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quinta-feira, 13 de abril de 2023

BLACKSTONE, O COLAPSO ESTÁ PRÓXIMO


BLACKSTONE não é um banco mas um fundo, investido sobretudo no imobiliário. Se este fundo gigantesco com sede nos EUA, for à falência, é um trilião de dólares que se volatilizam.

Tem falhado nos seus compromissos, de várias maneiras, em relação aos acionistas. 
A queda de vendas - em Janeiro deste ano - foi de 41%. Em consequência, multiplicaram-se as saídas de capitais desinvestindo deste gigante: 4.500 milhões (4.5 billions) de dólares que saem, uma quantia brutal. 
Mas, a média «mainstream» não fala quase nada destes assuntos; não quer que saibas o que se está a passar.
Como não se trata duma instituição bancária, a FED e o Tesouro dos EUA não têm de socorrer a Blackstone, com um «bail-out» (resgate). Porém, é possível que um bail-out venha a acontecer, porque a falência deste fundo iria ser desestabilizadora para toda a finança dos EUA e globalmente.

quarta-feira, 15 de março de 2023

ELLEN BROWN: EMINENTE TSUNAMI DO QUADRILIÃO DE DÓLARES EM DERIVADOS

Na Sexta-feira 10 de Março, o Silicon Valley Bank (SVB) entrou em colapso e foi controlado pelos reguladores federais. O SVB era o 16º maior banco nos EUA e a sua falência foi a segunda maior na história dos EUA, segunda em relação a «Washington Mutual» em 2008. Apesar do seu tamanho, o SVB não era  uma “instituição financeira sistemicamente importante” (SIFI) tal como definida na lei Dodd-Frank, o que requer que os SIFI insolventes façam «resgate interno» com o dinheiro dos seus credores (incluindo depositantes) para se recapitalizarem eles próprios..

Tecnicamente, o limiar para serem designados SIFIs é terem $250 milhares de milhões em ativos. No entanto, o motivo porque são chamados sistemicamente importantes” não é o tamanho dos ativos mas o facto de que a sua falência poderia arrastar na sua queda todo o sistema financeiro.  Esta designação vem sobretudo da sua exposição aos contratos de derivados, o casino global que está tão densamente interconectado que é um «castelo de cartas». retire uma carta e o castelo de cartas desmorona-se. O SVB detinha $27.7 milhares de milhões em derivados, não é uma soma pequena, mas isto representa apenas 0,05% dos $55,387 milhares de milhões ($55.387 triliões) detidos por JP Morgan, o maior banco nos EUA e maior detentor de derivados.

O SVB poderia ser o canário na mina de carvão antecipando o destino de outros bancos extra- alavancados, mas o seu colapso não era o tipo de «risco sistémico» que se previa desencadear um contágio. Como noticiado pela CNN:

Apesar do pânico inicial em Wall Street, os analistas disseram que o o colapso do SVB é improvável que desencadeie o tipo de efeito dominó que paralisou o sector bancário durante a crise financeira. 

“O sistema está tão bem capitalizado e tão líquido como sempre esteve,” declarou o economista-chefe de Moody’s, Mark Zandi. “Os bancos que estão agora em apuros são demasiado pequenos para serem significativos enquanto ameaças para o sistema no conjunto.”

Não mais tarde que Segunda-feira de manhã, todos os depositantes com garantia terão pleno acesso aos seus depósitos garantidos, de acordo com a FDIC. Será pago, no decorrer da próxima semana, um adiantamento de dividendo aos depositantes sem garantia.”

A FDIC, a Federal Reserve e o Tesouro dos EUA chegaram agora a um acordo sobre um tipo de medida intermediária que será assunto de outro artigo. Entretanto, esta artigo está focalizado nos derivados e é um prolongamento do artigo que escrevi em 23 de Fevereiro sobre as medidas de «bail in», resgate interno,  da Lei Dodd Frank de 2010, que eliminou os resgates pelos contribuintes, ao exigir que os SIFIs insolventes se recapitalizassem eles próprios, com os fundos dos seus credores. “Credores” são definidos de molde a incluírem os depositantes, mas os depósitos abaixo de 250 mil dólares estão protegidos pelo seguro da FDIC. No entanto, o fundo da FDIC é suficiente apenas para cobrir cerca de 2% dos 9,6 triliões de dólares de depósitos segurados. Uma crise nacional desencadeando uma corrida aos depósitos em todo o país, tal como aconteceu no início dos anos 1930, iria esgotar o fundo. Hoje, alguns personagens da finança estão a prever uma crise desta magnitude, devido à subida rápida das taxas de juro. Este artigo examina qual a verosimilhança disto acontecer, o que pode ser feito para a sua prevenção, ou para se evitar ser impactado em cheio pela crise.

[Continuação em inglês no original de acordo com o link AQUI]



“Financial Weapons of Mass Destruction”

In 2002, mega-investor Warren Buffett wrote that derivatives were “financial weapons of mass destruction.” At that time, their total “notional” value (the value of the underlying assets from which the “derivatives” were “derived”) was estimated at $56 trillionInvestopedia reported in May 2022 that the derivatives bubble had reached an estimated $600 trillion according to the Bank for International Settlements (BIS), and that the total is often estimated at over $1 quadrillion. No one knows for sure, because most of the trades are done privately.

As of the third quarter of 2022, according to the “Quarterly Report on Bank Trading and Derivatives Activities” of the Office of the Comptroller of the Currency (the federal bank regulator), a total of 1,211 insured U.S. national and state commercial banks and savings associations held derivatives, but 88.6% of these were concentrated in only four large banks: J.P. Morgan Chase ($54.3 trillion), Goldman Sachs ($51 trillion), Citibank ($46 trillion), Bank of America ($21.6 trillion), followed by Wells Fargo ($12.2 trillion). A full list is here. Unlike in 2008-09, when the big derivative concerns were mortgage-backed securities and credit default swaps, today the largest and riskiest category is interest rate products.

The original purpose of derivatives was to help farmers and other producers manage the risks of dramatic changes in the markets for raw materials. But in recent times they have exploded into powerful vehicles for leveraged speculation (borrowing to gamble). In their basic form, derivatives are just bets – a giant casino in which players hedge against a variety of changes in market conditions (interest rates, exchange rates, defaults, etc.). They are sold as insurance against risk, which is passed off to the counterparty to the bet. But the risk is still there, and if the counterparty can’t pay, both parties lose. In “systemically important” situations, the government winds up footing the bill.

Like at a race track, players can bet although they have no interest in the underlying asset (the horse). This has allowed derivative bets to grow to many times global GDP and has added another element of risk: if you don’t own the barn on which you are betting, the temptation is there to burn down the barn to get the insurance. The financial entities taking these bets typically hedge by betting both ways, and they are highly interconnected. If counterparties don’t get paid, they can’t pay their own counterparties, and the whole system can go down very quickly, a systemic risk called “the domino effect.”

That is why insolvent SIFIs had to be bailed out in the Global Financial Crisis (GFC) of 2007-09, first with $700 billion of taxpayer money and then by the Federal Reserve with “quantitative easing.” Derivatives were at the heart of that crisis. Lehman Brothers was one of the derivative entities with bets across the system. So was insurance company AIG, which managed to survive due to a whopping $182 billion bailout from the U.S. Treasury; but Lehman was considered too weakly collateralized to salvage. It went down, and the Great Recession followed.

Risks Hidden in the Shadows

Derivatives are largely a creation of the “shadow banking” system, a group of financial intermediaries that facilitates the creation of credit globally but whose members are not subject to regulatory oversight. The shadow banking system also includes unregulated activities by regulated institutions. It includes the repo market, which evolved as a sort of pawn shop for large institutional investors with more than $250,000 to deposit. The repo market is a safe place for these lenders, including pension funds and the U.S. Treasury, to park their money and earn a bit of interest. But its safety is insured not by the FDIC but by sound collateral posted by the borrowers, preferably in the form of federal securities.

As explained by Prof. Gary Gorton:

This banking system (the “shadow” or “parallel” banking system) – repo based on securitization – is a genuine banking system, as large as the traditional, regulated banking system. It is of critical importance to the economy because it is the funding basis for the traditional banking system. Without it, traditional banks will not lend and credit, which is essential for job creation, will not be created.

While it is true that banks create the money they lend simply by writing loans into the accounts of their borrowers, they still need liquidity to clear withdrawals; and for that they largely rely on the repo market, which has a daily turnover just in the U.S. of over $1 trillion. British financial commentator Alasdair MacLeod observes that the derivatives market was built on cheap repo credit. But interest rates have shot up and credit is no longer cheap, even for financial institutions.

According to a December 2022 report by the BIS, $80 trillion in foreign exchange derivatives that are off-balance-sheet (documented only in the footnotes of bank reports) are about to reset (roll over at higher interest rates). Financial commentator George Gammon discusses the threat this poses in a podcast he calls, “BIS Warns of 2023 Black Swan – A Derivatives Time Bomb.”

Another time bomb in the news is Credit Suisse, a giant Swiss derivatives bank that was hit with an $88 billion run on its deposits by large institutional investors late in 2022. The bank was bailed out by the Swiss National Bank through swap lines with the U.S. Federal Reserve at 3.33% interest.

The Perverse Incentives Created by “Safe Harbor” in Bankruptcy

In The New Financial Deal: Understanding the Dodd-Frank Act and Its (Unintended) Consequences, Prof. David Skeel refutes what he calls the “Lehman myth”—the widespread belief that Lehman’s collapse resulted from the decision to allow it to fail. He blames the 2005 safe harbor amendment to the bankruptcy law, which says that the collateral posted by insolvent borrowers for both repo loans and derivatives has “safe harbor” status exempting it from recovery by the bankruptcy court. When Lehman appeared to be in trouble, the repo and derivatives traders all rushed to claim the collateral before it ran out, and the court had no power to stop them.

So why not repeal the amendment? In a 2014 article titled “The Roots of Shadow Banking,” Prof. Enrico Perotti of the University of Amsterdam explained that the safe harbor exemption is a critical feature of the shadow banking system, one it needs to function. Like traditional banks, shadow banks create credit in the form of loans backed by “demandable debt”—short-term loans or deposits that can be recalled on demand. In the traditional banking system, the promise that the depositor can get his money back on demand is made credible by government-backed deposit insurance and access to central bank funding. The shadow banks needed their own variant of “demandable debt,” and they got it through the privilege of “super-priority” in bankruptcy. Perotti wrote:

Safe harbor status grants the privilege of being excluded from mandatory stay, and basically all other restrictions. Safe harbor lenders, which at present include repos and derivative margins, can immediately repossess and resell pledged collateral.

This gives repos and derivatives extraordinary super-priority over all other claims, including tax and wage claims, deposits, real secured credit and insurance claims. [Emphasis added.]

The dilemma of our current banking system is that lenders won’t advance the short-term liquidity needed to fund repo loans without an ironclad guarantee; but the guarantee that makes the lender’s money safe makes the system itself very risky. When a debtor appears to be on shaky ground, there will be a predictable stampede by favored creditors to grab the collateral, in a rush for the exits that can propel an otherwise-viable debtor into bankruptcy; and that is what happened to Lehman Brothers.

Derivatives were granted “safe harbor” because allowing them to fail was also considered a systemic risk. It could trigger the “domino effect,” taking the whole system down. The error, says Prof. Skeel, was in passage of the 2005 safe harbor amendment. But the problem with repealing it now is that we will get the domino effect, in the collapse of both the quadrillion dollar derivatives market and the more than trillion dollars traded daily in the repo market.

The Interest Rate Shock

Interest rate derivatives are particularly vulnerable in today’s high interest rate environment. From March 2022 to February 2023, the prime rate (the rate banks charge their best customers) shot up from 3.5% to 7.75%, a radical jump. Market analyst Stephanie Pomboy calls it an “interest rate shock.” It won’t really hit the market until variable-rate contracts reset, but $1 trillion in U.S. corporate contracts are due to reset this year, another trillion next year, and another trillion the year after that.

A few bank bankruptcies are manageable, but an interest rate shock to the massive derivatives market could take down the whole economy. As Michael Snyder wrote in a 2013 article titled “A Chilling Warning About Interest Rate Derivatives:”

Will rapidly rising interest rates rip through the U.S. financial system like a giant lawnmower blade? Yes, the U.S. economy survived much higher interest rates in the past, but at that time there were not hundreds of trillions of dollars worth of interest rate derivatives hanging over our financial system like a Sword of Damocles.

… [R]ising interest rates could burst the derivatives bubble and cause “massive bankruptcies around the globe” [quoting Mexican billionaire Hugo Salinas Price]. Of course there are a whole lot of people out there that would be quite glad to see the “too big to fail” banks go bankrupt, but the truth is that if they go down, our entire economy will go down with them. … Our entire economic system is based on credit, and just like we saw back in 2008, if the big banks start failing, credit freezes up and suddenly nobody can get any money for anything.

There are safer ways to design the banking system, but they are not likely to be in place before the quadrillion dollar derivatives bubble bursts. Snyder was writing 10 years ago, and it hasn’t burst yet; but this was chiefly because the Fed came through with the “Fed Put” – the presumption that it would backstop “the market” in any sort of financial crisis. It has performed as expected until now, but the Fed Put has stripped it of its “independence” and its ability to perform its legislated duties. This is a complicated subject, but two excellent books on it are Nik Bhatia’s Layered Money (2021) and Lev Menand’s The Fed Unbound: Central Banking in a Time of Crisis (2022).

Today the Fed appears to be regaining its independence by intentionally killing the Fed Put, with its push to raise interest rates. (See my earlier article here.) It is still backstopping the offshore dollar market with “swap lines,” arrangements between central banks of two countries to keep currency available for member banks, but the latest swap line rate for the European Central Bank is a pricey 4.83%. No more “free lunch” for the banks.

Alternative Solutions

Alternatives that have been proposed for unwinding the massive derivatives bubble include repealing the safe harbor amendment and imposing a financial transaction tax, typically a 0.1% tax on all financial trades. But those proposals have been around for years and Congress has not taken up the call. Rather than waiting for Congress to act, many commentators say we need to form our own parallel alternative monetary systems.

Crypto proponents see promise in Bitcoin; but as Alastair MacLeod observes, Bitcoin’s price is too volatile for it to serve as a national or global reserve currency, and it does not have the status of enforceable legal tender. MacLeod’s preferred alternative is a gold-backed currency, not of the 19th century variety that led to bank runs when the banks ran out of gold, but of the sort now being proposed by Sergey Glazyev for the Eurasian Economic Union. The price of gold would be a yardstick for valuing national currencies, and physical gold could be used as a settlement medium to clear trade balances.

Lev Menand, author of The Fed Unbound, is an Associate Professor at Columbia Law School who has worked at the New York Fed and the U.S. Treasury. Addressing the problem of the out-of-control unregulated shadow banking system, he stated in a July 2022 interview with The Hill, “I think that one of the great possible reforms is the public banking movement and the replication of successful public bank enterprises that we have now in some places, or that we’ve had in the past.”

Certainly, for our local government deposits, public banks are an important solution. State and local governments typically have far more than $250,000 deposited in SIFI banks, but local legislators consider them protected because they are “collateralized.” In California, for example, banks taking state deposits must back them with collateral equal to 110% of the deposits themselves. The problem is that derivative and repo claimants with “supra-priority” can wipe out the entirety of a bankrupt bank’s collateral before other “secured” depositors have access to it.

Our tax dollars should be working for us in our own communities, not capitalizing failing SIFIs on Wall Street. Our stellar (and only) state-owned model is the Bank of North Dakota, which carried North Dakota through the 2008-09 financial crisis with flying colors. Post-GFC (the Global Financial Crisis of ’07-’09), it earned record profits reinvesting the state’s revenues in the state, while big commercial banks lost billions in the speculative markets. Several state legislatures currently have bills on their books following the North Dakota precedent.

For a federal workaround, we could follow the lead of Jesse Jones’ Reconstruction Finance Corporation, which funded the New Deal that pulled the country out of the Great Depression. A bill for a national investment bank currently in Congress that has widespread support is based on that very effective model, avoiding the need to increase taxes or the federal debt.

All those alternatives, however, depend on legislation, which may be too late. Meanwhile, self-sufficient “intentional” communities are growing in popularity, if that option is available to you. Community currencies, including digital currencies, can be used for trade. They can be “Labor Dollars” or “Food Dollars” backed by the goods and services for which the community has agreed to accept them. (See my earlier article here.) The technology now exists to form a network of community cryptocurrencies that are asset-backed and privacy-protected, but that is a subject for another column.

The current financial system is fragile, volatile and vulnerable to systemic shocks. It is due for a reset, but we need to ensure that the system is changed in a way that works for the people whose labor and credit support it. Our hard-earned deposits are now the banks’ only source of cheap liquidity. We can leverage that power by collaborating in a way that serves the public interest.

This article was first posted on ScheerPost. Ellen Brown is an attorney, chair of the Public Banking Institute, and author of thirteen books including Web of DebtThe Public Bank Solution, and Banking on the People: Democratizing Money in the Digital Age. She also co-hosts a radio program on PRN.FM called “It’s Our Money.” Her 400+ blog articles are posted at EllenBrown.com.

segunda-feira, 1 de novembro de 2021

[Charles Hugh Smith] A CHINA FARÁ REBENTAR A BOLHA DE TUDO

 



Autor: Charles Hugh Smith escrevendo no blog OfTwoMinds blog,


É bem seguro que a China enfrenta problemas estruturais. Uma listagem de artigos no número da Agosto da revista «Foreign Affairs» consagrada à China reflete isso:

A Aposta de Xi: A Corrida para Consolidar o Poder e Evitar o Desastre

A Conta Económica Chinesa: O Preço de Reformas Falhadas

Os Barões-Ladrões de Pequim: Pode a China Sobreviver à Sua Idade Dourada?

A Vida do Partido: Quão Seguro Está o Partido Comunista da China?

Isto são questões espinhosas, difíceis: o precipício demográfico resultante da política de uma criança apenas, a crescente desigualdade de riqueza, a corrupção alastrando, problemas de saúde pública (obesidade e diabetes, etc.), depredação ambiental e uma economia a desacelerar.

O que os analistas convencionais não conseguem compreender plenamente, a meu ver, são 1) a ameaça existencial para o Partido Comunista da China e para a economia chinesa, decorrente da sua bolha de crédito, sem precedentes, formando metástases 2) a sua crise de energia que desponta.

Como expliquei num artigo do meu blog, What's Really Going On in China?, («O que está realmente a ocorrer na China?») o PCC e o governo institucionalizaram informalmente a «irresponsabilidade» (a desconexão entre o risco e as suas consequências) como estando no âmago da sua política.

Qualquer perda financeira, não importa quão arriscada ou quão cheia de dívidas, era coberta pelo Estado (por resgate externo, pelo refinanciar da dívida, por novos empréstimos, etc.). Tal era visto  enquanto "custo do desenvolvimento rápido", consequência da visão de que a ineficiência e o desperdício eram inevitáveis no rápido desenvolvimento da indústria, da infraestrutura imobiliária e de uma economia virada para o consumidor.

Aquilo que os dirigentes da China não compreenderam plenamente foi que esta garantia implícita de «bailouts» (resgates) - o equivalente, nos EUA, ao «A Fed guarda-nos as costas» - incentivou a especulação baseada em dívida, como sendo o «investimento» de mais baixo risco, e de mais elevado retorno, especialmente quando comparado com os investimentos arriscados de baixo lucro, de estreitas margens, nas indústrias de exportação (Lembremos que as margens de lucro das empresas de exportação chinesas rondam os 1% a 3%).


Este é o fator oculto que está a minar a produtividade e a economia chinesas: a dívida em todos os sectores está a subir em flecha, para financiar a especulação, não os ganhos de produtividade.

Esta institucionalização da irresponsabilidade incentivou os jogos de apostas menos produtivos e de maior risco  - Não somente para grandes conglomerados como EverGrande, mas também para as famílias da classe média, que investiram no sistema de «shadow-banking» (um conjunto de empréstimos desregulamentados no sector privado, para financiar devedores com risco elevado, a juros altos) e compraram dois, três ou quatro apartamentos para «investimento».

As contradições resultantes desta massa de poupança investida em condomínios vazios, são sistémicas e perigosas: 1) logo que um andar esteja arrendado, perde valor pelo facto de ser «usado» 2) a vasta maioria dos andares de «investimento» é ilíquida, visto que a maior parte dos novos compradores quer um andar novo, não um usado, portanto o mercado para os usados é extremamente estreito, fora das localizações mais desejáveis, no interior de cidades como Pequim ou Xangai.


Este investimento maciço em apartamentos vazios e ilíquidos gerou perversidades sociais e financeiras: agora, que os andares em áreas mais cobiçadas custam 30-40 vezes o salário de um colarinho branco, os jovens têm de aspirar as poupanças da família alargada para conseguir pagar o andar. Os homens jovens incapazes de comprar um apartamento, veem suas possibilidades de casar evaporar-se.

Uma consequência da relação incestuosa do controlo de Estado com a especulação desenfreada, é o verdadeiro e vasto fosso separando os rendimentos, que se liga à corrupção, num feed-back que se reforça mutuamente: quanto mais rico te tornares, mais próximo do poder te encontras e vice-versa.

Como o sistema de «shadow banking» na China é opaco, até mesmo para os reguladores estatais, é bem possível que os líderes chineses não tenham uma noção da extensão do risco sistémico envolvido nos excessos do shadow banking. Parafraseando a célebre frase de Donald Rumsfeld, "é um desconhecido, desconhecido" para os fazedores da política chinesa.

Esta acumulação monumental de dívida e de especulação é agora uma ameaça existencial para o Partido, a dois níveis:

1) como todas as bolhas rebentam, independentemente das restantes condições, quando esta bolha o fizer, o abalo será suficientemente severo para ameaçar o controlo do Partido sobre a economia.

2) a evaporação desta riqueza fantasma, induzirá o povo a procurar um bode expiatório e o Partido é o candidato nº1, pois ele nutriu e protegeu os bem conectados e os ricos, não tendo protegido os 99% das consequências severas do rebentamento da bolha.

Ao terem criado as condições para a expansão da bolha e para a criação de montanhas de dívida e de promessas implícitas de resgates, o PCC e o governo entalaram-se eles próprios num beco: não existe maneira indolor de desinchar uma bolha especulativa de tão avassaladoras proporções.

Tendo em conta a biografia do Presidente Xi (em especial, a sua experiência pessoal na Revolução Cultural 1966-1976), os seus escritos e a sua consolidação do poder, é claro para mim que Xi compreende que a bolha está prestes a escapar ao seu controlo e portanto, o tempo é escasso e as opções de política estão limitadas a uma triagem ou seja, a salvar os mais saudáveis e deixar que a Natureza se ocupe dos que estão mais próximos de morrer.

Também vejo que Xi apreende a premente necessidade de quebrar a quase absoluta confiança de que o Estado irá resgatar («bail out») toda a gente, até mesmo a que pede emprestado e que especula da forma mais insensata, de tal modo que suas jogadas dão enormes perdas.

A opinião geral no Ocidente é que "a China não pode permitir-se que Evergrande falhe" porque este enorme conglomerado irá obviamente fazer cair muitos dominós, gerando um grande sofrimento financeiro. 
Eu penso que a visão do Presidente Xi é o oposto: «Nós não podemos permitir-nos salvar Evergrande», pois isso iria abrir as comportas das atitudes irresponsáveis («moral hazard») que Xi está a tentar fechar.

O facto do Estado resgatar os jogadores do sector privado (e de empresas estatais) foi o que levou a uma bolha baseada na irresponsabilidade, que Xi está determinado em fazer rebentar agora, quando ainda tem possibilidade de controlar o processo.

Por outras palavras, o Presidente Xi compreende que está no momento, «agora ou nunca», de retomar o controlo duma bolha financeira, inflada pela irresponsabilidade; a única maneira possível, será de fazer pagar as perdas por quaisquer que tenham exposição [aos investimentos especulativos]. A lógica subjacente, é o dilema entre retomar o controlo agora, provocando o rebentamento da bolha, ou deixar que ela se expanda e vá implodir de modo incontrolado (e portanto, ameaçador para o Partido).

Xi concluiu que o primeiro passo, para ser capaz de forçar que assumam as perdas, quaisquer que tenham exposição às apostas especulativas, era consolidar o poder num grau tal, que as costumeiras fações que se serviam do poder para evadir as consequências, fossem forçadas a aceitar sua quota-parte de perdas.
Dada a história e estrutura do Partido, tal exigirá que Xi estenda o controlo a níveis não vistos desde Deng e Mao.

No meu ponto de vista, Xi viu corretamente que estava a fazer-se tarde e que a resistência institucional ao fim dessas  promessas implícitas de resgates e a expansão sem fim da dívida, só poderiam ser superadas, se o seu poder político fosse quase-absoluto.

O rebentamento da bolha movida pela irresponsabilidade e especulação com a dívida, é uma necessidade para preservar o PCC e o poder de Estado; meias-medidas que protegessem os compinchas corruptos, apenas aumentariam a indignação popular, quando a bolha acabasse por rebentar.

É a esta luz que se deve ver a campanha de vários anos de Xi contra a corrupção mais visível e o recente reavivar do conceito de «prosperidade comum», ambos preparando o terreno para pôr fim ao comportamento de irresponsabilidade e para a demolição controlada dos excessos de dívida e de especulação que têm afetado a economia e que ameaçam retirar o controlo ao PCC.

Agora, porém, dão-se grandes ironias. Foi a capacidade da China, em gerar imensas quantidades de dívida, que basicamente permitiu o resgate da economia global em 2008-09, 2015-16 e em 2020. Sim, a Reserva Federal resgatou o setor banqueiro global (na ordem de 16 triliões de dólares em fianças e linhas de crédito) em 2008-09 e inflacionou a bolha especulativa nos EUA, ao criar 3.5 triliões de dólares pela impressão monetária (quantative easing), mas a expansão da dívida causada pela China foi igualmente uma fonte importante de procura global, o que evitou que as economias globais mergulhassem na recessão.


O custo deste «salvamento» não foi apreendido na altura: a elevação da irresponsabilidade até um estatuto quase religioso nos EUA e na China e a expansão das bolhas especulativas alimentadas pela dívida, até alturas jamais atingidas.
Só existem duas opções de políticas:
1) recolher a rede de segurança e recusar resgatar os excessos especulativos, daí fazendo rebentar a Bolha de Tudo,
ou
2) jogar o jogo de manter a bolha em expansão, até implodir por ela própria, num desfecho inevitável, devido às instabilidades sistémicas intrínsecas às bolhas.

Xi escolheu corretamente a política nº1 e ao fazê-lo, posicionou o Partido como o defensor do povo, ou seja, apresenta-se como anticorrupção, pôs na ordem bilionários como Jack Ma e está anunciando que o Estado não irá salvar EverGrande.

A política nº2 tem sido adotada pela Reserva Federal e pela liderança política dos EUA, levianamente. Ao inflacionarem a bolha, deixam que as consequências da irresponsabilidade, a bolha causadora de agravamento na desigualdade de rendimentos e a corrupção, vão -fatalmente - socavar a credibilidade de ambas, tanto da Fed, como da classe política.

As ruturas nos abastecimentos revelam que o sistema económico e financeiro estão estreitamente ligados e estão, enquanto tal, extraordinariamente expostos ao risco de colapsos em cascata, sobretudo quando os nodos-chave se tornam em pontos de congestionamento ou rutura.

Enquanto a Reserva Federal continua a imprimir triliões para continuar a inflar a bolha, a escassez na economia global já está a inviabilizar sectores-chave nas economias da China e da União Europeia. A realidade está em vias de fazer a sua intrusão na fantasia da Fed, de que as bolhas podem continuar - para sempre - desconectadas da economia no mundo real.

Em resumo: o rebentar da Bolha de Tudo não é o objetivo de Xi; este é um efeito secundário inevitável (dano colateral) do rebentamento da bolha especulativa chinesa.

Dado o facto de que todo o sistema financeiro está interconectado intimamente, o colapso de EverGrande é muito mais a história dos dominós a caírem, do que a das perdas diretas: não serão as perdas diretas que irão deitar abaixo o sistema financeiro, mas antes os dominós tombarem, quando os que sofrem perdas diretas, por sua vez, implodem e se tornam insolventes, falhando o pagamento de empréstimos, de juros das obrigações, incapazes de satisfazer as condições contratuais, e assim por diante.

O consenso no Ocidente é de que a China não pode permitir-se deixar a bolha rebentar, porque o sofrimento seria tão severo. Os que acreditam nisto, têm uma pobre compreensão da história da China, especialmente no século XX.

Sendo o rebentar a bolha na China a opção nuclear, Xi tem razões para estar confiante de que poderá fazê-lo: Se isso aumentar o nível de sofrimento para 11, ele sabe que a maioria do povo irá aceitar; quanto aos que não aceitarem, irão juntar-se a Jack Ma, na sua reforma forçada.

Eu estimo que Xi vê o fim da irresponsabilidade e o rebentamento da bolha na China, como uma situação em que o estado das coisas apenas piorará, quanto mais tempo se demorar a pôr-lhe cobro.

A grande ironia agora é que, em vez de salvar a economia global através da expansão da bolha da dívida, a China irá fazer rebentar a Bolha de Tudo Global. Para enfatizar o óbvio, o facto de estar no primeiro plano na economia global, faz da China um dominó de importância primordial. Quem pensar que a bolha especulativa da Fed nos EUA, pode tornar-se imune ao colapso dos dominós estreitamente associados, está a autoiludir-se num pensamento mágico.

Os extremos de excesso de dívida na China e a especulação já estão a desfazer-se, Xi não tem outra opção. Não existe um escape sem custos, apenas haverá como escolha, uma triagem, e Xi já estabeleceu um caminho pelo qual preserva o controlo do Partido, ao forçar todos os que têm exposição, a absorverem as inevitáveis perdas, quando as bolhas de dimensões sem precedentes rebentarem.

A fila dos dominós, que já começaram a tombar, estende-se por toda a economia global e sistema financeiro. Planifique adequadamente.