Num universo dominado pelo fenómeno
mediático, é necessário recuar e tomar uma perspetiva histórica, para reenquadrar
tudo aquilo que se diz e comenta num dado momento sobre algum fenómeno, seja
ele económico, político, de sociedade ou de saúde pública.
Fala-se muito agora de aparecimento de
estirpes de bactérias resistentes aos antibióticos, porquê?
Faz muito tempo que na comunidade
científica e médica se sabia deste fenómeno e se alertava os poderes públicos
para os perigos da distribuição indiscriminada de antibióticos.
Agora, o motivo por detrás da campanha
da ONU e OMS parece ser o facto de as grandes farmacêuticas acharem que não
vale a pena investirem biliões em investigação para descobrirem e desenvolverem
novos antibióticos. Elas próprias se especializaram no passado a promoverem a
utilização, a propósito e despropósito, dos referidos antibióticos que
comercializavam… que ironia!
Têm na manga «novos» tratamentos, por
exemplo, os fagos: os bacteriófagos são um tipo de vírus específico de bactérias;
existem muitas estirpes de fagos capazes de atacar determinadas bactérias, com
exclusão de todas as outras. Isto é uma possibilidade de tratamento para
pessoas padecendo de infeção com bactérias multirresistência a antibióticos.
Já se conhecia o potencial terapêutico
concreto dos fagos desde há uma data de anos!
Já se discutia na comunidade científica a possibilidade de sua utilização terapêutica, quando se começou a usar esses
fagos como ferramentas, na nascente engenharia genética, por volta dos
anos 1970, quando apenas se utilizavam as bactérias para clonar genes…
Não apenas a indústria farmacêutica é
culpada por disseminar resistências bacterianas aos antibióticos, pela sua
agressiva propaganda nos meios médicos e na população em geral, também as
profissões médicas, veterinárias e agricultores contribuíram para isso:
Há cerca de meio século descobriu-se que
o gado ao qual era administrado antibiótico (neste caso, para tratamento de
infeções), tinha um crescimento mais rápido.
Explica-se o fenómeno pela
presença de um ecossistema no aparelho digestivo – o microbioma – cujo equilíbrio é rompido pela adição de antibiótico, dizimando alguns grupos de bactérias,
enquanto poupa outros.
Assim, nas vacas tratadas a antibiótico, «sobravam»
mais ácidos gordos voláteis – produtos da fermentação bacteriana que ocorre
principalmente no rúmen:
Isto, porque as espécies de bactérias consumidoras desses
mesmos ácidos gordos, eram dizimadas, mas não as bactérias que as produziam. Estes ácido gordos voláteis são absorvidos pela parede do rúmen dos animais e são efetivamente o alimento direto dos ruminantes. Tinham portanto maior quantidade de nutriente por certa quantidade de ração, logo cresciam e aumentavam de peso mais depressa.
Toca a dar a todo o gado – doente ou não- doses de antibióticos, o que fazia
com que nestes houvesse as condições ideais, especialmente nas concentrações
industriais para produção de leite ou carne, para a seleção e propagação de
estirpes resistentes aos antibióticos.
Graças à criação industrial de gado,
tivemos assim a formação dos primeiros «monstros», muito antes de haver «engenharia
genética»! Tanto assim, que não foi preciso esperar pelos anos 70 para se ver
surgir- na população humana e muito em especial, nos hospitais - as primeiras estirpes
de bactérias patogénicas resistentes a certos antibióticos.
Existem estirpes de bactérias patogénicas e resistentes
aos antibióticos e estas tornaram-se um grave problema de saúde pública: isto é consequência direta das indústrias farmacêutica e de criação de
gado, com a conivência de profissionais de saúde (médicos e veterinários), terem promovido a utilização abusiva destes medicamentos
«milagre», que tinham aparecido nos finais da II Guerra Mundial…
Agora, essa mesma indústria, servindo-se
da OMS (Organização Mundial de Saúde), propaga uma visão muito mais moderada
sobre a utilização dos referidos antibióticos. Só que propaga esta sabedoria
após ELA PRÓPRIA ter sido a instigadora e conivente do uso desbragado e totalmente abusivo
dos referidos antibióticos, sabendo pertinentemente que essa irresponsável utilização
iria propagar as tais resistências! Agora, que os seus antibióticos perdem a
eficácia que tinham há 30 ou 40 anos atrás, propõem «novas» soluções terapêuticas,
que custarão muito mais caro, mas que serão eficazes, durante algum tempo, como
é o caso dos referidos fagos, ou de outras soluções…
Cada vez mais, me viro para soluções
naturais e preventivas, não descurando porém o que a ciência tem trazido de bom.
Nomeadamente, os pró bióticos são «medicamentos naturais», sem efeitos
secundários graves, que repovoam o intestino, com estirpes de bactérias
benéficas. Estas impedem a colonização do nosso tubo digestivo por outras, eventualmente patogénicas, além
de nos fornecerem substanciais quantidades de vitaminas, que teriam de ser
obtidas por alimentos caso não tivéssemos essas bactérias no intestino. Eu
decidi-me, desde há algum tempo, a tomar diariamente pelo menos um iogurte
natural* (sem adição de açúcar ou de natas).
Realmente, tenho-me dado muito bem com
isso! Prevenir em vez de
remediar!
Se tiver mesmo que tomar antibióticos, irei provavelmente complementar essas tomas quotidianas de iogurte, com um reforço de bactérias e leveduras liofilizadas (designadas por pró bióticos), que se vendem, livremente, sem receita médica, nas
farmácias ou nos hipermercados...
(*) Este iogurte quotidiano tem bactérias vivas que vão colonizar o nosso intestino. Apesar de muitas das bactérias ingeridas serem mortas durante a digestão, algumas sobrevivem e essas são suficientes para se instalarem e colonizarem o nosso intestino, contribuindo muito positivamente para as etapas finais da digestão, fornecendo quantidades não desprezíveis de vitaminas e sobretudo ocupando «espaços ecológicos», ou «nichos», que de outra forma poderiam ser ocupados por bactérias patogénicas.