Ofegante corria
como um louco, até ao portal da casa. Teve de parar, a respiração faltava-lhe.
Foi nesse preciso momento que a porta da datcha se abriu e apareceu Nadja, resplandecente
na glória os seus dezassete anos. Vestia uma camisa de cores variadas, saia
castanha e tinha o cabelo mal apanhado num carrapito, caíam-lhe madeixas pelos
ombros. Seu cabelo loiro acobreado enquadrava um rosto muito oval, com lábios
desenhando um sorriso discreto, a maior parte do tempo, quando escutava aquele
estroina: Inclinava ligeiramente a cabeça, como que para melhor adivinhar o que
ia sair dessa cabeça oca e seus olhos cintilavam ou tornavam-se nevoentos,
consoante o seu estado de alma. Como se toda a expressão do rosto se
concentrasse nos olhos.
Não havia nada
de especial naquele relacionamento. Ou melhor, tudo era especial. O jovem e a
jovem tinham um pacto não dito de total entrega espiritual e total castidade
corporal. Como é isso possível em jovens saudáveis e sem preconceitos?
Impossível de explicar. O facto é que ambos se sentiam muito à vontade nessa
situação de «não namoro» e nada poderia mudar a disposição dos dois, por mais
que as famílias respetivas e os amigos achassem que as coisas não iriam
permanecer nesse pé.
Este Verão seria
o último, mas eles não suspeitavam de nada. Abraçaram-se e olharam-se nos
olhos. Depois, com um sorriso muito terno, Victor poisou um beijo na fronte de
Nadja.
Esta
desprendeu-se logo do seu abraço, tomou-lhe a mão e arrastou-o numa corrida
através do salão, atravessando a porta sempre aberta da cozinha e mostrou-lhe …
- «Olha! Sua ninhada de oito gatinhos»…
A gata siamesa estava deitada na alcofa e
lambia a cabeça e dorso de um dos gatinhos, numa toilete interminável de
mãe-gata.
…...
[não sei como foi a seguir…
nada! Apenas me lembro de ter acordado deste sonho com uma opressão no peito,
como se algo de terrível tivesse ocorrido. Não sei o quê…]
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