A série de assassinatos (ou tentativas de) a que vimos assistindo e continuaremos a assistir, são operações da CIA, do MI6 e doutros serviços da OTAN, que contratam «homens de mão» para atentados terroristas. Desde 07 de Outubro de 23 assistimos a um horrível massacre contínuo de população inocente às mãos do exército IDF de Israel, cometendo crimes de guerra. Mas, também há uma multiplicação de atos de terrorismo contra alvos especiais, pelo «Grande Hegemon».

quarta-feira, 19 de julho de 2023

REPÚBLICA DOS POETAS nº2 . José Gomes Ferreira

 José Gomes Ferreira, poeta militante, num misto de poesia lírica e heroica, adota o tom perfeito para nos falar ao ouvido, como o faria nosso avô... 


Sim, tudo isto e muito mais, se poderia dizer e disse, porventura, nas homenagens ao poeta... depois de morto. Pela minha parte, lembro-me, adolescente, do maravilhamento ao ouvir discos vinil da Philips, com as gravações de poesias ditas pelo próprio poeta. 

Sem dúvida, houve compositores célebres e talentosos que musicaram alguns dos seus poemas, por exemplo, Manuel Freire ou Fernando Lopes Graça. Eles puseram o seu talento ao serviço de uma palavra que nos soava como profética, aos adolescentes dos anos 60. Num certo sentido, a profecia realizou-se e ... foi traída, como todas as utopias (que literalmente querem dizer «sem lugar onde»).

 Ele, José Gomes Ferreira e a sua obra, serão sempre membros ilustres da República dos Poetas. A propósito, descobri - há muitos anos - que o melhor método para as «autoridades» se verem livres de autores, artistas, ou outros personagens incómodos é erigirem-lhe estátuas, darem-lhes nomes de ruas, etc. , mas claro, depois de mortos e sem divulgação da sua obra junto da juventude.

Felizmente, para mim e pra outros gatos vadios, a poesia verdadeira não se vende, não se promove com reuniões de socialites, não entra em círculos snobs ou em feiras de mau gosto televisivo... 

A poesia dá-se.

Querem a prova do que acabo de dizer?  

 BALADA DUMA HEROÍNA QUE EU INVENTEI - poema de José Gomes  Ferreira

Vais morrer com a saia rota,

sem flores nos cabelos...

— Mas isso que importa

se depois de morta

ate as mãos da terra

hão-de florescê-los?

 

Vais morrer de blusa no fio,

sem laços nas tranças...

— Mas isso que importa

se depois de morta

até as mãos do Frio

penteiam as crianças?

 

Vais morrer espantada na rua,

sem fitas nos caracóis...

— Mas isso que importa

se depois de morta

até as mãos da lua

enfeitam os heróis?

 

Vais morrer a cantar numa esquina,

de sapatos velhos...

— Mas isso que importa

se depois de morta

continuarás a ser a menina

que nunca teve espelhos?

 

Vais morrer com olhos de águia presa

e meias de algodão...

— Mas isso que importa

se depois de morta

a tua beleza

não caberá num caixão.

E há-de rasgar a terra

e romper o chão

como uma primavera

de lágrimas acesa

que os homens atiram, em vão,

para a natureza?


(in Poeta Militante, 1º. Volume, Moraes Editora)


                                                https://www.youtube.com/watch?v=asx4B3hueK4


Dulcineia, Dulcineia,
volte ao que era:
uma plebeia
sem primavera

Volte aos redis,
coberta de chagas
— sem espuma em gomis
nem brilho de adagas.

Volte ao que foi,
pois ainda conserva
um cheirinho a boi,
um cheirinho a erva…

Volte a apanhar pinhas
e bosta para os fornos.
E a tanger cabrinhas
com flores nos cornos.

Volte a andar de gatas
como os outros bichos…
E esqueça as serenatas
aos seus caprichos.

Esqueça o castelo
onde os donzéis
se batiam em duelo
à século XVI…

E volte à aldeia
da sua labuta.

Dulcineia, Dulcineia,
deixe de ser Ideia
e torne-se a carne e a alma
da nova luta.

(de A Morte de D. Quixote, in Poeta Militante / Viagem do Século Vinte em Mim – 1º volume, Moraes editores, 1977 – Círculo de Poesia)

https://www.youtube.com/watch?v=gtp0kdmdRAE



Acordai, homens que dormis

a embalar a dor nos silêncios vis!

Vinde no clamor das almas viris,

arrancar a flor que dorme na raiz!

 

Acordai, raios e tufões

que dormis no ar e nas multidões!

Vinde incendiar de astros e canções

as pedras e o mar, o mundo e os corações…

 

acendei, as almas e de sois

este mar sem cais, nem luz de faróis!

E acordai, depois das lutas finais,

os nossos heróis que dormem nos covais.

 






1 comentário:

Manuel Baptista disse...

Algumas edições raras de livros de poemas de José Gomes Ferreira:

https://www.livrariaferreira.pt/livro/electrico/