sexta-feira, 30 de setembro de 2016

DEBATE «25 ANOS DA QUEDA DA URSS» NA FÁBRICA DE ALTERNATIVAS

                  25 Anos da queda da URSS

Pelas 18:30 de Sábado, dia 1 de  Oubruro de 2016. 

Entrada livre. 

Haverá um jantar vegetariano a seguir [inscrição para o jantar até 30-09]

 email: fabrica.de.alternativas@gmail.com 


A Fábrica de Alternativas já é conhecida de muitos pela qualidade de seu trabalho em prol de uma cultura descomprometida com os poderes, feita em autogestão e cooperação entre todos os elementos da comunidade e aberta a todas as boas-vontades, independente - portanto-  de agendas partidárias e políticas. 

Penso que este conjunto de características permitirá um debate sereno e rico sobre assunto da mais vasta consequência na História contemporânea, com repercussões nas vidas de todos nós, até ao presente. 
Podemos debater sem preconceitos, nem desejos de afirmação dos egos, apenas com a vontade de partilhar e escutar. Assim também estaremos todos construindo uma cultura de diálogo e tolerância. Todas as opiniões são livres de se exprimir, desde que se exprimam dentro dos limites da cortesia e do civismo. 

quarta-feira, 28 de setembro de 2016

[Joan Baez] There But For Fortune + So We'll Go No More A-Roving



... E surgiu uma voz que iluminou os palcos, mas sobretudo os espaços livres, os espaços públicos.
Era uma voz aguda, cristalina, sem afetação, com a segurança e expressividade de alguém com perfeita formação vocal. 
Em 1964-65 era simplesmente outra coisa, não era folk, não era clássico, não era blues, nem pop. Era simplesmente Joan Baez. 

Surgiu, como por encanto, na minha vida, como na vida de muitos milhares de jovens dos anos sessenta. Sempre me acompanhou na minha vida, o disco agora reproduzido; pelo menos, na minha memória auditiva. 



[Fui buscar à Poetry Foundation a  balada de Lord Byron, parece-me que é uma versão ligeiramente diferente da cantada pela Joan Baez, mas gosto de ambas!]

So We'll Go No More a Roving

Related Poem Content Details

So, we'll go no more a roving 
   So late into the night, 
Though the heart be still as loving, 
   And the moon be still as bright. 

For the sword outwears its sheath, 
   And the soul wears out the breast, 
And the heart must pause to breathe, 
   And love itself have rest. 

Though the night was made for loving, 
   And the day returns too soon, 
Yet we'll go no more a roving 
   By the light of the moon.

terça-feira, 27 de setembro de 2016

CÂNTICO DO OUTONO

Tchaikovsky autumn song
                                     

Era uma vez no Outono e a erva estava húmida. 

Os pássaros cantavam, mas o canto já se fazia tímido, como que sabendo do invernal frio vindouro.

Quando despertei dentro da toca - enganado pelos odores do bosque - era outono e não primavera...

A luz tamisada pela folhagem oferecia-me poeira d'ouro manchado de ruivo 

E, nas manhãs, serenas e tristes, arrastavam-se nuvens pelo horizonte vermelho e chumbo.

segunda-feira, 26 de setembro de 2016

ECONOMIA LOUCA

«QUANTITATIVE EASING», «TAXAS DE JURO NEGATIVAS» E «QUANTO PIOR, MELHOR» 



POUCAS VEZES TENHO OUVIDO UM DISCURSO MAIS CLARO SOBRE O ESTADO DA ECONOMIA NOS EUA E NO MUNDO.
Curiosamente, o Prof. Richard Wolff, economista marxista, apresenta um ponto de vista claramente de «esquerda» e anti-capitalista e corresponde em parte à análise dos que estão bastante à direita, os libertarianos, que de facto terão mais tendência para votar Trump.
ESTAMOS TODOS REFÉNS DUM MUNDO CAPITALISTA ENLOUQUECIDO, DUMA CRISE CAPITALISTA GLOBAL, SEM ESPERANÇA DE UMA QUALQUER MUDANÇA REVOLUCIONÁRIA. APENAS PODE HAVER UM REFORÇO DO AUTORITARISMO, PELO MENOS NO CURTO-MÉDIO PRAZO.

24-09-2016: Sessão de lançamento dos "cadernos selvagens" Nº3 + Texto de Naná Rebelo



Por ocasião do terceiro número dos «Cadernos Selvagens» realizámos uma sessão na Fábrica de Alternativas em Algés, no Sábado 24 de Setembro. 
Nesta, foram lidos textos meus e de Naná Rebelo, selecionados de entre os publicados no Nº 3 dos referidos cadernos. 
A discussão geral, com cerca de 15 pessoas presentes, foi animada e participada
Os participantes foram encorajados a enviar-nos (por e-mail) originais que queiram publicar, sejam de poesia, contos, reportagens, etc. Ficou também decidido que os cadernos (em versão pdf) serão afixados na página facebook da «Fábrica de Alternativas». 

O texto abaixo, de autoria de Naná Rebelo, apareceu nos «Cadernos Selvagens nº3». Não resisto a transcrevê-lo no meu blogue.  


Do cadeado e da sua morte

Superar, ultrapassar os limites, ser forte, ser mais forte, sorrir, abraçar, amar, amar-se. Estes são os slogans que encontramos ao virar de uma qualquer esquina virtual, no percurso da nossa vida.
É curioso como é fácil banalizar a força interior que cada pessoa possa ter, como se de uma qualquer receita se tratasse. Este é o poder das redes sociais, aquilo que eu chamo o muro das lamentações do século XXI. Um autêntico prêt-a-porter de emoções.
O passar de páginas inteiras com comentários tipo anúncio, do género «se eu não gostar de mim, quem gostará?» ou, «só sabes a força que tens quando mais nada te restar senão ter força». Podia ficar por aqui com um sem número de exemplos semelhantes, mas a redundância não é a minha figura de estilo favorita.
Pergunto-me diversas vezes, o que procuram as pessoas numa rede social? O que as move na decisão de criar uma página pessoal no meio tão inóspito que é a Internet? E digo inóspito porque é minha convicção que o é de facto. A Internet não é o nosso bairro, a nossa escola, a nossa família, os nossos amigos. A Internet é o mundo inteiro, a praça pública da aldeia global, onde todos se podem permitir dizer tudo o que lhes vai na alma, onde todos podem assumir uma qualquer personagem, onde todos podem saber tudo o que cada um quiser mostrar, literalmente, onde todos podem criticar, ser criticados, sem apelo nem agravo, onde espreitam perigos de toda a espécie para os mais incautos. Querem um meio mais inóspito que este? Mas atenção, mea culpa, que eu também faço parte do grupo e gosto!
Voltando à questão, o que as move, o que faz com que exponham a sua vida, por vezes ao mínimo detalhe, num sítio assim?
Lembro-me do tempo sem telemóveis, sem Internet, onde tudo acontecia como e onde tinha de acontecer, sem que o mundo inteiro soubesse. As acções ficavam no seio de quem as praticava.
Nesse tempo corria-se menos, falava-se mais, lia-se mais, escrevia-se mais. E este é o ponto, para mim, fulcral de toda esta conversa. Escrevia-se mais. Escreviam-se cartas, de amor e das outras, escreviam-se postais ilustrados nas férias para enviar aos amigos, à família. Também se sentia a solidão, também se escolhia um amigo para desabafar as mágoas mas, sobretudo, existia uma coisa chamada diário que servia de repositório de emoções, ao mesmo tempo que se descreviam os acontecimentos que as desencadeavam, ou vice-versa.
Eu nunca tive nenhum, embora sempre tivesse tido esse desejo. Lembro-me de os ver nas montras das papelarias, lindos, maiores ou menores, mas sempre com um cadeado e ficava fascinada. Para mim esse era o grande mistério dos diários: o cadeado! - Porque têm um cadeado, Pai? – Porque ali se escrevem coisas pessoais, coisas que só dizem respeito à pessoa que escreveu e que não se quer que mais ninguém leia.
Naquela altura, a resposta do meu Pai ainda aguçou mais a minha fantasia. Eu tinha de ter um diário. A vida não era fácil e as hipóteses de ter um, daqueles com cadeado, era remota, por isso improvisei. De um caderno escolar novinho em folha, fiz aquele que seria o meu 1º diário. Colori a capa, colei uns bonecos e acrescentei uma fita de ráfia que atava sempre, cuidadosamente, após cada acontecimento que ali descrevia. Era o meu cadeado e eu acreditava que era tão inviolável como os verdadeiros.
Hoje, sabemos, esse mistério fascinante morreu. Acabaram-se os segredos, tão nossos, acabaram-se os cadeados, improvisados ou não.
Mas aquilo que o meu Pai me disse naquela altura «Porque ali se escrevem coisas pessoais, coisas que só dizem respeito à pessoa que escreveu e que não quer que mais ninguém leia.», nunca me saiu da cabeça. Continuo a tentar perceber porque tudo isso acabou. E vou descobrindo, aos poucos.
Sem querer cair em lugares comuns e psicologia de cordel, acabou do mesmo modo em que as crianças deixaram de brincar na rua com os amigos; já não jogam aos «polícias e ladrões», nem ao berlinde, nem ao peão. Deixaram de esperar que as mães os chamassem para ir lanchar, que depois sempre podiam voltar à brincadeira. Passaram a “barricar-se” nos respectivos quartos a jogar consola e a comer as sandes ao mesmo tempo, atabalhoadamente, para não perderem “vidas” nos jogos. Deixaram de brincar com os amigos de sempre, deixaram de socializar, de dar o 1º beijo às escondidas atrás de um arbusto qualquer.
Começaram a crescer à frente do monitor de um computador, deixaram as consolas e começaram a namorar à distância, que o 1º beijo, esse chegaria de uma qualquer maneira bizarra, sem aquela atracção de antes, mas com a mesma curiosidade do proibido, tantas vezes decepcionante.
Assim têm vindo a crescer várias gerações, que hoje são pais e adoptaram precisamente o mesmo estilo de “convívio”. É o progresso, dizem, fazer o quê? Adapta-te ou morre…
E foram-se perdendo valores, como quem não quer a coisa. Perderam-se os amigos reais e ganharam-se milhares de “amigos” virtuais. Agora contam-se os amigos das redes sociais, quantos mais melhor (?) e diz-se à boca cheia que se é amigo do Brad Pitt ou de uma qualquer outra estrela. E vai-se alimentando assim a auto-estima.
E depois, quando finalmente se desliga o computador, vai-se dormir a pensar em que frase bombástica se há-de iniciar a nova sessão. Ler? Só se for para retirar alguma ideia passível de aprovação no próximo post.
Mas a próxima sessão tem imensos desafios e a adrenalina sobe quando se vão vendo as repercussões que teve o tal post. Afinal não agradou a todos! Agora demos largas à imaginação, ou falta dela, para defender a camisola. E vêm os “gosto disto” e vêm os insultos e lá se foi a glória. Mas há sempre a escapadela de ir ver quem faz anos, de entre as centenas de amigos e dar muitos parabéns a quem não conhecemos de lado nenhum ou, se conhecemos, nem nos lembraríamos, não fora o aviso dos aniversários do dia.
Depois vêm as lamentações do que correu mal ou a euforia do que correu bem. E aqui entram os tais “segredos” que outrora estavam bem guardados no tal diário do cadeado.

Agora já não há nada a esconder e também não há o mínimo interesse nisso. Agora queremos que o mundo saiba que afinal já não se está numa relação e que fomos comemorar com pataniscas ao jantar, com a inevitável fotografia do repasto.
Assiste-se ao «show» dos treinadores de bancada e não é só de futebol que falo. Há especialistas em todos os assuntos. Fazem-se revoluções virtuais, incitam-se as massas, trocam-se insultos da esquerda à direita, criam-se grupos de banalidades e outros de utilidades e assim se vão preenchendo momentos de solidão.

sexta-feira, 23 de setembro de 2016

ANTIBIÓTICOS E RESISTÊNCIA BACTERIANA: UMA HISTÓRIA MUITO MAL CONTADA


Num universo dominado pelo fenómeno mediático, é necessário recuar e tomar uma perspetiva histórica, para reenquadrar tudo aquilo que se diz e comenta num dado momento sobre algum fenómeno, seja ele económico, político, de sociedade ou de saúde pública.
Fala-se muito agora de aparecimento de estirpes de bactérias resistentes aos antibióticos, porquê?
Faz muito tempo que na comunidade científica e médica se sabia deste fenómeno e se alertava os poderes públicos para os perigos da distribuição indiscriminada de antibióticos.
Agora, o motivo por detrás da campanha da ONU e OMS parece ser o facto de as grandes farmacêuticas acharem que não vale a pena investirem biliões em investigação para descobrirem e desenvolverem novos antibióticos. Elas próprias se especializaram no passado a promoverem a utilização, a propósito e despropósito, dos referidos antibióticos que comercializavam… que ironia!
Têm na manga «novos» tratamentos, por exemplo, os fagos: os bacteriófagos são um tipo de vírus específico de bactérias; existem muitas estirpes de fagos capazes de atacar determinadas bactérias, com exclusão de todas as outras. Isto é uma possibilidade de tratamento para pessoas padecendo de infeção com bactérias multirresistência a antibióticos.
Já se conhecia o potencial terapêutico concreto dos fagos desde há uma data de anos!



Já se discutia  na comunidade científica a possibilidade de sua utilização terapêutica, quando se começou a usar esses fagos como ferramentas, na nascente engenharia genética, por volta dos anos  1970, quando apenas se utilizavam as bactérias para clonar genes…
Não apenas a indústria farmacêutica é culpada por disseminar resistências bacterianas aos antibióticos, pela sua agressiva propaganda nos meios médicos e na população em geral, também as profissões médicas, veterinárias e agricultores contribuíram para isso:
Há cerca de meio século descobriu-se que o gado ao qual era administrado antibiótico (neste caso, para tratamento de infeções), tinha um crescimento mais rápido. 
Explica-se o fenómeno pela presença de um ecossistema no aparelho digestivo – o microbioma – cujo equilíbrio é rompido pela adição de antibiótico, dizimando alguns grupos de bactérias, enquanto poupa outros. 
Assim, nas vacas tratadas a antibiótico, «sobravam» mais ácidos gordos voláteis – produtos da fermentação bacteriana que ocorre principalmente no rúmen:
Isto, porque as espécies de bactérias consumidoras desses mesmos ácidos gordos, eram dizimadas, mas não as bactérias que as produziam. Estes ácido gordos voláteis são absorvidos pela parede do rúmen dos animais e são efetivamente o alimento direto dos ruminantes. Tinham portanto maior quantidade de nutriente por certa quantidade de ração, logo cresciam e aumentavam de peso mais depressa.

Toca a dar a todo o gado – doente ou não- doses de antibióticos, o que fazia com que nestes houvesse as condições ideais, especialmente nas concentrações industriais para produção de leite ou carne, para a seleção e propagação de estirpes resistentes aos antibióticos. 



Graças à criação industrial de gado, tivemos assim a formação dos primeiros «monstros», muito antes de haver «engenharia genética»! Tanto assim, que não foi preciso esperar pelos anos 70 para se ver surgir- na população humana e muito em especial, nos hospitais - as primeiras estirpes de bactérias patogénicas resistentes a certos antibióticos.
Existem estirpes de bactérias patogénicas e resistentes aos antibióticos e estas tornaram-se um grave problema de saúde pública: isto é consequência direta das indústrias farmacêutica e de criação de gado, com a conivência de profissionais de saúde (médicos e veterinários), terem promovido a utilização abusiva destes medicamentos «milagre», que tinham aparecido nos finais da II Guerra Mundial…
Agora, essa mesma indústria, servindo-se da OMS (Organização Mundial de Saúde), propaga uma visão muito mais moderada sobre a utilização dos referidos antibióticos. Só que propaga esta sabedoria após ELA PRÓPRIA ter sido a instigadora e conivente do uso desbragado e totalmente abusivo dos referidos antibióticos, sabendo pertinentemente que essa irresponsável utilização iria propagar as tais resistências! Agora, que os seus antibióticos perdem a eficácia que tinham há 30 ou 40 anos atrás, propõem «novas» soluções terapêuticas, que custarão muito mais caro, mas que serão eficazes, durante algum tempo, como é o caso dos referidos fagos, ou de outras soluções…
Cada vez mais, me viro para soluções naturais e preventivas, não descurando porém o que a ciência tem trazido de bom. Nomeadamente, os pró bióticos são «medicamentos naturais», sem efeitos secundários graves, que repovoam o intestino, com estirpes de bactérias benéficas. Estas impedem a colonização do nosso tubo digestivo por outras, eventualmente patogénicas, além de nos fornecerem substanciais quantidades de vitaminas, que teriam de ser obtidas por alimentos caso não tivéssemos essas bactérias no intestino. Eu decidi-me, desde há algum tempo, a tomar diariamente pelo menos um iogurte natural* (sem adição de açúcar ou de natas). 
Realmente, tenho-me dado muito bem com isso! Prevenir em vez de remediar!
Se tiver mesmo que tomar antibióticos, irei provavelmente complementar essas tomas quotidianas de iogurte, com um reforço de bactérias e leveduras liofilizadas (designadas por pró bióticos), que se vendem, livremente, sem receita médica, nas farmácias ou nos hipermercados...


(*) Este iogurte quotidiano tem bactérias vivas que vão colonizar o nosso intestino. Apesar de muitas das bactérias ingeridas serem mortas durante a digestão, algumas sobrevivem e essas são suficientes para se instalarem e colonizarem o nosso intestino, contribuindo muito positivamente para as etapas finais da digestão, fornecendo quantidades não desprezíveis de vitaminas e sobretudo ocupando «espaços ecológicos», ou «nichos», que de outra forma poderiam ser ocupados por bactérias patogénicas.