A Terra vai continuar a
girar em torno do Sol, mas tudo resto que se passa neste mundo é sujeito a
mudança. Não existe ciência certa, além da matemática e o critério de verdade desta
será sempre referido a um sistema axiomático.
Noutro patamar, temos
as ciências ditas «naturais» que proclamam «leis», mas que apenas estão ao nível
de hipóteses ainda não invalidadas e admitidas como boas pela comunidade
científica, porque nos confortam na nossa visão do mundo, porque não entram em
contradição com o que sabemos ou julgamos saber.
Quanto às ciências
humanas, estas têm um estatuto de cientificidade muito diferente pois - embora
possam empregar técnicas e métodos das ciências ditas «duras» - na sua
especificidade, carecem de uma metodologia inquestionável, havendo portanto lugar
para todas as apropriações e derivas. Já me referi por extenso à Economia, tida
como «ciência rigorosa», apenas para melhor vender a visão dum mundo neoliberal (Ver
artigo: «A Grande Ilusão», no meu blogue).
Sabendo quão falíveis são as previsões, não abdico porém de olhar e de ver o que teremos coletivamente de enfrentar em 2017:
Antevejo desde já um perigo notório, o de uma escalada nas relações entre grandes potências
nucleares, EUA, China e Rússia. A tensão advém principalmente do facto de que
os EUA não se resignam a abandonar o papel de potência hegemónica, sendo esta a profunda causa das guerras lançadas pelos EUA, nas primeiras décadas deste século.
Os EUA estão a perder influência a olhos vistos, do ponto de vista estritamente
militar, apesar da sua postura agressiva, sozinhos ou usando a NATO.
Mas,
sobretudo ao nível económico e geoestratégico, com a mudança dum grande eixo de desenvolvimento: deixou de ser o eixo Atlântico, para ser claramente o eixo que
vai do Pacífico, pela Ásia central, até ao oriente do Mediterrâneo.
Além dos países deste eixo, cerca de 60 países aderiram a uma organização nova, misto Banco Mundial/ novo FMI, não controlados pelos EUA, antes pela China e outros seus aliados. Trata-se de um banco destinado a financiar infra-estruturas
em todo o mundo.
Ao nível financeiro, Wall Street, a City de Londres e Frankfurt
têm os seus dias contados: o sistema do petro-dollar está a desfazer-se
diante dos nossos olhos. É significativo que a Arábia Saudita se
entenda com a Rússia, sem pedir licença a Washington, para limitar a produção e
fazer aumentar o preço do crude nos mercados internacionais.
Estou um bocado inquieto
pelo facto de o Estado profundo, tanto nos EUA como em países da NATO, estar decidido a desencadear uma confrontação armada com os seus
competidores.
Na verdade, a guerra já existe, se considerarmos a corrida aos
armamentos, iniciada e acentuada pelos EUA, que renegaram os acordos dos mísseis antibalísticos, firmados por Reagan e Gorbatchov, aumentando a despesa
com armamento, actualizando o arsenal nuclear com bombas chamadas «tácticas»,
etc.
A guerra já existe, se considerarmos o regime de sanções económicas e
diplomáticas contra da Rússia, a pretexto da «invasão» da Crimeia, episódio que, na verdade, correspondeu a um processo democrático de escolha do seu povo
(maioria de russos étnicos; cerca de 70%) para reintegrar a nação Russa, à
qual pertenceu desde o século XVIII até que nos anos 50 do século XX, Krutchev decidiu «oferecer» esta península à Ucrânia, então uma das Repúblicas Soviéticas.
Muitos ataques de falsa bandeira foram realizados em solo europeu, no ano
que passou, claramente servindo-se de elementos djihadistas que, consciente ou
inconscientemente, se deixam instrumentalizar pelos serviços secretos para cometer os seus atentados terroristas.
Uma indicação segura de que assim é: os serviços especiais de polícia, com atiradores de elite, matam sempre os terroristas, seja qual for a circunstância em que se dá a perseguição
e cerco.
Não querem que eles se tornem incómodos num processo, dando indicações precisas sobre quem encomendou os actos terroristas. Pois
bem, se as polícias tivessem como objectivo neutralizar mas capturar com vida
os terroristas, isto seria indicação de que os poderes políticos - que
controlam as polícias- desejam obter informações sobre as tais redes terroristas. Mas não querem, pois sabem muito bem que são meros instrumentos ao serviço dos globalistas.
Quantas mortes mais por
actos terroristas ou por crimes de guerra e quantos mais países arruinados
veremos no futuro próximo?
- Não se pode saber. Mas é bem possível que
a situação mude um bocado, caso a liderança colectiva que no fundo dirige o governo Trump
adopte uma visão estratégica global multipolar, com uns EUA deixando de tentar
fazer de «polícia mundial».
Apenas observando os actos da nova administração nós poderemos saber. A retórica não nos diz nada pois, como sabemos, é destinada a enfeitar discursos e
convencer os ingénuos das boas intenções de quem governa.
Na Europa a descida do Euro aos infernos vai continuar, vai haver uma rotura em várias dimensões, como
já se verificou neste ano que acaba, mas agora no interior de cada país, também; a
instabilidade política e institucional vai crescer, à medida que a crise
económica se agrava.
Em termos gerais, não
haverá crescimento da economia mundial; haverá uma retracção, com vários países
periféricos a sofrerem severamente, principalmente os exportadores de
matérias-primas.
Os países do extremo-oriente, China, Japão e Coreia irão
experimentar dificuldades muito grandes, devido ao aprofundamento da crise das
zonas para onde tradicionalmente exportam.
No plano financeiro global, a subida dos juros dos bonds do tesouro americano pode atingir ou ultrapassar os 3%: isso vai trazer
consigo inúmeras falências e o esvaziamento das bolhas especulativas nas bolsas de acções e no
imobiliário; pelo contrário, haverá uma subida dos metais preciosos e uma descida dos metais e
matérias-primas industriais.
A mudança na Europa
será - em geral - no sentido do extremo conservadorismo, nacionalismo e xenofobia, a
par duma total dissociação da maioria das pessoas em relação aos que - supostamente - os «representam».
Se o quadro é sombrio, não é porém sem esperanças, pois existe consciência cada vez maior - em
particular na juventude - de que o sistema instaurado não se destina a servir
os cidadãos e que terá de ser a própria população a tomar nas mãos o seu
destino.