Azul é o céu, nada mais
Nada mais que o céu azul
E para além do céu?
Nada mais, só o azul do céu.
Este azul me oprime, de tão leve que se pousa
Este azul «pan-color», de cartaz publicitário
Tão real como uma pincelada num muro
Este azul é mais agressivo do que um céu de chumbo
Que as nuvens ameaçadoras que nos trazem granizo
Este azul é inderrotável é impossível compor com ele
Pode ser que alguns o achem belo, eu não vejo nele
Senão monotonia de azul.
Mas aceito o seu veredicto, não vou argumentar
Saberei fazer como se ele não existisse
Como se por cima da minha cabeça
Não houvesse nada, absolutamente
Apenas existir sem pensar
Apenas estar sem impor
Apenas olhar sem ajuizar
Somente o céu azul me
Incomoda, bem sei porquê
Estou condicionado pela sua presença
Mas assumo ser diferente ou indiferente
Enfim, gostava de olhar a terra do céu
É isso que eu não farei tão cedo
Exilado no solo, como ave
Vendo suas irmãs voarem
Muito alto pra horizontes
De calor e abundância
Bandos de aves sem dono
As que riscam o azul do céu
Em volta do globo terrestre
Como eu gostaria de ser
Assim, o azul do céu
Não seria para mim
senão um meio de viajar
Uma autoestrada sem fim
Jogo também, complexo jogo
De orientação, de saber
Ancestral das rotas
E uma aventura inscrita
Na memória da espécie.
Ah, então eu poderia contar
As formigas humanas que
Olhavam para o nosso bando
Quando ele sobrevoava arrozais,
Ou prados, vilas ou lugares.
Já nem me lembraria muito bem
O que é ser um humano
Seria como uma memória vaga
Sonho ou pesadelo que passa
Com um batimento da asa
E talvez, nesse corpo novo
O céu se engalanasse
Num esplendor de tons vermelhos
-doirados, enquanto atravessava
O oceano, rumo ao paraíso das aves.
1 comentário:
Ver também, abaixo reunidos, os poemas editados neste blog, de 2016 -2021:
https://manuelbaneteleproprio.blogspot.com/2020/07/obras-de-manuel-banet-poesias-2016-2020.html
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