quarta-feira, 6 de abril de 2022

AZUL É O CÉU, NADA MAIS [OBRAS DE MANUEL BANET]

 

Azul é o céu, nada mais

Nada mais que o céu azul

E para além do céu?

Nada mais, só o azul do céu.

Este azul me oprime, de tão leve que se pousa

Este azul «pan-color», de cartaz publicitário

Tão real como uma pincelada num muro

Este azul é mais agressivo do que um céu de chumbo

Que as nuvens ameaçadoras que nos trazem granizo

Este azul é inderrotável é impossível compor com ele

Pode ser que alguns o achem belo, eu não vejo nele

Senão monotonia de azul.

Mas aceito o seu veredicto, não vou argumentar 

Saberei fazer como se ele não existisse

Como se por cima da minha cabeça

Não houvesse nada, absolutamente

Apenas existir sem pensar

Apenas estar sem impor

Apenas olhar sem ajuizar

Somente o céu azul me 

Incomoda, bem sei porquê

Estou condicionado pela sua presença

Mas assumo ser diferente ou indiferente

Enfim, gostava de olhar a terra do céu

É isso que eu não farei tão cedo

Exilado no solo, como ave

Vendo suas irmãs voarem

Muito alto pra horizontes

De calor e abundância

Bandos de aves sem dono

As que riscam o azul do céu

Em volta do globo terrestre

Como eu gostaria de ser

Assim, o azul do céu

Não seria para mim 

senão um meio de viajar

Uma autoestrada sem fim

Jogo também, complexo jogo

De orientação, de saber 

Ancestral das rotas 

E uma aventura inscrita 

Na memória da espécie.

Ah, então eu poderia contar

As formigas humanas que

Olhavam para o nosso bando

Quando ele sobrevoava arrozais,

Ou prados, vilas ou lugares.

Já nem me lembraria muito bem

O que é ser um humano

Seria como uma memória vaga

Sonho ou pesadelo que passa

Com um batimento da asa

E talvez, nesse corpo novo

O céu se engalanasse  

Num esplendor de tons vermelhos 

-doirados, enquanto atravessava 

O oceano, rumo ao paraíso das aves.








  

1 comentário:

Manuel Baptista disse...

Ver também, abaixo reunidos, os poemas editados neste blog, de 2016 -2021:
https://manuelbaneteleproprio.blogspot.com/2020/07/obras-de-manuel-banet-poesias-2016-2020.html