TALIBAN ERRADICAM 90% DAS CULTURAS DE ÓPIO- NUM ANO ... Mas, os americanos «não conseguiram» fazê-lo em mais de 20 anos!
Um marine, à esquerda, colhe uma flor de planta do ópio (2012). Um camponês (à direita) parte os caules de plantas do ópio durante a campanha de erradicação de 2023
Um artigo muito bem documentado e que diz a verdade sobre a invasão em 2001 e a permanência americana no Afeganistão:
«Os proprietários da Purdue Pharma, têm sidofrequentemente descritos como a família mais maléfica da América, havendo muitos que lhe atribuem a responsabilidade dessas centenas de milhares de mortes por «overdose», sem hesitação. Em 2019, debaixo dos milhares de processos contra a empresa, Purdue Pharma abriu falência. Após um ano, assumiu-se culpada das acusações de crime sobre as práticas de marketing antiéticas do OxyContin (nome comercial do opiáceo sintético).
No entanto, os Sacklers safaram-se como bandidos das consequências das suas ações. Mesmo após terem sido forçados no ano passado a pagar 600 mil milhões em indemnizações às vítimas da crise dos opioides, eles permaneciam como uma das mais ricas famílias mundialmente e recusaram pedir desculpa pelo seu papel em construir um império por cima do sofrimento causado pelas centenas de milhares de mortes.»
(Acima) Mapa do Afeganistão: A negro, áreas controladas pelos talibans; a vermelho, áreas contestadas; a cinza, áreas sob controlo do governo de Cabul
A derrota é total, depois de uma guerra cruel DE VINTE ANOS contra os talibans, mas também contra a população dum país, que nunca se deixou dominar passivamente. O resultado é que a insurreição taliban controla quase todo o país. Ela está agora a cercar a poderosa base militar US de Bagram, onde as tropas US tinham enormes recursos militares e de espionagem*. O seu abandono precipitado, ao ponto de deixar material estratégico intacto, só tem paralelo com a desesperada fuga de Saigão, no verão de 1975.
Nessa altura, o mundo contemplou a derrota humilhante dos americanos e o desespero com que se agarravam aos trens de aterragem dos helicópteros, que conseguiam escapar-se do telhado da embaixada dos EUA em Saigão.
Na longa história de sofrimento deste país da Ásia Central, são proeminentes as responsabilidades de todos os dirigentes dos EUA, desde o tempo em que o Presidente Jimmy Carter dava o aval a Zbigniew Brzezinski para apoiar a guerrilha dos mujahedin contra o governo do Afeganistão, considerado demasiado próximo da União Soviética.
Infelizmente, os grandes responsáveis pelas mortes e desgraças das guerras quase nunca são capturados, julgados e sentenciados pelos seus crimes. Entre eles deve-se incluir o «complexo militar-industrial-securitário», composto por grandes capitalistas e fundos de investimento. São, não somente as empresas envolvidas no fabrico de armamento, como também as empresas tecnológicas e ainda os que na administração, o «Estado Profundo», têm tomado a defesa dos interesses destes grandes capitalistas.
Fica-me uma pergunta: como é possível, que pessoas tão sabedoras como eu, daquilo que tem sido o desempenho militar dos EUA e aliados da NATO, no século XXI (só para falar deste século), não considerem que a «democracia ocidental», tão apregoada, é apenas uma capa vazia, sem qualquer real significado, senão o de perpetuar a ilusão nos eleitores?
Base de Bagram, saqueada depois de abandonada pelas tropas US a meio da noite
Helicóptero na fuga de Saigão Verão de 1975
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(*) «Initially, the Taliban spokesman said that everything had been either been taken by the Americans or destroyed, but it seems that U.S. forces have left behind radar and navigation systems as well as hundreds of vehicles.»
PS1: O americanos deixaram Bagram à socapa, sem sequer dar tempo ao exército governamental afegão de tomar conta do local. Resultado? A base foi saqueada durante a noite. Os saqueadores não serão necessariamente talibans. De qualquer maneira, vê-se como os americanos, apesar de toda a retórica, se importam pouco com a estabilidade do governo de Cabul.
Conhecido desde a antiguidade grega, estudado pelo médico português Garcia da Orta, muito usado pelas suas propriedades anestesiantes e analgésicas, o ópio foi, desde cedo, reconhecido como substância causadora de grave adição.
Esteve na base das guerras imperialistas que subjugaram o «Império do Meio» (a China Imperial) à potência britânica, a qual impôs o comércio do ópio (vindo das colónias da Índia e comercializado por britânicos) à China, com as devastadoras consequências de espalharem a miséria, a destruição das bases mesmas da sociedade, subjugando o poder político, ferindo de morte a reverência propriamente religiosa da generalidade dos chineses ao poder imperial.
Mais tarde, após a IIº Guerra Mundial, quando o imperialismo dominante passou a ser o americano, foi utilizado pela CIA no contexto de apoio à contra-guerrilha, nas florestas do Laos contra as forças comunistas. Daí a criação de uma zona fora de todo o controlo, o «Triângulo Dourado», que se tornou uma das principais fontes de heroína. Paradoxalmente, esta mesma heroína foi uma das causas da perda da guerra do Vietname, pois era largamente utilizada pelos GI's, os Marines, e outros corpos de soldados americanos envolvidos nesta guerra. Mas também causou a perda de referências, a desestruturação das mentes, a destruição dos indivíduos na sede do Império. Inicialmente usada, juntamente com outras substâncias, como o LSD, em programas secretos (MKULTRA) para destruir a resistência crescente da juventude americana, em especial, dos estudantes nos campus, a heroína tornou-se uma adição para milhões de pessoas nos EUA, causadora de imensas perdas em mortes por «over-dose» e de vidas desfeitas, sem esquecer a criminalidade dos gangs associados à droga.
A chamada «guerra contra a droga» (War on Drugs) foi efectivamente uma investida contra os países da América Central e do Sul, como demonstraram Noam Chomsky e outros intelectuais e activistas.
Mas o princípio de utilizar as drogas, como estratégia para desmoralizar, enfraquecer, corromper e tornar mais fácil a submissão de populações e regimes, continuou.
Cultivo de papoila do ópio no Afeganistão
No Afeganistão, a produção de papoila do ópio tinha sido quase eliminada pelos Taliban. Eles tinham um acordo, assinado com Bill Clinton, em que os EUA aceitavam levantar o embargo de petróleo, permitindo assim que este país paupérrimo da Ásia Central tivesse acesso a uma fonte energética absolutamente vital para eles. Em contrapartida, os Taliban comprometiam-se a acabar com a cultura do ópio e sua exportação.
A situação foi completamente subvertida, quando a pretexto de ir atrás dos responsáveis pelo 11 de Setembro de 2001, os EUA desencadearam ataques ao Afeganistão, seguidos de ocupação pelas forças dos EUA e aliados da NATO. No encalço dos americanos, vieram bandos de «senhores da guerra» que também eram «senhores da droga» (do ópio e heroína), coligados na «Aliança do Norte». A partir deste ponto, com pleno apoio de militares e dos agentes da CIA, estes criminosos chefes de bando tinham luz verde para dominar e fazer o que entendessem nos territórios que controlavam, desde que pusessem à distância as guerrilhas ligadas a Al Quaida e aos Taliban (principalmente vindos das tribos Pashtun).
As forças americanas especiais, com apoio e enquadramento da CIA, faziam sair a droga clandestinamente, para abastecer os mercados europeus, onde obtinham um lucro enorme e quase nenhuma concorrência.
Quanto aos senhores da guerra afegãos, encarregavam-se de passar a droga, através das fronteiras das repúblicas resultantes do rebentamento da URSS, em direcção à Rússia. O mesmo se passava em relação ao Irão.
Estes países sofreram um crescimento súbito da adição ao ópio e à heroína, muito abundantes logo após a invasão americana do Afeganistão.
Na Europa, a difusão da heroína foi feita a partir das bases americanas de Rammstein (Alemanha) e do Kosovo, assim como de outras. A CIA, com os lucros enormes deste tráfico obviamente ilegal, financia operações «negras». São operações que os dirigentes da CIA não querem dar a conhecer, nem querem ser responsabilizados por elas perante o Congresso. As comissões do governo e do Congresso dos EUA, que supervisionam as actividades da CIA, não têm de «saber oficialmente» da existência de tais operações, nem terão de discutir financiamentos para tais fins.
É evidente que uma media vendida ao imperialismo não lhe dirá o que está acima, nem dará pormenores sobre a guerra suja da CIA e das forças especiais americanas.
Quem não pesquisar por si próprio/a, não saberá nada: só assim será possível acreditar no mito de que os EUA são um império «benevolente», preocupado com os «direitos humanos» e com uma visão «moral» da política...