A série de assassinatos (ou tentativas de) a que vimos assistindo e continuaremos a assistir, são operações da CIA, do MI6 e doutros serviços da OTAN, que contratam «homens de mão» para atentados terroristas. Desde 07 de Outubro de 23 assistimos a um horrível massacre contínuo de população inocente às mãos do exército IDF de Israel, cometendo crimes de guerra. Mas, também há uma multiplicação de atos de terrorismo contra alvos especiais, pelo «Grande Hegemon».

segunda-feira, 16 de abril de 2018

[OBRAS DE MANUEL BANET] ODE À RIBEIRA*


*Da recolha inédita «Lábios do Vento» (1979-1982). A «Ribeira» corresponde à zona do Mercado e do Cais da Ribeira, em Lisboa, locais de trabalho árduo e de vida boémia.  



ODE À RIBEIRA


Cais onde desaguam verduras mil
Sinfonia de cores, odores e gritos
Mulheres de olhar experiente
Observam o seu cliente
Gritando os seus pregões
Homens de sacas às costas
Atravessando um mar de alfaces
De couves lombardas, de aipos
De cenouras, de cravos
De todas as cores

Sob a luz iridescente
Dos candeeiros, os boémios
Sorvem o café, olhar vago,
Madeixa desgrenhada
E ao balcão de esmalte
O rapaz mexe o açúcar nos galões

Vendedeiras com batas pretas
Sobre as saias de roda
Seios abundantes arfando
Faces coradas como pimentões

As últimas prostitutas
Põem rímel e bâton
Nas suas máscaras como na tragédia antiga

Uma algazarra de buzinas
Faz levantar voo a um cortejo de gaivotas
Que debanda para os bordos dos navios
Mastodontes atracados
De onde saem cascatas de peixe prateado

E nisto, o céu começa a clarear
E lá ao longe um rubro clarão de fogueira
Abrasa o fino rendilhado do casario
E as nuvens, róseos animais que o vento deforma
Este vento fresco que sopra de manhã
Trazendo o odor a maresia, a cio e a suor

As negras em filas
Vão carregando canastas de peixe
Que se acumula nos camiões frigoríficos

Os trabalhadores, de cara tisnada, olhar cansado
Mordem o pão, bebem um gole
De vinho do Ti Zé
Aquecendo-se a um braseiro
Puxando umas passas do cigarro

Um zumbido de azáfama
Invade o campo auditivo
E nesta orgia de cores,
Cheiros e sons o espírito levanta voo

Ó homens da noite,
Rudes, sulcados de rugas,
Mãos sempre prontas a afagar as coxas abertas
De alguma sereia nocturna presa no vosso cordame

O chão está juncado de escarros, de beatas e de papéis
Oferece uma consistência mole ao andar
Os tamancos, as rodas dos carros carregando caixotes
A abarrotar de pescada luzente,
Com os seus guinchos estridentes, o seu raspar
O surdo tropel da cavalgada nocturna

E o rio sempre mansamente ondeando
Palpando o cais de seus dedos aveludados
Vai deixando alguns cacilheiros, luzes tremeluzentes
Deslizar suavemente sob o olhar fixo das gaivotas,
Sentinelas sempre alerta
Sobre o cimo dos mastros dos barcos
Balouçando ao ritmo da canção do vento

As alforrecas melancólicas dizem adeus
No meio das ondas aquelas jovens virgens
Que derramam a sua frescura sobre a amurada

No caminho do mar
O navio vai convidando do seu casco amarelo
Os marujos a subirem ao som das sirenes

As escadas de pedra carcomida vão dar
A uma mole de frutas de odor capitoso
Que nos envolve, nos lança um pregão,
Que nos recorda os passos daquela varina
Descendo a calçada, ancas dengosas, as saias alevantando-se
E deixando entrever as pernas rijas

Bebei este Mundo
Penetrai neste grande arraial nocturno de olhos cerrados
Para melhor sentir o cheiro que vos sobe às narinas







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