domingo, 12 de fevereiro de 2017

DA GENTRIFICAÇÃO

Na concorrida sessão na Fábrica de Alternativas (Algés), fomos convidados a ouvir e debater com Luís Mendes, Augustin Gant e Marina Carreiras, sobre as causas, os efeitos e os condicionamentos, no curto e longo prazo, da gentrificação nas nossas zonas urbanas.

A gentrificação foi definida pelo primeiro palestrante, Luís Mendes, como significando um deslocamento da população que tradicionalmente habita uma zona, normalmente de interesse turístico, para a instalação de uma nova população, constituída por indivíduos e famílias de capacidade económica nitidamente superior à população tradicional, havendo uma intensificação deste fenómeno com a gentrificação turística porque, neste caso, todo o tecido urbano - e não apenas a aquisição ou arrendamento de habitação - fica fortemente condicionado pela «invasão» turística.

Augustin Gant, falou-os a seguir, como testemunho e estudioso do efeito do turismo no tecido social do sul de Espanha. A sua perspectiva é, com razão, muito crítica em relação ao consenso fabricado de que «o turismo é uma coisa boa, porque tem efeitos positivos em toda a economia de um país», tendo estudado com maior pormenor o que ocorreu na zona central de Barcelona, nos últimos 30 anos. 

A terceira oradora do serão, Marina Carreiras, deu-nos um panorama do concelho de Oeiras com especial enfoque na freguesia de Algés, nos últimos decénios, tendo ficado claro que a população residente rejuvenesceu: verifica-se a importação de gente jovem e o aumento da natalidade da ordem de 18%. Esta nova população possui nível económico e sócio-profissional mais elevado que a população envelhecida, que existia anos 80, fragilizada economicamente. 
Algés tem continuidade física - em termos de tecido urbano e de rede de transportes - com Lisboa, sendo um subúrbio bastante antigo. Será naturalmente uma escolha pertinente para todos aqueles que não têm posses para viver com conforto na capital, mas que aí trabalham ou estudam. 
Não tem as características de «dormitório» das periferias das grandes cidades, onde grandes blocos de cimento se perfilam no horizonte, com uma população que vai todos os dias trabalhar a muitos quilómetros de distância. 
Algés conta com uma malha urbana estabilizada e possui uma grande diversidade de comércio. A taxa de nascimentos subiu muito acima da média nacional e do próprio concelho de Oeiras, havendo um aumento correlativo do preço de compra das habitações e dos alugueres. 
Penso que estes fatores indicam o efeito de proximidade em relação à gentrificação turística, muito acentuada, que tomou conta dos espaços urbanos de Lisboa. 
O efeito de aumento exponencial da população jovem e, correlativamente, das rendas em Algés é um efeito reflexo do que se passa em Lisboa. 
Na capital, para famílias de recursos modestos ou médios, tornou-se inviável a compra ou arrendamento em todo o lado, já não apenas nas áreas mais afetadas pelo fenómeno da gentrificação turística,  já não apenas para aquelas faixas da população com menor capacidade económica, como seja o caso de estudantes ou de jovens com rendimentos baixos e incertos.

Na viva discussão que se seguiu apontaram-se várias questões que são subjacentes ao fenómeno de gentrificação: falou-se das mudanças na lei dos arrendamentos, nos grupos internacionais investindo no imobiliário, na completa descaracterização da paisagem humana, como uma «bomba de neutrões» deixando bairros ditos típicos vazios dos autóctones e onde deixou de haver a vida tradicional. 
Nestes bairros investidos pelo turismo as habitações são alugadas ao dia. Uma rua de Alfama (prédios com um ou dois pisos apenas) pode ter mais de uma centena de apartamentos para aluguer turístico. Quanto à raríssima oferta de aluguer de longo prazo, é de preço bem acima das possibilidades da família com rendimento médio. 
Todos os comércios e serviços são desviados para  satisfazer o turismo. Outras actividades, não directamente dependentes do turismo, estão condenadas. Dá-se o efeito «bola de neve»: à medida que desaparecem os empregos que tradicionalmente eram ganha-pão da população de uma zona, as pessoas deixam de lá morar e isso vai causar o desaparecimento do comércio de proximidade que naturalmente abastecia essa população e o ciclo vicioso vai-se agravando irreversivelmente. 

A gentrificação turística é porventura a mais agressiva modalidade de gentrificação. Ela é consequência do fenómeno turístico, ele próprio altamente sujeito a modas, a acontecimentos geopolíticos, além da constante alternância entre períodos de expansão e de crise, próprios do capitalismo. 
A sustentabilidade de tal modelo é nula ou muito fraca e sempre no curtíssimo prazo, os decisores políticos sabem-no perfeitamente. No entanto, facilitaram os referidos alojamentos turísticos e os albergues (hostels) nos últimos dez anos na cidade de Lisboa, com o falacioso argumento de que isso traz dinheiro, actividade económica e emprego: resta saber que aplicação é dada ao dinheiro, qual a qualidade e a sustentabilidade das atividades económicas e sobretudo se esse tal emprego é de qualidade, se as remunerações são a um nível decente ou se são empregos temporários, mal pagos, com uma total desprotecção em termos de direitos e condições laborais?

Há muito que fazer e que trabalhar para desenvolver uma luta (desigual) entre a cidadania, que reclama o espaço urbano como seu, face ao poder do dinheiro que tem influenciado de maneira avassaladora o establishment político e mediático. 
Se houver uma forte pressão sobre os políticos nas autarquias, com «observatórios cívicos» permanentes, que revelem as realidades no terreno, permitindo que se leia a realidade por debaixo da propaganda auto-elogiosa desses poderes... talvez se possa fazer valer os desejos e direitos das populações.



sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017

CHAVES PARA COMPREENDER A ESQUERDA CONTEMPORÂNEA

Como é que a esquerda Europeia Ocidental e Norte-Americana se transformou de uma força muito poderosa, capaz de influenciar as políticas dos respectivos estados, num patético e heterogéneo desfile de vaidades e poses, sem qualquer efeito, a não ser a sua auto-deslegitimação?

A esquerda, a partir da viragem do século XIX para o século XX, passou a ter - em vários países dominantes - uma importante representação parlamentar. 
Foi a partir dessa investida nos parlamentos, que ela se pensou como agente de transformação social, política, económica e institucional a partir de cima, já não a  partir de baixo, pela revolução social, a última das revoluções. 
Esta transformação paulatina, progressiva, segundo os ideólogos da esquerda reformista, seria a melhor solução, evitando as destruições e os rios de sangue (muito do qual, de proletários), que, inevitavelmente, acompanhariam uma revolução violenta. 
O oportunismo dos reformistas cedo se fez sentir, com uma política de jogos tácticos, ora distanciando-se do poder apodado de conservador e incentivando movimentos reivindicativos, ora fazendo causa comum com esse mesmo poder, para obter benesses, partilha de lugares no aparelho de Estado e outras vantagens. 
O objectivo máximo, mesmo permanecendo nos textos dos programas partidários, tinha deixado de ser a abolição do regime do capital, mas passou a ser conquistar o poder e retribuir com lugares de prestígio, poder e dinheiro, as figuras do topo destes partidos.
No entanto, pela mesma altura, entre 1900 e 1914, o movimento operário cresceu em força, tendo-se organizado em sindicatos, os quais proclamavam a abolição da sociedade dividida em classes como objectivo último (Congresso de Amiens da CGT francesa) e definiam um campo, a luta de classes, como sendo unificador do proletariado, independentemente das preferências ideológicas, filosóficas, políticas. 
Assim, tornou-se possível construir um sindicalismo revolucionário, o qual tinha como instrumento supremo a greve geral revolucionária, como via para a transformação numa sociedade regida pelos princípios socialistas ou comunistas (quase sinónimos, nesta época). 
O grande recuo operou-se com o eclodir da 1ª Guerra Mundial. Nesta, os grupos parlamentares socialistas das várias potências, aceitaram votar a favor da mobilização geral e apoiar o «esforço de guerra», numa reviravolta completa e clara traição às suas posições da véspera e aos proclamados princípios. 
Ao sair da tragédia da 1ª guerra mundial, a classe trabalhadora dos países industrialmente avançados, sentindo-se traída pelos mesmos partidos socialistas reformistas que se arvoravam em condutores das massas, adoptou uma postura radical, mas maioritariamente autoritária e não libertária. 
Assim, floresceram os partidos epígonos dos bolcheviques da Rússia. Este partido tomou o poder na Rússia devido a condições muito específicas: nomeadamente, o estado de desespero dos proletários deste país face a uma guerra sem fim à vista. 
O partido bolchevique, uma dissidência do partido socialdemocrata, tinha sido influenciado pelas teorias de Blanqui, revolucionário francês que preconizava que um pequeno grupo decidido devia se organizar clandestinamente e derrubar o governo pelas armas, instalando uma ditadura «proletária». 
Foi isto exactamente que Lenine e seus seguidores fizeram na revolução de Outubro de 1917. 
No final da 1ª guerra mundial, eclodiram em Budapeste, Munique e Berlim, movimentos insurreccionais. Mas foram logo esmagados violentamente pelas forças da burguesia, mostrando aos seguidores de Lenine e Trotsky que uma revolução mundial não era para amanhã.
A onda de simpatia pela revolução de Outubro de 1917 permitiu, porém, construir a Internacional Comunista, havendo - a partir daí - uma apropriação do termo «comunista» pela tendência mais autoritária e golpista dentro do movimento operário internacional. 
O comunismo ou socialismo (não autoritários) tinham sido, desde a 1ª Internacional, o fundamento ideológico/teórico de organizações que se agrupavam sob a bandeira vermelha. Os libertários ou anarquistas que nela participavam, nos meados do século XIX, designavam-se socialistas ou comunistas libertários.
   
Seria muito longo e inadequado para um artigo de blog, descrever todo o trajecto das diversas forças de esquerda, quer das ditas reformistas, quer das revolucionárias, em todo o século vinte. 
Encorajo o leitor a fazê-lo por si próprio, para poder compreender o mundo de hoje, nestes cem anos passados sobre a Revolução de Outubro de 1917. O ideal será recorrer a uma grande diversidade de fontes de informação; destas, deverá preferir os documentos originais às interpretações escritas pelos autores, cujo ponto de vista influenciará a maneira como descrevem acontecimentos históricos, mesmo no melhor dos casos.

O que queria enfatizar é a relação umbilical da esquerda com a classe trabalhadora, com o operariado, com o sindicalismo de classe, na primeira metade do século XX. Isto é aplicável, quer às componentes autoritárias ou libertárias, quer defensoras de práticas reformistas ou revolucionárias. 

A partir do fim dos anos 60, o elo de classe começou a enfraquecer, até se tornar meramente histórico. 
Passou-se progressivamente para um tipo de política estruturada em torno de «causas» - ou seja - de questões de identidade. 
Estas questões não estavam ausentes dos debates e lutas da primeira metade do século XX; porém, eram vistas de maneira diferente. Consideravam-se relacionadas com o exercício do poder pela classe dominante, o qual impunha desigualdades, discriminações, para melhor exercer o seu domínio. Estas, iriam ser abolidas aquando do triunfo da sociedade igualitária, sem exploradores. 

Porém, a partir dos final dos anos 60 e sobretudo, nas últimas décadas do século XX, esta visão foi posta de lado, tendo sido aceite - no seio do povo de esquerda - que as pessoas oprimidas tinham o direito/dever de se auto-organizarem em grupos de afinidade para combater determinados aspectos das sociedades hierárquicas, opressivas. 
Quanto ao chamado «socialismo real», no bloco soviético/países de Leste (e mesmo descontando a monstruosidade do período estalinista), para a maioria da esquerda do Ocidente era visível que não teria proporcionado, nesses países, uma real evolução das mentalidades. 
Os regimes que se auto-definiam como «socialistas» não o eram na verdade, eram regimes com uma estrutura burocrática, capitalista de Estado. A não identificação das classes trabalhadoras desses países com o poder vigente, é que foi o factor decisivo da sua queda, embora haja provas de que houve, por parte de serviços e agências do Ocidente, um apoio ativo a movimentos de contestação e de dissidência, como não seria de espantar, no contexto da Guerra Fria.

As pessoas no Ocidente - dos anos 1990 até recentemente - têm vindo a esquecer o valor da ação coletiva, de fazer causa comum, tendo predominado frequentemente uma postura de extremo individualismo. 
O individualismo, em si mesmo, não será mau, na medida em que permite um distanciamento crítico da pessoa e portanto, embora não conduza a um comprometimento com lutas coletivas, pode - ainda assim - trazer um certo contributo crítico. 
Porém, o individualismo egoísta ou egolâtrico, esse não traz nada, pois se conforma com as coisas tal como elas são, conforma-se e satisfaz-se num hedonismo (satisfação imediata, sendo a única finalidade de viver), que lhe é apresentado como a coisa mais original, mas rebelde, etc, que possa o indíviduo atomizado realizar. 
O carneirismo não é incompatível com este individualismo. Pelo contrário, é o resultado da sociedade massificada por um lado, mas atomizada, por outro. 

O conceito de esquerda tem evoluído ao longo das épocas históricas, mas hoje em dia significa - em geral - uma tendência que preconiza a saída do capitalismo. O que difere entre correntes e faz com que - na prática - seja muito difícil de as conciliar é a enorme diversidade de pontos de vista sobre os caminhos para se alcançar a nova sociedade, não-capitalista. 

Estou convencido que a automatação cada vez mais intensa, mesmo em países de mão-de-obra barata como a India ou a China, vai obrigar a re-equacionar definitivamente os conceitos.
Tipicamente, os proletários são vistos somente como aqueles que são mantidos à margem e não podem usufruir dos efeitos das transformações tecnológicas, cujo trabalho só lhes permite sobreviver. 
Porém, uma enorme massa vive e trabalha em condições de servidão, alternando períodos de trabalho e de desemprego, com impossibilidade de sair desse regime... O «precariato», constitui cerca de 80% dos jovens de 30 ou menos anos, nos países do Ocidente. 
Estes servos têm, frequentemente, formação académica mais elevada do que a necessária para o trabalho que executam. Tipicamente, possuem um curso superior, quando apenas uma formação básica seria largamente suficiente para a natureza das tarefas que desempenham. 
Talvez seja esta a maior contradição, que tornará inevitável  uma explosão social, à qual as velhas receitas não se aplicam, obrigando por isso a uma mudança profunda. A contradição entre o saber e o fazer é uma contradição social, mas tem sido ocultada pela ideologia do «sucesso» e da «meritocracia». Segundo esta, as pessoas são as únicas responsáveis de seus sucessos, como dos seus fracassos. 

Tal como existe, a sociedade atual - seja nos países ditos «desenvolvidos», seja nos países em «desenvolvimento» - está a caminhar para um novo feudalismo. 
Este extremar da distribuição da riqueza e as assimetrias de poder que gera, fazem com que os muito ricos dominem, não só como detentores do capital, também graças a dispositivos tecnológicos que lhes permitem um controlo das mentes, que envolvem o sistema educativo, os mass media, a cultura de massas ... 
Porém, os excluídos desse poder material, podem aceder ao conhecimento e isso é uma base para outro poder, o qual poderá desembocar na formação de comunas livres, ou algo deste género, como tem sido repetidamente tentado, em pequena escala.

A transformação social vai acontecer, independentemente dos esquemas ideológicos de uns ou de outros. Pode-se ter um desejo de que esta transformação traga maior emancipação individual e colectiva, maior igualdade de oportunidades, maior fraternidade. Mas pode muito bem ser substancialmente diferente do que se deseja. Nada está escrito, nada está determinado.
Constato que a teoria, principalmente em relação aos movimentos sociais, só pode ser construída a posteriori, depois das transformações terem ocorrido. Porém, os ideólogos têm a pretensão de «saber qual o futuro e como se vai lá chegar»! 
Esta visão da sociedade terá de mudar. Esperemos que não haja tanta ingenuidade em relação aos «salvadores do mundo». 


quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

RONDEL PELA PAZ (*)

Vem... A paz no mundo é urgente
Vem connosco. Dá-nos as tuas mãos
Nesta ronda somos todos irmãos
Sejas do Leste, do ocidente

Norte ou Sul, é indiferente
Rejeitemos os preconceitos vãos
Vem, a paz no mundo é urgente
Vem connosco, dá-nos as tuas mãos

Vai-se erguendo um ror de gente
Contra a guerra que torna órfãos
Os filhos e inválidos os sãos

Vem, a paz no mundo é URGENTE!


(* do ciclo de poemas inéditos de 1982: «Doze Rondéis pela Paz»)

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

ACREDITEM OU NÃO...

Aquilo que nos limita, que te limita a ti leitor/a, ou a mim, que escrevo, não é mais do que o nosso ego! O nosso ego é uma espécie de prisão que não se afirma como tal, algo que te prende mas que tu não reconheces como sendo a origem das tuas inibições.

Mas o destino das pessoas é o de viver com o ego que têm, não de se verem livres do seu ego! E se o tentarem, como aconselham certos gurus, podem ficar completamente alheadas do mundo real, ou não …. Porém, não ficarão mais sábias!

A nossa natureza é assim; então, será melhor nos conformarmos e trabalharmos o ego, para que ele seja nosso vassalo, para que ele se submeta à vontade do nosso Eu verdadeiro, da nossa pessoa na sua integral maturidade. Caso consigamos, não poderemos ser derrotados em nada do que empreendemos; já porque não faremos ou planearemos o que está fora do nosso alcance, já porque estaremos capazes de apreciar as coisas boas e menos boas que a vida nos dá, sem nos lamentarmos, sem nos sentirmos «injustiçados».

Mas, sobretudo, teremos alcançado a liberdade essencial de conduzir a nossa vida, não conforme o impulso do desejo, o que será sempre um desastre, a prazo, mas duma vontade fixada em metas, por nós decididas.

Trata-se de optar pela consciência, pelo assumir consciente do nosso dever em relação a nós próprios e em relação aos outros. Se assim procedermos, seremos felizes e talvez possamos obter a estima de algumas pessoas que nós próprios estimamos.

A maior parte das pessoas não tem ideia própria sobre nada, não tem princípios e – por isso mesmo - não aplica esses princípios, mesmo que os declare. Nestas circunstâncias, mais cedo ou mais tarde, qualquer que seja a situação de partida, tais pessoas irão confrontar-se com fracassos. Podem atribuí-los a fatores externos, sem dúvida. Porém eles/elas ou terão de assumi-los e melhorar, ou continuar a vitimar-se e a negar (denegação) a evidência.

Tudo – nesta civilização - nos empurra para um aligeirar das responsabilidades, pelos nossos fracassos, pelas nossas falhas. Mas, se formos superiores a isso, se soubermos resistir à pressão da mediania e da mediocridade, saberemos encontrar a via de realização do nosso ser.

Não tenho receitas para os outros, porque não tenho para mim próprio: tenho, sim, confiança no meu juízo, no meu sentir e no meu raciocinar.
As outras pessoas podem ter ou não ter algo para me dar. Mas em qualquer caso, estou bem, não exijo delas nada; se delas vier a receber algo, no sentido espiritual, fico grato. Mas não faço questão nisso.

Sei que - a maior parte das pessoas – embora tenha uma centelha de espírito, está dominada pela escravidão do ter, do parecer, não está disponível para amar, para ser em toda a sua plenitude. Seria estupidez da minha parte, esperar tal coisa do comum dos mortais. Se algumas pessoas, na minha vida, correspondem e me pagam da mesma moeda, já estarei muito feliz, já terei imensa sorte.

   




terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

REUNIÃO, 8 DE FEVEREIRO DO MOVIMENTO «SOLUÇÕES PARA A PAZ»

Reunião mensal no dia 08 de Fevereiro, na Fábrica, às 21.00.

Ordem de trabalhos:


- Informações
- Organizar campanha em torno do «dia de defesa nacional» (13 de Março) como forma de apontar SOLUÇÕES para a paz.


RENDIMENTO MÍNIMO GARANTIDO?

           Um rendimento mínimo garantido não pode nunca ser equiparado a um salário. Um salário é uma remuneração por trabalho. Eu penso que não faz sentido um rendimento garantido, só porque uma pessoa existe. 
Penso que faz sentido a garantia de todos terem meios dignos de sobrevivência, mas com a contrapartida de todos (em condição de...) trabalharem, contribuírem para a sociedade. 
Com efeito, se as pessoas recebem um rendimento garantido, elas vão recebê-lo graças a trabalho feito por outros e cujo fruto foi, por um ou outro processo, desviado. Parte do dinheiro das contribuições e impostos dos cidadãos activos irá para esse rendimento garantido. 
Não existe aqui princípio de igualdade. Para haver princípio de igualdade, teria de haver uma contrapartida em trabalho socialmente útil. Se não for assim, teremos um sistema de assistencialismo...que não se deve confundir com socialismo, pois aquele tem vigorado em sociedades onde o sistema produtivo e a estrutura da propriedade permanecem capitalistas.
 Só um socialismo verdadeiro pode eliminar a contradição entre as necessidades do trabalho e as de sustento digno dos humanos. 
O velho lema «a cada um segundo o seu trabalho, de cada um segundo suas capacidades» tem quase dois séculos, vem do tempo da 1ª Internacional...assim como o lema «não deve haver direitos sem deveres, nem deveres sem direitos». Ambos se mantêm perfeitamente actuais, porque são princípios morais. 

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

DESTRUIÇÃO DO VALOR DAS MOEDAS-PAPEL

Leia na íntegra  aqui o notável artigo de Egon von Greyerz, um especialista em metais preciosos, gerente de uma instituição que armazena ouro e prata fora do sistema bancário, em cofres seguros. Tem transmitido aos seus clientes e ao público em geral a noção da historicidade do que chamamos «dinheiro», mas que deveríamos chamar «divisas», pois não repousa sobre nada senão a promessa do governo que emitiu a respectiva divisa. O termo latino «fiat» na expressão «fiat money» quer dizer isso: o que garante seu valor é meramente um acto de fé. Mas fé em quê? Na palavra do governo....
Abaixo, vejam um quadro* do referido artigo, que poderá dar-nos uma ideia sobre o que está verdadeiramente em jogo e quem vai ser ganhador e perdedor do propalado «reset». 

A elite começou há muito a converter parte da sua fortuna em metais preciosos. 
Não me surpreende, porém, que seus escribas de serviço (em faculdades de economia ou em jornais económicos) se esmerem a difamar o ouro e lhe atribuam responsabilidades nas disfunções de sistemas monetários passados, que ele claramente não tem. 
A cegueira ideológica de pessoas que assimilaram acriticamente uma espécie de vulgata do keynesianismo é vista com agrado pelos muito ricos, para manterem controlo sobre o sistema. Assim, as multidões continuarão a acreditar no sistema financeiro presente e em toda a economia especulativa que ele suporta, não vendo como relevante fazer precisamente aquilo que eles, muito ricos, fazem com o seu próprio património, em tempos de crise: salvaguardá-lo em bens não financeiros: ouro e prata (mais fáceis de transaccionar e transportáveis), imobiliário, terras agrícolas, joias, obras de arte, objectos de colecção... 

(*) 

Egon von Greyerz Warns £, $, €, & ¥ Will Be Worthless Within 5 Years, Gold $10k & Silver $500 GUARANTEED


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A perda inelutável de valor das moedas, nomeadamente do dollar, que funciona como a moeda de reserva mundial, tem como corolário a hiperinflação. 
A inflação monetária pelos bancos centrais emissores, sobretudo desde a crise de 2008, tem beneficiado uma pequena elite, detentora do capital financeiro, que tem tido acesso a empréstimos com juro próximo de zero. Com um privilégio desses, não é arriscado jogar na bolsa e comprar títulos, muitas vezes da própria empresa, para inflacionar a sua cotação. 
Esta hiperinflação está confinada aos domínios da especulação financeira, traduzindo-se em bolhas que acabarão por rebentar. Isto, tal como eu explicava num artigo deste blogue, não se observa agora nos artigos de consumo corrente, não passou ainda de «Wall Street» para «Main Street». Por isso, as pessoas estão completamente despreocupadas, pois não vêem nada parecido com uma hiperinflação no horizonte.
Porém, deveriam estar, pois este género de hiperinflação ocorre assim que os agentes económicos perdem confiança na moeda-papel. Se os bancos centrais estão apostados em fazer diminuir o valor das divisas que emitem, chegará o momento em que essa emissão de moeda (hiperinflação monetária) se irá traduzir na completa perda de confiança da parte dos diversos intervenientes na economia. 
Foi assim com a hiperinflação na república de Weimar (Alemanha, 1922-1923) com o dollar do Zimbabwe (que, quando lançado, estava em paridade com o dollar US), com a crise da Argentina, com a crise venezuelana, etc... Simplesmente, os agentes económicos (internos e externos) deixam de ter confiança no governo (no sistema emissor de papel-moeda), na sua capacidade de pagar integralmente as dívidas. 
Nessa altura, muita gente fica completamente arruinada, de um dia para o outro. Tal acontece, porque o fenómeno da hiperinflação não é de evolução progressiva, que vai aumentando linearmente: a hiperinflação é um fenómeno exponencial, ou seja, a progressão, com o tempo, é geométrica. Num ápice, o valor do dinheiro é completamente destruído.