domingo, 25 de março de 2018

DO MOVIMENTO «#ME TOO» À RUSSO-FOBIA INSTITUCIONAL

Creio que ninguém que me conhece suspeita sequer que sinto a mínima simpatia por predadores sexuais. No entanto, a campanha que foi - há uns meses - erguida por feministas radicais do outro lado do Atlântico, a partir do desmascarar de Harvey Weinstein e outros empresários de Hollywood, transbordou muito rapidamente as marcas, tornando-se uma nova versão de «caça às bruxas/os». 
Porventura, muitas mulheres foram efectivamente vítimas de abusos sexuais diversos. Mas igualmente o arrastar na lama de muitos homens, sem outra evidência para serem considerados uns «predadores sexuais» que as alegações (verdadeiras ou falsas, mas não provadas) das supostas vítimas... fez muito mais mal, quer à justiça em geral, visto que muitos homens inocentes viram as suas vidas destroçadas, quer à causa do verdadeiro feminismo: portador dos valores da igualdade de direitos e de dignidade entre géneros, não dum histerismo em considerar a priori qualquer homem heterossexual como um potencial suspeito de crime hediondo!
A responsabilidade cabe também à  imprensa «tablóide» e a toda ela afinal, pois já não conseguimos distinguir qualquer ética e exigência de rigor nos títulos que tinham reputação de sérios. 
A média foi amplificando este movimento, seguindo o seu princípio de que «quanto mais escandaloso, melhor». Quanto aos acusados dos tais actos sexuais, por vezes de há vinte ou trinta anos, eles que «se defendam». 
O que significou que o chamado «ónus da prova» foi deslocado do acusador para o acusado. O acusado, ao ter de se defender de um alegado crime na praça pública, acaba por adensar as suspeitas em relação à sua inocência. Os que sofrem estas difamações são irreversivelmente destruídos, em termos de imagem pública, de relacionamento familiar, de carreira profissional. As acusadoras têm praticamente garantida a impunidade, não sendo possível, na prática, demonstrar que as suas acusações foram apenas uma perversa mentira, destinada a  atingir alguém que se odeia.
A inversão do dever de prova está agora perigosamente a ocorrer entre Estados, nomeadamente com o governo britânico a exigir à Rússia que esta faça «prova» de que nada tem a ver com uma tentativa de assassinato de dois cidadãos russos, em solo britânico, para logo decretar que o governo russo é culpado, agitando uma série de sanções, diplomáticas e económicas, exigindo que os aliados da Grã-Bretanha se guiem pela mesma bitola.
Aqui também, a ampliação mediática da histeria governamental tem um efeito de ampliação e reforço da convicção no público: para pessoas assustadas, desinformadas e sujeitas a propaganda, os russos são «evidentemente» os responsáveis, não havendo argumentação sensata e equilibrada, que queiram ouvir. 
O público, tal como no caso das denúncias contra alegados «predadores sexuais», aceita tudo como «verdade inquestionável», apenas por as autoridades governamentais afirmarem a sua «convicção» sem provas, seguida no imediato de sanções.

Tristemente, tenho de dar plena razão a Voltaire («difamem, difamem, ficará sempre qualquer coisa»),  mas não significa que esteja conformado com a ditadura de tipo orwelliano que se vem instalando nas chamadas «democracias ocidentais». 
Significa que tenho de assumir que muitas pessoas são tão manipuladas, alienadas, que já nem têm consciência disso. Não sou inteiramente pessimista, porque sei que existem pessoas que conservam o seu espírito crítico no meio destes ventos de histeria colectiva. 
Uma notícia, ao ser veiculada por algum órgão de comunicação ou opinião com o qual temos simpatia, não nos deve impedir de exigir que esse mesmo órgão seja rigoroso e dê provas do que afirma, mormente se são acusações graves, com consequências muito para além dos factos em si mesmo.

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