terça-feira, 13 de julho de 2021

CARTA AO MEU TIO ALBERT + POST SCRIPTUM

 

                 "A educação não é a aprendizagem dos factos, mas o treino da mente para pensar"

CARTA AO MEU TIO ALBERT


Estejas lá onde tu estiveres, pois tu sabes que «Deus não joga aos dados», 

Eu te direi que hoje* bem achei uma prova daquele teu belo e profundo pensamento.

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POST SCRIPTUM: 


Às vezes, penso que o meu primeiro (??) grande erro foi o de não me ter deixado ficar pela faculdade de Medicina, em vez de desertar para Biologia.

Provavelmente, seria hoje uma pessoa algo diferente, mas não completamente diferente; só nas aparências e na visão dos outros, «do social». Mas, isso não me importa muito. Ao fim e ao cabo, fiz o que sempre gostei.

As histórias que o meu pai contava à mesa eram um bocado chatas, mas lá me iam entrando pelos ouvidos adentro e ficavam por vezes entranhadas nas circunvoluções do cérebro, à espera de oportunidade.

Pelo que jamais alguém aprendeu com os erros alheios. Sei isto, por experiência própria e por observação direta de várias gerações.

Contrariando a frase-feita, direi que a melhor coisa que existe, não são as crianças; mas sim, as crianças que têm avós/avôs e as adoram e que elas adoram. Deste convívio, resultam os maiores dons de uma para outra geração, as histórias que contam.

Para as crianças permanecerem (e não «se tornarem» pois são todas, naturalmente) inteligentes, não lhes devem colocar smartphone, ou computador, ou consola de jogos, nas mãos. Mas, livros de histórias divertidos, adequados ou, ainda melhor, a leitura desses livros...feita com os seus avós. Enfim, coisas que façam sonhar. Sabem, a faculdade de sonhar é o que faz os humanos ser aquilo que são. 

Como preservei a capacidade de sonhar? Como preservei um certo grau de fantasia, imaginação, poesia, emoção?

 - Como são preciosas as horas em companhia de pessoas mais velhas! Desde pequenino, tenho uma enorme ternura e verdadeiro fascínio pelos idosos. Para mim, é claro o porquê disto: tive as mais encantadoras, as mais queridas avós do Mundo. Entre muitas recordações, ficam as histórias de vida delas próprias e de seus esposos, histórias reais, não fantasiadas.

O meu maior privilégio foi o de ter herdado o capital humano que herdei. Nem é genético, propriamente dito, nem é cultural, tão-pouco, pois eu podia ter vivido num ambiente culto, mas frio à minha volta. 

A pouca imaginação que tenho, a capacidade de me emocionar, a fascinação não simulada pelas diversas formas de beleza, a capacidade de compaixão pelos outros, tudo isso são traços de carácter herdados. Mas herdados de quem? Não apenas das avós; também dum conjunto de pessoas, nem sempre da família próxima ou alargada, pois inclui professores e professoras, que me deram muito mais do que as matérias que lecionaram.

Independentemente da classe, do meio social, do ambiente cultural, existe a herança simples da palavra ao ouvido, dos adultos (muitas vezes, os/as avós) para as crianças.

Esta herança indelével é um tesouro que se transporta pela vida inteira. Não importam os bens materiais, não importa o grau na hierarquia das instituições sociais: Faltando esta herança, não conseguimos nunca ser inteiramente humanos.  


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*) Relaciona-se com uma operação, uma análise e com ... doce. Lamento não poder explicar em detalhe. Mas, algumas pessoas amigas compreenderão.

1 comentário:

Manuel Baptista disse...

Nova confirmação da teoria de Einstein, da relatividade e da curvatura do espaço-tempo por efeito da massa: Observou-se, pela primeira vez, a luz surgindo por detrás de um buraco negro.