A IIIª Guerra Mundial tem sido, desde o início, guerra híbrida e assimétrica, com componentes económicas, de subversão, desestabilização e lavagens ao cérebro, além das operações propriamente militares. Este cenário era bem visível, desde a guerra na Síria para derrubar Assad, ou mesmo, antes disso.
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quinta-feira, 30 de agosto de 2018

O QUE PAGAM REALMENTE AS PROPINAS DO CURSO UNIVERSITÁRIO?

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O artigo que submeto à vossa consideração parece-me demasiado importante para se passar «por cima» ou «ao lado». 
Infelizmente, somente um artigo assinado por alguém prestigioso capta a atenção e será comentado, citado. 
Tal não será o caso dos meus escritos: embora eu não tenha uma «visibilidade mediática», tenho experiência de vida, para saber se um artigo é fidedigno ou não!
Como muita gente só liga a determinado conteúdo se este estiver publicado em algo prestigioso, posso adiantar que o blog Zerohedge é, sem dúvida, muito popular e muitos «jornalistas mainstream» vão lá pescar informação, embora não o reconheçam...

O ARTIGO acima citado demonstra o que tenho tentado explicar a filhos, familiares, colegas, alunos... em vão! Não querem perceber. 
A corrida aos diplomas deve-se primariamente ao factor «empregabilidade», não aos conhecimentos «adquiridos».
Como diz o artigo, as coisas que se «aprende» num curso, de pouco ou nada interessam, na vida profissional futura, a não ser que se venha a ser prof. dessas mesmas coisas. 
O que realmente conta - em termos de competência - é a experiência num determinado posto de trabalho.
Mas, os empregadores preferem - ainda assim - as pessoas que lutaram para obter diplomas, pois têm mais garantias de contratar alguém com ideias e comportamentos convencionais, conformes à norma!

Leiam e pensem criticamente

segunda-feira, 20 de agosto de 2018

COMO AS CRIANÇAS ESTÃO A SER CONDICIONADAS

[Vídeo censurado no Youtube, ver em https://www.bitchute.com/video/zf2PDkW_wEo/]


Este video The War On Children de David Icke foi produzido pelo autor depois dele ter recebido a informação de que no Reino Unido, as hospitalizações por tentativa de suicídio de moças adolescentes, com menos de 18 anos, duplicou num ano. As causas seriam, segundo o próprio Sistema Nacional de Saúde britânico, o facto de terem demasiado estresse devido a exames e o abuso de utilização de «smart phones» e «redes sociais».
David Icke coloca a questão das causas que levam a este índice claro de mal estar de jovens que deveriam normalmente ser felizes, gostar da vida, ter uma mentalidade positiva.
A existência de um sistema dito de «ensino», que mais não é do que condicionamento maciço para a entrada na norma, nunca é colocada em causa. A suposta necessidade de «aferição» através de testes e exames, a pressão de pais e professores para desempenho escolar baseado nessa «corrida de obstáculos», em que a capacidade medida é apenas a de saber responder «correcto», como o sistema lhes impõe. 
Já tinha analisado (ver aqui) o fenómeno, num artigo deste blog. 



Vale a pena ouvir este audio de Alan Watts sobre educação ...

que deve ter sido gravado aquando de uma de suas múltiplas conferências, na Califórnia nos anos 60  e 70.

O fenómeno da adição aos telemóveis e redes sociais agravou ainda mais o condicionamento brutal a que são sujeitos todos os indivíduos, mas com especial violência crianças e jovens. 
A necessidade de se estar «conectado», a ausência de interacção significativa presencial com os seus pares, a monotonia e ausência de perspectivas de vida... tudo isso contribui para um enorme empobrecimento da experiência com o mundo, com a sociedade, de que todas as crianças e jovens precisam. 
O mundo dos smartphones é um mundo fictício, um mundo falso, que se torna doença obsessiva, muito facilmente. As redes sociais são um «ersazt» para os verdadeiros contactos sociais, para a verdadeira sociabilização de que crianças e jovens necessitam  para se desenvolverem, para formarem a sua personalidade, para construírem a sua identidade e relação com os outros.
A questão da irradiação a que estamos todos sujeitos, e mais ainda os utilizadores compulsivos de smartphones, tem sido ocultada como real problema de saúde pública, conforme o interesse das companhias gigantes de produção destes gadgets e as redes de distribuição de sinal para os mesmos. Mais uma vez, se verifica o princípio de que o «poluidor nunca é pagador» e não é verdade que seja aplicado o de «poluidor - pagador»: pois se assim fosse, ou não haveria mais a tal poluição, ou aquela implicava uma soma exorbitante em indemnizações, que inviabilizaria a rentabilidade do negócio. 
Mas, pior ainda que a poluição electromagnética, será a «poluição mental», decorrente do fenómeno de adição às redes sociais, a necessidade compulsiva de conversar («chat») em todo o lugar e a toda a hora, com amigos, namorados, colegas, etc. 
As pessoas parecem cada vez mais zombies, incapazes de um comportamento normal e civilizado, ou seja usando com moderação e discrição os telefones celulares, onde quer que estejam. 
Parecem incapazes de viver sem esses pequenos objectos, que levam para todo o lado. 
Assim, de forma  bastante estranha, cumpre-se a profecia de Aldous Huxley, num célebre romance, em que as pessoas estavam completamente amestradas, tomando uma «soma» ou seja, uma droga, que lhes dava uma fictícia sensação de felicidade. Os senhores do mundo apenas tinham de fornecer à «turba» esta droga, para terem a sociedade inteira, voluntariamente sujeitando-se à condição de escravos.

quarta-feira, 23 de maio de 2018

EDUCAÇÃO OU AMESTRAMENTO

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O principal factor que tem impedido um progresso verdadeiro do nosso país não é político, nem económico. Embora esse mesmo factor tenha um efeito muito extenso e profundo tanto na política (no sentido de cidadania), como na economia. Já se compreendeu, pelo título, que esse factor é a educação. Pois bem; não é completamente verdade, pois o que é crítico, neste caso, não será «mais» educação, nem «melhor» educação, mas sim OUTRA educação.

A sociedade evoluiu nos últimos 50 anos (no meu tempo de vida adulto, desde cerca de 1974, até 2018), a um ritmo tal que apenas podemos perceber se estudarmos a lentidão do ritmo das transformações tecnológicas e suas consequências sociais ao longo das épocas históricas, como o fizeram vários historiadores e antropólogos. 
Houve uma aceleração incrível das transformações sociais, decorrentes das transformações tecnológicas, com o que vários autores designam por 2ª revolução industrial ou «revolução digital».
Ora a modificação da sociedade é uma consequência, em primeiro lugar, das possibilidades de comunicação, de como se pode optimizar o trabalho, de como se podem transportar mercadorias e pessoas. Em segundo lugar, estas transformações implicam uma modificação na sociedade, que é obrigada - de bom ou mau grado - a incorporar tais mudanças na estrutura e funcionamento, sob pena de ficar estagnada, sujeita a ser «colonizada» ou «neo-colonizada».
Em Portugal, devido a um regime fascista atávico, que intencionalmente destruiu a única conquista válida da república liberal democrática, o ensino esteve demasiado tempo entregue ao que existe de mais ignorante e reaccionário. 
Salazar tinha medo que o povo tivesse conhecimentos, considerava que para o «bom povo», bastava «saber ler, escrever, contar e elementos da História pátria». 
Podia aqui fazer um longo discurso sobre o que representou não apenas em termos do analfabetismo sensu stricto como em termos culturais. Não é por acaso que Portugal foi considerado durante muito tempo (e ainda será parcialmente verdade, hoje...) o país dos três F (futebol, Fátima e fado).

O ensino em Portugal não está verdadeiramente mudado, desde o 25 de Abril, na sua essência, pois os políticos que têm ocupado postos no ministério da educação são - quer tenham experiência pedagógica prévia, quer não - imbuídos de «espírito de missão», ou seja, convencidos/as que eles/elas é que sabem. 
Na verdade, vemos os sucessivos textos legislativos, leis, decretos-leis, etc., com preâmbulos anunciando as mais puras intenções e com referência às mais progressivas teorias e correntes na pedagogia. 
Mas, ao nível da aplicação, tudo falha! Por exemplo, não existe quase nunca compatibilização: não existe preocupação em que os programas sejam compatíveis entre si; o aluno não os consegue integrar por si próprio, nem essa preocupação existe ao nível dos docentes, muitas vezes.
No geral, há uma total despreocupação em avaliar realmente o estado do ensino, no concreto. Esta afirmação pode parecer estranha, se recordarmos que, desde os anos 90 até hoje, tem havido uma autêntica inflação de «estudos de avaliação», uma avaliacionite generalizada...para se perceber que, afinal a contradição é só aparente e não real, temos de ter em conta os factos seguintes:
- Este ensino não é fundamentalmente mais que AMESTRAMENTO, ou seja «treinar» para o teste ou o exame; esta é a verdadeira norma à qual alunos terão de se submeter ... Isso é visto por todos, ministério, professores, pais, sociedade em geral, como a «grande questão». 
O erro é demasiado grosseiro e generalizado para não ser deliberado. Trata-se de táctica, de intenção, de um propósito definido. Claro que existe muito boa gente em estado de «denegação». Estas pessoas vão dizer que «o que é preciso é mais isto ou aquilo» (muitas vezes mais horas de aula da disciplina que, segundo ele/ela, é deixada para trás). 
Porém, eu penso que a inqualificável (porque abaixo de tudo) classe política e empresarial que nos governa, tem inconscientemente o desejo que as jovens gerações, especialmente as que pertencem às classes mais modestas, não consigam ultrapassa-los, a eles ou a seus filhos, que põem em colégios privados. 
Eles revelam assim a sua lógica de «comprar» uma «boa» educação, não a lógica republicana, que seria o oposto («aquilo que é bom para o cidadão comum, também é bom para mim e para minha família»). 
Mesmo os filhos-família, nos «bons» colégios privados, estão sujeitos a programas intensos de condicionamento. Este condicionamento não tem nada que ver com o desenvolvimento harmonioso das capacidades e a procura de que os jovens se insiram de forma produtiva na sociedade. A avaliação obsessiva e o subordinar os fins da educação à avaliação (que monstruosidade!) tem a sua própria lógica, mesmo que essa lógica seja a do doente mental.
É um condicionamento para enquadrar toda a sociedade segundo a ideologia da «meritocracia», de fazer com que as pessoas se conformem. 
As altíssimas taxas de «insucesso» são o principal produto deste sistema. Pois o sistema, na verdade, «funciona», visto de uma certa maneira ... porque está desenhado para fabricar um elevado número de «falhados», de pessoas frustradas, diminuídas e conformadas com o que as espera, na vida adulta: um trabalho precário, mal pago, intermitente, sem perspectivas nenhumas de carreira e sem um mínimo de remuneração estável, que permita fundar uma família e ter filhos.
Alias, não há dúvida que a queda demográfica acentuada dos últimos decénios em Portugal se deve, em grande parte, à deficientíssima integração dos jovens no mundo profissional. 

Assim, o bloqueio de uma verdadeira transformação da educação, trava todos os outros sectores da vida social e económica. Este bloqueio, como uma espécie de neurose obsessiva colectiva, limita a capacidade do país. Assim, Portugal não deixará jamais de ser uma espécie de «parente pobre e humilde», face às potências que têm tutelado este rectângulo, que poderia ser um belíssimo jardim, mas tem estado muito mal cuidado!

A educação não é sinónimo de amestrar. Decorar não é aprender. Saber não é regurgitar o que vem nos livros, ou aquilo que o prof. disse nas aulas... Tudo isto são evidências. Porém, vemos que as pessoas concordam superficialmente com elas, mas - na vida real - farão, ou aconselharão, exactamente o contrário: «educação» é amestrar; decorar é «aprender»; regurgitar é «saber»...

Note-se que a educação é toda ela assim, da escola básica à faculdade. 
Muitos alunos têm medo de pensar. Têm pânico, face a uma pedagogia que se proponha fazer/agir, em vez de «decorar»; a investigar, em vez de «papaguear» frases ou teoremas, ou seja o que for. Para estas crianças ou jovens,  o que se lhes pediu durante toda a vida e aquilo em que foram «amestrados», foi treinar a capacidade de decorar e reproduzir. 
Nenhum modelo pode ser mais contrário ao desenvolvimento da criatividade, da autonomia, da iniciativa, do espírito de descoberta. 
Tenho podido constatar que, se algum professor se coloca na postura de tentar uma pedagogia virada para os valores acima mencionados, é logo «posto na ordem» por colegas autoritários/as, ou mesmo pelos encarregados de educação, seguros de saberem melhor quem é «bom» ou mau «prof»!!
Ao nível do comportamento social, verifica-se o resultado desta disfunção educativa pela ausência de civismo em demasiadas pessoas; os que têm hoje 20 anos, estão imbuídos dos mesmos vícios que os das gerações anteriores. Portanto, há perpetuação de uma certa mentalidade, de geração em geração. 

Há uma hegemonia do discurso institucional e mediático a reafirmar a obsessiva primazia da «avaliação» sobre tudo o resto. 
Este discurso é a «marca d'água» duma tecnocracia pedagógica que se esmera em ver, apenas e somente, o que lhe convém ver: o aspecto quantitativo. Porque, quando «avaliam», não estão propriamente a avaliar, não estão preocupados com o aspecto de remediação, quer ao nível individual, quer de turma, quer no geral. Isto, a meu ver, mostra  a sua total incompetência e má-fé pedagógica, pois uma avaliação séria deve ter como objectivo principal (ou mesmo, nº1) detectar problemas na aprendizagem, para os CORRIGIR.
A avaliacionite é o contrário: é transformar a avaliação no fim em si mesmo, no objectivo principal e não subordinado. 
Na realidade, o nome «avaliação» está mal aplicado por essas pessoas, porque o que se pretende é somente a classificação, para seleccionar em função de critérios, supostamente transparentes, mas que - de facto- são o contrário disso.

Os sistemas educativos até se podem aferir/avaliar dum modo prático, sem dúvida. Numa sociedade capitalista, isso está um bocado limitado à «selecção pelo mercado»; mas... não é este o mantra que todos os governantes têm na cabeça? 
O modo prático de avaliar é simplesmente a empregabilidade: determinar quantos conseguem, num prazo x, ingressar numa profissão, num posto de trabalho, conforme com a formação recebida. 
Estes estudos e dados estatísticos são muito deficientes, para não dizer ausentes, em Portugal. Isso, apesar dos belos discursos, revela uma enorme despreocupação com o «desperdício» humano. 
Em Portugal, não se dá suficiente relevo ao fenómeno de muitos jovens não terem saída profissional nenhuma, uma vez percorrido um percurso (normalmente longo) de formação. Um fracasso destes tem profundas repercussões psicológicas; poucos são os que possuirão energia para enfrentar as condições adversas e tentar, mesmo assim, singrar na vida!

Apenas toquei ao de leve na questão. 
Mas o meu propósito neste escrito é antes o de «levantar a lebre», pois sei que existem leitores/as capazes de aplicar - com acuidade e bom senso - algo desta análise ao seu contexto pessoal e que conhecem casos concretos, quer no plano académico, profissional ou familiar.

quinta-feira, 18 de janeiro de 2018

[OBRAS DE MANUEL BANET] FRAGMENTOS

SOBRE ARTE TRANSCENDENTE

Há algo de transcendente na arte, por mais humana que seja sua expressão e por mais humanos que sejam os seus temas. Na verdade, ninguém saberá explicar exactamente a transcendência da arte. Não se estará nunca em condições de o fazer, porque esta qualidade é do foro emocional, não do racional. 
Algumas pessoas poderão dizer que todos os juízos sobre arte e, mesmo, todos os objectos de arte, se valem. Mas igualizar assim, de modo brutal, tudo o que seja produção artística, soa antes a um sofisma: Com efeito, a comunicação em arte ocorre, se e somente se houver transmissão da emoção, do sentimento, do objecto ou do ser representado, para o observador. 
A emoção em bruto, ressentida pelo artista, é filtrada, é trabalhada interiormente e transmite-se ao espectador/receptor... Será isto a essência do que se considera arte?

Na verdade, a arte estará sempre presente. Pelo olhar, estou sempre a ver arte: A natureza que contemplo, o mar, o céu, o jardim e os animais que se abrigam nele, tudo isto faz parte do meu mundo emocional. A arte, o encontrar beleza nas coisas, nos objectos, ou nas pessoas, está no olhar...

Com os anos, aprendi a apreciar as coisas óptimas ao meu alcance, já não me preocupando que os outros tivessem ou não os mesmos gostos. 
Sempre soube, ou intui antes de o teorizar, que o passado é que é real, mesmo que já não se possa experimentar directamente a emoção dum instante passado. 
Confesso ser influenciado pela música, pela pintura, etc. de eras passadas. Recebo a reverberação do passado sobre o presente. O passado, reactualizado na vivência do presente, está presente ... 


SOBRE SABEDORIA


Estar em modo de abertura e - ao mesmo tempo - centrado em si próprio, seria a base da sabedoria e da paz de espírito. Sabemos que o mundo sempre se agitou com paixões, com ambições, com desejos, com violência de vária ordem e com imenso amor, também. Compreendemos que não é coisa fácil, aceitar o mundo tal como ele é; será indispensável, porém, para uma tranquilidade de espírito. 
Os grandes sábios, os mestres iniciadores de religiões e correntes filosóficas, ao longo das eras, souberam dominar o medo e olhar sem vendas para o mundo tal como ele é. 
O princípio da sabedoria, poderia enunciar-se deste modo: manter a abertura para o mundo tal como ele é, sem descurar as tarefas necessárias para preservar o nosso ser. 

SOBRE OS INSTINTOS

Seria inútil ou mesmo impossível, toda e qualquer acumulação do saber e de arte se, a cada geração, fosse necessário tudo refazer. 
Tal equivaleria ao ciclo de vida  típico dos insectos, em que a geração filial está separada temporalmente da geração parental: os novos seres nascem de ovos, na estação favorável, quando seus progenitores já estão todos mortos. 
Em consequência disto, o comportamento destas espécies tem de ser quase todo determinado pelo instinto, pois não têm oportunidade de realizar aprendizagens, durante sua curta existência, que lhes ensinem como sobreviver e prosperar. 
À medida que se passa às formas mais complexas, mais elaboradas de seres vivos, a parte de instinto no comportamento vai diminuindo, a parte de cultura vai aumentando. 
O humano, será, afinal, um ser animal cujos instintos, não foram suprimidos, mas apenas dominados: no interior, pela mais recente aquisição evolutiva do cérebro (o neocórtex) e, no exterior, pela organização social e pela cultura, no sentido lato.


SOBRE A EDUCAÇÃO

Atribui-se uma importância primordial à educação. Esta não deveria estar centrada nos aspectos cognitivos, nas aprendizagens dos saberes teóricos, somente, mas deveria desenvolver-se enquanto prática social integradora, não amestradora, não castradora, dos jovens. 
A observação por dentro do sistema de «educação» permitiu-me constatar que, apesar de todos os discursos, a prática integradora exercida pela instituição escolar é ainda sobretudo «amestradora e  castradora», ou seja, limitadora da liberdade dos indivíduos. Pelo contrário, a componente de aprendizagem potencialmente emancipadora, o adquirir de competências socialmente úteis e capazes de gerar rendimento e, portanto que auxiliasse à autonomia real do indivíduo, tem estado atrofiada, marginalizada nos programas escolares e académicos. Tive ocasião de constatar que é algo que tem vindo a acentuar-se, cada vez mais, da escola básica até à universidade, inclusive. 


SOBRE A MEMÓRIA

A possibilidade de reescrever o passado existe, por mais estranho que pareça, à primeira vista: ela resulta da propriedade chamada resiliência. Sem ela, a existência dos humanos seria impossível, ou seria apenas mera sobrevivência.  
Seria útil reequacionar o conceito de memória humana como emanação dum órgão, como tendo uma essência orgânica. Não é ela de essência maquinal, como a memória de um computador. A analogia cérebro-computador está errada, ao nível profundo. Os mecanismos e modos de funcionamento inseridos nos  planos de construção respectivos são completamente distintos: 
- A memória humana é plástica, selectiva, altamente subjectiva, umas vezes precisa, outras vezes vaga. Ela também se pode auto-estimular, auto-construir-se e reconstruir-se; não tem nada que ver com máquinas fabricadas pelos homens. Estas podem simular, apenas e de modo muito imperfeito, o raciocínio lógico cerebral. Quanto ao domínio emocional, permanece exclusivo do cérebro humano (e animal).
O funcionamento da memória permite que sejamos quem somos, que tenhamos consciência de nós próprios. Não existe qualquer máquina com verdadeira consciência de si própria, por mais que os romances de ficção científica tentem tornar isso verosímil, os mundos dominados por robots. 


SOBRE O NARCISISMO

As pessoas confundem, muitas vezes, o conhecimento de si próprio com narcisismo. Enquanto o mito de Narciso tem profundo significado psicológico, o termo «narcisismo» é usado - de forma redutora - para designar uma patologia, uma forma extremada do amor de si. 
Mas o facto de estarmos atentos e olharmos nossa imagem ao espelho da alma, não somente será saudável, consiste mesmo na base do comportamento reflectido, da consciência, da ética. 
Só um certo grau de auto-conhecimento pode proporcionar ao individuo que este veja o mundo (e se veja no mundo) de forma equilibrada. A visão do real está implicitamente centrada no ser que observa. Só podemos observar literalmente com os próprios olhos, com o nosso ponto de vista. Porém, o fio que separa a auto-consciência, da auto-indulgência (do narcisismo patológico),  pode ser bastante ténue. 
Será necessária uma certa dose de amor de si, de auto-estima. Como traço estruturante da psique e do relacionamento na sociedade, será bem diferente do «narcisismo patológico».