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quarta-feira, 11 de outubro de 2017

UM PROJECTO FALIDO NUNCA EVITARÁ SER ARRASTADO PELAS FORÇAS CENTRÍFUGAS

Porque motivo o que se tem passado na Catalunha diz respeito à cidadania europeia no seu todo e não apenas à península Ibérica?

Temos de olhar para o quadro geral: 

1- o fiasco do projecto europeu, protagonizado pela coligação entre centristas neoliberais de esquerda (os social-democratas e socialistas) e de direita (os democratas cristãos e centristas). 
A imposição do tratado de Lisboa, após a derrota por referendo da constituição europeia, significou que o quadro institucional neste continente ficou basicamente congelado, tanto em relação a mudanças sociais, como mudanças de fronteiras. Mas este congelamento é absurdo e irrisório, porque a sociedade e as forças que a impulsionam nunca param, transformam-se sempre, numa ou noutra direcção.

2- o contexto em que surge a constituição espanhola, é o de uma negociação de cúpulas, para viabilizar a «transição»: nesta mudança de regime político, apoiada pelo grande capital espanhol e multinacional, monitorizada pelas instâncias internacionais, sobretudo a NATO (dominada pelos EUA e pelos atlantistas), todos fizeram as suas jogadas para terem um naco de poder. Foi um compromisso entre os dissidentes de última hora do franquismo e as correntes reformistas e neoliberais (inclusive PCE, PSOE...)

3- a existência de uma forte consciência da especificidade cultural própria, uma assinalável diferença na composição político-ideológica e a noção de ser contribuinte líquido crónico duma entidade estatal (o estado espanhol) que largamente desprezou (e despreza ainda, pelos vistos) o sentir e os direitos do povo.

O projecto europeu, tal como foi formulado e mantido, não faz sentido nenhum hoje. Esta contradição e aberração salta aos olhos, quando vemos o comportamento da eurocracia perante a situação criada na Catalunha.

Esta questão, embora estritamente respeite ao povo catalão e afecte os restantes povos ibéricos, não deixa de ter um papel mais geral como factor na desagregação do consentimento tácito dos governados nas «democracias» contemporâneas: as pessoas aceitam e fingem que «acreditam» no sistema, em tempos normais. Mas, quando as coisas atingem um grau intolerável de arbítrio e humilhação, dá-se um sobressalto e um repúdio da eurocracia e dos seus representantes partidários locais. 

O que está a acontecer hoje naquela parte da península hispânica, pode acontecer amanhã noutra qualquer. 
Mas, o mesmo cenário pode ocorrer em muitas outras zonas e Estados do espaço UE. 
 Todos os Estados de grande dimensão (e quase todos os de média ) possuem um certo grau de heterogeneidade étnica e linguística, o que faz com que muitas destas regiões se sintam colonizadas pelas capitais dos respectivos estados e pelos grupos que monopolizam o poder dentro destes. 

                     europe-distinct-separatist-movements




quarta-feira, 30 de agosto de 2017

DA ESCRAVATURA MODERNA

A ESCRAVATURA COMO MODO DE PRODUÇÃO

O sistema económico esclavagista vigorou na antiguidade, sendo substituído a pouco e pouco pelo feudalismo. Porém, algo da sociedade esclavagista permaneceu e teve um renovo, na sequência da expansão ultramarina de potências como a Espanha e Portugal, no século XV e XVI, às quais se juntaram a França, a Inglaterra, a Holanda, nos séculos seguintes. A utilização em massa do trabalho escravo apenas ficou confinada a algumas sociedades pós-coloniais, como os EUA onde, no Sul, uma mão de obra escrava se ocupava das penosas tarefas de uma agricultura orientada para a exportação de algodão e outras produções tropicais. Porém, no decurso do século XIX os interesses económicos do capitalismo industrial, expressos na ideologia liberal, forçaram a uma abolição da escravatura, na maior parte dos países. Portugal foi um dos primeiros a fazê-lo.



A ESCRAVATURA DA DÍVIDA

A forma moderna de escravatura chama-se dívida.
Ela não foi inventada nos tempos modernos, pois já existia na antiguidade; era frequente em sociedades arcaicas, alguém se entregar como escravo para saldar dívidas acumuladas, por forma a preservar a propriedade e, portanto, a subsistência da família, num tempo em que a agricultura era o modo de vida de quase toda a população. Porém, nos tempos de hoje ela tornou-se muito mais refinada e perversa. Vejamos como:
Os bancos centrais emitem papel-moeda, aliás sob forma eletrónica em grande parte, nos dias de hoje. Esse «papel» não tem contrapartida nenhuma, não tem a sustentá-lo nenhuma quantidade de metal precioso (ouro ou prata), o qual era diretamente usado como dinheiro durante mais de cinco mil anos, sendo depois armazenado nos bancos centrais e sendo possível obter o equivalente em ouro ou prata em troca de uma determinada soma em papel-moeda.  Este sistema funcionou nomeadamente, durante o século XIX e a primeira metade do século XX. Os grandes sobressaltos, como as guerras (guerra de secessão dos EUA, primeira guerra mundial e segunda guerra mundial) foram ocasião para os governos desvalorizarem forçadamente o dinheiro, por forma a obterem os abastecimentos em matérias primas, armas, víveres para continuarem a guerra. Fora desses períodos conturbados verifica-se uma estabilidade monetária (ausência de inflação) e uma expansão do comércio e indústria. O «padrão ouro» ou «padrão bimetálico» funcionou razoavelmente bem no período que vai do fim das guerras napoleónicas até ao início da 1ª Guerra Mundial.
Porém, o abandono progressivo da convertibilidade das moedas em ouro foi levado a cabo pelos governos no século XX, até à suspensão de Bretton Woods, por Nixon em 1971, que fechou a janela de convertibilidade do dólar em ouro (a 35 dólares a onça de ouro). Desde então, os bancos centrais e os bancos comerciais são as únicas entidades emissoras de «dinheiro-papel». Estas entidades criam dinheiro a partir de nada. São elas que detêm o verdadeiro poder. As pessoas têm de obter dinheiro a troco de trabalho ou de venda de bens, os quais são ao fim e ao cabo resultantes de trabalho, mesmo que seja por antepassados. Os banqueiros apenas têm de digitar uns números.
No caso dos banqueiros centrais, eles decidem, por exemplo, comprar títulos detidos pela banca comercial. Estes títulos são adquiridos ao valor nominal, mas isso não corresponde ao valor real. Assim, os bancos centrais ficam com uma carteira de ativos monstruosa, mas que será muito difícil, senão impossível, de reduzir. Por outro lado, os bancos comerciais recebem do banco central dinheiro «fresco» que pode servir assim para reequilibrar as suas contas.   
Quanto aos da banca comercial, quando eles estabelecem um empréstimo a um cliente, estão a criar dinheiro a partir de nada, ao digitarem uma soma na conta desse cliente. Através do sistema de reserva fraccionária, é legal os bancos emprestarem (segundo os casos) entre 10 a 30 vezes mais dinheiro que aquele que detêm em ativos. O que os bancos fazem legalmente é emprestarem aquilo que não possuem: esse ato é considerado crime se efetuado por uma pessoa «vulgar», dá direito a prisão…


HIPOTECA = PACTO DE MORTE

A palavra «mortgage» (hipoteca em Inglês) provém do francês arcaico e significa pacto (gage) de morte. Assim, uma pessoa compromete-se a restituir o que pede emprestado, nas condições do empréstimo, sob pena ficar devedora até à morte, ou seja, será condenada à escravidão, caso não cumpra o referido contrato.
Durante os últimos decénios, passou-se de uma economia de produção, no Ocidente, a uma economia da dívida: as pessoas ficaram dependentes do sistema bancário para tudo. O seu nível de vida foi melhorado durante a primeira parte do período (até aos anos oitenta do século XX) mas começou a estagnar e mesmo regredir a partir de então, para o conjunto dos países ditos «Ocidentais». Os salários estagnaram devido a uma contraofensiva do capital, nos anos Thatcher-Reagan, que se traduziu por uma «liberalização» /desregulamentação das relações laborais. As famílias da classe trabalhadora que tinham atingido um certo conforto material, tiveram de recorrer mais e mais ao crédito, a empréstimos, a hipotecas, para obterem bens duráveis e perecíveis que, entretanto, se habituaram a possuir. Por exemplo, o número de salários que um trabalhador necessitava para comprar a sua habitação nos anos cinquenta do século XX, era muito inferior aos que necessitaria hoje em dia, em média.  Mas esse sistema da dívida atingiu hoje em dia o paroxismo de muitas pessoas estarem sobre endividadas, com hipotecas para a casa, para o automóvel, para os estudos, para o consumo (cartões de crédito).

A EXPANSÃO DA DÍVIDA

Desde o abandono do sistema de Bretton Woods em 1971, a escravatura da dívida cresceu a um ritmo exponencial. Nos EUA, a dívida total em 1971 somava 1 700 milhares de milhões de dólares. Hoje, atinge mais de 67 000 milhares de milhões de dólares. No início do século XXI, era de 30 000 milhares de milhões de dólares, mais do que duplicou, nos 16 anos subsequentes. Se compararmos o crescimento da dívida com o do PIB, vemos que nos EUA, desde 1971, a dívida total foi multiplicada por 39 enquanto o PIB apenas foi multiplicado por 16. Isto prova que o aumento do nível de vida se fez à custa de uma falsa riqueza, uma riqueza que foi obtida por impressão monetária. Mas será isso um problema? Sim, é um problema pois essa dívida nunca desaparece, simplesmente ela é atirada para o dorso das futuras gerações. Os cálculos que se façam para os Estados Unidos, aplicam-se, e com resultados muito semelhantes, a outros países e para a economia mundial. Veja-se o quadro abaixo para ilustrar o fenómeno:



Dívida mundial: 2 quadriliões de dólares

A impressão maciça de papel-moeda criou esta dívida monstra. O aumento da «liquidez» (ou seja, impressão monetária) para resolver o problema, apenas vai manter e agudizar o mesmo. O efeito devastador desta destruição do valor da moeda vai repercutir-se, cada vez mais, nos anos seguintes: como a impressão monetária é o único instrumento de que os bancos centrais dispõem, vão continuar a fazê-lo, tanto mais que os governos ficam gratos de uma diluição do valor das moedas; com efeito, isso corresponde a uma diminuição do valor relativo das dívidas. Os Estados têm dívidas diversas, obrigações diversas, que se exprimem em unidades de moeda que têm de pagar, no futuro. Se essas unidades estão desvalorizadas e o Estado paga a soma em dívida, a dívida ficou saldada… em termos contabilísticos, mas não em termos reais. Suponhamos uma pessoa, que tem descontado ao longo da sua vida profissional determinadas somas para o fundo de pensões (seja o fundo do Estado ou privado, o problema mantém-se). A partir do momento da reforma, começa a auferir uma soma fixa, mas essa soma corresponde à restituição de somas investidas ao longo de decénios. No entanto, se fosse calculado o juro médio correspondente a essas somas em todos os anos descontados, essa pessoa teria agora uma pequena fortuna, muito mais do que aquilo que irá receber nos anos que lhe restam de vida. É assim – de forma fraudulenta – que o Estado se descarta das suas obrigações. Um dólar actual, relativamente a um dólar dos anos 70 do Século XX, vale um sexto ou menos… As outras divisas mundiais têm uma perda de valor ainda mais acentuada.

UMA SOCIEDADE SEM DINHEIRO-PAPEL

Os banqueiros e governos sabem que dependem da escravatura da dívida para se manterem. Mas, para isso ser possível, têm de obrigar as pessoas a manter o seu dinheiro dentro das instituições de crédito. A ofensiva contra o dinheiro líquido (=em papel) toma amplidão a partir do momento em que os Estados e Bancos Centrais enveredaram por uma aventurosa e criminosa experiência de multiplicação desenfreada do dinheiro em circulação. A isso se resumem os «Quantitative Easing» e outras medidas, cujo o objetivo é «gerir» o ingerível, ou seja, dar a ilusão de solvabilidade, de não haver bancarrota, quando na verdade, se se olhar através de um prisma realista, todo o sistema está falido.
Inventaram então a repressão financeira, ou seja, uma taxa de juro forçada, demasiado baixa, que não corresponde aquilo que existiria resultando da oferta e procura de capitais, ou seja pelo funcionamento capitalista clássico.  Assim, os juros de depósitos a prazo, sendo menores do que a inflação, as pessoas serão empurradas para arriscar o seu dinheiro no casino da bolsa… o que explica, em grande parte, o crescimento contínuo das mesmas, sem que haja real aumento do valor das empresas cotadas.
Mas para «honrar» os compromissos e dívidas da banca, era necessário que as pessoas não pudessem subtrair o seu dinheiro, não o pudessem levantar sob forma de papel, tivessem de obrigatoriamente usar meios eletrónicos para os pagamentos. A consequência é que num contexto de ausência de dinheiro papel, as pessoas não poderão fazer nada senão recorrendo a cartões de crédito e outros meios de pagamento, inteiramente controlados pelo sistema bancário. Para além da total perda de privacidade e confidencialidade, os bancos e os Estados procuram obter um controlo total, para taxarem a seu bel prazer os escravos. Os bancos poderão retirar – legalmente- somas (o juro negativo) tão grandes quanto seja preciso para sua manutenção… Os Estados poderão fazer um controlo total e «imposição dos impostos» que entenderem, sem qualquer possibilidade de fuga. As pessoas, muitas vezes pensam que os que fogem aos impostos são vilões e que o Estado é uma entidade virtuosa que zela por nosso bem. A verdade é que o Estado é um monstro frio e impessoal, que quer sempre devorar mais capital, ao fim e ao cabo, o produto do trabalho, do engenho, do esforço e da criatividade humanas.
A Suécia já está praticamente no estádio da sociedade sem «cash». A coroa sueca, como outras divisas, perdeu 99% do seu valor. Ninguém pode viver na Suécia sem fazer as suas despesas no quotidiano por meios eletrónicos.


Isto está em vias de acontecer com as outras divisas. 

CONFISCAÇÃO DOS RENDIMENTOS POR VIA FISCAL


No reino do Big Brother é muito conveniente o aumento insensível do nível de imposto, sem que as ovelhas, incautas, se apercebam: assim, há um século o imposto designado por IRS já existia, mas quase ninguém o tinha de pagar. Era apenas pago pelo 1% com maiores rendimentos. Os escalões foram-se mantendo, apesar da inflação, pelo que hoje em dia, quase ninguém deixa de pagar o IRS, por mais modesto que seja o seu rendimento real. Assim, em IRS (que atinge valores da ordem de 20% de rendimentos médios, mesmo depois de descontos diversos), IVA (com muitos bens comuns a 23% e apenas uma minoria com imposto reduzido), imposto sobre combustíveis (cerca de 80% do preço da gasolina é para impostos), IMI (valores de imposto para as famílias, os grandes detentores de imobiliário, desde as empresas de imobiliário, igrejas, partidos, etc. estão isentas), em impostos diversos… uma família média em termos de rendimentos e de despesa, paga aproximadamente 50% ou mais de impostos ao Estado, sobre o seu rendimento nominal. Se compararmos o mesmo índice há 50 ou 100 anos atrás, veremos que o crescimento da fatia de rendimento que é capturada pelos impostos aumentou muito mais do que o próprio aumento do rendimento disponível. Pode-se dizer, sem receio de errar, que os impostos excessivos são um meio de extorsão, porque a contrapartida em serviços públicos é cada vez pior, a qualidade está ausente, a sua universalidade deixa muito a desejar e verifica-se que o desmantelamento do «Estado social» atinge já um grau muito avançado, com entrega à gula privada de sectores inteiros (saúde, educação, transportes, estradas, etc…). É a escravatura da sociedade no seu conjunto, para benefício de uma pequena minoria de financeiros, com os acólitos que controlam o aparelho do Estado: estamos perante um novo feudalismo.

TODA A EXPANSÃO DE CRÉDITO TEM UM FIM

O aumento dos empréstimos dos Estados, principalmente nos países da OCDE («Ocidente») não poderá continuar indefinidamente. Chega um ponto em que a carga de juros aumenta para além da capacidade de pagamento dos Estados, caso esses juros sejam fixos. Caso sejam variáveis, os juros são artificialmente suprimidos por compra dos títulos de dívida pelo BCE (Banco Central Europeu) o que origina uma distorção enorme do mercado. Num sistema capitalista, o preço do dinheiro é um parâmetro fundamental. Se o dinheiro é demasiado barato, ou seja, se os juros para obter empréstimos são demasiado baixos, vai ocorrer uma má atribuição de capital pelos diversos agentes económicos: muitas vezes essa atribuição não será prudente, não será produtiva no médio-longo prazo… Em suma, haverá necessariamente uma má aplicação generalizada de capital. Que outra coisa se vê, senão isso? Veja-se os empréstimos das empresas cotadas em bolsa e que servem para compra das suas próprias ações em vez de servirem para expansão do seu negócio, para aumentar a sua capacidade produtiva. Veja-se o aumento especulativo absurdo do imobiliário em tantas cidades pelo mundo fora (São Francisco, Toronto, Nova Iorque, Londres, Berlim, Lisboa…etc.). Veja-se o afundamento da economia produtiva verdadeira, da que produz bens e serviços reais, enquanto surge uma economia totalmente fictícia, tanto em termos de valor acrescentado, como em termos de serviço real à comunidade; mas é esta pseudo-economia que é louvada, acarinhada e incentivada na média quotidianamente…
              
          

O Quadro acima reflecte o Mercado global de obrigações, emitidas pelos Estados, seja em dólares (note-se que vários países emitem dívida em dólares e não apenas os EUA) seja noutras divisas, seja o mercado de obrigações de Economias Emergentes (E.M.). Penso que este quadro resume a total desregulação dos sistemas económicos mundiais. Pensemos no que acontece com essas somas absurdas de dinheiro. Os Estados não as aplicam produtivamente. Mais dólares disponíveis significa maior despesa em armamentos, em actividades improdutivas, em desperdício e enriquecimento da cleptocracia que nos (des)governa.

 Quando rebentar a crise, os países vão impor controlo de divisas. Vão fechar todas as portas e janelas para impedirem os cidadãos de tomar medidas para preservar o seu dinheiro. Já têm o plano bastante avançado. O famoso «reset» de que tanto se fala, será provavelmente uma ocasião dos muito ricos e poderosos ganharem ainda maior controlo sobre as riquezas materiais.
Como dizia um dos primeiros banqueiros Rothchild: «Dêem-me o controlo da emissão de moeda e pouco me importa quem estará aos comandos do Estado»
Para não se ser esmagado por uma crise anunciada, a qual implicará num momento ou noutro, uma hiperinflação, a única salvaguarda é fugir de bens financeiros, investindo em bens reais: fazer um estoque de bens alimentares (conservas, cereais, massas alimentares, água), de medicamentos (quer usados cronicamente, quer esporadicamente). Investir em sistemas de purificação da água, geradores de eletricidade, combustíveis…Dispor de moedas em ouro e prata; dispor de uma soma em dinheiro-papel, para o caso de uma interrupção prolongada (ou um racionamento) do fornecimento do dinheiro nas máquinas multibanco (ATM).
Não servirá de nada tomar estas medidas em cima do acontecimento: os sistemas financeiros (incluindo as máquinas ATM) entrarão em colapso; as redes de distribuição de bens alimentares irão parar, num espaço de uma semana, se a crise atingir uma gravidade maior, etc. 
Portanto, as medidas apontadas só serão eficazes se tomadas antes desta crise vindoura estourar. Depois será demasiado tarde.

Não se deve ter a ilusão de que os que estão ao comando do sistema vão trabalhar para salvá-lo e nos salvarem também. Eles vão apenas garantir que a transição - inevitável, por tudo o que ficou acima exposto – seja feita em seu proveito próprio. O mínimo que podemos fazer é informar-nos, informar os outros de forma não alarmista, mas consistente, na esperança de que um número significativo de pessoas, tendo conhecimento, saber, sobre o que está sendo planeado, melhor se defenderão. Serão essas pessoas que estarão em condições de subsistir e construir uma nova economia, um novo mundo.




segunda-feira, 10 de julho de 2017

TUDO A POSTOS PARA UM COLAPSO DA ECONOMIA MUNDIAL

Como tenho apontado repetidas vezes (ver aqui, aqui e aqui), aquilo que nos é vendido pela media corporativa, reproduzindo acriticamente o discurso dos governos e bancos centrais e os factos da economia real, que é ressentida pelas famílias e pelas empresas, estão em total dissociação.

Porém, não se pode atribuir facilmente o ponto de início para a presente crise, pois – se examinarmos com atenção os dados – vemos que não houve verdadeira recuperação da crise de 2008. Diria que se trata do prolongamento de uma doença terminal, passando de uma situação aguda, para uma situação crónica.

Os empregos não retomaram os níveis de 2007, os salários médios são muito mais baixos: há uma descida em termos absolutos devido a muitas pessoas serem empregadas em trabalhos temporários, sazonais ou a tempo parcial. 

Os volumes de endividamento das famílias não diminuíram e portanto estas ficam mais expostas - que em 2008 - a serem atiradas para a pobreza.

Quanto aos Estados, eles têm vindo a endividar-se cada vez mais, o que só tem sido possível apenas pela conjuntura de juros excepcionalmente baixos (artificialmente criada pelos bancos centrais), mas isto poderá mudar bruscamente. Eles não conseguirão obter empréstimos, senão a um juro bem maior.

Os valores das cotações bolsistas são – em si mesmo – uma «aldeia Potemkin» visto que a bolha é nutrida pela auto compra de acções das empresas, pela compra discreta de biliões por parte dos bancos centrais de vários países ocidentais e pela repressão sobre os juros dos depósitos bancários, forçando a investir nos mercados com maior risco…

Muitas empresas, sobretudo as que dependem da capacidade do público em gastar dinheiro, como o comércio de retalho, estão a sofrer dificuldades. Muitos centros comerciais estão com um número elevado de lojas vazias, mesmo centros comerciais situados nos bairros «chiques», para não falar dos que estão nas periferias urbanas (nas cidades dormitório das classes laboriosas), que apresentam um aspecto confrangedor.

Aquilo que não nos dizem os governantes e os media é que os «instrumentos» utilizados para supostamente monitorizar e  «regular» a economia, não são senão pseudo instrumentos, como é o caso do PIB, o qual serve sobretudo para fazerem política (pró ou anti-  governo) dando um ar de «cientificidade».

 O PIB é um mau instrumento e -sobretudo - não é compreendido como aquilo que ele é: mede as transacções que se efectuaram dentro de um mercado nacional, num ano. Não diz nada sobre a qualidade das mesmas, além de que vai reflectir mecanicamente o aspecto demográfico: 
- num país em rápido crescimento demográfico, o PIB pode dar a ilusão de uma economia «a crescer»; 
- num país cuja população está em declínio demográfico, a contracção do PIB não significa necessariamente que a economia individual das pessoas tenha piorado.

Muito importante, mas raramente tratado pelos que se arvoram em «comentadores económicos» (compreende-se porquê…), é o afastamento entre as camadas mais pobres e mais ricas da população, no que toca à distribuição de riqueza. Os estudos que se têm debruçado sobre este afastamento são unânimes em considerar que, nestas últimas décadas, o fosso entre muito ricos e pobres vai alargando, na generalidade do «Ocidente». Pelo contrário, a quantidade de pessoas da classe média que passam para a classe pobre tem vindo a aumentar.

Como este sistema não é sustentável, provoca cada vez mais contradições internas e estas tornam-se cada vez mais agudas. Com efeito, a resposta inflacionária voluntarista de criar triliões a partir de nada, supostamente para criar um efeito de «miragem de crescimento» falhou redondamente, maciçamente em todos os recantos onde foi ensaiada, nos EUA, na Europa, no Japão. 
No entanto, os Bancos Centrais dessas regiões apenas se preparam para fazer mais do mesmo, aquando de um súbito agravamento da presente crise. 
Estamos certamente mergulhados numa crise mundial de depressão, em que os índices do PIB não precisam de ser necessariamente negativos, mas que são demasiado fracos para reconstituir a capacidade produtiva passada, destruída pela grande crise de 2008. É exactamente aquilo que se está a verificar.

As pessoas bem informadas, «por dentro dos negócios», já começaram há algum tempo a resguardar-se, saindo discretamente das áreas de investimento onde têm crescido as bolhas especulativas. 
Vejam-se as vendas de acções em grande escala por «hedge funds» por exemplo, ou como os grandes fundos do imobiliário estão a vender parte do seu capital imobiliário às empresas de menor dimensão ou a particulares.

Tudo isto que escrevi acima é conhecido dos grandes bancos e grandes investidores, mas não é patente para o público em geral, mesmo o que acompanha a actualidade económica. 
O resultado é que os primeiros se têm estado a aproveitar das baixas cotações dos metais preciosos (ouro e prata) transitórias, que ocorrem. Salvaguardam agora os lucros realizados nos mercados mais especulativos e esperam obter mais lucros quando estes mercados descerem acentuadamente e os  pequenos investidores, em pânico, forem comprar ouro ou prata, por um preço muito mais elevado .

As pessoas menos atentas, ou que se deixam embalar pelas canções de sereia da media ao serviço do grande capital, verão as suas poupanças subitamente reduzidas a metade ou menos, além de que ficarão impossibilitadas de viver apenas do salário ou da pensão, porque - entretanto - a inflação disparou. 
Basta um instante para que se instale o caos, o pânico, na economia real a partir do colapso nos mercados!

Os bens mais expostos a desvalorização brusca são os financeiros... acções, obrigações, fundos, derivados, depósitos a prazo. 
Os bens que podem conservar ou aumentar o seu valor, no contexto de uma crise, são os bens físicos facilmente transaccionáveis (ouro e prata, antiguidades, ou objectos de colecção), ou património com valor seguro (o imobiliário, susceptível de ser alugado; terrenos agrícolas, a produzir ou com possibilidade de serem produtivos a curto prazo).

 A constatação do perigo iminente não resulta de quaisquer fantasias ideológicas, mas da observação fria dos factos da economia real, por um lado e, por outro, de ver o que os muito ricos têm feito nos últimos tempos.


quinta-feira, 6 de julho de 2017

O PROBLEMA COM AS ALDEIAS POTEMKIN


Potemkin era primeiro-ministro da Tsarina Catarina da Rússia, que reinou na segunda metade do século XVIII.
 As aldeias Potemkin eram estruturas de madeira, pintadas com cores vistosas, reproduzindo as fachadas de casas, ao longo das estradas que atravessavam aldeias, pelas quais a Tsarina e sua comitiva passavam, de coche ou de trenó. Eram apenas cenários postiços, não deixando ver a miséria das choupanas por detrás, escondendo a realidade da vida nos campos.
A partir desse momento, começou a utilizar-se a expressão «aldeia Potemkin» para designar, num sentido mais ou menos metafórico, quaisquer esquemas mediáticos que pintem de cores risonhas as realidades da sociedade e sobretudo da economia, num determinado país.
Isto vem a propósito da constante degradação em termos económicos reais da situação de vários países ditos do «Ocidente» (nos quais se inclui também o Japão) acompanhada de uma barragem de propaganda pelos diversos media convencionais, a propalar o mito de que existe um «crescimento» económico, de que há significativa diminuição do desemprego, tanto nos EUA como na Europa, que os problemas com a dívida, não são inultrapassáveis, etc. etc.

A realidade, porém, é outra:
- O «Quantitive Easing»(QE), ou seja, a impressão monetária, que os diversos bancos centrais do «campo ocidental» têm realizado, tem estado a distorcer toda a estrutura do crédito: os países mais endividados e com problemas económicos estruturais, graças à compra sistemática da sua dívida pelos bancos centrais (nomeadamente, os países do sul da Europa, cujas emissões de dívida são compradas em larga escala pelo ECB) beneficiam de um juro baixo, irrealmente baixo.
- Os países mais fortes emitem obrigações com taxa de juro NEGATIVAS (cerca de 30% DO MERCADO EUROPEU), coisa nunca vista: emprestar dinheiro e pagar à entidade devedora…e não ao contrário!
- A compra discreta de acções, é efectuada pelos bancos centrais (os maiores compradores são o Japão e a Suíça). Esta importante e constante compra pelos bancos centrais de acções, que antes apenas eram transaccionadas entre privados, mantém e aumenta a enorme bolha especulativa nas principais bolsas mundiais. O maior accionista da «Facebook» … é o Banco Nacional Suíço!
- As companhias de seguros, os fundos de pensões, os bancos, são - muito justamente -obrigados pelas legislações e por regras internas a possuírem uma dada percentagem dos seus activos em produtos financeiros com baixo risco. Sendo assim e dada a supressão quase total de rendimento nestes activos, têm de arriscar mais e mais nas bolsas e nos mercados de derivados, para manterem a sua rentabilidade global, o que aumenta exponencialmente o seu risco de falência. Ela já se perfila em vários fundos de pensões, do outro lado do Atlântico.
- Os países ocidentais acordaram em 2014, em Brisbane (Austrália), numa série de procedimentos prevendo a «resolução» de bancos endividados, em que as entidades públicas apenas em última instância têm de entrar com o dinheiro dos contribuintes, sendo estabelecido uma hierarquia de credores. Nesta, os depositantes ficam nos últimos lugares, pois são considerados «credores não garantidos». A existir uma crise, ela será mundial e sistémica, vários bancos entrarão em falência, em simultâneo. Os ditos fundos de «garantia» do Estado para nada servirão: não chegam a cobrir 5% do montante total de contas bancárias.
- As estatísticas estão falseadas, como se pode ver muito claramente no caso dos números do desemprego: se subtrair a população com emprego à população total em idade de trabalhar, dos respectivos países, verá que cerca de metade dessa população (50%!) não trabalha. Isto não se deve a uma opção deliberada destas pessoas, na sua imensa maioria: muitas são pessoas que foram despedidas do seu trabalho, não conseguem novo emprego e acabam por desistir de o procurar. O desemprego jovem atinge níveis de rotura social, pondo mesmo em causa a continuidade das gerações (os casais jovens, não tendo estabilidade financeira mínima, não querem ter filhos, o que é lógico).
- Vários índices que poderiam ser úteis para os atores económicos (caso do VIX) não dão o alerta como deveriam, pois há um excesso de confiança nos mercados, nas bolsas. Pelo contrário, as cotações do ouro e da prata, que são valores-refúgio tradicionais e cuja cotação aumenta quando a situação financeira é menos boa, são suprimidos por agentes dos bancos centrais através da venda em vazio (naked-short-selling) de contratos futuros (biliões de dólares de contratos vertidos instantaneamente, nas horas mortas dos mercados), anulando assim a sua potencialidade de «canário na mina» destes metais.



- O nível de endividamento dos Estados (ver quadro acima), das corporações e das famílias é absolutamente ingerível. A única maneira que banqueiros e governos têm de «resolver» esta situação – além de declarar falência, claro! – é atirar os problemas, que se vão avolumando, para as futuras gerações, ao mesmo tempo que vão desvalorizando a sua própria divisa, emitindo tanta quanto for necessário para fazer «rolar» a dívida, para pagar os juros, etc.  Julgam que, com o tempo, a desvaloziração da moeda reduz a quase nada o valor do capital em dívida… Têm conseguido manter a ilusão de normalidade, mas é impossível fazê-lo sempre pois os juros e o próprio capital em dívida se têm vindo a acumular; basta um «cisne negro» para deitar tudo a perder.
- Entretanto, os que vivem dum salário ou pensão de reforma (a imensa maioria) serão castigados pela inflação: salários e pensões têm (nominalmente) ficado constantes nas últimas duas décadas, no melhor dos casos; porém, a inflação verdadeira, não os valores fictícios dos governos, ronda os 10% nos EUA e na Europa.
- Os contrastes entre ricos e pobres não param de crescer, em especial nos países mais afluentes, o que prova a total falência do modelo económico e social do liberalismo, para o qual não haveria nenhuma alternativa (dizem) dum qualquer tipo de socialismo ou social-democracia.
- Mesmo as propostas menos arrojadas são imediatamente sabotadas, difamadas, o que torna ainda mais prováveis as insurrecções: os governos sabem-no bem, pois têm equipado as polícias de choque, como se se tratasse de verdadeiros exércitos e paulatinamente decretam legislação liberticida,  eliminando todas as garantias de defesa dos cidadãos contra o arbítrio do poder.  

- Tudo o que a casta política - ajudada pela media prostituta - tem feito perante o agravar da crise terminal do capitalismo é erguer novas «aldeias Potemkin» ou, nas já existentes, reforçar os cenários de tela e repintá-los com cores mais vistosas, para que a plebe não-consciente,  alienada e conformada…    permaneça na escravidão.


O problema com as «aldeias Potemkin» é que, ao menor choque, se abrem buracos nas telas de cartão prensado, deixando ver a paisagem verdadeira. 
Aliás, de pouco serve remendar tais buracos: uma rabanada de vento mais forte acaba sempre por derrubar o cenário todo!