Taiwan tem uma longa história. Uma história que antecede de milénios a presença do poder imperial chinês na ilha.
Foi a partir de Taiwan e de outros pontos da costa asiática, que se deu o povoamento das ilhas dos arquipélagos da Polinésia e parte da Indonésia. Existem evidências, do ponto de vista antropológico, linguísticas e - mais recentemente - do ADN destes povos, que demonstram essa antiga dispersão.
No século XV, antes dos portugueses terem aí chegado, Taiwan era parte do império chinês. Mas a população autóctone era muito maioritária. Os comerciantes vindos do continente e alguns membros da administração eram os poucos habitantes da etnia Han (muito maioritária, hoje, na China continental).
Com o tempo e o intercâmbio com os «bárbaros do sul» (nome dado aos portugueses), assim como com outros aventureiros e piratas que frequentavam as águas da região, a percentagem da etnia originária foi decrescendo e aumentando a da etnia Han, dominante no continente.
Mas, uma transição mais acentuada ocorreu no final do século XIX, com a invasão e colonização nipónica da ilha. Os japoneses expandiram-se em Taiwan, tal como noutras paragens do Extremo-oriente, à procura de recursos e de posições estratégicas, que lhes permitissem consolidar o império «do Sol nascente». A colonização japonesa de Taiwan terá sido menos brutal que a doutros países e povos (como foi o caso da Coreia), mas deixou más memórias a muitos taiwaneses.
Na guerra entre japoneses e americanos, no final da IIª Guerra Mundial, as tropas de ocupação japonesas foram obrigadas a render-se, em Taiwan, aos americanos. Estes entregaram o governo de Taiwan ao Kuo Min Tang. Na guerra civil entre os exércitos do partido comunista e nacionalistas de Chian Cai Tchek as tropas derrotadas deste último refugiaram-se em Taiwan, sendo transportadas em navios de guerra americanos.
Chian Cai Tchek foi um general que, inicialmente, se aliou aos comunistas soviéticos. Esteve próximo do nascente Partido Comunista Chinês mas, passado algum tempo, tomou a chefia duma facção nacionalista, que se confrontou de modo sangrento com os comunistas. Esta guerra civil decorreu em simultâneo com a invasão japonesa. A luta contra o invasor motivou algumas tréguas entre os exércitos chineses inimigos, mas não houve realmente uma frente duradoira contra o invasor.
Os comunistas chineses acusam as forças nacionalistas de fazerem o jogo do invasor, ao não tomarem a ofensiva quando tinham oportunidade de o fazer, etc. É difícil avaliar os papéis de uns e de outros na terrível situação de guerra civil e no meio de uma invasão estrangeira.
O certo é que comunistas e nacionalistas foram jogetes das superpotências vencedoras da 2ª Guerra Mundial, os soviéticos e os americanos. Durante muitos anos, a China Popular não foi reconhecida oficialmente pelo «Ocidente», havendo uma delegação da «República da China» (de Taiwan) nas Nações Unidas. Apesar disso, os ocidentais faziam comércio com a China comunista (através de Macau e de Hong Kong).
Quando Nixon e Kissinger fizeram a grande viragem, que permitiu que o governo da China Popular fosse reconhecido como o legítimo para toda a China e se abriam as portas da ONU, muitas instituições multilaterais receberam representantes oficiais da China Popular e os diplomatas de Taiwan perderam o estatuto de representantes da China, em virtude dos acordos Sino-Americanos e de tudo o que se seguiu.
Hoje em dia, a polémica é alimentada pelos americanos, ao darem o dito por não dito (em relação à promessa de não expansão da OTAN para Leste, também faltaram aos compromissos):
- Segundo os acordos de 1971, há só uma China; essa entidade é representada pelo governo de Pequim. Oficialmente, continua a ser esta a posição dos EUA e da imensa maioria dos países representados na ONU, salvo uns poucos, que ainda mantêm relações diplomáticas com Taiwan.
Em Taiwan, existe um governo de um partido diferente daquele que tem governado nos decénios passados. Este partido, o DPP, diz oficialmente perseguir o objetivo da independência de Taiwan. Ora, este partido tem uma maioria estreita nas eleições e conta com forte oposição do Kuo Min Tang (o partido fundado por Chian Cai Tchek), que não aceita a política separatista.
A economia da ilha está fortemente interconectada com a China continental. As matérias-primas, em particular alimentares, são importadas em grande parte do continente. As indústrias de microinformática e semicondutores, como a empresa TSMC, têm como principal destino de exportação a China Popular. Há grandes investimentos de capitais de Taiwan, na China continental. Para muitos milhares de pessoas e para a economia de Taiwan, um corte de laços comerciais com a China continental seria uma catástrofe.
A ambição americana é acirrar as inimizades, provocar o governo de Pequim a intensificar medidas que possam ser vistas como «estrangulamento» da ilha, para criar condições dum conflito aceso, em que eles (EUA) iriam socorrer o governo taiwanês, «ameaçado pelos totalitários». Até agora, esta manobra não tem surtido efeito, quer pela sabedoria e experiência acumulada de chineses, de ambos os lados do Estreito de Taiwan, quer porque as simulações do Pentágono têm mostrado que, numa confrontação militar, os EUA, inevitalvemente, iriam perder.