[OBRAS DE MANUEL BANET] VERSOS LUNÁTICOS
Atiro invectivas à Lua, escravo da minha loucura
Seria mais fácil tornar-me Chopin, do que reviver
Os momentos felizes da ilusão passada.
Gostaria de sonhar para fora com palavras a borbotar
Nos lábios tremendo salmo sussurrado
Antes que a Morte diga: Vem a meus braços e fica tranquilo
«Fiz o que pude e não me arrependo; não quero pena ou compaixão.
Apenas vivi e sofri como os demais.
Uma mudança de estado, só isso. Sim, estou tranquilo perante ti.»
Assim lhe responderei
Só a Lua reflectirá no silêncio do lago o que agora estou murmurando.
Sem ela, não haveria música nas águas nem cantos nocturnos nos bosques.
Como, como saberia todas as coisas que me ensinou, o caminho dos sonhos?
Vieste, mais uma vez na límpida noite, gentil fantasma, melodia sem descanso.
Repousa no velho e cansado peito na lembrança das coisas terrestres.
Saberei guardar silêncio, fantasma também o sou, contigo me casei...
Agora que decidi tudo falar, que verdade tenho para dizer?
Como estátua pousada num ermo ou estrela distante...que importa?!
O som que escorre dos meus versos só ele conta; só o som, a música!
Perdi alegre o sentido do verso, que naquela melodia encontro
Mais verdade e puros sentidos. Mais real que o sonho não há;
E da realidade, apenas desejo a brisa acariciando os cabelos
Na Lua há sempre alguém ouvindo os loucos e eles nem precisam falar
- Basta-lhes mentalmente dedicar um verso.
Da Lua, alguém responde: Nem deusa, nem astronauta, mas a própria alma
Ondas sonoras concêntricas sobre o lago onde me afundo
A canção serena e silenciosa. Lua, secreta amante, responde
Assim poderei nascer de novo à tempestuosa paixão...
(Murtal, 12 de Agosto, 2018)
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