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quarta-feira, 5 de dezembro de 2018

UMA REDOMA DE «VERDADES»... QUE SÃO MENTIRAS

Esta é a media que nós temos no «livre» Ocidente. Os órgãos considerados de «esquerda» como o The Guardian (1) a perseguirem com mentiras Julian Assange, as incessantes campanhas governamentais anti-russas (2), apoiadas numa media mais que complacente, um silêncio total na media corporativa sobre os crimes (3) do falecido ex-presidente dos EUA e criminoso de guerra George H W Bush... A lista seria demasiado extensa e tornaria enfadonho este artigo. Mas os leitores podem sempre ver, por eles próprios, e pesquisar. 

Agora, queria colocar uma reflexão pessoal sobre esta situação. Eu sei que uma parte da cidadania está completamente abúlica, indiferente às consequências das políticas internacionais do seu país, principalmente se este for poderoso como os EUA, a Alemanha, o Reino Unido, a França... Outra parte, toma como suas as «verdades» fabricadas pela propaganda de Estado, que são constantemente propaladas, vilificando o «inimigo».  
O que eu queria colocar como questão é a da responsabilidade factual, não apenas moral, de uns e outros. 
Se alguém no vosso entorno se prepara para cometer um crime, se o chega a concretizar, se até o repete e perpetua, o vosso dever é claro: denunciar o crime e o criminoso e de forma a fazer tudo para que não possa continuar esse crime. 
Por que motivo se considera tolerável que em «nosso» nome (não dizem que o povo é «soberano» nas chamadas democracias?) se faça isso mesmo, crimes dos mais horrendos, crimes de guerra, constantemente? 

Penso que as pessoas que se acobardam e ficam muito caladinhas para não serem inquietadas, são desprezíveis. Mas, que dizer da postura de pessoas que têm voz activa, nomeadamente, os escribas da media que incitam ao ódio contra outras nações ou contra os seus governantes, os quais foram eleitos livremente e são apoiados pelos seus povos respectivos, conforme tem sido revelado em sondagens não suspeitas de conivência com os ditos governos? 
Note-se que no caso desses «fazedores de opinião», há uma deliberada vontade de manipulação da opinião pública. É um crime «perfeito» na medida em que eles/elas estão exercendo um «direito de opinião» e não serão inquietados pelas consequências -muitas vezes trágicas - das políticas que preconizaram.

Considero que muito do inferno em que se transformou o mundo contemporâneo se baseia da incapacidade das pessoas tomarem responsabilidade pelos seus actos. 
As pessoas, ao delegarem noutras as responsabilidades políticas máximas como, obviamente, a possibilidade de uma nação entrar numa guerra, não estão a aligeirar as suas responsabilidades, mas sim a tornarem-se coniventes com tudo o que seus líderes políticos decidiram em seu nome. 
Antigamente, a decisão de fazer a guerra era acompanhada por uma declaração de guerra, dirigida à potência inimiga. Quando os regimes se tornaram mais «democráticos», foi norma apenas haver declaração de guerra se esta fosse autorizada pelos respectivos parlamentos. 
Porém, a partir de certa altura, as guerras têm sido combatidas por «proxi», ou seja, por outros países ou forças que são treinadas, armadas, equipadas, financiadas por Estados poderosos como acontece, por exemplo, no caso dos grupos jihadistas no Médio Oriente ou em África. Igualmente, têm sido incentivadas guerras civis, como o conflito entre as repúblicas separatistas e o governo de Kiev, na Ucrânia, ou querelas de fronteiras, em inúmeros casos. 
Isto torna essas guerras muito piores e mais difíceis de serem terminadas, pois os que as promovem não estão directamente envolvidos e, portanto, não sofrem em pleno as consequências das mesmas. 
Quando directamente envolvidos, como os EUA e NATO na guerra sem fim do Afeganistão, trata-se de uma obsessão de grande potência e uma forma de manter um grande contingente nesta zona estratégica do mundo, sem a qual guerra, não haveria razões plausíveis para aí manter grandes bases e contingentes militares. 

As guerras são realmente a negação mais completa de todos os direitos humanos; a guerra em si mesma é considerada ilegítima pela ONU, considera-se que iniciar a guerra é - por si só - um crime contra a humanidade. 
Infelizmente, o direito internacional é feito em pedaços justamente pelas potências que teriam os meios e dever de o defenderem. A sua criminalidade é absolutamente evidente, à luz dos próprios tratados e princípios básicos que as mesmas potências instauraram e dizem defender. 
Se a nossa época se caracteriza por uma total dissociação entre princípios proclamados e a prática dos dirigentes, então isso deve-se a uma cidadania abúlica, ou conivente, com os responsáveis políticos. Quanto a estes, são tanto mais responsáveis, quanto mais poder tenham: um dirigente de partido político, um deputado, um membro de governo, têm maior responsabilidade que um simples cidadão. 
Mas os que apoiam activamente esses personagens, como jornalistas e «fazedores de opinião», constantemente presentes nos media, têm também uma larga responsabilidade. 
Os que se deixam embalar pelas suas mentiras e pela sua propaganda, ou que sejam completamente indiferentes, não acreditando, mas também não as denunciando, são coniventes com todos esses crimes.

sábado, 20 de janeiro de 2018

ESTADO ISLÂMICO, INSTRUMENTO DE TERROR IMPERIAL


                     US Gambling on the Islamic State to Undermine China and Russia’s Position in Africa


A guerra dita contra o «terror» foi um instrumento de dominação, planeado e executado pelos neocons, no aparelho de Estado (o chamado «Estado profundo») dos EUA. 
Mas, a partir da década de 2010, essa guerra «contra o terror» já estava claramente perdida com as derrotas humilhantes no Afeganistão e no Iraque, da maior superpotência que jamais infectou o planeta.
Assim, as «luminárias» da administração Obama, aproveitando a onda de contestação nos países árabes da orla do Mediterrâneo (Tunísia, Egipto, etc) produzida por um empobrecimento das pessoas e a manutenção de regimes corruptos e autoritários, desencadeia a operação chamada «primavera árabe».
Esta consistia em utilizar, nestes países, os elementos radicais islamitas, em geral de obediência sunita, onde a sociedade secreta, a Fraternidade Muçulmana, tinha muita força. 
F. W. Engdahl descreveu tal jogada, ocorrida durante a passagem de Hilary Clinton pelo Departamento de Estado dos EUA, pelo que não irei aqui desenvolver o assunto. 
Basta recordar que, muito antes de Trump, por volta de 2014, já era completamente claro o papel desastroso que esta política representava para o conjunto das nações do Médio Oriente. 
Com efeito, esta política, começada com a guerra terrorista contra a Líbia, continuou com a exportação dos Jihadistas usados como elementos no derrube do regime de Kadafi (em particular em Benghazi)  para a guerra «civil» Síria. 
Esta guerra «civil» foi claramente insuflada do exterior, numa coligação operacional que envolvia Israel, a Arábia Saudita e os Emiratos (nomeadamente o Quatar, proprietário da cadeia de tv internacional Al Jeezira), assim como os aliados / súbditos da NATO (Turquia, França, Alemanha, Grã Bretanha...). 
Mas esta guerra «civil» também não estava a correr bem: 
O regime de Damasco, em vez de ser derrubado, estava-se consolidando e começou a ser apoiado militarmente pela Rússia. Esta decidiu ir em socorro do seu aliado sírio, para contrariar estrategicamente a expansão da «Jihad» no seu território. Lembremos as Repúblicas de maioria muçulmana, da Federação Russa no Cáucaso, não apenas a Chéchénia, e das minorias muçulmanas presentes em muitas outras partes da Federação Russa.
Para contrariar a influência russa no Médio Oriente, o presidente Obama e seus conselheiros arriscaram montar uma «Segunda Al Quaida». A primeira, com Osama Bin Laden, foi também organizada pelos serviços secretos americanos, durante a luta contra a URSS, no Afeganistão. O resultado fatal e trágico é que, tal como os monstros do tipo «Frankenstein», estas organizações terroristas sempre escapam ao seu criador.  
A segunda Al Quaida foi baptizada ISIS (mas este nome não era conveniente, pois idêntico ao acrónimo oficial, em inglês, dos serviços secretos de Israel). Depois, o seu nome foi resumido para «IS» (Islamic State) ou Estado Islâmico (ou Daech).
Esta força consistia numa reunião heterogénea de mercenários jihadistas, equipados, treinados e financiados pelos serviços secretos dos EUA e diversos Estados vassalos (Turquia, Arábia Saudita, Quatar, Jordânia...).
Esta coligação manteve, durante algum tempo, o jogo duplo, de combater formalmente o Daesh, enquanto lhes fornecia equipamento e abastecimento necessários para a continuidade da guerra contra Assad, na Síria, o regime que o «Ocidente» queria a todo o custo derrubar. 
Cabe aqui reflectir no que seria hoje em dia o Médio Oriente, se estas ambições dos imperialistas se tivessem concretizado: 
- Estaríamos perante um Califado, a estender-se desde Bagdad até a Damasco. Este Califado seria de obediência fundamentalista islâmica. As minorias, árabes ou não, muçulmanas, cristãs, ou outras, seriam impiedosamente sujeitas a «limpeza étnica» (exactamente como fizeram no Kosovo com a minoria sérvia ortodoxa). Mesmo os muçulmanos não sunitas radicais (existem grandes minorias Chiitas, Alauitas, etc.) seriam submetidos, num reino de terror, como aconteceu nas zonas e cidades (Mossul, Raqqa, etc,) sob controlo do ISIS.
 Não se deve esquecer que sejam eles designados por Al Quaida, Estado Islâmico, etc. são fundamentalmente a mesma coisa: 
- uma organização de mercenários, fanatizados na versão  mais fundamentalista do Islão.

Apesar da aparente modificação (apenas retórica?) da doutrina oficial de «defesa» nacional dos EUA da era Trump, o facto é que estes continuam a apoiar estes grupos e agora planeiam usá-los* de modo encoberto, nas repúblicas (ex-soviéticas) da Ásia Central, que têm fronteiras com a Rússia e a China, com o claro propósito de colocar em cheque a Nova Rota da Seda. Desestabilizando estes vastos territórios, tanto no interior da China e Rússia, como nos Estados fronteiriços, os imperialistas continuam a apostar na política de guerra-fria, afinal mais e sempre mais guerra. 
Além do sofrimento das populações destas regiões, tais políticas podem desencadear uma guerra mundial entre superpotências. 

(*)