Muitas pessoas aceitam a situação de massacres de populações indefesas em Gaza e noutras paragens, porque foram condicionadas durante muito tempo a verem certos povos como "inimigos". Porém, as pessoas de qualquer povo estão sobretudo preocupadas com os seus afazeres quotidianos e , salvo tenham sido também sujeitas a campanhas de ódio pelos seus governos, não nutrem antagonismo por outro povo. Na verdade, os inimigos são as elites governantes e as detentoras das maiores riquezas de qualquer país. São elas que instigam os sentimentos de ódio através da média que controlam.

domingo, 10 de outubro de 2021

COMO AVALIAR UM TEXTO INFORMATIVO

Sendo eu formado na «escola das ciências», estou naturalmente levado a apreciar os textos informativos que se colocam numa postura de objetividade, de descrição não enviesada, de evacuação da componente subjetiva.
Note-se que isto não se aplica a quaisquer textos de índole literária sejam eles em prosa ou verso, sejam eles ou não ficções. O que me ocupa aqui, são textos que se colocam - eles próprios - na postura de «informar objetivamente».
O autor de um texto, ao escrever algo, deve selecionar, não apenas os factos que decidiu relatar, como a forma como os apresenta. Isto, nunca pode ser um procedimento inteiramente «objetivo». Porém, o esforço de objetividade consiste, neste caso, em não distorcer a apresentação dos factos, em não tentar enquadrá-los na perspetiva da visão pessoal das coisas e do mundo.
Este modo de proceder, esta ética da transmissão de informação, está ausente no universo mediático contemporâneo. Os jornalistas de hoje, frequentemente, assumem-se como propagandistas ou defensores - encapotados ou abertos - duma dada visão das coisas, duma certa forma de interpretar a realidade.
Nós estamos constantemente a ter o nosso cérebro invadido por conteúdos ditos «informativos» [seja de televisão, rádio, vídeos da Internet, ou ainda noutros suportes visuais e auditivos], todos eles - essencialmente - para serem consumidos no momento em que os lemos, ouvimos ou visualizamos. Um artigo dum magazine, dum jornal em papel, a página dum livro, podem estar disponíveis para segunda e terceira leituras; nestes casos, pode o leitor debruçar-se, numa diferente ocasião, com atenção crítica sobre estes suportes de informação, se assim o desejar.
Mas, as nossas armas de defesa, enquanto consumidores de informação, são débeis e facilmente torpedeadas pelos dispositivos mediáticos apontados ao verdadeiro alvo, que nós somos. Mais precisamente, ao nosso cérebro, ao nosso entendimento e, sobretudo, às nossas emoções: Estamos perante uma guerra não-declarada contra nós, cidadãos/súbditos. Os instrumentos mais relevantes são as «armas cerebrais de destruição maciça», que constituem o «arsenal» do universo mediático contemporâneo.
Pode-se ter isto em consideração, sem se entrar em paranoia, sem rejeitar liminarmente tudo o que seja proveniente dos media, sejam eles dos grandes conglomerados, sejam eles ditos «alternativos». Com efeito, esta distinção tem mais relação com o alcance que determinado médium tem, com a audiência que ele consegue captar, do que com real diferença qualitativa.
Em vez de nos encerrarmos numa «jaula mental» suplementar, além daquelas onde os «jornalistas» nos tentam enjaular, temos de nos firmar em longa e tenaz aprendizagem das coisas reais, da ciência em geral, como metodologia do conhecimento e das ciências biológicas, históricas, sociológicas e psicológicas em particular.
A nossa atitude perante a ciência, não deve ser reverencial, antes pelo contrário. Deve estar-se sempre disponível para olhar criticamente aquilo que nesta ou naquela ciência nos é apresentado como evidência para suportar esta ou aquela teoria. Deve-se ter a abertura para considerar que discursos heterodoxos em ciência, são não apenas «normais», como muitas vezes portadores de ideias fecundantes, de progresso no conteúdo dessa disciplina. A ideia de «consenso científico» como critério de verdade foi já por mim denunciada aqui, neste blogue.
Porém, isto não chega. Teremos de ser cada vez mais críticos sobre a informação que recebemos, porque a manipulação dos media, em geral, tem subido exponencialmente. Isto pode induzir um incauto a julgar que a informação tem aumentado exponencialmente, mas - realmente - não é assim; o que aumenta exponencialmente, é a produção de textos, que se dizem informativos, e cuja qualidade se vai abaixando, na proporção direta da sua abundância.
Submersos em lixo informativo, sabemos que muitas coisas, que realmente teriam interesse para nós, se perdem como «agulha num palheiro». Ou pior ainda, pois os motores de busca, na Internet, estão finamente programados com algoritmos que selecionam consoante a «relevância», artigos e textos. Essa relevância é apenas fabricada, é um artefacto escondido do utilizador. Não se deveria ser um utilizador ingénuo da Internet. Temos de estar conscientes que, numa busca, o próprio motor de busca, não é «neutro», está intervindo na seleção que apresenta do que vamos ler.
Além das dificuldades de avaliação própria, sobre qualquer tipo de informação, surge uma nova perversão, ainda pior. As notícias e as opiniões, nas redes sociais frequentadas pelo grande público, são sujeitas à pseudo solução da censura on-line, uma censura anónima e sem apelo, conhecida pelo termo orwelliano de «fact-checking».
Nós e somente nós próprios, é que devemos ser juízes da informação que recebemos; apenas nós temos de a hierarquizar, de acordo com nossos critérios. É certo que temos todos, embora em variado grau, instrumentos mentais, quer empíricos (decorrentes da experiência vivida), quer de conhecimento adquirido pelo contacto com as ciências.
Portanto, tal como noutros domínios da vida (psicologia e sociologia), trata-se de fazer uma escolha entre autonomia e dependência, emancipação e escravidão, postura de adultos ou de criancinhas, ou de adolescentes: O que se traduz no vocábulo empoderamento, e resume-se na tomada de responsabilidade pelo nosso corpo, a nossa mente, a nossa ação em sociedade.
Será então esta procura de autonomia na base ou na raiz do comportamento da preservação individual e coletiva, face à ameaça dos novos totalitarismos, ou dos que já se instalaram. Os nossos critérios na procura, triagem, seleção e valoração da informação, devem naturalmente obedecer ao mesmo princípio.
Note-se que este princípio é de aplicação geral, válido para qualquer pessoa; porém, o modo como ele é posto em prática é - pela sua própria definição - sempre algo de muito pessoal. É, portanto, antitético de quaisquer ditaduras.

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