A IIIª Guerra Mundial tem sido, desde o início, guerra híbrida e assimétrica, com componentes económicas, de subversão, desestabilização e lavagens ao cérebro, além das operações propriamente militares. Este cenário era bem visível, desde a guerra na Síria para derrubar Assad, ou mesmo, antes disso.

terça-feira, 10 de março de 2020

CIENTISTAS CHINESES MOSTRAM COMO SE PROPAGA O CORONAVÍRUS

                             Several passengers became infected during the four-hour bus journey.

Num estudo publicado numa revista científica com «peer review», o «Practical Preventive Medicine», os cientistas chineses reconstituíram o modo como se disseminou o vírus num autocarro: 
Aqui, pode encontrar a notícia do South China Morning Post relatando o essencial do artigo atrás referido. 
Este estudo é muito valioso, pois permite desenhar estratégias para evitar a propagação do vírus em ambientes fechados.

ps: Entretanto, hoje 12 de Março surgem notícias que indicam que a China já passou o pico da epidemia.
               
                                           China past peak of coronavirus outbreak, health authorities say

                       Ver: http://thesaker.is/xi-focus-protect-can-do-china-curbs-covid-19/

PS2: Paul Craig Roberts divulga artigos científicos de autores chineses, que demonstram tratamento eficaz de pacientes com Covid-19. Ver em...
https://www.paulcraigroberts.org/2020/03/13/treatments-for-coronavirus-that-have-worked-in-china/

segunda-feira, 9 de março de 2020

J. S. BACH: CONCERTO BWV 1052

VERSÃO PARA ÓRGÃO DO CONCERTO PARA CRAVO 




Johann Sebastian Bach (31 March [O.S. 21 March] 1685 – 28 July 1750) was a German composer and musician of the Baroque period. He is known for instrumental compositions such as the Brandenburg Concertos and the Goldberg Variations as well as for vocal music such as the St Matthew Passion and the Mass in B minor. Since the 19th-century Bach Revival he has been generally regarded as one of the greatest composers of all time. 


Harpsichord No. 1 in d minor, BWV 1052 

Arranged from the lost Violin Concerto in D minor, BWV 1052R 

Arranged again for Organ. 

Holograph manuscript, n.d.(ca.1734-38) in Bach's own handwriting 

I. Allegro II. Adagio (8:39) III. Allegro (14:31

Christine Schronsheim, organ and the Neues Bachses Collegium Musicum Leipzig conducted by Max Pommer 

Materials were partly taken from the cantatas Wir müssen durch viel Trübsal, BWV 146 (1726/28) and Ich habe meine Zuversicht, BWV 188 (1728).

domingo, 8 de março de 2020

OUTRO CISNE NEGRO...

Arábia Saudita declara guerra de preços do petróleo, num contexto de pandemia     
                            View image on Twitter
Com todo o barulho mediático em torno da pandemia de coronavírus, tenho a certeza que passou despercebido para muitos o fracasso da reunião da OPEC+ em Viena, na passada sexta-feira, 6 de Março. 
Nesta reunião, a Rússia (que não é membro mas tem tentado coordenar a sua política petrolífera com o cartel dominado pela Arábia Saudita), não aceitou a proposta de redução de produção por longo tempo para sustentar os preços.
A Arábia Saudita decidiu fazer uma jogada «brilhante» de hara-kiri, anunciando a subida da sua produção para mais de doze milhões de barris diários, tendo agora um pouco menos de dez milhões de barris. O preço do petróleo deu logo um tombo. 
A lógica dos sauditas para esta decisão seria a de roubar o mercado europeu aos russos, os quais se desmultiplicaram em iniciativas para fornecimento de petróleo e gás natural, nos últimos tempos. 
Por outro, iria também inviabilizar o sector do petróleo de xisto, nos EUA, que tem necessidade de um preço do crude da ordem de 50/55 dólares/barril, para atingir o limite de rentabilidade. É provável que o barril desça para 20$. A indústria do petróleo de xisto iria à falência, a breve trecho, por não conseguir cobrir as despesas de exploração e os juros dos empréstimos enormes, que a têm sustentado. 
No entanto, a situação causada pela Arábia Saudita em 2014 (a pedido dos americanos) não causou um abalo assim tão grande à economia russa. Esta soube aguentar muito bem o impacto, tendo-se tornado mais diversificada. A Rússia terá capacidade para aguentar outra vez a descida do preço do crude. 
Do lado americano, é verdade que as empresas de petróleo de xisto ficarão ainda mais endividadas mas, num país onde os défices se quantificam por triliões de dólares, serão apenas mais algumas gotas de dívida a somar ao oceano. Enquanto o dólar permanecer a principal moeda de reserva e de comércio mundial, não é difícil imaginar um salvamento conjugado da sua indústria petrolífera pela Casa Branca e por Wall Street. 
Mas, o reino governado com mão de ferro pelo príncipe herdeiro Mohamed Bin Salman, terá um défice orçamental altíssimo (da ordem de 15 % ou mais). Claro que, no curto prazo, tem reservas monetárias suficientes.
Porém, a crise originada pelo rebentamento das bolhas dos mercados todos, catalisada pela epidemia do coronavírus, pode prolongar-se por tempo indeterminado. É impossível saber durante quanto tempo irá durar a retracção da economia mundial. 
Para já, a própria OPEC pode ser declarada morta, pois os países médios produtores de petróleo, ficarão certamente numa situação dramática, em consequência da diminuição brusca dos rendimentos oriundos do petróleo (quase sempre a rubrica de maior vulto nas suas exportações). A grande maioria dos países da OPEC - e a própria OPEC, enquanto tal - não poderão sobreviver, nestas circunstâncias. 
Mesmo que a Arábia Saudita com esta manobra conseguisse derrotar os seus dois maiores concorrentes (o petróleo russo e o petróleo americano de xisto), teria de aguentar as consequências da diminuição drástica de receita, que poderá durar vários anos, resultando daí impossibilidade em satisfazer os múltiplos compromissos sociais, tanto relativos à população em geral, como à «elite» do poder (família real alargada e forças armadas). 
Talvez seja este o verdadeiro motivo pelo qual Bin Salman decidiu mandar prender (outra vez!) um número elevado de militares e de príncipes, em prevenção de um golpe para o derrubar...

Seja como for, os países médios produtores de petróleo ficarão desestabilizados, empobrecidos, por esta decisão unilateral da Arábia Saudita. Face à ameaça de pandemia e de recessão mundial profunda, esta decisão não poderia ter vindo em pior momento.

PS: sobre a geopolítica envolvendo assunto, ver aqui uma análise pormenorizada de Thierry Meyssan

sábado, 7 de março de 2020

INFORMAÇÃO SOBRE A GUERRA NA SÍRIA: saber e compreender os factos

[Manuel Banet: Os dados objectivos sobre a guerra na Síria são difíceis de obter pelo leitor médio, que não tem tempo de confrontar várias fontes, de distinguir factos de invenções, de esclarecer os contextos das acções, etc. Este artigo da Swiss Propaganda Research, não ambiciona cobrir todos os aspectos do problema, mas apenas mostrar como a informação é dada ao público. No entanto, fazem muita falta resenhas de dados factuais, como esta, que reponham em contexto o que se tem passado desde 2011 no martirizado país do Levante.]

The Syria Deception: Understanding the geopolitical and psychological war against Syria
By Swiss Propaganda Research
March 05, 2020 -  What is the Syria war about?

Contrary to the depiction in Western media, the Syria war is not a civil war. This is because the initiators, financiers and a large part of the anti-government fighters come from abroad.
Nor is the Syria war a religious war, for Syria was and still is one of the most secular countries in the region, and the Syrian army – like its direct opponents – is itself mainly composed of Sunnis.
But the Syria war is also not a pipeline war, as some critics suspected, because the allegedly competing gas pipeline projects never existed to begin with, as even the Syrian president confirmed.
Instead, the Syria war is a war of conquest and regime change, which developed into a geopolitical proxy war between NATO states on one side – especially the US, Great Britain and France – and Russia, Iran, and China on the other side.
In fact, already since the 1940s the US has repeatedly attempted to install a pro-Western government in Syria, such as in 1949, 1956, 1957, after 1980 and after 2003, but without success so far. This makes Syria – since the fall of Libya – the last Mediterranean country independent of NATO.
Thus, in the course of the „Arab Spring“ of 2011, NATO and its allies, especially Israel and the Gulf States, decided to try again. To this end, politically and economically motivated protests in Syria were used and were quickly escalated into an armed  conflict.




Syria: The situation in February 2020


NATO’s original strategy of 2011 was based on the Afghanistan war of the 1980s and aimed at conquering Syria mainly through positively portrayed Islamist militias (so-called „rebels“). This did not succeed, however, because the militias lacked an air force and anti-aircraft missiles.
Hence from 2013 onwards, various poison gas attacks were staged in order to be able to deploy the NATO air force as part of a „humanitarian intervention“ similar to the earlier wars against Libya and Yugoslavia. But this did not succeed either, mainly because Russia and China blocked a UN mandate.

ISIS Control Map 2015
ISIS: Supply and export routes through NATO partners Turkey and Jordan (ISW / Atlantic, 2015)

As of 2014, therefore, additional but negatively portrayed Islamist militias („terrorists“) were covertly established in Syria and Iraq via NATO partners Turkey and Jordan, secretly supplied with weapons and vehicles and indirectly financed by oil exports via the Turkish Ceyhan terminal.
Media-effective atrocity propaganda and mysterious „terrorist attacks“ in Europe and the US then offered the opportunity to intervene in Syria using the NATO air force even without a UN mandate – ostensibly to fight the „terrorists“, but in reality still to conquer Syria and topple its government.
This plan failed again, however, as Russia also used the presence of the „terrorists“ in autumn 2015 as a justification for direct military intervention and was now able to attack both the „terrorists“ and parts of NATO’s „rebels“ while simultaneously securing the Syrian airspace to a large extent.
By the end of 2016, the Syrian army thus succeeded in recapturing the city of Aleppo.
From 2016 onwards, NATO therefore switched back to positively portrayed but now Kurdish-led militias  (the SDF) in order to still have unassailable ground forces available and to conquer the Syrian territory held by the previously established „terrorists“ before Syria and Russia could do so themselves.
This led to a kind of „race“ to conquer cities such as Raqqa and Deir ez-Zor in 2017 and to a temporary division of Syria along the Euphrates river into a (largely) Syrian-controlled West and a Kurdish (or rather American) controlled East (see map above).
This move, however, brought NATO into conflict with its key member Turkey, because Turkey did not accept a Kurdish-controlled territory on its southern border. As a result, the NATO alliance became increasingly divided from 2018 onwards.
Turkey now fought the Kurds in northern Syria and at the same time supported the remaining Islamists in the north-western province of Idlib against the Syrian army, while the Americans eventually withdrew to the eastern Syrian oil fields in order to retain a political bargaining chip.
While Turkey supported Islamists in northern Syria, Israel more or less covertly supplied Islamists in southern Syria and at the same time fought Iranian and Lebanese (Hezbollah) units with air strikes, but ultimately without success: the militias in southern Syria had to surrender in 2018.
Ultimately, some NATO members tried to use a confrontation between the Turkish and Syrian armies in the province of Idlib as a last option to escalate the war. In addition to the situation in Idlib, the issues of the occupied territories in the north and east of Syria remain to be resolved, too.
Russia, for its part, has tried to draw Turkey out of the NATO alliance and onto its own side as far as possible. Modern Turkey, however, is pursuing a rather far-reaching geopolitical strategy of its own, which is also increasingly clashing with Russian interests in the Middle East and Central Asia.
As part of this geopolitical strategy, Turkey in 2015 and 2020 even used the so-called »weapon of mass migration«, which may serve to destabilize both Syria (so-called strategic depopulation) and Europe, as well as to extort financial, political or military support from the European Union.
What role did the Western media play in this war?
The task of NATO-compliant media was to portray the war against Syria as a „civil war“, the Islamist „rebels“ positively, the Islamist „terrorists“ and the Syrian government negatively, the alleged „poison gas attacks“ credibly and the NATO intervention consequently as legitimate.
An important tool for this media strategy were the numerous Western-sponsored „media centres“„activist groups“„Twitter girls“„human rights observatories“ and the like, which provided Western news agencies and media with the desired images and information.
Since 2019, NATO-compliant media moreover had to conceal or discredit various leaks and whistleblowers that began to prove the covert Western arms deliveries to the Islamist „rebels“ and „terrorists“ as well as the staged „poison gas attacks“.
But if even the „terrorists“ in Syria were demonstrably established and equipped by NATO states, what role then did the mysterious „caliph of terror“ Abu Bakr al-Baghdadi play? He possibly played a similar role as his direct predecessor, Omar al-Baghdadi – who was a phantom.
Thanks to new communication technologies and on-site sources, the Syria war was also the first war about which independent media could report almost in real-time and thus for the first time significantly influenced the public perception of events – a potentially historic change.

https://swprs.org/the-syria-deception/



[António Garcia Pereira] TAP: SAQUEADORES À SOLTA


Publico este texto de Garcia Pereira, conhecido advogado e dirigente de um partido de esquerda. Recebi o texto de «Grazia Tanta» ao qual agradeço o envio. 
Neste «Portugal dos pequeninos», costuma dizer-se que «a culpa morre solteira». Estou em desacordo com o autor do texto abaixo somente num ponto: quando ele conjura a História para fazer justiça *. Efectivamente, a «justiça» da História é a justiça que nunca chega em tempo útil de ressarcir as vítimas e condenar os culpados, porque quando ela profere a sua sentença, já morreram uns e outros, ou pelo menos estão de malas aviadas.... 

(*«A História julgará decerto todos os executantes e beneficiários deste autêntico “golpe do baú” e, mais até do que eles, os governantes e dirigentes responsáveis por ele ter podido ser pensado, executado e mantido durante todos estes anos e anos a fio.»)


A situação actual da TAP é de uma enorme gravidade e representa um problema de particular importância de que, todavia, quase ninguém parece querer falar.

É que uma companhia aérea de bandeira, ou seja, gerida pela lógica da defesa dos interesses gerais do país e não pelo objectivo do lucro de interesses financeiros privados, é um instrumento estratégico fundamental para o desenvolvimento económico e social de qualquer Estado.

Mas é-o seguramente ainda mais para um país como Portugal, que tem não só cinco milhões dos seus cidadãos espalhados pelo mundo, como também duas regiões autónomas constituídas por ilhas atlânticas e ainda relações privilegiadas – que, aliás, podiam e deviam ser mais desenvolvidas – com as suas antigas colónias. Isto, por facilmente compreensíveis e inegáveis razões quer de unidade política nacional, quer de coesão económica e social e de promoção da igualdade e solidariedade entre todos os cidadãos, quer enfim do propiciar e do fomentar de relações políticas, económicas e culturais, em pé de igualdade e reciprocidade, com tais países.

Se a todas estas razões somarmos ainda o facto de Portugal ser o país mais ocidental da Europa e, logo, o primeiro a ser sobrevoado pela maior parte do tráfego aéreo que vem do outro lado do Atlântico, torna-se então absolutamente evidente a utilidade e, mais do que isso, a necessidade de o nosso país dispor de uma companhia aérea que sirva adequadamente todos aqueles objectivos. E é precisamente para isso que a TAP – fundada em 14 de Março de 1945 – deveria servir. Mas não serve!

Desde logo, a verdade é que a teoria de que gestores vindos do sector privado, como Fernando Pinto (que já conduzira a Varig à falência e veio para a TAP em 2000 com a confessada missão de vender a companhia a privados) seriam os mais competentes e eficientes para assegurar a boa administração da TAP levou foi a que esta acumulasse sucessivos prejuízos[1], os quais serviram depois de pretexto para defender a sua privatização.

O certo é que Fernando Pinto e as suas administrações conduziram sucessivamente a TAP ao desastre financeiro com as medidas absolutamente inaceitáveis mas adoptadas para aumentar de qualquer modo as receitas, tais como a prática de preços astronómicos nas viagens de e para as regiões autónomas, a eliminação de voos (sob a habitual não-razão das “razões de ordem técnica”) para juntar num só deles os passageiros de dois ou três diferentes, a redução das tripulações para o número mínimo de segurança mas obrigando-as a desempenhar tarefas comerciais, a completa degradação do serviço de bordo (designadamente de refeições) e a adopção de cavernícolas medidas laborais como a de prejudicar na progressão na carreira e nos salários os trabalhadores que exerceram, por exemplo, os seus direitos de parentalidade.

O desastre financeiro da TAP começou desde logo com o famigerado negócio da compra da VEM (a empresa de manutenção da Varig), celebrado em 2007 por Fernando Pinto com a decisiva intervenção do amigo do peito de António Costa, 
 Diogo Lacerda Machado (através da empresa Geocapital) e que representou seguramente uns milhões para os bolsos de alguém, mas sobretudo um buraco de 500 milhões de euros nas contas da TAP[2]!

E fizeram-no depois com a desvalorização e degradação do justamente prestigiado sector de manutenção da companhia, com a imposição da política do “stock 0” dos sobresselentes e com a utilização dos equipamentos e das tripulações no limite (ou mesmo para além dele) da sua capacidade normal, fazendo com que, ao mínimo problema com uma aeronave ou com uma tripulação numa dada operação de voo, todas as seguintes caíssem como peças de dominó, tal como sucedeu de forma gritante no Verão de 2014. E depois, para procurar apagar o fogo com gasolina, ir contratar, designadamente em regime de wet-lease, aviões e tripulações a outras companhias, algumas delas cujos parâmetros de segurança não eram propriamente fiáveis ou sequer conhecidos, mas a preços exorbitantes, agravando assim e ainda mais a situação financeira da empresa.

As várias administrações da TAP

Esta era, pois, a “excelência” dos métodos e das lógicas da gestão privada numa empresa pública, mas levada consecutivamente a cabo para justificar a privatização que foi inicialmente defendida em 1991 pelo governo de Cavaco Silva, que aprovou mesmo a sua transformação em sociedade anónima pela Resolução do Conselho de Ministros de 20 de Junho desse ano, 
ideia depois retomada por António Guterres (em 1995), Santana Lopes (em 2004) e José Sócrates (em 2006, aqui já com a ideia da dispersão do seu capital em bolsa).
  
Com o chamado “memorando da Tróica” – assinado em Maio de 2011 pelo governo de Sócrates com o acordo do PSD e do CDS e que previa no seu ponto 3.31, a venda (privatização) da TAP até ao final desse mesmo ano – esse processo foi acelerado, embora não à velocidade que o FMI, a Comissão Europeia e o Banco Central Europeu pretendiam.  E, assim, foi o governo Coelho/Portas – cujo mandato, recorde-se, decorreu de 21/06/ 2011 até à tomada de posse do primeiro governo de António Costa em 30/10/2015 – que levou a cabo a respectiva consumação. 

Após o falhanço em 2012 da primeira tentativa de venda (a qual chegou ao fim com um só candidato, o  empresário Gérman Efromovich, com um currículo mais que duvidoso e com dupla nacionalidade, colombiana e brasileira, o que o Direito da União Europeia não permitia), o governo de Passos Coelho e Paulo Portas tratou, sobretudo através do então Secretário de Estado dos Transportes, Sérgio Monteiro, de fazer consumar de qualquer maneira o negócio da venda, autenticamente ao desbarato de 61% do capital social da TAP à Atlantic Gateway, assinando o respectivo contrato em Junho de 2015.

E o que é a dita Atlantic Gateway? É um consórcio formado propositadamente para este negócio pelo dono da então praticamente falida companhia Azul, Linhas Aéreas Brasileiras, o norte-americano David Neeleman. Para tal, este chamou Humberto Pedrosa, empresário português do sector dos transportes rodoviários, para assim conferir à nova dona da TAP uma pretensa natureza europeia e desta forma tornear as normas de direito comunitário que impõem que uma companhia de aviação europeia só por uma entidade europeia possa ser comprada.

Mas desde o início se percebeu que o verdadeiro novo dono da TAP era, e é, um só, David Neeleman, como se compreendeu ao que ele vinha – vampirizar a TAP para salvar a sua Azul e posteriormente vender a sua parte do capital por um preço muito superior ao valor do que pagara aquando da venda.

Apesar da complicada e habilidosa engenharia jurídico-financeira construída precisamente para escamotear todas essas realidades, aquilo que se foi constatando ao longo do tempo é agora por inteiro confirmado com o anúncio das “adiantadas negociações” para a venda do capital privado da TAP à alemã Lufthansa, a qual, muito significativamente, não confirma, mas também não nega tais negociações.

É claro que, entretanto, e perante a queixa-crime apresentada pela Associação “Peço a Palavra!” (relativamente aos factos com relevância criminal que foram sendo praticados para escamotear a verdadeira natureza da negociata da venda ilegal e ao desbarato da companhia aérea nacional a um americano dono de uma companhia de aviação brasileira), o nosso Ministério Público, depois de se limitar a ouvir os intervenientes e defensores deste negócio e de não realizar uma só das diligências de prova que se impunham para tratar de apurar efectivamente toda a verdade dos factos, “engonhou” o processo durante cerca de três anos e depois… tratou de o arquivar! Mas também, depois do que o mesmíssimo Ministério Público já tinha feito com casos como os dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo, dos swaps, das parcerias público-privadas, tal, infelizmente, já não era de todo de estranhar…

A “reversão” da privatização da TAP

O certo, porém, é que, hoje, já se sabe bastante mais acerca daquilo em que, na prática, consistiu não só o acordo de venda de Junho de 2015 como, mais do que isso, o acordo chamado de “reversão” da privatização da TAP (estabelecendo 45% do capital da TAP para a Atlantic Gateway, 50% para o Estado e 5% para trabalhadores) que o governo de António Costa celebrou em 2016 com a Atlantic Gateway, ou seja, com David Neeleman (e com Humberto Pedroso, uma vez mais, apenas a dizer que sim). Ou seja, vai-se percebendo cada vez melhor que é o mesmo Neeleman quem, desde 2015, efectivamente manda na TAP e que o grande negociador desta “solução” foi o amigo de Costa, Lacerda Machado, devidamente premiado logo depois com um lugar na administração da companhia!

Ficámos também a saber que, mesmo tendo ficado a deter apenas 50% do capital social da empresa, por força de um acordo parassocial mantido secreto, a gestão da TAP é afinal exclusivamente da Atlantic Gateway e, havendo lucros, esta terá direito a 90% dos mesmos (ainda que só detendo metade do capital), enquanto o Estado, maior accionista, terá apenas 5% dos respectivos direitos económicos.

Mais! Com a dita recompra da TAP, o Estado – que assim rigorosamente nada manda na gestão da empresa – assumiu diversas e gravosas obrigações: desde logo, e perante a banca, a garantia da dívida financeira da empresa, no valor de 615 milhões de euros; depois, a obrigação de garantir que os capitais próprios da TAP não sejam inferiores a -571,3 milhões de euros, sendo o Estado o único responsável pela capitalização sempre que os referidos capitais próprios desçam abaixo do limite mínimo assim definido; e, finalmente, a obrigação de assegurar a substituição da Atlantic Gateway na realização de prestações acessórias.

Como se não bastasse o valor ridículo e ruinoso da venda da TAP em 2015 (150 milhões de euros que, mesmo assim, não entraram de todo nos cofres do Estado pois foram integralmente destinados ao reforço do capital da empresa), a farsa do novo acordo não reverteu coisa nenhuma da lógica e do essencial do primitivo negócio: compromissos e obrigações para o Estado português (ou seja, para os bolsos de todos nós) e vantagens, prémios e lucros para os bolsos do Sr. Neeleman, da sua empresa e dos seus amigos.

A sucessiva deterioração da TAP

Sob a gestão num primeiro momento ainda de Fernando Pinto e depois do Sr. Antonoaldo Neves, a TAP foi sendo completamente vampirizada pela Azul, que a usou desde logo para aceder a rotas de que não dispunha (designadamente de e para a Europa e a África) e em que, por si, não conseguia entrar. Depois, também serviu para, sob a capa da cedência à TAP de inúmeras aeronaves da Azul (cuja frota estava então quase toda parada), esta vir pôr essas aeronaves a fazerem as respectivas, e altamente dispendiosas, operações de manutenção a cargo da TAP, para logo depois as recuperar com essas operações feitas “à borla”.

Mais! Foi também noticiado – e nunca desmentido pelos próprios – que terá sido a Airbus a disponibilizar a Neeleman o dinheiro necessário (70 milhões de euros) para ele concorrer à privatização da TAP, em contrapartida do compromisso de, conseguindo o mesmo Neeleman ficar com ela, como ficou, adquirir depois à mesma Airbus dezenas e dezenas de aeronaves A320 e A330 (em vez de uma encomenda inicial de 12 aviões A350 já paga pela TAP).

Assim, o Sr. Neeleman pôde comprar a TAP com dinheiro que não era dele, mas sim da própria TAP e disponibilizado pela Airbus a título de “desconto” no preço das prometidas compras de novos aviões cuja aquisição tem, efectivamente, vindo a acontecer, mas em escala cada vez maior, gerando para a TAP obrigações financeiras verdadeiramente incomensuráveis[3].

Assim, o mesmo Sr. Antonoaldo Neves, que se gaba de, em 2019, a TAP ter ao serviço 105 aeronaves (número considerado pelos especialistas como manifestamente exagerado para a dimensão da companhia e para as necessidades reais dos voos que estrategicamente lhe deveria interessar realizar) e que “engaiola” um número cada vez maior de passageiros em aviões com cada vez menos conforto para os passageiros e com cada vez piores condições de trabalho para os tripulantes, é o mesmo que se “esquece” de informar qual o custo da aquisição daquelas mesmas aeronaves (cerca de 1 milhão de euros mensais por cada avião) e como é que esse custo vai ser afinal suportado e por quem.

Os prémios da administração 

E é ainda este mesmo personagem que, do mesmo passo que vai acumulando enormes prejuízos (de 118 milhões de euros em 2018 e, apesar de todas as promessas, de 105,6 milhões de euros em 2019), vai decidindo e distribuindo fabulosos prémios por si próprio, pelos seus amigos da administração, a começar por Abílio Martins, administrador da Área Financeira e homem de mão de Zeinal Bava e Miguel Relvas, e pelos homens e mulheres da sua confiança, como já fez no ano passado e se prepara para fazer de novo este ano[4].

O provocatório acinte desta gente resulta de que ela bem sabe que, como os membros da Comissão de Vencimentos e de qualquer dos órgãos sociais da TAP só podem ser substituídos ou destituídos de funções pela maioria qualificada de 2/3 (66,7%) dos votos representativos do capital social, maioria qualificada que o Estado não tem, esses administradores e os seus amigos que lhes aprovam as remunerações e prémios vão poder manter-se no “poleiro” até ao fim dos respectivos mandatos.

E, assim, é um autêntico “é fartar vilanagem!” aquilo a que temos assistido, numa sucessão de acontecimentos que são verdadeiramente criminosos, e não apenas do ponto de vista dos interesses políticos, económicos e sociais do país, mas também e até do ponto de vista criminal, não fora termos, também aqui, um Ministério Público que, quando se chega a este tipo de criminalidade – que ele tanto diz combater… – afinal não vê, não ouve e não fala nada.

Bolsos cheios, malas aviadas

E as mais que previsíveis consequências de tudo isto aí estão já bem à vista: quando este autêntico saque terminar, teremos uma companhia aérea absolutamente secundarizada e ultrapassada nos voos internacionais e transformada numa mera companhia regional, numa espécie de Portugália um pouco maior e, sobretudo, completamente endividada. E teremos também um Estado a vir aos bolsos dos contribuintes para cumprir as tais obrigações financeiras a que todos os governos dos últimos 30 anos, mas muito em particular os da última década, e sempre nas nossas costas, trataram de nos amarrar.

Entretanto, e aproximando-se a hora do crash que este tipo de gestão torna cada vez mais inevitável, eis que assistimos a um outro indecoroso (mas, em boa verdade, também previsível) espectáculo: o Sr. Neeleman, bem mostrando uma vez mais que é ele quem manda na Atlantic Gateway, trata de negociar a venda à Lufthansa dos 22,5% do… Sr. Humberto Pedrosa (que, confessadamente, nem sequer falou ainda com a companhia alemã porque quem disso trata é, claro, o dono da Azul…) por um montante de 180 milhões de euros, que pressupõe a avaliação da TAP em 800 milhões, ou seja, quase seis vezes mais do que, há quatro anos atrás, os privados deram por ela! E quando tiver decorrido o prazo de cinco anos durante o qual ele tem de se manter como associado do consórcio Atlantic Gateway, o Sr. Neeleman também decerto fará o mesmo e regressará então aos Estados Unidos com os bolsos ainda mais cheios à culpa dos papalvos dos portugueses, iludidos e burlados cem vezes…

A impunidade e a cumplicidade

A História julgará decerto todos os executantes e beneficiários deste autêntico “golpe do baú” e, mais até do que eles, os governantes e dirigentes responsáveis por ele ter podido ser pensado, executado e mantido durante todos estes anos e anos a fio.

Mas a cumplicidade dos silêncios ensurdecedores a este respeito é ainda mais revoltante. 

Na verdade, porque é que, face a esta ignomínia, ninguém, a começar pela Comissão de Trabalhadores e pelos Sindicatos da TAP e a acabar nos partidos e organizações que se dizem de esquerda ou, pelo menos, minimamente preocupados com o futuro do país, diz rigorosamente nada sobre isto?

Perante o saque e a destruição da TAP, antes de mais os seus próprios trabalhadores, mas também todos nós, cidadãos em geral, ainda que aqueles que se dizem nossos representantes nada digam e nada façam a este respeito, devemos arrogar-nos o direito, que é também um dever, de dizermos “NÃO!” a todo este escândalo, de pormos cobro a este roubo e de tudo fazermos para que todos os seus autores (que hoje se riem na nossa cara) tenham que assumir as suas responsabilidades e pagar pelos seus crimes!

António Garcia Pereira
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[1] Em 2009, eles atingiram os 290 milhões de euros. Segundo as contas oficiais, e com todas as cosméticas contabilísticas, os prejuízos foram de 42,2 milhões de euros em 2012, de 5,9 milhões de euros em 2013 e de 85,1 milhões de euros em 2014.

[2] Diogo Lacerda Machado foi quadro e administrador da empresa Geocapital, Investimentos Estratégicos, SA, com sede em Macau. Em 2005, a TAP e a Geocapital compraram a já então semi-falida Varig, Engenharia e Manutenção (VEM) para, dois anos depois, a Geocapital vender à TAP a sua participação no capital social da VEM por 25 milhões de dólares, ou seja, pelo valor de 21 milhões inicialmente previsto, acrescido de um “prémio” de 20%, que foi para os bolsos de alguém. Depois de ter sido nomeado consultor pelo Primeiro-Ministro António Costa e de ter negociado o acordo com Neeleman e Humberto Pedroso, Lacerda Machado foi nomeado vogal do Conselho de Administração da própria TAP. 

[3] Em Abril de 2018, por exemplo, foi tornado público pela própria TAP que a encomenda por ela feita à Airbus de 71 (!?) novos aviões implicaria o custo de, pelo menos, 9.970,2 milhões de euros, num custo médio por avião de mais de 140 milhões de euros. E em Fevereiro de 2020 foi anunciada a chegada de dois aviões A-330 Neo, sendo esperados mais dez até final do ano.

[4] Depois de, em Maio de 2019, e não obstante o gigantesco prejuízo de 2018 (118 milhões de euros), ter decidido atribuir prémios no valor global de 1,171 milhões a apenas 180 dos 7000 trabalhadores da TAP, pagando, a título desses mesmos prémios, 110 mil euros quer ao CEO Elton de Souza, quer ao administrador Abílio Martins, bem como 88 mil euros ao Director Técnico Mário Lobato Faria e 17,8 mil euros à Directora do Departamento Jurídico da TAP, e mulher do Presidente da Câmara de Lisboa Fernando Medina, a administração da TAP, mesmo depois dos mais 105 milhões de euros de prejuízos em 2019, prepara-se para fazer algo similar em 2020, até encher os bolsos dos próprios administradores e seus amigos.



sexta-feira, 6 de março de 2020

[Roland Gori] A FÁBRICA DOS IMPOSTORES

O AUTOR ESCLARECE MUITAS QUESTÕES QUE TÊM ESTADO OCULTADAS (INTENCIONALMENTE). A SUA ANÁLISE RIGOROSA PERMITE-NOS COMPREENDER AS RELAÇÕES NAS SOCIEDADES CONTEMPORÂNEAS 
(falado em francês, com legendas em inglês)

                                          https://www.youtube.com/watch?v=2FEtiA18lZU

quinta-feira, 5 de março de 2020

[Prof. Anthony Hall] QUEM OU O QUÊ INICIOU A EPIDEMIA DE CORONAVÍRUS ?


Num extenso artigo/dossier (ir para o link encimando este texto), o prof. Anthony Hall reúne um conjunto de evidências contraditórias, umas que chegaram ao conhecimento do público, outras não, assim como uma interessante análise do contexto da guerra surda que as principais potências travam no domínio da guerra biológica.
- Será o vírus de Wuhan um produto da natureza ou artificial?
- Será casual ou não a proximidade do foco inicial do vírus em relação ao instituto de virologia de Wuhan, que alberga um laboratório de nível de segurança 4 (apto para manipular estirpes letais e perigosas)?
O certo é que a media não tem ajudado, ora propalando os mitos sobre a origem do vírus originados pelo poder (nomeadamente, do governo chinês), ora outros mitos e histórias distorcidas por toda a espécie de propaganda e de desinformação, de sentidos contrários (ligadas à CIA, Mossad, meios governamentais e media russos, ou outras).
Muito interessante é a sua revelação da posição do  Dr. Boyle, principal negociador por parte dos EUA, da convenção da ONU sobre armas biológicas.
Um manancial de informação e de recortes de media, inteligentemente escrutinados.
O certo é que a necessidade de apurar o como este vírus veio a existir e disseminar-se inicialmente pode - com certeza - trazer pistas importantíssimas para o seu combate. Com efeito, a existência de  «reservatório(s) natural(ais)» é muito importante, caso a verdade seja que este vírus foi originado na natureza e foi acidentalmente transmitido dum hospedeiro animal para o ser humano.
Substancialmente diferente será o modo de combater o vírus, nos já infectados ou em prevenir o alastramento da infecção, caso este vírus resulte de engenharia genética. 

Para além do perigo imediato da pandemia do vírus de Wuhan, que pode - segundo investigador chinês - chegar a contaminar uma percentagem da população mundial da ordem de 60%, existe outro perigo, ainda mais negro.

Com efeito, como já tinha relatado neste blog (CORONAVÍRUS DE WUHAN: BIO-ARMA ARTIFICIALMENTE FABRICADA?), há boas razões para suspeitar que os laboratórios de alta segurança biológica de várias grandes potências albergam ilegamente (mas com pleno conhecimento e anuência dos respectivos governos) programas de armas biológicas, cuja «justificação» ou pretexto é que precisam de estudar essas estirpes perigosas para contrariar um ataque inimigo com antídoto ou vacina apropriada...Mas, na realidade, os referidos laboratórios e Estados (ver: A PANDEMIA DO MEDO), estão simplesmente a violar a convenção da ONU que eles negociaram, assinaram e ratificaram.