As tempestades de neve, as inundações catastróficas são consequência de estarmos no início de nova Era Glaciar. Não deem crédito a quem vos disser que são devidas ao «efeito de estufa». https://manuelbaneteleproprio.blogspot.com/2024/09/a-grande-fraude-do-clima.html
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quinta-feira, 23 de maio de 2024

VISITA AO MONTADO DO FREIXO DO MEIO

 




O Montado do Freixo do Meio é uma enorme quinta devotada à agricultura ecológica e sustentável, com uma componente importante de educação ambiental sobretudo dirigida às jovens gerações, mas também adequada a todas as idades.
Tive o privilégio de «descobrir» recentemente este Montado, graças a uma amiga, associada ao mesmo desde há mais de uma década.
Na primeira visita, tive ocasião de comprar produtos locais, tais como legumes, frutas, mel e vinho. Estes produtos vêm, quer da própria herdade do Freixo, quer de outras unidades, seguindo práticas sustentáveis e saudáveis.
Na segunda vez, participámos numa visita guiada, orientada pelo Prof. Manuel Calado (arqueólogo). Ele tem desenvolvido uma intensa atividade de investigação no terreno, estudando estruturas e artefactos do período neolítico, ou mais recentes. A vertente educacional era evidente: Numa construção circular, que podia acolher uma turma de alunos, Manuel Calado descreveu o modo de vida neolítico do alto Alentejo com a simplicidade que apenas se alcança com um grande saber prévio.
Reconstituiu um círculo de pedras ou cromelech, copiando as dimensões relativas e a disposição no terreno, do monumento autêntico, que não é visitável. Perto de vestígios de habitações circulares dum povoamento neolítico, construiu duas casas-cabanas, segundo o que se conhece atualmente, partindo de vestígios e de implementos encontrados, utilizando técnicas e instrumentos (de pedra, osso, vime, cana, etc.) que usavam no período neolítico.
A cultura culinária também teve (nas duas visitas) lugar de honra: na primeira visita, almoçámos cozido de carne de porco, com puré de bolota e batatas; na segunda visita, vitela no forno com arroz. Ambos almoços nos deram inteira satisfação. Muitas pessoas passam por aqui, quer para atividades relacionadas com agroecologia, quer para feiras periódicas mensais onde se podem comprar produtos locais, deste montado e de outros. São produtos genuínos, quer tenham, ou não, o selo de «agricultura biológica».

O Montado do Freixo possui uma estrutura de apoio muito eficiente, permitindo reservar almoço ou participação em visita ou noutra atividade, através da página https://freixodomeio.pt/

segunda-feira, 12 de dezembro de 2022

HOLANDA: MODELO DE ECOMODERNISMO E UTOPIA TECNOCRÁTICA? [por Colin Todhunter]




O capitalismo de desastre e as narrativas da crise são presentemente usadas para manipular o sentimento popular e empurrá-lo para uma série de políticas desagradáveis que - de outro modo - não teriam aceitação política suficiente.


Tais políticas são promovidas por opulentos interesses que decidiram fazer biliões graças ao que está sendo proposto. Eles procuram obter controlo total da alimentação e de como esta é produzida. A sua visão relaciona-se com uma agenda mais vasta, que pretende moldar como a humanidade vive, pensa e atua.

Ao longo de grande parte de 2022, as manifestações dos agricultores holandeses estiveram presentes nos cabeçalhos. Os planos para diminuir para metade a produção de azoto na Holanda pelo ano de 2030, originaram os protestos de massa. O governo fala de que é preciso abandonar a agricultura baseada na produção animal e suas emissões com impacto no clima. 

Esta «transição nos alimentos» está frequentemente associada com a promoção da agricultura de «precisão», da engenharia genética, de um menor número de agricultores e explorações agrícolas e dos alimentos sintéticos. Esta transição é promovida sob a bandeira de ser «amiga do clima» e entronca na narrativa da «emergência climática».

 Willem Engel, que defende a agricultura tradicional, considera que o governo holandês não  procura eliminar os agricultores da paisagem por razões ambientais. Trata-se antes do projeto da «Cidade dos Três Estados», uma megapolis com uma população de cerca de 45 milhões, estendendo-se por áreas da Bélgica e da Alemanha.

Engel sugere que a «crise do azoto» está a ser manipulada para levar a cabo políticas que irão resultar numa reconfiguração da paisagem do país. Ele faz notar que o principal emissor de azoto na Holanda não é a agricultura, mas a indústria. No entanto, a terra atualmente ocupada com explorações agrícolas é estrategicamente importante para industrias e para habitação.

O conceito de uma megapolis dos três Estados, baseia-se numa região «verde» urbana gigantesca, conectada por «tecnologias inteligentes» que podem competir de forma rentável com as metrópoles gigantes que existem na Ásia, em especial na China. 

O governo holandês anunciou recentemente planos para compra de até 3 000 explorações agrícolas num lance destinado a satisfazer os objetivos controversos de reduzir a emissão de substâncias azotadas dos adubos sintéticos. A ministra holandesa do azoto Christianne van der Wal diz que serão oferecidos aos agricultores mais de 100 % do valor das suas explorações. Mas existem planos para expropriações em 2023, caso as medidas voluntárias falharem.

O que vemos agora na Holanda, será o passo inicial para tentar fazer o público aceitar cultivos GM (Geneticamente Modificados), «alimentos» feitos em laboratório e 90 % da humanidade ser enlatada em megacidades?

E será só coincidência que a seguinte visião do futuro eco-modernista surja em holandês no site baseado na Holanda, RePlanet.nl?

Diz que por volta de 2100 haverá dez milhares de milhões de pessoas no planeta:

"Mais de 90 %  destas viverão e trabalharão na cidade, comparados com 50 % em 2000. Em volta da cidade há grandes quintas cheias de culturas geneticamente modificadas que dão um rendimento quatro vezes maior em relação ao do início do século 21. ”

Também assinala que - para além das terras cultivadas - começa  a natureza, que então ocupará a maior parte da superfície do nosso planeta. Enquanto em 2000, metade da superfície terrestre era usada pelos humanos, em 2100 será somente um quarto.  O resto será devolvido à natureza, à biodiversidade e as emissões de CO2 regressarão ao nível anterior a 1850, enquanto quase ninguém sofrerará de pobreza extrema.

Aqui está o plano: Expulsai dos agricultores das atividades agrícolas, tomai suas terras para urbanização e reservas naturais; viveremos felizes para sempre, alimentados por culturas geneticamente transformadas e alimentação sintética produzida em fermentadores gigantes. Nesta terra tecno maravilha, ninguém será pobre, todos serão alimentados.

É a visão tecnocrática, onde o domínio dos atuais conglomerados da indústria alimentar permanece intacto e fica mais solidamente enraizado. As políticas são reduzidas a decidir-se como melhor manipular o sistema, de modo a obter ganhos (lucros) otimizados.

Neste futuro, as plataformas digitais irão controlar tudo, serão o cérebro da economia. A plataformas de e-comércio estarão embebidas no sistema, quando a Inteligência Artificial (AI) e os algoritmos planearem e determinarem o que vai ser produzido e distribuído, e como vai ser.

Seremos reduzidos a pouco mais que o estatuto de servos, enquanto uma mão-cheia de megacorporações controla tudo. Conglomerados como a Bayer, Corteva, Syngenta, Cargill e outros, trabalharão com a Microsoft, Google e as grandes tecnológicas que irão gerir as culturas dirigidas por AI, sem agricultores; o comércio será dominado por gigantes do retalho, do género de Amazon e Walmart. Um cartel de donos dos dados, de fornecedores de elementos com copyright e megagrupos de retalhistas, estarão ao comando supremo da economia, regurgitando alimentos industriais tóxicos. 

E quanto a representantes eleitos (se é que ainda existam em tal visão distópica)? O seu papel será fortemente limitado enquanto vigilantes tecnocráticos destas plataformas.

Esta é a visão para onde nos quer conduzir a classe hegemónica do tipo da Gates Foundation, da Grande Agritec, da Grande Finança (digital), da Grande Farma e de «ambientalistas» do género do jornalista George Monbiot.

Ele dirão que é para o vosso bem. Para evitar a fome e carências e para garantir que a vida selvagem será protegida, que o planeta será «salvo», que pandemias devidas a zoonoses serão evitadas; qualquer cenário apocalíptico será impossível.

O sistema de produção alimentar atual está em crise. Mas, muitos dos seus problemas foram trazidos pelos mesmos interesses corporativos que estão por detrás do que foi delineado acima. Eles são responsáveis pelo regime alimentar fundamentalmente injusto, conduzido pelo Banco Mundial, Organização Mundial do Comércio e pelo Fundo Monetário Internacional, cujas políticas são implementadas em benefício daqueles interesses corporativos.

Estas corporações são responsáveis pela degradação do solo, pela contaminação devida ao escorrimento de fertilizantes nas redes hídricas, pelo deslocamento das populações rurais e pela tomada de suas terras, a sua fuga para urbes sobrepovoadas e a proletarização (ex- produtores independentes, reduzidos a trabalho assalariado ou desemprego), a redução massiva do número de aves e de insetos, a menor diversidade nas dietas, a crise de saúde pública, em espiral crescente, devido à utilização intensiva de produtos químicos na agricultura, etc.

Porém, apesar dos problemas enormes causados por este modelo de agricultura, é uma verdade inconveniente que a agricultura dos camponeses (com baixo consumo de energia) – não a agricultura industrializada – continua a alimentar a maioria do mundo embora o modo industrial seja o principal devorador de subsídios e recursos.

Os que promovem a visão eco-modernista estão a usar preocupações genuínas em relação ao ambiente, para avançar sua agenda. Mas onde começa, então, o ambientalismo genuíno?

Ele não começa com a democracia sendo comprada (ver artigo How big business gets control over our food) ou coerção estatal (veja WikiLeaks: US targets EU over GM crops) para obter culturas GM e a sua comercialização.

Não começa com agricultura «de precisão», onde a técnica de «correção genética» e outras do género, são análogas a usar um enorme cutelo e constitui vandalismo genómico (segundo o professor de Harvard, George Church).

Não começa nem acaba com culturas geneticamente modificadas, que falharam em satisfazer suas promessas e plantas quimicamente nutridas, que são usadas como «fonte de alimento» para fermentadores consumidores de energia, onde tal matéria é transformada m alimentos.

Nem começa nem acaba com o Banco Mundial/ FMI a usarem a dívida (veja artigo Modi’s Farm Produce Act Was Authored Thirty Years Ago)  para provocar  dependência, para deslocar populações, para juntar as pessoas em cidades sobrepovoadas e retirar a humanidade da sua tradicional conexão com a terra.

Muitos dos problemas acima mencionados poderiam ser ultrapassados no longo termo, dando prioridade à soberania alimentar e de sementes, à produção localizada, às economias locais e aos cultivos agroecológicos. Mas isto não é do interesse da Bayer, Microsoft, Cargill e outras porque nada disso se encaixa no seu modelo de negócio - pois, é mesmo uma séria ameaça para ele.

Em vez de forçar os agricultores a abandonar a sua atividade, o governo holandês deveria encorajá-los a cultivar diferentemente.

Mas isso requer uma outra mentalidade dos que descrevem a agricultura como um problema em ordem  fazer avançar a todo o vapor uma agenda baseada em contos de fada tecno utópicos sobre o futuro.

O sistema de produção alimentar baseado em modelo industrializado, de elevado input, químico-dependente e corporativo, que está viciado por interesses geopolíticos, esse é o problema real.

Hans Herren, Premiado com o Prémio da Alimentação do Mundo diz:

«Temos de arredar os interesses ocultos que bloqueiam a transformação com argumentos vazios de “o mundo precisa de mais alimentos” e conceber e implementar políticas que olhem para diante...Possuímos todas as evidências científicas e práticas de que as abordagens agroecológicas à produção alimentar e à segurança na nutrição funcionam com sucesso.”

Estas políticas iriam facilitar os sistemas produtores localizados, democráticos e o conceito de soberania alimentar, baseado em otimização da autossuficiência, em princípios agroecológicos e no direito à propriedade cultural dos produtos alimentares e que as comunidades possuam e tenham a gestão comum dos recursos, nomeadamente, da terra, água, solo e sementes.»

Porque, quando se discutem alimentos e agricultura, aqui é que o ambientalismo genuíno começa.

Colin Todhunter é especialista em alimentação e agricultura e é Investigador Associado do «Centre for Research on Globalization» em Montreal. Pode ler o seu minilivro "Food, Dependency and Dispossession: Cultivating Resistance", aqui.