A luso-angolana ALDA LARA reúne a originalidade da poesia de expressão portuguesa, com a preocupação de natureza social. Esta sua sensibilidade não pode ser alheia ao muito sofrimento e miséria que testemunhou na sua curta vida, como médica numa Angola dominada por um colonialismo retrógrado, só possível porque foi a expressão dum poder político profundamente reacionário, o Portugal de Salazar.
O poema «Círculo», entre muitos poemas de qualidade, que se podem ler nas diversas coletâneas e na integral da obra poética, marcou-me com uma impressão profunda de proximidade com a autora, embora não a tivesse jamais encontrado e somente soubesse da sua vida pelo que consta nas biografias da Autora.
Seria injusto reduzir um/a poeta a um único poema. Mas, o meu propósito não é dar uma visão panorâmica de uma obra; é de partilhar convosco as poesias que tiveram maior impacto em mim, no passado e que ainda possuem essa qualidade: Suscitar o maravilhamento, como obras de arte imorredoiras que são.
CÍRCULO
todo o caminho é belo se cumprido.
ficar no meio é que é perder o sonho.
é deixá-lo apodrecer, no resumido
círculo, da angústia e do abandono.
de coração completo, mas chagado.
é ter o sol a arder dentro de nós,
cercado,
por grades infindas...
culpa de quem, se fiz o que podia,
na hora dos descantes
e das lidas?
ah! ninguém diga que foi minha!
Ah! ninguém diga...
minha a culpa,
de ter dentro do peito,
tantas vidas!...
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