quarta-feira, 18 de outubro de 2017

SOBRE OS BEATLES

A uma distância de meio século, porque razão a geração que cresceu nos anos 60 foi praticamente construída - ideologicamente, mas sobretudo esteticamente - pelos Beatles?
O que eles faziam, musicalmente e poeticamente, era sempre de uma qualidade grande, muito grande mesmo. 
Parecia fácil, entrava no ouvido, mas era uma permanente renovação de um som, indo buscar a tudo o que estava ao seu alcance, desde as ragas indianas aos concertos sinfónicos, não desprezando as suas raízes de rythm and blues.

Como foi possível, porque razão eles eram (e são ainda) únicos?


                           Com mais de 60 anos, continuam a ser perfeitos, originais, inimitáveis.

terça-feira, 17 de outubro de 2017

HAENDEL - ária da ópera Ariodante

«Scherza, infida in grembo al drudo»
(Ariodante)- Handel
Rolando Villazón com Paul Mac Creesh e Gabrieli Players - 2008




Uma das mais belas árias do barroco, aqui interpretada magistralmente.
No espectáculo total da ópera desse tempo, não apenas deviam revelar-se os talentos dos cantores, como também devia ser ocasião dos compositores traduzirem em música toda a gama das paixões humanas.
Haendel, como ninguém, conseguiu transpor para música os sentimentos complexos de ciúme e dum amor ainda vibrante, que experimenta o protagonista desta ópera Ariodante.
Outras árias das suas óperas e oratórias possuem intensidade dramática e beleza semelhantes a esta peça.
Como genial pintor de sons, em dois traços ele consegue traduzir o indizível. Com alguns sons apenas, magistralmente colocados sobre palavras, acompanhados do discreto fundo sonoro da orquestra, consegue este prodígio.
O mais estranho é que, segundo várias biografias, Haendel não foi homem de grandes paixões: soube porém exprimir na música os mais arrebatados estados de alma.

segunda-feira, 16 de outubro de 2017

A SOLUÇÃO REALISTA PARA FOGOS EM PORTUGAL E MUITO MAIS

                     

Continuamos a atirar para «os políticos», para «os partidos» e para as forças económicas, como sendo os responsáveis pelo estado de enorme falta, que origina as tragédias dos incêndios e a quotidiana má gestão, que não causa mortes ou danos visivelmente, que não tem direito às primeiras páginas de jornal, mas que tem efeitos tão ou mais devastadores, que os referidos incêndios.
Mas, se calhar, não são eles, os únicos responsáveis de todas as calamidades que se abatem sobre este país.

A cidadania em Portugal tem sido adormecida ao som de canções de embalar ou cantos sereia, emitidos pelos figurões dos partidos, os quais sabem fazer o discurso que o povo quer ouvir.



Trata-se de uma espécie de engano muito peculiar, pois os que são enganados, sabem - afinal - que o estão a ser. Mas, ainda assim, querem ouvir promessas,  querem «acreditar», querem ter «esperança» e votam  - em geral - segundo a etiqueta ideológica, mas não fazem mais do que isso. O seu papel, na democracia, limita-se a colocar um voto na urna, de tempos em tempos. E isso não é participação nenhuma!

Deveria ser o papel das pessoas mais conscientes o de perceberem e explicarem porque motivo esta «democracia» não funciona, nem mesmo ao nível mais elementar. 
A razão é simples: não existe, de facto, qualquer representação que não se degrade - com o tempo - em compadrio, em troca de favores, em esteio para a corrupção. O único antídoto para isto, é a democracia directa, ou democracia assembleária. 
Ou seja, as pessoas «comuns» têm de mudar completamente de atitude; têm de colocar a resolução dos problemas nas suas próprias mãos. 
Teoricamente, os níveis da freguesia e do município deveriam ser apropriados para se ensaiar desde já uma política verdadeira, ou seja, em Assembleias Cidadãs, com poder para controlar e, eventualmente, revogar os eleitos dos cargos. 

Deveria ser este o objectivo de quaisquer pessoas sinceras, sem outra vinculação, a não ser o compromisso que assumiram com o povo.


[NO PAÍS DOS SONHOS] VARIAÇÕES GOLDBERG



                             

Dentro de duas horas vão soar as matinas, mas estou ainda acordado. 

- Será que a minha filha conseguiu chegar a São Petersburgo? Porque é que as comunicações são tão demoradas? Não estamos no século XVIII, o chamado «Século das Luzes»? 

- Ainda continuo a pensar no que vou fazer com o despacho do barão de Z, o meu «ouvido especial» junto da corte de Berlim. O relato da conversa entre o barão de Z e o conde de L, poderá ser da mais alta importância para os interesses de sua Alteza a Czarina de todas as Rússias, mas tenho de encontrar maneira de confirmar os dados por outros meios, sem o que apenas entra na categoria de boatos.

- Aquele médico que me trouxe as medicações para a gota tinha uma conversa bem amável; também é apreciador de boa música, entusiasmado com o novo estilo, cultivado por Carl Philip Emmanuel, filho do velho Bach, que obteve o cargo de Kappelmeister na corte de sua Majestade Frederico da Prússia. Não é pequeno feito, obter tal nomeação, pois o rei-músico tem um nível de exigência quase tão grande com seus músicos, quanto com seus oficiais do exército!

- Neste continente as guerras sucedem-se após pequenos intervalos de paz, negociados penosamente pelas chancelarias das potências. Mas o nosso trabalho de diplomatas é logo desfeito pela ambição de monarcas e pelas intrigas de corte. Já estou velho e cansado de tantos anos a servir sua Alteza a Czarina, neste papel sem qualquer esperança de que os homens ganhem juízo.

Agora, o dia já está a clarear e ouve-se o chilrear das aves matinais. Vou traçando a custo estas palavras; estou quase a adormecer. Só me vem o sono pela ação conjunta de substâncias soporíferas e da música... 
Vou pedir ao rapaz, que está executando a minha peça preferida, uma composição do velho mestre de Eisenach, para se retirar para os seus aposentos.  


(A história extraordinária desta ária com variações pode ser ouvida aqui,  em francês antecedendo uma bela interpretação de Pierre Hantai)



sábado, 14 de outubro de 2017

«LACRIMOSA» - REQUIEM DE MOZART


Wolfgang Amadeus Mozart - Requiem, K. 626 - Lacrimosa Claudio Abbado, maestro, com a orquestra do festival de Lucerna e
Coro da Rádio da Baviera e
Coro da Rádio Sueca
Concerto gravado no festival de Lucerna, em Agosto 8, 2012.

sexta-feira, 13 de outubro de 2017

HOLLYWOOD, PREDADORES SEXUAIS E PEDÓFILOS


A produção da indústria do cinema nos EUA está relacionada com a sexualidade perversa de Harvey Weinstein e de muitos outros. Hollywood está cheio de perversos sexuais e de pedófilos...

Pessoalmente, há muito tempo que evito ver filmes de Hollywood. O seu aparente brilhantismo vive apenas de orçamentos monstruosos.  Quanto a talento propriamente dito, há muito pouco quer a nível realizadores, quer de actores. Quanto aos efeitos especiais,  são efectivamente impressionantes, mas são produzidos em laboratório, por batalhões de técnicos anónimos. 
Por outro lado, a indústria cinematográfica dos EUA  abafa completamente a indústria doutros países e zonas do globo, conseguindo fazer com que nas salas de cinema de Portugal e de muitos outros países quase só passem filmes dessa proveniência, assim como nas televisões, inclusive em canais dedicados à «7ª arte» em exclusivo.

As feministas deveriam boicotar, com toda a energia, a indústria de Hollywood pois, não apenas a imagem da mulher aí representada é simplesmente a de um objecto sexual, como isso acontece também na realidade sórdida dos negócios de grandes empresários, como Weinstein: as actrizes que queriam ser contratadas já sabiam - e revelaram-no - que tinham de submeter-se à gula sexual deste ou de outros, que controlam o negócio. 

Uma civilização onde a dissolução moral ou ética é observável em todo o lado e onde a aceitação acrítica das pessoas permite todas as perversidades, desde que sejam perpetradas por famosos, poderosos e multimilionários... é uma civilização em decadência. Hollywood  é sintoma de que o seu fim está próximo.  

quinta-feira, 12 de outubro de 2017

ALGORITMO PARA A COMPLEXIDADE

Nassim Taleb já avançou um pedaço com as suas visões relativas às complexidades de um mundo onde não existe um determinismo, o mesmo é dizer, caótico. Porém, estamos muito longe de completar esta visão, mesmo se há homens, como Jim Rickards, a utilizarem métodos de análise derivados das teorias da complexidade.

Na sociedade globalizada, as relações não são simplesmente «horizontais» ou «verticais», mas ocorrem em vários planos simultaneamente.
Os sistemas de poder, desde a economia, às relações internacionais, atingem uma complexidade impossível de ser dominada por um ser humano, obviamente, mas mesmo por uma poderosa organização, dotada de meios de vigilância quase infinitos, como é o caso da NSA. Veja-se a este propósito o que diz o whistleblower Binney a Sarah Westhall, neste vídeo.

O dilema do local versus global, é um falso dilema, pois os dois termos são inseparáveis: nunca haverá um «global» que não seja composto de múltiplos «locais»  e nunca o que é da esfera «local» se confina estritamente a esse espaço, pois o ultrapassa no seu intercâmbio com o entorno.

Então, sem pretender ser original, que não é meu objectivo afinal, mas indo buscar à sabedoria acumulada por incontáveis gerações, sei que podemos sair de toda a teia de falsos dilemas, podemos deixar de ficar «esmagados» pela imensidão de variáveis que influem na nossa vida e do nosso entorno, desde o próximo até à longínqua galáxia…

Eis o «algoritmo» para se saber viver e «navegar» num mundo de complexidade inextricável:
 Devemos focalizar a nossa atenção, desenvolver o nosso talento em tudo o que está ao alcance; o resto, sendo real e por nós reconhecido como tal, está para lá da nossa capacidade de intervenção e compreensão aprofundada. 
A prudência ordena que não nos vamos imiscuir a tentar modificar o que está para além do domínio de competência que nos é próprio. 
Note-se que tal domínio pode ser muito vasto para certas pessoas ou muito restrito para outras. 
Por isso, também é essencial cumprir o preceito socrático «conhece-te a ti próprio».

Este algoritmo aplica-se na vida económica, por exemplo, não deve multiplicar os investimentos por «n» objectos, para além daquilo que será capaz de abarcar (imaginemos alguém que tivesse de gerir «n» propriedades, urbanas, rurais, comerciais e industriais, dispersas por todo o país… claro que não poderia ser bem sucedido, se estivesse essencialmente sozinho nessa tarefa).

Mas também se aplica a um domínio filosófico, como a discussão em torno da existência ou não de divindade. 
O alcance do espírito humano não é superior a um certo limite. 
Sendo claro que não poderá abarcar todo o universo, na sua extensão espaço-tempo, logicamente, a questão da existência ou não de Deus, do ponto de vista filosófico é uma questão sem solução. 
As pessoas fariam melhor em se debruçar sobre questões pertinentes humanamente e que, embora sem solução agora, se espera acabarão por encontrar solução, futuramente. Este questionar é o típico da ciência destes últimos três séculos que, como sabemos, teve imenso sucesso, mesmo que também tenha trazido problemas.

O leitor poderá pensar que este algoritmo, afinal, não é mais do que a aplicação do bom senso. 
Sim, mas o tal bom senso, dele todos dizem possui-lo, mas -afinal- está muito mal distribuído. 
A tal ponto que, para não confundir com uma falsa sabedoria, convencida e ignorante, prefiro inverter os termos e falar antes de «Senso Bom*».

[*titulo de colectânea inédita de ensaios filosóficos que escrevi nos anos de 1989 e 1990]