Baden Powell de Aquino, conhecido por Baden Powell, foi um dos maiores guitarristas do Brasil. Ele explorou as possibilidades do instrumento até aos mais extremos limites, tangendo o seu instrumento de forma original, única, incorporando na sua técnica o virtuosismo clássico, as harmonias populares e o swing.
A sua colaboração com o poeta Vinícius de Moraes foi extraordinariamente fecunda, tendo dado origem -em 1966 - ao álbum «Afro-sambas».
Deixou-nos uma série de álbuns de guitarra a solo, com elevado número de composições de sua autoria.
«Saudades de Márcia», composição de 1972, é uma das melhores obras de Baden Powell: O desenho melódico descendente, o acompanhamento em acordes decompostos, a intervenção da voz, tudo isso se conjuga para criar uma atmosfera de saudade.
Sem dúvida, é uma das obras-primas que nos deixou o compositor e intérprete brasileiro, falecido no ano de 2000:
Mas tem que sofrer Mas tem que chorar Mas tem que querer Pra poder amar
Ah, mundo enganador Ah, não quer mais dizer amor Ah, não existe coisa mais triste que ter paz E se arrepender, e se conformar E se proteger de um amor a mais
O tempo de amor É tempo de dor O tempo de paz Não faz nem desfaz
Ah, que não seja meu
O mundo onde o amor morreu
Vinícius, o poeta do tropicalismo, da miscigenação, da fusão entre culturas europeia, africana e índia. O Brasil de hoje nasceu dessas três fontes principais. A poesia de Vinícius e as composições de Baden Powell, Toquinho e de muitos outros, estão impregnadas de toda a paixão que um coração lusitano, transposto para os trópicos, poderá exprimir.
É portanto muito natural que Vinícius seja celebrado aqui também, no extremo ocidental da Europa, como um grande poeta, como aquele que exprimiu os sentimentos de muita juventude através de frases lindas, simples e profundas, como só ele conseguia inventar. Mas, ainda por cima, a música intrínseca dos seus poemas é potenciada pela intervenção de músicos, compositores e interpretes, da maior qualidade (a lista seria demasiado longa, peço às pessoas interessadas para consultar a bibliografia e discografia relevantes).
Alguns apontamentos de poesia e música de Vinícius, que tenho recolhido aqui, neste blog:
Tomara eu viver dentro da música dos discos do Vinícius, com balanço tropical e só poesia. Não custa muito; basta ouvir com atenção e fechar os olhos… imaginando estar a presenciar esses momentos mágicos, tal como eles ocorreram, tal como ficaram registados.
Mas, para além desse sonho, posso também escrever inspirado por um poema do Vinícius, ou entoar uma destas melodias. Gosto do passado, desse passado, que me pertence um pouco, também, pois cresci ao som de toda essa profusão de sons e de palavras, que assimilei, mais como se bebe uma «morte lenta», ou uma «caipirinha», do que com o cérebro racional, analítico.
Do «Canto de Ossanha», até ao «Samba em Prelúdio» e mais, muito mais… Posso mergulhar no passado feliz... tão feliz, que nem sabia que o era. E, o que resta, é um bem precioso. Persiste como eco, como registo, como reverberação.
É o melhor que tenho para combater o tédio, a depressão, o cansaço e a estupidez; tudo o que demasiadas vezes me enche os neurónios, quando olho a mediocridade das figuras narcísicas, que julgam ser «artistas», mas falta-lhes o essencial: Musicalidade.
O pior é que têm quem lhes compre os discos, vá aos recitais, etc., pelo que se constata que não existe «progresso» na arte dos sons, pelo menos nalgumas épocas, existe involução.
A música popular vai de par com a época em que é produzida. Se a época transporta muita esperança, vontade de emancipação, criatividade e rebeldia, como nos anos sessenta, a marca fica gravada nas músicas, em especial na dita popular.
Eu não gosto de falar em música popular ou erudita, porque a música é una. Uma composição pode ser de boa qualidade e simples, ao mesmo tempo: Neste caso, é quase certo que irá ser retomada por vários artistas-intérpretes. Vai inseminar várias gerações, que se inspiram nessa composição, recriando-a até que se torne «um clássico».
Parece-me que a poesia de Vinícius de Moraes e a música de João Gilberto, Tom Jobim, Toquinho, Baden Powell, se fundem de modo tão harmonioso, que são como uma só. Impossível de dissociar!
Esta forma de arte é tão brasileira. Mas, também fez parte do «substrato comum» da minha geração, nos anos 60 e 70, em Portugal.
A minha geração apropriou-se desta música fantástica, foi o «prato de resistência» nas atuações de cantores, em palcos, estúdios, bares e botequins... e nas festas entre amigos!
«O samba, que coisa mais rica»! E assim, temos uma nova semana. Para nos alegrar, trouxe a música excelente do Brasil, com inspiração popular e erudita, fundidas na síntese originalíssima de Vinícius de Moraes. O poeta «branco mais negro do Brasil», como ele assim se designava.
Ele teve muitos músicos e interpretes talentosos a trabalhar com ele. Fizeram sobressair a música interna dos seus poemas, ficando para a posteridade como obras-primas do reportório da Música Popular Brasileira. Baden Powell foi um deles; um dos grandes compositores da música brasileira a ter intensa colaboração com Vinícius.
A MÚSICA ESTÁ NAS NOSSAS VEIAS AFRO-BRASIL-PORTUGAL
O primeiro encontro entre o poeta e diplomata Vinicius de Moraes e o jovem - e já afamado - compositor Antonio Carlos Jobim aconteceu em um bar no ventre do Rio de Janeiro, em 1956. Desta parceria nasceram belas composições que se tornaram conhecidas em todo o mundo, tais como "Felicidade", "Garota de Ipanema", "Chega de Saudade", entre tantas outras.
Gravado em 18 de Outubro de 1978, este DVD é um registo inédito e único da apresentação destes dois "monstros sagrados" da música brasileira nos estúdios da RTSI Televisione Svizzera.
Além do próprio Jobim ao piano e de Toquinho no violão, os músicos Azeitona (baixo), Mutinho (bateria), Roberto Sion (flauta e sax) e Georgiana de Moraes (percussão) mostram ao mundo toda a elegância e a beleza da música brasileira.
O show -- que tem participação especial de Toquinho e Miúcha -- reúne grandes sucessos da dupla Vinicius & Jobim, além de parcerias destes com outros autores, entre eles Chico Buarque e Caetano Veloso. No repertório, canções como "Tarde em Itapuã", "Desafinado", "Wave", "Águas de Março", "Samba do Avião", "O Que Será" e muito mais.
Um DVD antológico. Para ver, ouvir e se emocionar! 0:20 Samba de Orly2:50 Tributo a Caymmi7:37 Tarde em Itapoã12:03 Desafinado15:35 Wave17:55 Samba de uma Nota Só20:40 Águas de Março24:35 Samba do Avião27:04 O que Será (À Flor da Pele) (Chico Buarque)30:07 Samba para Vinicius31:46 Vai Levando35:15 A Felicidade37:17 Água de Beber40:52 Garota de Ipanema / Sei Lá48:30 Berimbau / Canto de Ossanha
A aparente espontaneidade da letra, evolui rapidamente para um registo onírico e utópico, muito ao jeito de toda a geração de sessenta, a geração do amor e da revolução.
Mas a beleza lírica do comentário da flauta envolve a melodia simples numa aura de encantamento.
Para mim, isto é musica clássica / popular brasileira.
O lirismo e a energia interior da voz de Clara Nunes, são o modo adequado, e o bom gosto, de cantar este trecho. A alma não se diz, nem se escreve; emana como uma melodia, como uma voz quente e vibrante de quem sente o que está cantando.
Saíu há 50 anos! Mas está fresquinho! Toda a obra-prima é intemporal. Ela mexe connosco, independentemente da geração a que pertencemos. Vinícius de Moraes, Baden Powell e Companhia! Saravah!