon Smith é conotado com a direita patriótica, anti-globalista dos EUA. Não é pela sua conotação que devemos avaliar o que escreve no excelente artigo abaixo

«How The Globalism Con Game Leads To A 'New World Order'»

Os argumentos valem por si mesmos e pela adequação à realidade. 
O que deveria envergonhar a esquerda anti-autoritária é que nela esteja ausente este tipo de denúncia, nestes termos ou em termos semelhantes. Sobretudo, o que faz falta, a meu ver, é que ela tire as conclusões lógicas da observação da realidade e se retracte, faça uma auto-crítica ou no mínimo aprenda a comportar-se de modo diferente, mais coerente com seus princípios. 
Mas, esta esquerda anti-autoritária que eu  refiro é tragicamente pequena, muito fraccionada, incapaz de se assumir sem preconceitos ideológicos em relação a «esquerdas» totalitárias diversas, de que muitos deles provêem.

segunda-feira, 12 de junho de 2017

ELEIÇÕES EM FRANÇA - SUÍCIDIO DA ESQUERDA

                          Foto de Pepe Escobar.


O penoso e previsível resultado da primeira volta das legislativas francesas, é que Macron vai dispor de uma maioria absoluta (mas numa eleição onde mais de um eleitor em dois se absteve!) para avançar com decretos que anularão aspetos importantes do direito do trabalho, tornando mais difícil a defesa dos interesses dos trabalhadores. 
O constante deslizar das forças de esquerda (reformista) para satisfazer o capital conduz sempre à derrota. Para agravar o cenário, a esquerda francesa recebe a maior derrota de que há memória, mas ainda assim os seus chefes e chefinhos continuam -hoje mesmo - a luta de galos... 




Um exemplo...a não seguir!


Trata-se de um suicídio lento, um suicídio com participação de vários comparsas, visto que prevaleceu durante decénios: a guerrinha de influências no aparelho de Estado, a negociata de lugares e votos aquando das eleições legislativas, a manutenção do sistema eleitoral da Vª república, quando convinha ao PS francês, para dominar a esquerda e impor a sua hegemonia, etc... Tudo isto, ainda por cima e sobretudo, com o abandono de uma política de classe, que deveria ser aquilo que caracteriza a esquerda enquanto tal e para além de todos os seus particularismos ideológicos, estratégicos ou tácticos... na viragem do século a «esquerda» deixou de assumir-se defensora dos trabalhadores, para ser a esquerda das «causas fracturantes», a esquerda «humanitária» (e das guerras «humanitárias», não esqueçamos...). Agora, recolhe o resultado desse longo suicídio de decénios... 

Espero, ao menos, que as pessoas sinceras tenham a coragem de ver os erros, as ilusões, de se auto-criticarem (mas fraternalmente, sem intuitos de exclusão) e aprendam...

segunda-feira, 8 de maio de 2017

UM NÃO-MANIFESTO PELO PRESENTE





No presente, existe uma profusão de ruído que impede muita gente de ver o que importa mais. São impedidos, pela gritaria propagandística, de se concentrarem na realidade. Estamos sempre a ser atordoados por ribombantes declarações, brilhantes manifestos, doctíssimas teses...
Por isso mesmo, eu vou apenas dizer o que sinto que este momento da história da Europa e do Mundo parece representar. Vou dizê-lo sem qualquer ilusão de ser detentor da verdade ou de especial lucidez.
Não me importo de repetir o que outros disseram, desde que seja o meu pensamento também; não me importo que outros vão buscar aos meus ditos ou escritos, não tenho «copyright» em relação aos meus textos de análise. Se os meus textos inspiram o pensamento doutros por afinidade ou por oposição, tanto melhor!

A desmontagem do chamado «Estado Social» ou «Wellfare State» está - a partir de agora - na sua etapa terminal.
Com a eleição de Macron, o continente europeu vai alinhar-se cada vez mais com os «valores» do ultra-liberalismo, permitindo que o nível de exploração e de obtenção de lucros atinja valores que satisfaçam os grandes capitalistas. Mas estes nunca estarão contentes, pois o próprio mecanismo da globalização implica a liberdade total de circulação dos capitais e os investimentos continuarão a procurar paragens onde as margens de lucro sejam mais elevadas que as europeias.
Mesmo quando a classe trabalhadora europeia está de rastos, como agora, ela tem um salário médio 5 a 10 vezes superior ao dos países produtores emergentes...

No contexto francês, o efeito paradoxal da vitória de Macron é de uma dupla «vitória de Pirro».
A maioria da esquerda reformista exangue pode clamar vitória, porque o «seu» candidato bateu a candidata da extrema-direita. Mas esta vitória para tal esquerda é o mesmo que um harakiri, o mesmo que tecer a corda que a vai enforcar...
No lado da classe possidente, os muito grandes capitalistas, o 0,01%, TAMBÉM é uma vitória de Pirro, pois nada será resolvido, as crises sobrepostas de decadência da economia, do tecido produtivo, das instituições e da sociedade serão cada vez mais patéticas, criando o «meio de cultura» ideal para rupturas.

O clima será favorável a tentações de regimes ultra-conservadores, de extrema-direita e muito menos favorável para tentações vanguardistas de extrema-esquerda.
Porém, a existirem, estas últimas não virão de Melenchon ou equivalentes, pois o fenómeno Mélenchon, goste-se ou não, é um anacronismo. É uma desesperada tentativa de sobrevivência das esquerdas herdeiras do «Programme Comum» da era Marchais-Miterrand... A esquerda institucional tem sempre uma batalha de atraso sobre a realidade.

A transformação está do lado das pessoas - principalmente jovens - que recusam envolver-se numa lógica partidária mas que, no entanto, não se colocam numa postura de marginalidade egoística. Participam em projectos ao nível local ou global, em redes de afinidade, em conexão múltipla e aberta.
Este tipo de relacionamento vai forjando, pela prática, a sua visão da sociedade. Pelo método, é anarquista na sua essência, mesmo que não tenha uma clara orientação ideológica, teórica, neste campo. Será este o caminho que traz maior fecundidade no longo prazo, não por uma superioridade qualquer ideológica destas experiências, com estes colectivos. Antes, por uma colagem maior ao real.
A esquerda que cola ao real é a que sabe que o parlamentarismo é uma ilusão, que a pugna eleitoral é um terreno nada favorável para fazer prevalecer as posições dos trabalhadores, que existem muitos domínios da vida social que escapam ao controlo do grande capital e dos seus sequazes, sendo portanto possível uma alternativa real.

A luta não violenta continua ... construindo calmamente uma nova sociedade, na concha esvaziada da anterior. Uma maturação orgânica é o que eu vejo como caminho possível e fecundo. A insurreição, as barricadas, mesmo a greve geral, são instrumentos caducos, porque perderam sua eficácia, sua acuidade...
Uma «greve geral» actual - com eficácia - é desinvestir da sociedade da exploração, do consumo, do espectáculo... criando comunidades autónomas, solidárias, plurais, capazes de banhar e difundir a cultura nova, horizontalmente.
Já estão presentes em muitos sítios, nos grandes centros urbanos, nos subúrbios, no campo...Têm demonstrado, em vários casos, serem melhores que a pseudo-cultura da media, das televisões, das escolas...

Por isto tudo, há que ter esperança.

quarta-feira, 3 de maio de 2017

ESQUERDAS EUROPEIAS: NO PONTO DE VIRAGEM?

A esquerda francesa e europeia deixou-se encurralar. Isto passou-se ao longo de um processo de decénios, mas os seus resultados nunca foram tão visíveis como agora, na véspera da segunda volta das eleições presidenciais em França.
Na era da globalização capitalista, com o triunfo do «pensamento único», a esquerda tornou-se largamente neoliberal, na sua essência. 
A que não o fez, não soube, lamentavelmente, renovar a sua perspectiva do marxismo, de maneira a poder olhar de frente para os monstruosos erros do passado bolchevique e aprender com eles. 
A esquerda, neo-liberal ou autoriária, teve o poder de transformar a realidade em várias ocasiões, antes e depois do virar do milénio. Tristemente, em vez disso, ela virou a cara e assobiou... no melhor dos casos. 
Na política, substitui o critério de classe, como eixo central da avaliação de uma dada conjectura, pela ideologia dos direitos humanos, passando a ser uma esquerda das «causas fracturantes», uma «esquerda sentimental», mas certamente não a força exterior ao complexo do pensamento único, dos impérios mediáticos, etc. Deixou de ser a esquerda que assustaria o capital e seus representantes. Então, ainda bem que essa esquerda, a «esquerda do capital», se está a esfacelar e a desaparecer na irrelevância... pouco me importam os rótulos que ela a si própria se dá. 
O que me importa é a tarefa imediata e urgente, de classe, de barrar o caminho a dois monstros:
- o do neoliberalismo e da mundialização/globalização (cujo significado exacto e último é o governo mundial, ou seja, um fascismo mundializado) 
- o da direita retrógada, reaccionária, identitária, mas que apela a um número muito grande de pessoas (fartas de serem enganadas por políticas neoliberais de esquerda e de direita).

Face à enormidade das tarefas, parece não haver saída, de tão fortes e poderosas que são as forças opositoras às nossas.
A saída, porém, está presente, é real, nem é particularmente nova nos seus princípios: ela chama-se esquerda libertária ou socialismo libertário. 
Nas suas diversas formulações, pode encontrar-se o necessário para reconstruir uma esquerda de classe, com um projecto libertário e socialista, no sentido amplo destas expressões. 
Refiro um «projecto libertário e socialista» no sentido civilizacional, no de fazer sentir que o poder, o Estado, a autoridade, são palavras que recobrem uma grande dose de violência; que os meios da humanidade em suprir às suas necessidades e confortos, sem recorrer à exploração, existem e não são «utopias». 
Mas tal implica que as pessoas percam as vendas/ lentes deformantes, que elas colocaram a si próprias. Sei que, na medida em que elas verdadeiramente o desejem, o conseguirão: outras já o fizeram no passado e no presente. 
O problema central é dar expressão política a uma esquerda libertária, anti-capitalista, classista... e não interessa repetir os erros, imitar acriticamente a esquerda estalinista ou neoliberal; obviamente, isso seria suicidário. 

Mas é necessário inventar o caminho, pois os meios devem ser adequados aos fins... Não será com violência e intolerância que se fará a revolução anti-autoritária...

sexta-feira, 17 de março de 2017

EXISTIRÁ UM NACIONALISMO DE ESQUERDA?


Muitas pessoas estão polarizadas numa fractura ideológica «esquerda-direita». No entanto, esta fractura é mais aparente do que real.
O facto da globalização capitalista hegemonizar a cultura de massas, permite que as referências de pessoas «de esquerda» e de «direita», neste momento, sejam essencialmente as mesmas.
Nomeadamente, isto permite que – com facilidade – as pessoas troquem de postura, pelo simples facto de que, tanto a sua postura prévia como a nova, são impulsionadas pelo desejo de consumir, pelo desejo de afirmação, pelo efeito que têm sobre elas determinadas figuras mediáticas «não políticas» (estrelas de cinema, modelos, actores, desportistas, apresentadores de televisão, etc…).

A ignorância política atingiu um extremo. A política, no sentido elevado, no seu aspecto fundamental de «gestão da coisa pública», está completamente arredada dos media, que apenas se especializaram em escândalos, em fazerem campanhas de imagem contra os que designam como «grandes demónios» (Putin e Trump…de momento). 
Neste quadro, é previsível que o meu inquirir frio e sereno sobre a noção de «nação» levante um certo número de vozes indignadas, sobretudo de pessoas que se apressam a fazer juízos depois de leituras enviesadas e apressadas das opiniões alheias. 
Mas, adiante….

Primeiro que tudo, devemos fixar, duma vez por todas, que o conceito de nação é sobretudo um conceito surgido no fragor da Revolução Francesa, com os mais radicais, na época, a apelarem ao povo em defesa da nação, identificada não apenas como território, como vista como o conjunto dos cidadãos em armas, imbuídos dos ideais revolucionários. 
Esta visão não é muito diferente da que a propaganda bolchevique se esmerou em transmitir, logo após o triunfo da revolução de 1917, para mobilizar vontades e combater os exércitos invasores de vários países europeus, coligados com os russos «brancos». De novo, o mesmo patriotismo ou nacionalismo foi invocado para mobilizar o povo soviético contra a invasão nazi. 
Idem em relação a Mao, durante a Longa Marcha e após a proclamação da RP da China: os «nacionalistas» eram invariavelmente descritos, não como autênticos nacionalistas, mas como lacaios do imperialismo.
Será necessário evocar as diversas guerras de guerrilha e de libertação nacional… Em que, tanto o braço político como o militar dos movimentos de libertação tinham como pressuposto básico um «nacionalismo revolucionário»? 
De facto, estes movimentos foram perdendo os seus atributos revolucionários, infelizmente, uma vez que tomaram conta do poder. Quanto ao «nacionalismo», nem sequer isso se pode considerar que permaneceu, após o seu triunfo. Com efeito, múltiplos foram aqueles que - uma vez no poder-  literalmente venderam os recursos do seu país à potência que mais vantagens lhes oferecia … a eles, não ao povo.
O fiasco estrondoso da «revolução bolivariana» na Venezuela, não nos deveria fazer esquecer que o regime instaurado por Hugo Chavez se apoia tanto numa versão autoritária de «socialismo», como num sentimento de nacionalismo difuso, presente  - não só na Venezuela - como em toda a América do Sul. Este nacionalismo popular exprime-se nas classes mais humildes e encontra-se muito associado com reivindicações sociais, naturalmente.

Classificar o nacionalismo como sendo de «direita» ou de «esquerda», não faz sentido.

Qualquer espécie animal é formada por populações e estas populações ocupam territórios distintos. Estes territórios são muito mais fluídos, em geral, no caso de animais não humanos. No início da humanidade seria assim, também. Não esqueçamos que os humanos foram nómadas, provavelmente assim viveram,  como Homo sapiens, durante duas centenas de milénios (idade provável da espécie humana moderna: aproximadamente 200 mil anos).

Evidentemente, o aparecimento de Estado veio consolidar determinadas fronteiras, sendo esse território considerado propriedade ou posse, directa ou indirecta, do monarca que dominava a região.
A transformação dos Estados, de monarquias em repúblicas, que aconteceu durante o século XIX e XX, principalmente, não conduziu a um atenuar desse nacionalismo, desse apego ao território… Pelo contrário, todos os poderes, fossem eles absolutistas, democráticos, liberais, socialistas ou fascistas… sempre apelaram para esse sentimento e sempre o exaltaram. 
Para todos eles foi considerado razão «nobre» para verter o seu sangue - isto é - o sangue dos súbditos, dos pobres, dos proletários… 
A carnificina da 1ª Guerra mundial e todas as que se seguiram são factos insofismáveis, que mostram como os poderes recorrem ao argumento da pátria e do nacionalismo, para justificar a guerra.

Um pensamento de esquerda realista e tendo em conta os factos da antropologia, deveria aceitar pacificamente que o ser humano é territorial. Mas há muitas maneiras de uma espécie ser territorial, como podemos ver, em múltiplos exemplos, no mundo animal.
A grande plasticidade das culturas humanas, que as distingue de todas as outras espécies animais, permite que as populações inventem modos de vida, uma nova organização social, nova cultura, de acordo com o ecossistema particular em que se encontram, mas sobretudo, de acordo com uma série de parâmetros sócio culturais, históricos.

A incapacidade de pensar a «nação», o território, faz com que o discurso sobre o mesmo seja completamente açambarcado pela extrema-direita. Esta, «tem as mãos livres» para inocular, numa boa parte das pessoas, despolitizadas ou desiludidas, a versão mais retrógrada do conceito de «pátria», de «nação», o qual tem um inegável apelo junto das pessoas, devido ao seu instinto territorial, profundamente ancorado na história biológica, evolutiva.

A esquerda inteligente deve recusar que uma esquerda estúpida continuamente lance anátemas sobre quaisquer pessoas que tentam debater sobre o que é a nação, a pátria, se existe ou não nacionalismo revolucionário e se sim o que é, afinal.
Esta esquerda estúpida (porém, maioritária nalguns meios) é o exemplo acabado de autoritarismo e cobardia … pois não se bate no plano das ideias com outras pessoas, fazendo efectivo uso da liberdade de opinião; antes quer, a todo custo, calar a voz dos que ela considera serem inimigos… nestes últimos tempos, o «politicamente correcto» revelou-se claramente como o que sempre foi implicitamente: a expressão de desespero de classes médias em perda de estatuto, que pensam recuperar esse estatuto arvorando-se em detentores da verdade, do saber, etc. Bastante triste, na verdade. Mas isto não tem que ver com uma outra esquerda, que sempre se colocou ao lado e no seio dos humildes, dos espoliados, dos oprimidos.

Negar a existência fundamental da nação, da pátria, não tem que ver com uma esquerda classista e, portanto, esta não deve ter complexos em desenvolver um pensamento, uma política e uma acção dirigidas ao território e à nacionalidade. 
Pelo contrário; esta esquerda classista tem ainda maior responsabilidade em fazer uma escolha clara e responsável, clarificando conceitos e derivando daí as escolhas. Ou seja, tem de fazer uma política própria, não se deve deixar arrastar por modismos.
  





sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017

CHAVES PARA COMPREENDER A ESQUERDA CONTEMPORÂNEA

Como é que a esquerda Europeia Ocidental e Norte-Americana se transformou de uma força muito poderosa, capaz de influenciar as políticas dos respectivos estados, num patético e heterogéneo desfile de vaidades e poses, sem qualquer efeito, a não ser a sua auto-deslegitimação?

A esquerda, a partir da viragem do século XIX para o século XX, passou a ter - em vários países dominantes - uma importante representação parlamentar. 
Foi a partir dessa investida nos parlamentos, que ela se pensou como agente de transformação social, política, económica e institucional a partir de cima, já não a  partir de baixo, pela revolução social, a última das revoluções. 
Esta transformação paulatina, progressiva, segundo os ideólogos da esquerda reformista, seria a melhor solução, evitando as destruições e os rios de sangue (muito do qual, de proletários), que, inevitavelmente, acompanhariam uma revolução violenta. 
O oportunismo dos reformistas cedo se fez sentir, com uma política de jogos tácticos, ora distanciando-se do poder apodado de conservador e incentivando movimentos reivindicativos, ora fazendo causa comum com esse mesmo poder, para obter benesses, partilha de lugares no aparelho de Estado e outras vantagens. 
O objectivo máximo, mesmo permanecendo nos textos dos programas partidários, tinha deixado de ser a abolição do regime do capital, mas passou a ser conquistar o poder e retribuir com lugares de prestígio, poder e dinheiro, as figuras do topo destes partidos.
No entanto, pela mesma altura, entre 1900 e 1914, o movimento operário cresceu em força, tendo-se organizado em sindicatos, os quais proclamavam a abolição da sociedade dividida em classes como objectivo último (Congresso de Amiens da CGT francesa) e definiam um campo, a luta de classes, como sendo unificador do proletariado, independentemente das preferências ideológicas, filosóficas, políticas. 
Assim, tornou-se possível construir um sindicalismo revolucionário, o qual tinha como instrumento supremo a greve geral revolucionária, como via para a transformação numa sociedade regida pelos princípios socialistas ou comunistas (quase sinónimos, nesta época). 
O grande recuo operou-se com o eclodir da 1ª Guerra Mundial. Nesta, os grupos parlamentares socialistas das várias potências, aceitaram votar a favor da mobilização geral e apoiar o «esforço de guerra», numa reviravolta completa e clara traição às suas posições da véspera e aos proclamados princípios. 
Ao sair da tragédia da 1ª guerra mundial, a classe trabalhadora dos países industrialmente avançados, sentindo-se traída pelos mesmos partidos socialistas reformistas que se arvoravam em condutores das massas, adoptou uma postura radical, mas maioritariamente autoritária e não libertária. 
Assim, floresceram os partidos epígonos dos bolcheviques da Rússia. Este partido tomou o poder na Rússia devido a condições muito específicas: nomeadamente, o estado de desespero dos proletários deste país face a uma guerra sem fim à vista. 
O partido bolchevique, uma dissidência do partido socialdemocrata, tinha sido influenciado pelas teorias de Blanqui, revolucionário francês que preconizava que um pequeno grupo decidido devia se organizar clandestinamente e derrubar o governo pelas armas, instalando uma ditadura «proletária». 
Foi isto exactamente que Lenine e seus seguidores fizeram na revolução de Outubro de 1917. 
No final da 1ª guerra mundial, eclodiram em Budapeste, Munique e Berlim, movimentos insurreccionais. Mas foram logo esmagados violentamente pelas forças da burguesia, mostrando aos seguidores de Lenine e Trotsky que uma revolução mundial não era para amanhã.
A onda de simpatia pela revolução de Outubro de 1917 permitiu, porém, construir a Internacional Comunista, havendo - a partir daí - uma apropriação do termo «comunista» pela tendência mais autoritária e golpista dentro do movimento operário internacional. 
O comunismo ou socialismo (não autoritários) tinham sido, desde a 1ª Internacional, o fundamento ideológico/teórico de organizações que se agrupavam sob a bandeira vermelha. Os libertários ou anarquistas que nela participavam, nos meados do século XIX, designavam-se socialistas ou comunistas libertários.
   
Seria muito longo e inadequado para um artigo de blog, descrever todo o trajecto das diversas forças de esquerda, quer das ditas reformistas, quer das revolucionárias, em todo o século vinte. 
Encorajo o leitor a fazê-lo por si próprio, para poder compreender o mundo de hoje, nestes cem anos passados sobre a Revolução de Outubro de 1917. O ideal será recorrer a uma grande diversidade de fontes de informação; destas, deverá preferir os documentos originais às interpretações escritas pelos autores, cujo ponto de vista influenciará a maneira como descrevem acontecimentos históricos, mesmo no melhor dos casos.

O que queria enfatizar é a relação umbilical da esquerda com a classe trabalhadora, com o operariado, com o sindicalismo de classe, na primeira metade do século XX. Isto é aplicável, quer às componentes autoritárias ou libertárias, quer defensoras de práticas reformistas ou revolucionárias. 

A partir do fim dos anos 60, o elo de classe começou a enfraquecer, até se tornar meramente histórico. 
Passou-se progressivamente para um tipo de política estruturada em torno de «causas» - ou seja - de questões de identidade. 
Estas questões não estavam ausentes dos debates e lutas da primeira metade do século XX; porém, eram vistas de maneira diferente. Consideravam-se relacionadas com o exercício do poder pela classe dominante, o qual impunha desigualdades, discriminações, para melhor exercer o seu domínio. Estas, iriam ser abolidas aquando do triunfo da sociedade igualitária, sem exploradores. 

Porém, a partir dos final dos anos 60 e sobretudo, nas últimas décadas do século XX, esta visão foi posta de lado, tendo sido aceite - no seio do povo de esquerda - que as pessoas oprimidas tinham o direito/dever de se auto-organizarem em grupos de afinidade para combater determinados aspectos das sociedades hierárquicas, opressivas. 
Quanto ao chamado «socialismo real», no bloco soviético/países de Leste (e mesmo descontando a monstruosidade do período estalinista), para a maioria da esquerda do Ocidente era visível que não teria proporcionado, nesses países, uma real evolução das mentalidades. 
Os regimes que se auto-definiam como «socialistas» não o eram na verdade, eram regimes com uma estrutura burocrática, capitalista de Estado. A não identificação das classes trabalhadoras desses países com o poder vigente, é que foi o factor decisivo da sua queda, embora haja provas de que houve, por parte de serviços e agências do Ocidente, um apoio ativo a movimentos de contestação e de dissidência, como não seria de espantar, no contexto da Guerra Fria.

As pessoas no Ocidente - dos anos 1990 até recentemente - têm vindo a esquecer o valor da ação coletiva, de fazer causa comum, tendo predominado frequentemente uma postura de extremo individualismo. 
O individualismo, em si mesmo, não será mau, na medida em que permite um distanciamento crítico da pessoa e portanto, embora não conduza a um comprometimento com lutas coletivas, pode - ainda assim - trazer um certo contributo crítico. 
Porém, o individualismo egoísta ou egolâtrico, esse não traz nada, pois se conforma com as coisas tal como elas são, conforma-se e satisfaz-se num hedonismo (satisfação imediata, sendo a única finalidade de viver), que lhe é apresentado como a coisa mais original, mas rebelde, etc, que possa o indíviduo atomizado realizar. 
O carneirismo não é incompatível com este individualismo. Pelo contrário, é o resultado da sociedade massificada por um lado, mas atomizada, por outro. 

O conceito de esquerda tem evoluído ao longo das épocas históricas, mas hoje em dia significa - em geral - uma tendência que preconiza a saída do capitalismo. O que difere entre correntes e faz com que - na prática - seja muito difícil de as conciliar é a enorme diversidade de pontos de vista sobre os caminhos para se alcançar a nova sociedade, não-capitalista. 

Estou convencido que a automatação cada vez mais intensa, mesmo em países de mão-de-obra barata como a India ou a China, vai obrigar a re-equacionar definitivamente os conceitos.
Tipicamente, os proletários são vistos somente como aqueles que são mantidos à margem e não podem usufruir dos efeitos das transformações tecnológicas, cujo trabalho só lhes permite sobreviver. 
Porém, uma enorme massa vive e trabalha em condições de servidão, alternando períodos de trabalho e de desemprego, com impossibilidade de sair desse regime... O «precariato», constitui cerca de 80% dos jovens de 30 ou menos anos, nos países do Ocidente. 
Estes servos têm, frequentemente, formação académica mais elevada do que a necessária para o trabalho que executam. Tipicamente, possuem um curso superior, quando apenas uma formação básica seria largamente suficiente para a natureza das tarefas que desempenham. 
Talvez seja esta a maior contradição, que tornará inevitável  uma explosão social, à qual as velhas receitas não se aplicam, obrigando por isso a uma mudança profunda. A contradição entre o saber e o fazer é uma contradição social, mas tem sido ocultada pela ideologia do «sucesso» e da «meritocracia». Segundo esta, as pessoas são as únicas responsáveis de seus sucessos, como dos seus fracassos. 

Tal como existe, a sociedade atual - seja nos países ditos «desenvolvidos», seja nos países em «desenvolvimento» - está a caminhar para um novo feudalismo. 
Este extremar da distribuição da riqueza e as assimetrias de poder que gera, fazem com que os muito ricos dominem, não só como detentores do capital, também graças a dispositivos tecnológicos que lhes permitem um controlo das mentes, que envolvem o sistema educativo, os mass media, a cultura de massas ... 
Porém, os excluídos desse poder material, podem aceder ao conhecimento e isso é uma base para outro poder, o qual poderá desembocar na formação de comunas livres, ou algo deste género, como tem sido repetidamente tentado, em pequena escala.

A transformação social vai acontecer, independentemente dos esquemas ideológicos de uns ou de outros. Pode-se ter um desejo de que esta transformação traga maior emancipação individual e colectiva, maior igualdade de oportunidades, maior fraternidade. Mas pode muito bem ser substancialmente diferente do que se deseja. Nada está escrito, nada está determinado.
Constato que a teoria, principalmente em relação aos movimentos sociais, só pode ser construída a posteriori, depois das transformações terem ocorrido. Porém, os ideólogos têm a pretensão de «saber qual o futuro e como se vai lá chegar»! 
Esta visão da sociedade terá de mudar. Esperemos que não haja tanta ingenuidade em relação aos «salvadores do mundo». 


terça-feira, 31 de janeiro de 2017

QUANDO A ESQUERDA É PARTE DO PROBLEMA


O QUE CARACTERIZA A EVOLUÇÃO/CAPITULAÇÃO DA ESQUERDA NESTE SÉCULO É A SUA TOTAL RENDIÇÃO À POLÍTICA IDENTITÁRIA E TER DESERTADO O TERRENO DAS LUTAS DE CLASSE.

ABAIXO, PONTOS DE VISTA CONVERGENTES SOBRE A ESQUERDA PELOS AUTORES  Iman Safi e Paul Craig Roberts

«To say that the Western “left” merged into the establishment would be an understatement. If anything, it underpinned the establishment’s position by setting itself up as one of its corner stones. In more ways than one, the “left” in the West did not only merge into the so-called “Imperial Empire” it was meant stand up against, but also became its face and organ. It was no longer a force for the kind of change that was initially promised and expected, and thus has inadvertently lost its stature and very definition of being “left”.» (Iman Safi)


«The liberal/progressive/left is demonstrating a mindless hatred of the American people and the President that the people chose. This mindless hatred can achieve nothing but the discrediting of an alternative voice and the opening of the future to the least attractive elements of the right-wing.» (Paul Craig Roberts)



A cegueira da «esquerda» em relação aos crimes de guerra e contra a humanidade de Obama e seus antecessores, o embarcar em campanhas de ódio e de deslegitimação do novo presidente dos EUA; no caso da Europa, a intervenção criminosa na guerra imperialista de agressão contra a Líbia e o apoio a terroristas apelidados de «rebeldes» na Síria... depois vertendo lágrimas de crocodilo sobre os refugiados. 
A esquerda está completamente desautorizada. Não tem nenhuma legitimidade moral (aqui, ou do outro lado do Atlântico) para falar de defesa dos direitos humanos. 
A sua política é vesga; o seu pacifismo é vesgo; a sua preocupação humanitária é vesga. 
A esquerda está a entregar o «palco político» à direita, conservadora, xenófoba, nalguns casos fascizante, porque as pessoas encontram nesta mais bom senso e uma defesa dos seus interesses. 
A política identitária substituiu-se completamente à política de classe. A direita não se tornou mais inteligente e mais populista; a esquerda é que se tornou mais estúpida e mais elitista.






sábado, 28 de janeiro de 2017

UMA «REVOLUÇÃO COLORIDA» ESTÁ EM CURSO, DESTA VEZ NOS EUA?

A violenta e incessante campanha, em todas as frentes, para deslegitimar Donald Trump, como 45º presidente dos EUA, está em curso, desde o momento da sua eleição e continua agora, para além da sua tomada de posse.
Como de costume, nas «revoluções coloridas» anteriores, as massas são manipuladas pelas ONGs ao serviço de interesses ocultos, financiadas discretamente por fundações Soros e outras. A própria CIA tem uma postura sediciosa, ao tomar a iniciativa de investigar pessoas altamente colocadas, da confiança do actual presidente. 
Não ficaria surpreendido se Donald Trump fosse deposto por um golpe palaciano. Não sei, de facto, qual o processo que irão utilizar, irão recorrer a todos os artifícios para fazer valer um «impeachment». 
Lamento o que acontece. Não por ter alguma simpatia pela política ou pela personagem de Trump. Mas porque sei que os neo-cons - instalados no «Estado profundo»-  estão interessados em verem-se livres de Trump para levar a cabo a sua política criminosa, belicista, e que irá fatalmente desembocar numa guerra mundial.
Esta realidade é obscurecida pela enorme onda de propaganda que serve sobretudo para neutralizar as massas de «esquerda». Elas estão a ser usadas como massa de manobra para alcançar objectivos dos quais não têm a mínima consciência
Foi assim, aliás, que muitos ucranianos fartos da corrupção no seu país, foram utilizados como massa de manobra para o golpe levado a cabo por neo-fascistas, em Kiev, com o apoio ativo de serviços secretos ocidentais.
A inteligência é não nos deixarmos embarcar por campanhas políticas de uns e de outros. 
As facções políticas conseguem fazer os seus golpes e manobras sujas, graças à inconsciência e impreparação de muitas pessoas generosas, mas iludidas, incapazes de ver o que se passa por detrás dos panos de cena.

Oxalá eu me engane, mas tenho tido lucidez bastante para prever, em textos anteriores a 2008, a ascenção da extrema-direita e a desagração das esquerdas, transformadas em meros peões dos grandes interesses corporativos. 
Também tive a lucidez para ver que a «Obama-mania»,  desde a sua primeira eleição, era completamente vazia de fundamento, sendo o «reinado» do anterior presidente o mais anti-paz no mundo que jamais existiu, nem sequer sendo favorável aos pobres do seu país, que ficaram em desemprego ou emprego precário, enquanto o seu mandato foi uma benesse para os muito ricos.
Previ, contra todos os vaticínios à minha volta, que o referendo pela saída do Reino Unido iria ser uma enorme derrota para o establishment britânico e da União Europeia. 
Por fim, devido a ter compreendido o porquê da campanha mediática contra Trump, estimei que este tinha reais hipóteses de ser eleito e disse-o em várias ocasiões.
Posso estar errado, mas parece-me que na Europa também, uma «esquerda pós-moderna» arrimada a um modelo de ativismo segundo «campanhas» identitárias, completamente divorciada das classes laboriosas, vai cair na mesma armadilha que a esquerda dos EUA, preparando o terreno para que Marine Le Pen e seus adeptos vençam as eleições.

Se assim fôr, o mais certo é que seremos nós a sofrer na pele as consequências da estupidez de outros!



domingo, 8 de janeiro de 2017

TRATADOS DE LIVRE COMÉRCIO, GLOBALISMO E ESQUERDA

Os supostos tratados de «comércio livre», quer se chamem CETA, (entre a EU e o Canadá), ou TTIP (entre a Europa e EUA), etc. são apenas pára-ventos para avanço do programa ou agenda globalista.

Primeiro, é necessário compreender que esta agenda globalista existe, que não é «teoria» de conspiração nenhuma, até mesmo as pessoas mais ingénuas não podem deixar de a reconhecer nos discursos oficiais de chefes de estado e de governo, ou entidades das grandes organizações. Eles argumentam que se trata dum paradigma essencial ao mundo contemporâneo. Se não aceitamos a «globalização», somos como «homens das cavernas»!
Não, não é assim, pois a globalização que nos vendem como inevitabilidade, significa simplesmente a forma de garantir os lucros das transnacionais, do capital financeiro, dos multibilionários, que dominam sectores industriais e países inteiros. 

A legislação dos países é considerada um obstáculo para os globalistas porque coloca – explícito ou implícito - o princípio da soberania nacional.
Isso é intolerável para as entidades transnacionais, que desejam ver assegurados seus lucros, seja qual for a situação do país em causa. A legislação de muitos países possui cláusulas que previnem que os interesses materiais sejam sobrepostos à própria vida das pessoas, seja ela directamente, seja indirectamente, com legislações que protegem as condições de trabalho, o ambiente, a saúde pública, etc.

Sob a capa de modernidade, esta ideologia globalista quer anular o princípio da soberania nacional. Porém, este é absolutamente vital para a preservação dos direitos e garantias dos cidadãos nos diversos países. Argumenta-se que, mesmo assim, os direitos desses cidadãos estão a ser espezinhados, pelos próprios governos, em muitos casos. Pergunta-se: se essas frágeis garantias que estão na lei forem retiradas ou anuladas, acham que as coisas melhorarão ou piorarão?

Acontece que a esquerda estúpida não percebe. Existe uma esquerda inteligente que percebe, mas ela é minoritária dentro da própria esquerda. A esquerda estúpida é capaz de glorificar as «lutas de libertação nacional» e simultaneamente desprezar, quando não até designar como «extrema-direita», a luta pela preservação da soberania nacional… Por causa da esquerda estúpida, a extrema-direita tem tomado conta do assunto e tem arrastado consigo muita gente.
Existem muitos cidadãos que se apercebem das coisas apenas até um certo ponto, porém, eles não são totalmente responsáveis pela sua incultura política. Com efeito, muitos dos que tinham a obrigação de esclarecê-los ainda os tornam mais confusos.

O globalismo é uma ideologia perniciosa, que nada tem que ver com o internacionalismo; é uma ideologia que corresponde ao projecto de uma Nova Ordem Global, a um Superestado planetário, com um governo único, uma moeda única, umas forças armadas únicas. Ou seja, é exactamente o «sonho molhado» de Hitler, Mussolini e todos os nazi e fascistas a eles associados. 
O globalismo não é fruto do liberalismo, mas do fascismo; se querem designar a ideologia da casta dominante, não a designem como «neoliberal», porque de liberal não tem nada! Chamem-na antes de neofascista. 
O fascismo define-se como a fusão do Estado e das corporações: isto quer dizer que tudo, toda a sociedade está «dentro» do Estado e que o Estado tem o direito e mesmo a obrigação de se imiscuir em todos os aspectos da sociedade; em suma, estamos muito próximos da realização da sociedade do Big Brother, profetizada por Orwell e outros. 

É triste que uma parte da esquerda tenha sido neutralizada, arregimentada e manipulada, ao ponto de servir como instrumento do globalismo.