Muitas pessoas aceitam a situação de massacres de populações indefesas em Gaza e noutras paragens, porque foram condicionadas durante muito tempo a verem certos povos como "inimigos". Porém, as pessoas de qualquer povo estão sobretudo preocupadas com os seus afazeres quotidianos e , salvo tenham sido também sujeitas a campanhas de ódio pelos seus governos, não nutrem antagonismo por outro povo. Na verdade, os inimigos são as elites governantes e as detentoras das maiores riquezas de qualquer país. São elas que instigam os sentimentos de ódio através da média que controlam.

quinta-feira, 21 de abril de 2022

EXTRADIÇÃO DE JULIAN ASSANGE, REVELADORA DA TOTAL FALÊNCIA MORAL DO OCIDENTE






A reportagem do vídeo acima está essencialmente correta. Qualquer pessoa que tem acompanhado o caso Julian Assange saberá quais os pontos essenciais deste caso.
Não irei, portanto, repetir aquilo que está no conteúdo do vídeo acima.
Pretendo apenas sublinhar três coisas.
1ª A morte do Estado de Direito: No Ocidente a figura do Estado de Direito foi-se afirmando, ao longo de séculos, querendo isso dizer que o Estado não se rege mais pelo capricho ou interesse dos que estão no poder, mas sim de acordo com as leis do país. Estas leis obrigam - segundo o credo da democracia liberal - os governos e os governados. Em particular, ninguém pode ser acusado e julgado por algo que não é crime na nação em que está a ser julgado.
2º A  morte da imagem de uma «esquerda» liberal, preocupada com a proteção dos direitos humanos, seja qual for a etnia, causa, país, etc. onde estão a ser violados. A chamada «esquerda» (do Reino Unido, ou de qualquer país da Europa), se nós tivéssemos de a definir por esse critério, seria o punhado de ativistas que tem persistentemente feito manifestações em frente da prisão onde está encarcerado Assange, e todos aqueles que realmente defendem Assange e denunciam a conspiração real, não uma teoria, para o ter aprisionado sem haver verdadeiro motivo (1) para tal.
3º A morte da media dita «mainstream» ou «legacy», que depois de ter beneficiado do trabalho de Assange e de Wikileaks, foi instrumentalizada (deixou-se instrumentalizar) pelos governos dominados por neocons, nos EUA, para «denunciar» Assange, supostamente por ele não ser um «jornalista», mas sim um «hacker», o que além de mentira absurda, é um comportamento vergonhoso de «arrependido»: Eles, jornalistas mainstream, seriam igualmente passíveis de prisão e condenação por «traição», visto que colaboraram na divulgação das tais imagens e dados objetivos que tanto incomodaram o poder nos EUA. Eles é que traíram Assange e a confiança que muitas pessoas honestas ainda tinham no jornalismo mainstream, agora são considerados apenas como um braço do poder, o da propaganda. 

Face a esta constatação, o melhor que se pode fazer, seja qual for o destino dado a Assange? -Trata-se, para nós, «simples cidadãos», de retirar TODA a confiança aos que se apoderaram dos comandos do governo, da justiça, etc. e que fizeram as piores velhacarias em nosso nome. 
Se nós não lhes dermos confiança, se não fizermos como se eles «apenas» se tivessem enganado, como é que eles poderão sobreviver, no longo prazo? Se ficam expostos como os piores verdugos, os piores criminosos de guerra, que nos escravizam e aterrorizam? Desejais maior prova do terrorismo do poder quando transformam os whistleblowers, ou jornalistas corajosos em bodes expiatórios, pela denúncia dos crimes DELES?
Não ficarão logo derrotados, mas o seu apoio será muito menor, se houver um sobressalto das pessoas - muitas, felizmente - que têm «decência» (a «common decency», de que falava Orwell).
Na verdade, eles sobrevivem graças à passividade de muitos de nós. Nesta e noutras situações, «quem cala, consente» ou seja, não condenar esta iniquidade, é ser cúmplice  dela.
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(1) Leia o resumo do caso por Paul Craig Roberts, AQUI
 

5 comentários:

Manuel Baptista disse...

Um jornalista comentou ontem no Twitter, em resposta à notícia de qua a extradição de Julian Assange tinha sido aprovada pelo tribunal:

«This morning, I watched in court as a judge ordered one of the most consequential journalists of our time, Julian Assange, to be extradited from my country to the US to potentially face up to two centuries in prison.

I never want to hear a word about our "free press" & democracy»

Manuel Baptista disse...

Off-Guardian sublinha, na notícia abaixo, o perigo para a liberdade no seu todo, daquilo que se está a passar com Assange, o precedente que isto coloca:
https://off-guardian.org/2022/04/20/discuss-julian-assange-to-be-extradited/

Manuel Baptista disse...

Veja o efeito da «cultura de cancelamento» um eufemismo para censura, na expressão legítima da opinião e na comunicação não servil face aos poderes:
https://consortiumnews.com/2022/04/21/pepe-escobar-big-techs-cancel-culture-love-affair/

Manuel Baptista disse...

Um abaixo assinado promovido por «Reporters Without Borders»:
https://www.globalresearch.ca/freeassange-sign-urge-uk-home-secretary-priti-patel-reject-julian-assange-extradition-united-states/5778177

Manuel Baptista disse...

https://consortiumnews.com/2022/07/11/craig-murray-the-film-about-julian-assange/
Saíu agora um documentário em que elementos da família de Julian Assange contam o sofrimento e acruel perseguição das autoridades britânicas e dos EUA, sem esquecer a conivência vergonhosa das autoridades australianas (Assange é nacional da Austrália).
Craig Murray tem sido um dos mais decididos combatentes pela liberdade de Assange. Ele próprio. tem sido perseguido pela sua defesa da justiça. Veja aqui a sua avaliação do filme-documentário há pouco estreado.
https://consortiumnews.com/2022/07/11/craig-murray-the-film-about-julian-assange/