Na sepultura jaz
Corpo em cristal encerrado
De todos escondido, ignorado
Por amnésicos sacerdotes
Está encerrado no seu tempo
Que é afinal o presente eterno
Não se move, não sente
Está presente em ausência
Irradia na escuridão total
Ergueram-lhe templos
Inventaram preces e laudas
Entoaram coros e hinos
Mas nada disso faz diferença
Nem sequer os homens bons
Saberão, pois são afinal
Todos falsamente sapientes
A conjunção orgânica
Da Natureza inteira
Cria o eterno presente
Em constante mutação
Fonte geratriz de vida
Ela não vem da razão
Mas a razão é reflexo
Dela; pálido reflexo
Sentimentos de soberba,
Orgulho, ou vaidade
São como vendas
Nos olhos, ilusões
Em recôndito sepulcro
Guarda, regista sempre
A sua imobilidade
É somente aparente
Amorosamente
Conduz a Natureza
A cumprir o destino
Que lhe foi incumbido
Através dela e no Todo
Sua obra vai brotando
É este o significado
Universal da Páscoa
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(Murtal, 16 de Abril, 2022)
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