A IIIª Guerra Mundial tem sido, desde o início, guerra híbrida e assimétrica, com componentes económicas, de subversão, desestabilização e lavagens ao cérebro, além das operações propriamente militares. Este cenário era bem visível, desde a guerra na Síria para derrubar Assad, ou mesmo, antes disso.
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quinta-feira, 5 de setembro de 2019

OS PROGRAMAS DE GUERRA QUÍMICA E BIOLÓGICA DOS EUA



Resultado de imagem para pictures of Biological Warfare Research
  [ Este artigo consiste, essencialmente, numa cronologia. Infelizmente, ela pára antes do final do século XX. No entanto, os que verdadeiramente quiserem saber os desenvolvimentos posteriores poderão aqui encontrar um ponto de partida. Note-se que muitos destes dados são completamente ignorados pelo grande público. Por outro lado, foram-se acumulando dados sobre infracções e foram adicionadas mais evidências nos cerca de vinte anos, desde que foi publicada esta lista*]  
Pergunta -- A operação «Drop Kick» foi uma operação real realizada pelo governo dos EUA e, assim sendo, será que existem outros exemplos do governo proceder a experiências com civis?

Clyde Francis Habeck respondeu em Fevereiro de 2019:
Eis uma lista, interessante e assustadora - devo dizer, para minha protecção – de alegadas acções tomadas pelo governo «Do Povo, Pelo Povo e Para o Povo». Interessante, duma maneira macabra e assustadora, porque quase todas as experiências, senão todas, foram completamente legais.

TÍTULO 50 – GUERRA E DEFESA NACIONAL
CAPÍTULO 32 – PROGRAMA DE ARMAS QUÍMICAS E BIOLÓGICAS DOS EUA
Sec. 1520. Utilização de sujeitos humanos para experimentação de agentes químicos ou biológicos pelo Departamento da Defesa; reportadas às Comissões do Congresso no que respeita a experimentações e estudos; notificações dos agentes civis locais
(a) No mais tardar, trinta dias depois da aprovação final dentro do Departamento da Defesa, dos planos de qualquer experimentação ou estudo a ser conduzido pelo Departamento da Defesa, quer directamente, quer sob contrato, envolvendo a utilização de seres humanos para testar agentes químicos ou biológicos, o Secretário da Defesa irá fornecer às Comissões dos Serviços Armados do Senado e da Assembleia dos Representantes, uma relação detalhada de tais planos para experiência ou estudo e essa mesma experiência ou estudo só poderá  ser conduzido depois de passar um prazo de trinta dias, a começar pela data em que esse relatório é recebido pelas referidas comissões. 
(b)
(1) O Secretário da Defesa não poderá coordenar quaisquer testes ou experiências envolvendo a utilização de qualquer agente químico ou biológico em populações civis, a não ser que as autoridades civis da área onde o teste ou experiência vai ser conduzida sejam notificadas de antemão de tal teste ou experiência, e esta apenas poderá ser levada a cabo depois de expirado o período de trinta dias, começando pela data da notificação respectiva.
(2) O parágrafo (1) aplica-se a testes e experiências conduzidos por pessoal do Departamento de Defesa e a experiências conduzidas em nome do Departamento da Defesa, por contratantes.
Note-se que não é requerida uma autorização, apenas a aprovação do Departamento de Defesa. Note-se, também que, “a não ser que as autoridades civis da área onde o teste ou experiência vai ser conduzida sejam notificadas de antemão"... não dá definição do que constitui «autoridades civis» ou «da área». Governador, presidente do município, amigos do Departamento da Defesa?


1931 O Dr. Cornelius Rhoads, sob a protecção do Instituto Rockefeller  para a Investigação Médica, infecta seres humanos com células cancerígenas. Mais tarde, estará na origem da criação dos laboratórios para a Guerra Biológica do Exército dos EUA em Maryland, no Utah e no Panamá e é nomeado para a Comissão de Energia Atómica dos EUA. Enquanto permanece neste posto, inicia uma série de experiências com exposição a radiação em soldados e pacientes hospitalares civis.

1932 Inicia-se o Estudo Tuskegee sobre sífilis. 200 homens negros diagnosticados com sífilis, não lhes é nunca revelado o diagnóstico da doença, sendo-lhes negado tratamento da mesma, são usados como cobaias humanas para seguir a progressão dos sintomas da doença. Eles acabam todos por morrer de sífilis e as suas famílias nunca foram informadas de que poderiam ter sido tratados.

1935 O Incidente da Pelagra. Após milhões de mortes de pelagra, no intervalo de duas décadas, o Serviço de Saúde Pública dos EUA, FINALMENTE, ACTIVA-SE para enfrentar a doença. O Director deste serviço admite que tinha conhecimento, pelo menos há vinte anos, de que esta doença, a pelagra,  é causada  por uma deficiência em niacina. Mas não agiu, visto que a maior parte das mortes ocorria em populações negras afectadas pela pobreza.

1940 Quatrocentos presos em Chicago são infectados com malária para estudar os efeitos de novas drogas em experiência para combate à doença. Mais tarde, médicos nazis, durante o julgamento de Nuremberga, citam este estudo americano para defender as suas próprias acções durante o Holocausto.

1942 Os Serviços de Guerra Química iniciam experiências com gás mostarda sobre cerca de  4 mil soldados. As experiências continuam até 1945 e utilizaram membros da Igreja Adventista do Sétimo Dia que escolheram servir de cobaias humanas, em vez de prestar serviço militar como combatentes.

1943 Em resposta ao programa em pleno desenvolvimento de guerra com micróbios, efectuado pelos japoneses, os EUA iniciam investigações com armas biológicas em Fort Detrick, MD.

1944 A Marinha dos EUA utiliza seres humanos para testar máscaras de gás e roupa. Os indivíduos eram trancados numa câmara com gás e expostos ao gás mostarda e a lewisita (gás tóxico).

1945 Inicia-se o Projecto «Paperclip». O Departamento de Estado dos EUA, os serviços de espionagem militares e a CIA recrutam cientistas nazis, oferecendo-lhe imunidade e identidades forjadas, em troca de trabalho para programas secretos do governo dos EUA.

1945 O "Programa F": é empreendido este programa, pela Comissão da Energia Atómica (AEC). O mesmo consiste num estudo muito extenso sobre os efeitos do fluoreto na saúde, um componente químico chave na produção da bomba nuclear. Sendo um dos químicos mais tóxicos para o Homem, causa efeitos marcados no sistema nervoso central, mas grande parte da informação é suprimida em nome da segurança nacional, porque se temiam processos que viessem comprometer a produção das bombas atómicas.

1946 Nos hospitais de Veteranos do Exército, os pacientes são usados como cobaias para experiências médicas. A fim de eliminar suspeitas, foi dada a ordem de substituir a palavra «experiências» por «investigações» ou «observações», sempre que sejam comunicados estudos médicos realizados num desses hospitais de veteranos.

1947 O Coronel E.E. Kirkpatrick, da Comissão de Energia Atómica dos EUA, produz um documento secreto (Documento 07075001, de 8 de Janeiro 1947 https://ahrp.org/1947-u-s-atomic-energy-commission-begins-radioactive-experiments-on-human-subjects/) que afirma que a agência irá começar a administrar doses intravenosas de substâncias radioactivas em seres humanos.

1947 A CIA inicia o estudo do LSD enquanto arma potencial para ser usada pela espionagem americana. Nele, são usados seres humanos (tanto civis, como militares) com e sem o seu conhecimento.

1950 O Departamento da Defesa começa a fazer detonar armas nucleares em áreas desérticas e a controlar as pessoas que residem no trajecto dos ventos, em relação a problemas médicos e a taxas de mortalidade.

1950 Numa experiência destinada a determinar em que grau uma cidade americana seria susceptível a um ataque biológico, a Marinha dos EUA lança uma nuvem de bactérias sobre San Francisco a partir de um navio. Aparelhos de detecção estão distribuídos pela cidade, para testar a extensão da infecção. Muitos residentes adoecem com sintomas de doença semelhantes a pneumonia.

1951 O Departamento da Defesa inicia testes ao ar livre, usando bactérias e vírus patogénicos. Os testes duram até 1969 e existe o receio de que as pessoas a residir nas zonas limítrofes possam ter ficado expostas. 

1953 Os militares dos EUA espalham nuvens de gás de sulfureto de cádmio e zinco sobre Winnipeg, St. Louis, Minneapolis, Fort Wayne, Monocacy River Valley no Maryland, e Leesburg, Virginia. O seu propósito é determinar a eficiência com que poderão dispersar agentes químicos.

1953 São efectuadas experiências conjuntas do Exército, da Marinha e da CIA, pelas quais dezenas de milhares de pessoas, em Nova Iorque e San Francisco, são expostas a micróbios Serratia marcescens Bacillus glogigii lançados na atmosfera.

1953 A CIA inicia o Projecto MKULTRA. É um programa de investigação desenvolvido durante onze anos e concebido para produzir e testar drogas e agentes biológicos que pudessem ser usados no controlo da mente e na modificação do comportamento humano. Seis dos projetos subordinados implicavam testar estas substâncias em seres humanos, sem o seu conhecimento.

1955 Numa experiência para testar a capacidade de infectar populações humanas com agentes biológicos, a CIA liberta bactérias na baía de Tampa (Florida), retiradas do arsenal de armas biológicas.

1955 O Army Chemical Corps continua a investigação com LSD, estudando o seu uso potencial como agente incapacitante. Mais de 1.000 americanos participam nos testes que continuam até 1958.

1956  Os militares dos EUA libertam mosquitos infectados com o agente da febre amarela em zonas por cima de Savannah, Ga e Avon Park, Fl. Após cada teste, agentes do exército disfarçados de funcionários de saúde pública estudam os efeitos nas vítimas.

1958 O LSD é testado em 95 voluntários, nos Laboratórios da Guerra Química do Exército, para estudo dos seus efeitos sobre a inteligência.

1960 O Chefe Adjunto do Estado-Maior  autoriza testes de campo com LSD, na Europa e no Extremo Oriente. Na Europa, os testes têm o nome de código THIRD CHANCE; os destinados à população asiática, têm o nome de código de DERBY HAT.

1965 A CIA e o Departamento da Defesa iniciam o Projecto MKSEARCH, um programa para desenvolver a capacidade de manipulação do comportamento humano, através de drogas psicotrópicas.

1965 Os prisoneiros  detidos na  Holmesburg State Prison, em  Filadélfia, são sujeitos à dioxina, uma substância química muito tóxica, que faz parte do Agente Laranja usado no Vietname. Os homens são depois estudados em relação ao desenvolvimento de cancros, o que indica que se suspeitava que o Agente Laranja era tido como agente carcinogénico, desde essa época. 

1966 A CIA inicia o projecto MKOFTEN, um programa para testar o efeito toxicológico de certas drogas nos seres humanos e nos animais.

1966 O exército dos EUA distribui por toda a rede de metro da cidade de Nova Iorque o Bacillus subtilis, variante niger. Mais de um milhão de civis ficam expostos, quando os cientistas militares deixam cair lâmpadas com bactérias, dentro dos sistemas de ventilação.

1967 A CIA e o Departamento de Defesa iniciam o projecto MKNAOMI, sucessor do MKULTRA e destinado a manter, armazenar e testar armas biológicas e químicas.

1968  A CIA faz experiências sobre a possibilidade de envenenar a água potável, injectando substâncias químicas no abastecimento de água do FDA  [Food and Drug Administration] em Washington, D.C.

1969 O Dr. Robert MacMahan, do Departamento da Defesa requer ao Congresso 10 milhões de dólares para desenvolver, no prazo de 5 a 10 anos, um agente biológico sintético para o qual não exista imunidade.

1970 O financiamento para o agente biológico sintético é obtido sob a referência H.R. 15090. O projecto, sob supervisão da CIA é levado a cabo pela Divisão de Operações Especiais em Fort Detrick, o laboratório «top secret» do exército para as armas biológicas. Especula-se que teriam sido usadas técnicas de biologia molecular para produzir um retro-vírus do tipo HIV. 

1970 Os Estados Unidos intensificam o seu desenvolvimento de «armas étnicas» (Military Review, Nov., 1970), concebidas para atingir de modo selectivo e eliminar determinados grupos étnicos que sejam susceptíveis devido a diferenças genéticas e variações no seu ADN.
1975 A secção de vírus do Centro de Fort Detrick para a Guerra Biológica é rebaptizada como Centro Fredrick de Investigação em Cancro e colocada sob a supervisão do National Cancer Institute (NCI) . É aqui que o programa especial de vírus cancerígenos é iniciado pela Marinha dos EUA, com a intenção de desenvolver vírus causadores de cancro. É também aqui que os virologistas isolam um vírus para o qual não existe imunidade. Ele será posteriormente designado por HTLV (Human T-cell Leukemia Virus).

1977 A audições do Senado sobre Saúde e Investigação Científica confirmam que 239 áreas povoadas tinham sido contaminadas com agentes biológicos entre 1949 e 1969. Estas incluem San Francisco, Washington, D.C., Key West, Panama City, Minneapolis, e St. Louis.

1978 Ensaios experimentais sobre a vacina contra a Hepatite B, iniciam-se em Nova Iorque, Los Angeles e San Francisco. Os cartazes para procurar pessoas para se submeterem a essas experiências especificam que se pede indivíduos sexualmente promíscuos, homossexuais.

1981 Os primeiros casos de SIDA em homens homossexuais são confirmados em Nova Iorque, Los Angeles e San Francisco, desencadeando a especulação de que a SIDA possa ter sido introduzida aquando da introdução da vacina da hepatite B.

1985 Segundo o jornal Science (227:173-177), os vírus HTLV e VISNA, este um vírus fatal para as ovelhas, são muito semelhantes, indicando uma relação próxima, do ponto de vista taxonómico e evolutivo.

1986 Segundo a revista Proceedings of the National Academy of Sciences (83:4007-4011), HIV e VISNA são muito semelhantes e partilham todos os elementos estruturais, excepto um pequeno segmento que é quase idêntico ao HTLV. Isto tem levado a que se especule que HTLV e VISNA possam ter sido ligados para produzir um novo retro-vírus para o qual não existe imunidade natural.

1986 Um relatório ao Congresso revela que a presente geração de agentes biológicos inclui: vírus modificados, toxinas ocorrendo naturalmente e agentes que foram alterados por engenharia genética, para mudar o seu carácter imunológico e impedir toda a prevenção com as vacinas existentes.

1987 O Departamento da Defesa admite que, apesar do tratado que baniu a investigação e desenvolvimento de agentes biológicos, continua a operar laboratórios de investigação em 127 locais e universidades, nos EUA.

1990 Mais de 1500 bébés de seis meses, de raça negra ou hispânicos, em Los Angeles, receberam uma vacina «experimental» da papeira, que nunca foi licenciada para utilização nos EUA. O CDC, mais tarde, admitiu que os progenitores nunca foram informados de que a vacina - usada nos seus filhos - era experimental. 

1994 Usando a técnica de «despiste de genes» o dr. Nicolson do MD Anderson Cancer Center em Houston, TX descobriu que muitos soldados que voltavam da operação «Desert Storm» estavam infectados com uma estirpe modificada de Mycoplasma incognitus, um micróbio que tem sido usado para produzir armas biológicas. Estavam incorporados, na sua estrutura molecular, uns 40 por cento da proteína de invólucro do HIV, o que indicava que tinha sido fabricado por manipulação genética.
1994 O senador John D. Rockefeller publica um relatório revelando que, pelo menos nos últimos 50 anos, o Departamento de Defesa usou centenas de milhares de  militares em experiências, com seres humanos e com exposição a substâncias perigosas. Os materiais incluem gás mostarda e gás nervoso, radiação ionizante, substâncias psicotrópicas e alucinogénicas, bem como drogas usadas durante a Guerra do Golfo.

1995 O governo dos EUA admite que ofereceu aos criminosos de guerra japoneses e a cientistas que tinham efectuado experiências médicas em seres humanos, salários e imunidade em serem processados, em troca de dados sobre a investigação com armas biológicas.

1995 O Dr. Garth Nicolson descobre provas de que os agentes biológicos usados na Guerra do Golfo tinham sido manufacturados em Houston, TX e em Boca Raton, Fl e testados nos presos do Departamento Correccional do Texas.

1996 O Departamento da Defesa admite que os soldados de Desert Storm estiveram expostos a agentes químicos.

1997 Oitenta e oito membros do Congresso assinam uma carta exigindo a investigação sobre as bio-armas usadas e sobre o síndrome da Guerra do Golfo.


Traduzido por Manuel Banet a partir do original seguinte:

  
(*) Penso que a origem desta lista é esta:

quinta-feira, 15 de agosto de 2019

SOBRE A GUERRA HÍBRIDA


A guerra híbrida levada a cabo pelos EUA contra a China, com a assistência de seus mais próximos vassalos, Reino Unido, Canadá, Austrália... é um caso bem estabelecido em como uma potência em declínio, está a fazer tudo para travar e - se possível - inverter a ascensão de outra potência a primeiro lugar mundial. 

Embora a China seja uma antiquíssima civilização que já foi, em tempos, o mais poderoso império sobre a Terra, um século de opressão colonial e devastações terríveis antes e durante a IIª Guerra Mundial, deixaram uma pesada herança. 
O estado de pobreza e fraqueza levaram que a República Popular da China (proclamada em 1949) não fosse considerada o principal objectivo estratégico dos EUA e da NATO, durante a guerra fria, mas sim a União Soviética.
Quando se desmoronou a URSS e a Rússia foi transformada em repasto para os apetites das multinacionais (sobretudo do petróleo) durante o governo fraco e corrupto de Yeltsin, parecia efectivamente que - quer se gostasse, ou não - se iria assistir a «um século americano», conforme afirmado num célebre manifesto (PNAS) tornado público por um grupo de «neocons», pouco tempo antes da viragem do milénio. 

A Rússia de Putin encarregou-se de destruir as veleidades de omnipotência das forças mais agressivas do imperialismo americano. 
Mas, igualmente, jogaram dois outros factores:
-A forte resistência encontrada pelos americanos e seus aliados da NATO no Afeganistão e no Iraque, 
-A ascensão da China ao lugar de gigante económico, com a sua iniciativa das Novas Rotas da Seda. Este desenvolvimento é lógico e corresponde a uma filosofia - intrinsecamente liberal - de respeito pelos parceiros comerciais e de vantagens mútuas. 
É preciso não esquecer que isto vem na sequência da tarefa que lhe foi proporcionada e favorecida pelos próprios grandes capitalistas ocidentais: a de tornar-se a «fábrica do mundo». 
É, portanto, particularmente desesperante, numa observação das relações internacionais e políticas no Ocidente, verificar que os ditos dirigentes apenas orientaram a barca ao sabor da corrente maior de dinheiro. 
Assim foi com todos os presidentes dos EUA, desde Bill Clinton, especialmente com Barack Obama, que fez acreditar que haveria uma real viragem da política dos EUA devido à cor de sua pele, mas que foi o instigador da política de «pivot to Asia» /«viragem para a Ásia», o que em claro significa viragem para fazer o cerco à China, unificando contra ela uma coligação de forças (estados vassalos) e aumentando os dispositivos bélicos, desde as bases militares, às frotas que a cercam em permanência.
Assim, os EUA cliente primeiro dos produtos industriais fabricados na China (muitos dos quais sob licença de firmas americanas), começaram a objectar contra a suposta «injustiça» da grande disparidade na balança comercial EUA-China, tendo a administração Trump passado a sancionar alguns bens importados com tarifas, já em 2018. 
Esta política de pressão sobre a China foi subitamente agravada, em Dezembro desse ano, com o aprisionamento da vice-presidente executiva da Huawei - quando ela se encontrava em trânsito em Vancouver, Canadá - sob pretexto desta firma ter «violado as sanções» contra o Irão, sanções ilegais e unilaterais e que não podiam obrigar cidadãos e empresas estrangeiros, comerciando fora das fronteiras dos EUA.
Xi Jin Pin e altos dirigentes chineses levaram a cabo conversações, com vista a minorar e - se possível - eliminar as situações de conflito comercial. Enquanto a administração Trump foi para conversações com outro espírito: insistia em queixas relacionadas com patentes, mas sem de facto chegar a algo concreto, que permitisse uma base negocial. As conversações capotaram e as tarifas decretadas por Trump entraram em vigor. Como retaliação, a China deixou de importar produtos agrícolas dos EUA (sobretudo soja, produzida pelos agricultores do Midwest, sólida base de apoio eleitoral de Trump).
As forças da propaganda, comandadas pela CIA e outras agências, intensificaram a propaganda contra o alegado mau registo de direitos humanos da China, nomeadamente na região mais ocidental do Xinjiang onde existem populações de etnias minoritárias, muçulmanas. Entre eles, a CIA conseguiu infiltrar elementos radicais islâmicos, muitos tendo experiência de combate nas fileiras de grupos djihadistas na Síria. Pelo que, as medidas de contenção - de «contra-guerrilha» - de Pequim, podem ser consideradas demasiado duras, porém têm de ser contextualizadas, coisa que a imprensa ocidental não faz, em 99% dos casos.

Agora, a pretexto de uma lei de extradição que estava em discussão na Assembleia Legislativa de Hong-Kong, elementos radicalizados procuram desencadear a repressão do exército, sendo que Pequim não irá permitir que a violência e o caos sejam semeados impunemente no território de Hong-Kong. 
Este território sempre fez parte da China; esteve sob ocupação britânica desde as guerras do ópio e foi restaurada a soberania chinesa em 1997, através do processo de devolução, negociado com o Reino Unido. Este processo reconhece a soberania chinesa ao mesmo tempo que institui uma zona administrativa especial. A situação económica do território de Hong-Kong é especial, na medida em que as leis socialistas não se aplicam nele; ou seja, a propriedade dos meios de produção continua a ser privada até 2047. 
A revolta estudantil, apesar de ter inicialmente uma relativa legitimidade, está a tomar uma feição cada vez mais violenta e não se compreende quais as motivações políticas concretas, pois o território de Hong-Kong está firmemente na China. As bandeiras do Reino Unido ou dos EUA, agitadas por alguns manifestantes - mais do que exprimirem uma influência directa destes países na revolta - é apenas uma maneira de fazer valer uma adesão primária ao Ocidente, no desespero de causarem simpatia na opinião pública e nos poderes ocidentais. É escusado dizer que eles estão completamente equivocados a esse respeito.
O «Ocidente», que está sempre pronto a criticar a China, ou outros, na ONU e noutros aéropagos, tem feito muito mais e muito pior, em relação a manifestações semelhantes, nos seus próprios países. Mas, sobretudo, a China é demasiado importante para o comércio e as relações económicas mundiais para ser decretado um embargo comercial. Os EUA e seus aliados bem gostariam de o fazer, mas simplesmente não podem, devido à dependência estrutural do seu aparelho produtivo e de aprovisionamento em produtos de consumo, das importações chinesas. 
Um mundo em que os produtos chineses deixassem de fluir, simplesmente parava, num espaço de tempo relativamente curto. Imagino que bastariam semanas, não meses... pois tudo rapidamente começaria a falhar, ao não haver peças intermédias no fabrico, como micro-processadores, e outras. 

Talvez, a única coisa positiva que nos trouxe a globalização capitalista, seja a impossibilidade de uma guerra total, apenas possibilitando uma série de provocações bélicas, desestabilizações, subversões ... tudo o que cabe dentro do conceito de «guerra híbrida». 

segunda-feira, 10 de junho de 2019

PRIMEIRO-MINISTRO DA MALÁSIA ABRE «CAIXA DE PANDORA» POLÍTICA DA UCRÂNIA




O primeiro-ministro da Malásia, Mahatir Mohamad, enviou ondas de choque num discurso público em que descartou o relatório «oficial» holandês que dava como responsáveis os russos pelo disparo contra o avião da companhia aérea Malaysia Air, voo 17 em Julho de 2014, semanas depois de um golpe orientado pela CIA que derrubou o presidente eleito da Ucrânia. 
Apesar da media ocidental ter silenciado os comentários do líder da Malásia, este está a criar um sério embaraço para o ex-vice presidente Joe Biden e seus colaboradores na Ucrânia, tais como Igor Kolomoisky, nos seus esforços patéticos para condenarem a Rússia pelos seus próprios crimes.

Durante um diálogo no Clube Japonês de Correspondentes Estrangeiros, no dia 30 de Maio, Mahatir desafiou o governo holandês a providenciar provas da sua afirmação de que o avião da Malaysian Airlines FH17 que se despenhou na Ucrânia tinha sido alvejado por um míssil BUK de fabrico russo, disparado de um regimento russo estacionado em território russo (Kursk). O primeiro-ministro malaio disse aos media japoneses: «Eles acusam a Rússia, mas onde estão as provas? Nós sabemos que o míssil que deitou abaixo o avião é de modelo russo, mas ele poderia também ter sido fabricado na Ucrânia.” Sem hesitações, Mahatir acrescentou, “É precisa uma prova sólida para mostrar que foi disparado pelos russos; poderia ter sido pelos rebeldes na Ucrânia, poderia ter sido pelas tropas governamentais da Ucrânia, porque eles também têm o mesmo míssil.”
Continuou, fazendo a exigência de que o governo da Malásia possa ser autorizado a inspeccionar a caixa negra do avião despenhado, afirmando o óbvio, sendo o avião malaio, com um piloto malaio e onde uma parte dos passageiros eram malaios: “Pode ser que não tenhamos a capacidade de peritagem mas podemos comprar os serviços de tal peritagem. Por algum motivo, a Malásia não foi autorizada a inspeccionar a caixa negra para ver o que se passou.”
Afirmou ainda, “não sabemos porque fomos excluídos do inquérito, mas desde o princípio, vemos demasiada política nisso e a ideia parece ter sido, não de descobrir como é que isso aconteceu, mas de tentar colar as culpas nos  russos.”
O voo da Malaysian Air MH17 estava no caminho de Amsterdam para Kuala Lumpur quando foi abatido acima de uma zona de conflito no leste da Ucrânia a 17 de Julho de 2014. Somente em Maio de 2018 o grupo de investigação, liderado pelos holandeses, produziu o seu relatório alegando que um míssil BUK foi usado para abater o avião da Malaysia Airlines, indicando que ele fora disparado a partir da 53ª brigada antiaérea da Federação Russa, estacionada em Kursk próximo da fronteira ucraniana. O Grupo de Investigação Holandês (Joint Investigation Team – JIT) declarou que “chegou à conclusão de que o BUK-TELAR que abateu o MH17 veio da 53ª brigada de mísseis antiaéreos estacionada em Kursk na Rússia,” segundo o investigador-chefe holandês, Wilbert Paulissen. Paulissen acrescentou, “Estamos convictos que o que encontrámos justifica as  conclusões…”
O grupo liderado por holandeses não apresentou uma prova forense concreta e Moscovo tem repetidas vezes desmentido envolvimento num tal ato, que não faria sentido em termos militares ou políticos para os russos. Em 2018 o ministro da defesa russo providenciou provas de que o míssil BUK que alvejou o avião de passageiros malaio foi manufacturado numa fábrica da Rússia em 1986 e depois despachado para a Ucrânia. A sua última localização registada era uma base militar ucraniana.
Ao levantar de novo dúvidas sobre as conclusões dos investigadores holandeses, Mahatir abriu potencialmente uma caixa de Pandora, que poderia afectar membros do governo ucraniano da época, nomeadamente Igor Kolomoisky , o bilionário apoiante de Volodymyr Zelensky, o recém-eleito presidente da Ucrânia. Potencialmente, também, poderia implicar o então vice-presidente dos EUA, Joe Biden, e muitos outros.

Questões em Aberto

Os investigadores independentes da destruição do MH17 sublinham o facto de que a equipa de inquérito liderada por holandeses deliberadamente excluiu a Malásia, assim como a Rússia, do seu grupo, mas incluiu os representantes ucranianos do regime resultante do golpe de Estado apoiado pela CIA, que dificilmente se pode considerar uma parte desinteressada. Além disso todas as escutas apresentadas como prova da culpa dos russos vieram dos serviços secretos ucranianos, SBU. Desde o golpe apoiado pela CIA na Ucrânia em 2014, o SBU tem estado envolvido em repetidas acusações fabricadas contra a Rússia, até mesmo simulando o assassínio de um jornalista, que depois se revelou estar bem  vivo.
Um dos problemas que o grupo holandês JIT nunca abordou é porquê, quando se estava numa zona de guerra e os voos comerciais internacionais eram aconselhados a evitar o espaço aéreo da Ucrânia do Leste, o voo MH17 recebeu a ordem, comprovadamente, pelas autoridades de controlo aéreo em Dnepropetrovsk, a mudar o seu itinerário e voar directamente por cima da zona de guerra. Segundo um sítio Internet holandês, Post Online, o Eurocontrol, a organização europeia para a segurança da navegação aérea, informou o parlamento holandês sobre o estatuto dos radares da Ucrânia, em 2016, informando que a organização ucraniana de controlo de tráfego aéreo UkSATSE falhou informar o Eurocontrol, no Verão de 2014, sobre a situação não-operacional de três sistemas de radar no Leste da Ucrânia, uma violação grave da lei. Um dos três radares tinha sido tomado na sequência do golpe apoiado pela CIA, em Abril, por um bando usando capuz, que destruiu as instalações.

Além disso, noutra falha, o serviço ucraniano UkSATSE recusou autorização para que o seu controlador aéreo em Dnepropetrovsk, responsável pelo controlo do voo MH17, fosse questionado. Segundo reportagens russas, o indivíduo «foi de férias» e nunca mais reapareceu.

O Factor Kolomoisky

Na altura do abate do MH17, o governador ucraniano da província de Dnepropetrovsk, era Igor Kolomoisky. Kolomoisky, que é classificado como o terceiro mais rico da Ucrânia, com um império que se estende pelo petróleo, carvão, metais e banca, também está referenciado como directamente ligado, via entidades off-shore, à Burisma, uma companhia ucraniana de gás, que tem o filho do Vice-presidente Joe Biden no seu quadro de directores.
Kolomoisky, que é bem conhecido por contratar bandidos e neonazis para espancar os seus oponentes na Ucrânia, assegurou um posto lucrativo na Burisma para Hunter Biden, apesar da inexperiência deste em algo relacionado com a Ucrânia ou com petróleo e gás, como agradecimento a Joe Biden, por este ter anulado a proibição de visto de viagem aos EUA a Kolomoisky. Joe Biden era a pessoa mais responsável da administração Obama, encarregue do golpe da Praça Maidan em 2014, orquestrado pela CIA, para derrubar o presidente eleito, Viktor Yanukovych.
As observações de Mahatir chamaram a atenção de novo para as circunstâncias misteriosas envolvendo o avião da Malaysian Air MH17 em 2014 e o papel que – potencialmente – Kolomoisky e outros teriam nisto. O papel de altos funcionários da Ucrânia, corruptos e apoiados pela administração Obama, está agora a ser examinado.
O novo presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, é largamente mencionado como protegido de Igor Kolomoisky. Zelensky tornou-se um nome conhecido como comediante numa estação de TV de Kolomoisky, o qual forneceu fundos e pessoal para a campanha vitoriosa do comediante, em Maio de 2019, em que o derrotado foi o presidente cessante, Petro Poroshenko, inimigo declarado de Kolomoisky. Após a vitória eleitoral de Zelensky, Kolomoisky regressou à Ucrânia, após um exílio na Suíça, no seguimento de um azedo conflito e ruptura com Poroshenko em 2015.
Estas peças todas formam um puzzle geopolítico muito obscuro, que mostram o papel sujo que a Ucrânia e a administração Obama jogaram ao demonizar a Rússia, assim como a Administração Trump. Recentemente, verifica-se que o Conselheiro Especial Mueller e seu pessoal, confiaram no testemunho do empresário ucraniano Konstantin Kilimnik, que trabalhava para o presidente da campanha de Trump, Paul Manafort, a figura chave supostamente ligada aos serviços secretos russos, como peça-chave para construir o caso de conivência com a Rússia ou das interferências nas eleições presidenciais de 2016.
Porém, longe de ser um agente de Putin, novas provas mostram que Kilimnik, pelo menos desde 2013, era um informador confidencial do Departamento de Estado dos EUA, de acordo com o jornalista dos EUA, John Solomon. Solomon cita documentos do Departamento de Estado, incluindo e-mails que ele viu, onde Kilimnik é descrito como «importante fonte» de informação para o Departamento de Estado dos EUA. O relatório de Mueller deixou de fora este detalhe embaraçoso, por algum motivo. Kilimnik trabalhou para Paul Manafort o qual, antes do golpe de 2014 na Ucrânia, tinha servido como «lobbyist» para o presidente eleito Viktor Yanukovych e seu Partido das Regiões.
Os actos sombrios de certas personagens na Ucrânia podem vir, em breve, recair sobre elas próprias, quer figuras da Ucrânia tais como Kolomoisky, ou pessoas como Joe Biden e família. Quanto à autoria verdadeira do disparo contra o avião MH17, existem investigadores holandeses e outros, que acreditam estar ligado a agentes ao serviço de Kolomoisky, aos negócios ucranianos de Hunter Biden e aos factos reais nas investigações ao «Russiagate» de Mueller. Todos esses aspectos poderiam ser mais reveladores para o inquérito do departamento de Justiça dos EUA, do que o inquérito de Mueller tem sido. Cada vez mais, se verifica que parece ter sido a Ucrânia e não a Rússia que foi a fonte de interferência na eleição de 2016 e não aquilo que nos têm dito a media do poder, como a CNN.


F. William Engdahl é um consultor de risco e um conferencista, possui uma licenciatura em política pela Universidade de Princeton e é um autor de «best-sellers» sobre petróleo e geopolítica. Escreve em exclusivo para o magazine on-line “New Eastern Outlook.”

[Traduzido por Manuel Banet Baptista para https://ogmfp.wordpress.com/ ]

terça-feira, 26 de março de 2019

NÃO ESPIES POR MIM, ARGENTINA


WAYNE MADSEN | 20.03.2019
https://www.strategic-culture.org/news/2019/03/20/dont-spy-for-me-argentina.html


Quando um presidente dos EUA incompetente contrata como seu «enviado especial» para mudança de regime na Venezuela o mesmo bufão que, nas suas trapalhadas, ajudou a que o escândalo Irão-Contras rebentasse, pode-se esperar tudo.
Abrams, ao ajudar a canalizar por engano fundos que solicitara ao Sultão de Brunei, que, em vez disso, acabaram por ir parar à conta suíça de um rico armador, chamou a atenção e despoletou a investigação sobre o esquema de cobertura Irão-Contras pelas autoridades bancárias suíças.
A descoberta recente, pelo juiz argentino Alejo Ramos Padilla de que a administração de Trump cooptara o regime direitista argentino do presidente Mauricio Macri para atingir a companhia petrolífera estatal da Venezuela e o regime de esquerda do Uruguai, numa enorme operação de extorsão, exibe todos os sinais do enviado imbecil de Trump para a Venezuela, Elliott Abrams. Quando ele era Secretário de Estado Adjunto para os assuntos do Hemisfério Ocidental, durante a administração de Ronald Reagan, Abrams foi indiciado pelo seu papel no comércio ilegal de armas para o Irão em troca dos reféns americanos, mantidos pelas milícias xiitas pró-iranianas no Líbano. Agora, foi repescado da reforma pelo seu colega neo-conservador, John Bolton, para levar a cabo o derrube do governo do presidente Nicolas Maduro na Venezuela.
Durante o episódio Irão-Contras, o nefasto Abrams, que se auto-denomina perito sobre a América Latina, ajudou a usar os fundos obtidos da venda ilegal de armas ao Irão para comprar, no mercado negro, armas para os Contras da Nicarágua. Ele levou a cabo a operação com a assistência do cartel de droga de Medellin na Colômbia e com o líder panamiano Manuel Noriega. Abrams teria provavelmente cumprido uma longa sentença de prisão pelos seus crimes, caso o presidente George H. W. Bush não o tivesse perdoado, assim como a outros condenados pelo caso Irão-Contras, na véspera de Natal de 1992.
As impressões digitais de Abrams, de Bolton, do secretário de Estado Mike Pompeo e do Senador e membro do Comité para as Relações com o Hemisfério Ocidental, Marco Rubio, estão por todo lado neste escândalo de extorsão, que agora abala a Argentina. O juiz Padilla está direccionando o processo contra o regime de Macri, o qual envolve milhões de dólares, que têm sido extorquidos por aliados de Macri contra alvos de oposição política, assim como coerção de falso testemunho exercida sobre estes alvos. Padilla disse ao Comité de Liberdade de Expressão da Câmara dos Deputados Argentina que descobriu «uma rede para-estatal de espionagem de grande magnitude, ideológica, política e judicial», acrescentando que se tratava de “uma teia de operações de espionagem ilegais, envolvendo forças judiciais, do governo, da segurança, dos poderes políticos e dos media”.
Macri esteve associado como sócio no negócio do imobiliário com a Organização Trump, para construir na baixa de Buenos Aires uma Torre Trump. Embora o projecto não tenha vingado, as relações de negócio entre Macri e seu pai, o italo-argentino milionário Francesco Macri, com a Organização Trump estendem-se, no passado, aos dias em que o pai de Donald Trump, Fred Trump, dirigia a empresa e são famosas. Elas incluíram colaborações para construção de imobiliário em Manhattan e em Buenos Aires. Companhias de fachada, off-shore da empresa Trump Organization e da empresa da família de Macri, o conglomerado Socma, estão presentes em documentos da agora defunta firma de advogados da cidade do Panamá, Mossacka-Fonseca.
O juíz Padilla foi recentemente convidado a testemunhar sobre o escândalo de extorsão pelo presidente do Comité para a Liberdade de Expressão, Leopoldo Moreau. O convite surge depois do presidente do Comité de Contra-Espionagem, o senador Juan Carlos Marino, um fiel adepto de Macri, ter recusado convidar Padilla a testemunhar frente ao Comité a que preside. Moreau classificou o escândalo de extorsão «o mais grave escândalo institucional desde que a democracia regressou à Argentina [em 1983],” acrescentando que é “uma máfia dedicando-se a entalar oponentes, forçando ao seu testemunho falso e espionagem.” Padilla indicou como executantes da operação de extorsão, o Delegado Público Federal Carlos Stornelli, o seu próximo associado, Marcelo d’Alessio, os serviços secretos argentinos, a “Agencia Federal de Inteligencia”(AFI), o chefe da AFI, Gustavo Arribas, duas mulheres-congressistas de direita — Elisa Carrió e Paula Olivetto da Coalição Cívica pró-Macri — e o diário de direita, “Clarín”.
D’Alessio foi preso a 15 de Fevereiro deste ano. Nas 22 horas de gravações audio e video incriminatórias de d’Alessio, este declarou ter recolhido 12 milhões dólares, em subornos de indivíduos que tinham sido ilegalmente sujeitos a chantagem, desde Agosto de 2018. Quanto a Stornelli, pensa-se ter ele conduzido a operação de extorsão com conhecimento e encorajamento da Ministra da Segurança, Patricia Bullrich. Stornelli recusou comparecer diante do juiz Padilla ou a entregar seus telemóveis, como lhe tinha sido ordenado judicialmente. O indivíduo que seria o presumido «colector» de fundos destas operações, Salta Mayor Gustavo Sáen, próximo aliado de Macri, forneceu os seus telemóveis pessoais a Padilla.
Padilla, que tem estado sob intensa crítica dos media pró-Macri, tem sido descrito, por alguns, como o equivalente na Argentina de Robert Mueller, o Conselheiro Especial dos EUA, investigando Trump.
Padilla revelou que d’Alessio trabalhou para a CIA e que tinha na sua posse documentos da embaixada dos EUA em Buenos Aires, manuais da CIA sobre agentes encobertos na Argentina e na Venezuela, e armas licenciadas nos EUA. Os textos de mensagens usando WhatsApp, extraídas do smart-phone de d’Alessio, tinham a ver com espionagem contra o Uruguai, chantagem para obrigar a fazer falso testemunho contra o governo de Maduro de Venezuela, a que submetera um advogado da “Petróleos de Venezuela, S.A.” (PdVSA), a companhia estatal venezuelana de petróleos, cujos activos foram tomados pela administração Trump, e de ter enviado relatórios, via mala diplomática, a um centro de espionagem dos EUA, no Estado do Maine, onde  está situado o «US Navy’s Very-Low Frequency Navy Communications Station», na cidade de Cutler. Padilla disse que, na busca a casa de d’Alessio’s na cidade de Esteban Echeverría, “Encontrámos documentos, ficheiros de serviços secretos, blocos de apontamentos com dados detalhados sobre filhos, esposas e parentes daqueles que estavam a ser alvo de chantagem, aparelhos para espionagem como câmaras ocultas, drones, uma arma que chamou a atenção de todos” Padilla estava obviamente a referir-se à tentativa de assassinato falhada contra o presidente venezuelano Nicolas Maduro em Agosto passado, operação relacionada com os operativos da CIA, baseados na Colômbia. A operação visando a PdVSA era uma tentativa, em parte, de falsamente ligar a empresa ao tráfico de drogas e de armas e outras operações ilícitas para acusar o presidente Maduro e seu antecessor, Hugo Chavez, de envolvimento em tais operações. Padilla descobriu que a operação para denegrir Maduro e Chavez envolvia não apenas d’Alessio e a CIA, mas igualmente a DEA, a agência dos EUA de combate à droga. A operação, com o nome de código “OPERATION BRUSA DOVAT,” envolvia o anterior director da PdVSA, Gonzalo Brusa Dovat, um cidadão uruguaio, e enquadrava-se no plano global da administração Trump para congelar os bens da companhia de petróleos venezuelana no estrangeiro. Outras mensagens de texto de d’Alessio revelavam uma armadilha para comprometer o ministro das obras públicas Julio de Vido e seu secretário, Roberto Baratta, utilizando dados roubados por um operacional da NSA (National Security Agency dos EUA) David Cohen, que trabalhava para “Energía Argentina SA” (ENARSA), a agência estatal argentina da energia. Cohen foi constituído arguido pelas autoridades argentinas a 8 de Março. Padilla também descobriu o envolvimento dos serviços de espionagem de Israel na operação para-estatal de extorsão.
Padilla revelou que a operação de extorsão visava também a actual senadora da oposição e ex-presidente Cristina Fernández de Kirchner e vários proeminentes jornalistas anti-Macri.
Também se descobriu no telemóvel de d’Alessio mensagens de texto de membros da equipa de Trump na Casa Branca, oferecendo a Macri «apoio mediático» (“media coaching”) para sua campanha de re-eleição de 2019. O ex-estratega principal de Trump, Steve Bannon deu assistência efectiva ao presidente neo-nazi brasileiro Jair Bolsonaro, durante a sua campanha vitoriosa de 2018. Em Fevereiro deste ano, Bannon designou o filho de Bolsonaro, Eduardo Bolsonaro, um senador brasileiro, como o chefe para a América Latina da organização mundial fascista, chamada «O Movimento».
A operação conjunta da Argentina/CIA/Israel, centrava-se na tentativa de comprometer o governo de esquerda da “Frente Amplio de Uruguai” do presidente Tabaré Vázquez, numa falsa ligação à missão comercial iraniana operando no Uruguai. D’Alessio tinha em sua posse, segundo foi revelado, correspondência com cabeçalho da embaixada dos EUA em Buenos Aires e com cabeçalho do ministério da defesa de Israel. A ligação forjada ao Irão foi utilizada como justificação para uma operação ilegal de vigilância dos políticos da Frente Amplio, incluindo o presidente Vázquez, o antigo presidente José “Pepe” Mujica e sua esposa, a actual vice-presidente Lucía Topolansky.




Havia alegações falsas nos ficheiros guardados por d’Alessio de que a missão comercial iraniana no Uruguai estava fazendo negócios com a Argentina, através duma companhia russa de fachada. A informação forjada terá sido fornecida aparentemente pelos serviços secretos de Israel, o MOSSAD. D’Alessio foi identificado por Padilla como fazendo parte de uma operação visando o Hezbollah libanês. Descobriu, sem surpresa, que d’Alessio estava em ligação com o presidente da câmara de comércio Argentina-Israel em Buenos Aires.




As revelações de Padilla levaram o juiz de instrução uruguaio do crime organizado, Luís Pacheco, a afirmar que poderá solicitar mais informação sobre o escândalo das extorsões ao governo da Argentina.




Está-se perante a possibilidade de tentativa de golpe contra o presidente Vázquez, ajudada e avalizada pela CIA e a Casa Branca de Trump. A 13 de Março, Vázquez demitiu o comandante-chefe do exército, General Guido Manini Ríos, por este ter criticado os julgamentos de oficiais culpados de violações dos direitos humanos na ditadura militar uruguaia, por se ter reunido com políticos direitistas de oposição, e mais grave ainda, por ter visitado Bolsonaro, que elogiou ditaduras militares passadas do Brasil e doutras nações latino-americanas, incluindo o Uruguai, a Argentina e o Chile.




A CIA, dirigida pela defensora da tortura, Gina Haspel, tornou-se a tropa de choque do exército que serve os desejos de Trump e as escuras políticas neo-conservadoras de Bolton e de Pompeo. É claro que Abrams, Bolton, Pompeo, Rubio, Bannon e seus protegidos, incluindo Macri e Bolsonaro, estão a tentar recriar a OPERAÇÃO CONDOR dos anos 1960, 70 e 80, uma aliança dos serviços secretos das ditaduras da Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Paraguai e Uruguai, que eram os membros titulares, enquanto o Equador e o Peru eram membros associados. Dezenas de milhares de militantes de esquerda foram perseguidos e executados, na época da Operação Condor, que operava em plena concordância e com participação da CIA.




O regime de Macri respondeu às revelações de Padilla perante a câmara dos deputados da Argentina iniciando um processo de impugnação contra o juiz. O ministro da justiça requereu formalmente ao Conselho da Magistratura, que tem autoridade sobre os juízes, para abrir uma investigação formal a Padilla. Padilla foi sujeito a uma campanha perversa de difamação nos media argentinos pró-Macri, com alguns críticos questionando mesmo seu serviço militar durante a guerra das Malvinas contra os britânicos. Padilla, neste ponto, não difere de Robert Mueller, cujo serviço no Corpo de Marines no Vietnam também foi questionado pelos aliados de Trump.

TRADUÇÃO DE MANUEL BAPTISTA