A realidade «judaica do Antigo Testamento» do povo judeu de Israel atual é tão fictícia como a dos germânicos serem «arianos» e terem sido declarados como «a raça superior» pelo regime de hitleriano. Na verdade, são os palestinianos muito mais próximos geneticamente do povo judeu de há dois mil anos,. Isso não lhes confere um estatuto especial, mas apenas mostra o grotesco e a monstruosidade de basear uma política em dados étnicos ou «rácicos». Toda a política baseada em elementos raciais é uma clara negação dos Direitos Humanos, inscritos na Carta da ONU e em inúmeros documentos oficiais de todos os países (incluindo Israel).
Mostrar mensagens com a etiqueta D. João V. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta D. João V. Mostrar todas as mensagens

terça-feira, 13 de novembro de 2018

CARLOS SEIXAS - SONATAS

Interprete: Cremilde Rosado Fernandes

               
                    Imagem: D. João V, rei de Portugal, quando jovem



Sonata XIX Em Ré Menor: Moderato - 0:00
Sonata XIX Em Ré Menor: Minuet - 4:03
Sonata VII Em Ré Menor - 6:27
Sonata XXVII Em Lá Maior - 10:19
Sonata XXII Em Mi Menor: Allegro - 14:09
Sonata XXII Em Mi Menor: Adagio - 16:21
Sonata XXII Em Mi Menor: Minuet - 17:58
Sonata XXVIII Em Lá Menor: Allegro - 19:10
Sonata XXVIII Em Lá Menor: Minuet - 22:00
Sonata V Em Ré Menor: Moderato - 23:34
Sonata V Em Ré Menor: Minuet - 29:02
Sonata 43 Em Fá Menor - 30:18
Sonata 44 Em Fá Menor - 34:43
Sonata XVII Em Dó Menor: Andante - 39:24
Sonata XVII Em Dó Menor: Minuet - 45:52
Sonata II Em Dó Maior - 47:34
Sonata VI Em Ré Menor: Allegro - 54:17
Sonata VI Em Ré Menor: Adagio - 57:46
Sonata VI Em Ré Menor: Minuet - 59:13


Carlos Seixas, um dos nomes mais conhecidos da música barroca portuguesa é, na verdade, muito pouco conhecido... 
Sem dúvida, foi celebrado em vida, durante a curta vida, em que lutou para obter o título de «Cavaleiro» que lhe permitia entrar na corte e assegurar o futuro das suas filhas. Filho de um organista de Coimbra, cedo ficou órfão e teve de procurar sustento em Lisboa. 
Caiu nas boas graças do rei D. João V, que nessa altura tinha o grande Domenico Scarlatti ao seu serviço. Muito influenciado teria sido o Rei por Scarlatti, o mestre de música da Infanta Bárbara e futura rainha de Espanha. 
D. João V enviou a Roma e a Nápoles vários músicos para se aperfeiçoarem na música italiana, então favorecida na corte portuguesa e em todas as cortes europeias.

Apesar do italianismo reinante, Seixas tem uma forma de compor as sonatas que, embora reminiscente da escrita de Scarlatti, é por demais distante, para que se possa dizer que o português tomou como modelo o italiano. Nomeadamente, as sonatas seixianas, numa forte proporção, possuem vários movimentos, tal como a sonata XXII aqui reproduzida, que se inicia com um Allegro, na forma da sonata bipartita típica das escolas italo-ibéricas, continua com um adágio e finaliza com um menuet, peça típica do gosto francês.

O fortepiano, presente nas casas mais ricas da corte, proveniente de Itália, é conveniente para interpretar esta música, toda ela em subtileza, tal como é apropriada no clavicórdio, instrumento mais modesto e presença banal nos lares burgueses ou nas celas conventuais, nessa época. 

Santiago Macário Kastner, o musicólogo descobridor e primeiro editor destas Sonatas, costumava dizer que a música de Carlos Seixas flui como água de nascente. Dizia sobre a qualidade destas peças que elas eram como um cofre cheio de pedras preciosas: muitas maravilhosas e perfeitas, porém algumas tendo um pouco de «jaça» (aquela imperfeição ou impureza nas pedras preciosas, que lhes diminui o valor). 
Muitas peças de Seixas são de uma sensibilidade muito para lá da época, ou seja, anunciam o final do barroco, o estilo chamado «rococó», presente na música para tecla de Carl Philip Emmanuel Bach. 
Como exemplo, oiça-se a sonata XVII Em Dó Menor, com uma sensibilidade e um estilo que poderiam passar perfeitamente por composição das últimas décadas do século XVIII, da época pré-romântica.
Aliás, foram copiadas e executadas estas sonatas de Seixas, muito tempo depois da sua morte, o que - de certa maneira - apoia tal juízo.

A Professora Cremilde Rosado Fernandes, musicóloga eminente discípula do Prof. Kastner, é uma das mais conceituadas interpretes e mestras do cravo e do fortepiano, tendo leccionado na Escola Superior de Música de Lisboa (da qual foi Directora). Além de várias gravações discográficas, participou em recitais a solo ou com orquestra, em inúmeras ocasiões, em Portugal e no estrangeiro.

domingo, 31 de julho de 2016

[NO PAÍS DOS SONHOS] CARLOS SEIXAS AOS QUATORZE ANOS




Deslocava-me por vielas esconsas e desertas, não sabendo muito bem em que sítio me encontrava, se nos velhos bairros de Lisboa, se nos de Setúbal ou mesmo de Coimbra. 
Eis senão quando encontro um frade, com o seu hábito de burel e o rosto totalmente na sombra do capuz. 
Perguntei-lhe, naturalmente, onde me encontrava. Ele olhou para mim e, espantado, disse-me: 

- «Está na presença de José António de Seixas»  

Retirou o capuz, deixando ver um rosto trigueiro, quase infantil na sua extrema juventude. 
Mal me recompus do choque, pegou-me gentilmente pela mão e disse-me em voz sussurrada: 

- «Quer ver um espetáculo único, exclusivo e delicioso?»

Não sabia o que responder, então apertei-lhe a mão, em sinal de assentimento... Mais perdido do que já estava, era realmente difícil, naqueles tempos...

Arrastou-me o jovem Seixas ao portal de uma casa apalaçada de imponente fachada. Logo dois criados em libré abriram as pesadas portas de madeiro, para deixar-nos passar. O músico era, com certeza, esperado. 
Este, sempre braço-dado comigo, subiu a majestática escadaria, iluminada por tochas, sustentadas por estátuas de escravos negros profusamente policromadas. 
- Mas onde me encontrava eu, agora? Não sabia. Continuava a não ter a mínima ideia, embora já tivesse percebido que se tratava de Lisboa... Mas de uma Lisboa do início do século XVIII. 

Nisto, o jovem que aqui me trouxera abriu uma porta de duplo batente, com brasões e relevos em talha dourada, revelando um salão onde várias damas e senhores, sentados, conversavam e pigarreavam rapé. 
Assim que viram o jovem, aplaudiram-no efusivamente, dando vivas e palavras simpáticas de encorajamento. 
Este fez uma vénia galante, apesar de ser um jovem frade. 

Sem demoras, pôs-se ao cravo, um instrumento de um só teclado. Ele tangia o singelo instrumento, como se acariciasse o dorso de um belo animal; tirava dele sons subtis ou arrojados, com a maior naturalidade, como quem conversa. 
Ele improvisava como se as teclas e cordas fossem os seus próprios instrumentos fonadores, ou seja, cantava com os dedos.

Após cerca de meia hora parou a exibição virtuosistica do jovem e  um senhor muito bem arranjado e empoado - provavelmente o dono da casa - apresentou aos presentes um nobre cavaleiro, de porte majestático, austero:

- «Il Signore Domenico Scarlatti»

Este fez uma breve reverência dirigindo-se sem hesitação ao fradinho que se erguera entretanto e o olhava com um misto de adoração e de terror.

- «Não temas, Caro...cuidarei que tu faças parte da Capela de sua Alteza el Rei Dom João. Ainda ontem, ele me pediu se eu conhecia em Napoli um bom e talentoso organista... Eu repliquei: Pois tem Vossa Majestade quem muito bem o sirva no Seu próprio Reino». 


Não recordo mais nada desta memorável cena. Talvez eles tenham jogado uma partida de cartas, bebendo um vinho do Porto e cavaqueando, até muito tarde.