domingo, 9 de julho de 2023

RENUNCIEI A LER O REAL [OBRAS DE MANUEL BANET]

                       Foto: Diante da tela «Isto não é um cachimbo» de R. Magritte
 

Renunciei a ler o real com as lentes deformantes dos media

Mas leio todos os dias o meu jornal feito de pássaros e de formigas

Nos jardins e nas ruas do meu bairro


Renunciei a compreender os humanos como entes racionais

Mais racional é a onda no mar, ou o trovão no céu


Renunciei a encontrar as razões dos políticos

Como, de qualquer maneira, são sempre discursos

Para enganar o eleitor, nada se pode extrair deles


Mas, um animal não finge, nem esconde

Só exprime o que sente; como a criança pequena


Afinal não renunciei a ler o real, devo autocorrigir

Porque o real é isso mesmo que leio; as produções

Dos humanos são apenas poluição de que nunca se fala  

Muito perniciosa: a poluição mental


Ela a todos enjaula, tritura e embrutece

Só se mantêm livres os poetas, uns tipos estranhos

Mas, afinal sábios, prudentes, humanistas


[Eu a ninguém aconselho: quem quiser que escolha

Não despreze este escrito, pois pode ter mais sumo

Do que parece, à primeira vista.]



2 comentários:

Manuel Baptista disse...

Quando o real é demasiado sórdido, quando não queremos comparticipar no assassínio de outros humanos e da Natureza, o que fazer?
Fica aqui a pergunta; a resposta será aquela que ditar a consciência de cada pessoa.

Manuel Baptista disse...

Poesia de Manuel Banet aqui neste blog:

https://manuelbaneteleproprio.blogspot.com/p/poesias-2016-2021-obras-de-manuel-banet.html

https://manuelbaneteleproprio.blogspot.com/p/poesias-de-manuel-banet-desde-2022.html