quinta-feira, 5 de junho de 2025

ÀS PALAVRAS RENUNCIEI [OBRAS DE MANUEL BANET]

                                                           Imagem: escrita cuneíforme

 Gostava de construir novas palavras,

Delas fazer um vocabulário

Só meu, para meus leitores

Que pudesse partilhar

Como num dicionário

Mas sem o estafado sentido


Só me acodem palavras gastas

Daquelas que são ecoadas 

Em inúmeras canções

De amor ou desesperança

Lançadas ao desbarato

Enfim, palavras chãs


Se ao menos pudesse 

Com elas construir

Algo novo, inaudito

Seria o triunfo do som

Sobre a gramática fria

A síntese genial


Então, como bandeira

Envolveria teu corpo

De cores, sons e sentidos

Na imperfeita obra

Que o poema desvela

E  toda a nudez revela


Pois renunciei  ser

O mago dos versos

A Lua não me aquece

Prefiro o forte abraço

Do vento oceânico

No meu corpo tenso


Colhi todos os perfumes,

Cores e sabores da vida 

Como jardim de mistérios

Serei mais qu' uma ave

Improvisando seu canto

Em harmonia perfeita?


Somos frutos tardios

De jardins tranquilos

Nem mais, nem menos

Nenhuma pretensão

Tivemos de profetizar

A luz que se esvai



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Murtal, 05 de Junho 2025



1 comentário:

Manuel Baptista disse...

Recolhas de poesias publicadas neste blog:
https://manuelbaneteleproprio.blogspot.com/p/poesias-2016-2021-obras-de-manuel-banet.html
https://manuelbaneteleproprio.blogspot.com/p/poesias-de-manuel-banet-desde-2022.html
https://manuelbaneteleproprio.blogspot.com/p/opus-vol-iii.html