quinta-feira, 29 de junho de 2023

HENRY PURCELL: DIDO AND AENEAS

Dido and Aeneas, de Henry Purcell: 



Uma joia cénica e musical da ópera: WAYWARD SISTERS

Nesta ópera*, H. Purcell reúne todos os elementos dramáticos, para construir um monumento barroco que resiste muito bem à passagem do tempo.  

A bruxa chama as suas irmãs para lançar a maldição sobre Cartago, da qual Dido é a rainha.  Através das Wayward Sisters é representada uma conspiração, nesta cena e seguintes. 

https://www.youtube.com/watch?v=hzvgpCZ6rxM&list=OLAK5uy_lJokTwIL2ajsgOayUyKP12vw-77bT73ic&index=14



Purcell é realmente um monumento ímpar, em toda a cultura europeia do século XVII. Se o virmos como participante do grande movimento barroco europeu, não apenas como expoente da música das Ilhas Britânicas, temos de concluir que representa um passo decisivo para a modernidade plena. Um músico charneira, num certo sentido, mas certamente original, quer na música instrumental, quer na ópera. A inovação estilística é muito significativa, embora não pretenda entrar em ruptura com a tradição, mas apenas alargar a expressão das paixões humanas. Aplica-se plenamente a designação «drama em música», utilizada em Itália na viragem do século XVI para o séc. XVII, para a ópera. A ária celebérrima «When I'm laid in earth» (Ato III, cena 2), da mesma ópera, tem ocultado esta joia de negrume das bruxas lançando sua terrível maldição sobre Cartago... Faz-me pensar nas bruxas de «Macbeth» de Shakespeare, embora Purcell não tenha composto a ópera a partir da peça do dramaturgo.

Haendel reconheceu a qualidade dramática e musical de Purcell, criador da ópera em língua inglesa. Embora as óperas de Haendel sejam compostas em italiano - para satisfazer a moda da sua época - moldou magistralmente a matéria musical em língua inglesa, nas suas oratórias.

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CONCERTO PARA PIANO Nº1 DE MENDELSSOHN - YEOL EUM SON

                                                  
                                               https://www.youtube.com/watch?v=RLHIbskboxo


Yeol Eum Son realiza uma proeza de virtuosismo ao vivo, na execução deste concerto, com a leveza incrível, que faz da audição um fluxo constante de prazer. 

Mendelssohn compôs este concerto, assim como a 1º Sinfonia (Italiana), com apenas 22 anos.  O otimismo, a energia e o humor desta peça têm sempre, em mim, um efeito tonificante. Não sendo destituído de subtileza, nem de momentos de nostalgia é -no seu todo- uma espécie de «hino triunfal» à vida!


PS: Há um vídeo com a interpretação de Yuja Wang . Os leitores poderão ouvir e comparar, para escolherem a interpretação que mais lhes agrada

quarta-feira, 28 de junho de 2023

OLHANDO O MUNDO DA MINHA JANELA, PARTE XVIII

             Se eu fosse um profissional de escrita e de política, se estivesse envolvido no jornalismo mediático, estaria a remoer o que poderia vender para o meu público, desde a minha última crónica. O meu ponto de observação, sendo de alguém muito pouco interessado na «agenda» de uns e de outros, é na verdade, o que realmente me interessa no tempo transcorrido entre a última crónica (a nº XVII) e a de hoje.

Primeiro, quero dizer-vos que não irei falar do golpe de Prighozin e de Wagner, por uma razão muito simples; estou farto de desinformação, de uns e de outros, não creio que nada de realmente novo possa ser dito sobre o ocorrido, pelo menos nos tempos mais próximos, até porque os arquivos (em geral, só abertos aos historiadores, passados 50 anos...) poderão fazer deitar por terra as versões de uns e de outros, e até mesmo dos que não estejam em nenhum campo. Dito isto, quero deixar claro que lamento o derrame de sangue ocorrido, a morte de aviadores russos; para eles e suas famílias é uma tragédia: Ainda por cima, sem-sentido. 

Olhar o Mundo, como gostaria que isso fosse possível, mas de longe, de muito longe; não no tempo, mas - pelo menos - no espaço!

Há quem diga que a História se repete, há quem atribua essa repetição à incapacidade de jovens gerações «se lembrarem» de eventos ocorridos antes delas serem adultas, ou mesmo de terem nascido. O estudo da História é levado a cabo com uma superficialidade enorme, mesmo entre muitos dos indivíduos que se dizem «cultivados». E, até os que se dignam debruçar sobre a História do Mundo, aprendendo o que ocorreu umas décadas antes de terem nascido, é quase certo que ingiram versões de História fabricadas para confortar esta ou aquela tese. Sabemos que não existe nenhum historiador, no presente ou passado, que não seja (... que não fosse) tendencioso. Todos têm a sua ideologia, todos interpretam os acontecimentos de acordo com os seus credos respetivos. Não posso atirar-lhes a pedra! Pois eu também vejo o presente e o passado de acordo com as minhas convicções e simpatias, ou seja, com subjetivismo.

No presente, eu seria um pouco como o herói de Stendhal, Fabrice (do romance «La Chartreuse de Parme»), no meio da confusão da batalha de Waterloo: 


Vê umas tropas a avançar, depois uma carga de cavalaria, soldados mortos e feridos por estilhaços de balas de canhões, um grande alarido... Mas, ele está tão perto do que se passa, que não consegue perceber nada. Nem quem está a perder, ou a ganhar; nem a lógica dos movimentos de uns e de outros. Nem as estranhas ordens gritadas no meio da confusão... Tudo lhe parece um enorme caos, que efetivamente terá sido. É sempre assim, para quem está metido no meio de uma batalha. 

O fresco magnífico de Victor  Hugo, sobre a mesma batalha, inserido na sua obra-prima («Les Misérables»), é muito diferente. Ele descreve em pormenor a carga da cavalaria pesada francesa, que se desenvolve colina acima, encontrando um inferno de metralha britânica pela frente.

 É, sem dúvida, um estilo épico, mas de certeza que não foi como tal, que o viveram ou sentiram os protagonistas do acontecimento (do lado napoleónico, ou britânico). 

Muito mais próxima da realidade é a descrição da batalha da Moskva, ou de Borodino, em 1812, entre «La Grande Armée», composta por tropas de toda a Europa ocidental e central e o exército russo, feita por Leão Tolstoi

no romance «Guerra e Paz», escrito cerca de meio-século depois da referida batalha. 

De qualquer maneira, o elemento épico dum combate, seja uma escaramuça ou uma batalha decisiva, está completamente ausente, na realidade: É a posteridade que elimina os casos que não satisfaçam os padrões, que não se coadunem com a «coragem» e o «heroísmo», do lado que se pretende glorificar.  Será surpreendente encontrar um escritor de uma dada nação, que faça a apologia do comportamento de militares da nação inimiga. Em geral, as cenas atrozes e reprováveis, são tidas como da responsabilidade do campo que mais se detesta. 

Os pacifistas verdadeiros, que não estão em nenhum dos campos, são considerados «traidores» ou «cobardes», por ambos os lados. Ficam sujeitos a levar um tiro na nuca, ou algo assim, pois estão «fora do quadro»; são uma «mancha» na pintura; quanto muito, serão «homenageados» depois de mortos mas, seu exemplo de retidão moral, de coerência e humanismo, não será cultivado pelas gerações vindouras.

Por estas razões, uma guerra, seja ela qual for, é sempre um recuo civilizacional. Não somente para as gerações que nela participam; também para a descendência de ambos os lados. Os vencedores, segregam um nacionalismo «otimista» e os vencidos um nacionalismo «pessimista».

Por isso, um ciclo de guerra recomeça, após cerca de uma centena de anos: Os horrores da guerra de 1914-18, já não são percetíveis às gerações que nasceram  por volta de 2000. 

Os Estados ergueram monumentos em memória dos soldados caídos nesta guerra chamada «A Grande Guerra», para os enterrar uma segunda vez, mais fundo ainda, no esquecimento. Os livros de história preocupam-se em fornecer causas económicas, aspetos ideológicos ou de geoestratégia, que permitam atribuir os motivos de tudo o que se passou. Mas, apenas alguns livros, romances quase esquecidos, detalham os horrores da tal «guerra para acabar com todas as guerras». 

E agora, temos os bisnetos dos combatentes da Iª Guerra mundial,  a deixarem arrastar-se pelo «fervor patriótico», ou pelo «terror do inimigo», para matar e morrer, como se isso fosse o maior e mais nobre dever. Como se as suas famílias devessem ficar eternamente gratas pelo seu sacrifício inútil! Todos os ditadores, seja qual for a sua tendência, gostam da guerra: ela permite forçar a «união sagrada» em torno dos regimes. Estes, supostamente, seriam a barreira para a «barbárie» (sempre a do outro).

Francamente, isto é realmente estúpido, primário e criminoso, ao ponto de despertar em mim um desejo de não ter nada que ver, de não querer saber de nada, de me retirar física e mentalmente para um refúgio onde possa ilusoriamente desfrutar de paz da alma. Mas, este desejo é contrariado pelo meu entendimento de que as pessoas mais sacrificadas são, quase sempre, as que menos responsabilidades têm no conflito. De que os poderosos - de um e do outro lado - estão a jogar as vidas dos seus soldados e civis, para engrandecer o seu nome e o seu regime... Não há os bons e os maus; há os poderosos e os humildes. Estes últimos, estão destinados a serem triturados sem piedade, para justificar sonhos megalómanos, seja de quem for. 

Não existe «causa justa» numa guerra: Ou melhor; a única causa que se deve considerar humanamente justa é a que defende o cessar-fogo imediato, a procura de uma resolução pacífica para o conflito. 

O que mantém uma guerra, embora reconhecida por todos como tragédia, é que as pessoas foram doutrinadas a considerá-la  «inevitável, por causa de X» (X= nome de Chefe-de-Estado e da Nação inimigos). É um truque muito velho, mas que funciona; e continua a funcionar, porque as pessoas preferem continuar dentro do rebanho, em vez de mostrarem independência, de terem a coragem de dizer «não!».

Não me compete dizer o que os outros têm de pensar ou fazer. Mas gostaria de ver pessoas de elevada estatura intelectual e moral, erguerem-se e denunciarem a barbárie. 

Voltando à Primeira Guerra Mundial, creio que a censura e o fanatismo xenófobo (em todos os países beligerantes), não conseguiram impedir que vozes de vários quadrantes políticos e ideológicos se pronunciassem, falassem contra a corrente: essas personalidades, terão sido mais tarde homenageadas em vida, ou depois de falecerem, por aqueles mesmos que os ignoraram ou insultaram, anos antes.  

Desculpem, mas o que saiu nesta prosa não é verdadeiramente o que deveria ser, ou seja, um relato do que se passou. Os meus leitores me desculpem. Eu realmente disse o que - a meu ver - não deveria ter acontecido, mas acontece e aquilo que eu gostaria de ver, mas que não vejo. Por este motivo, decidi chamá-la «UMA NÃO-CRÓNICA»


segunda-feira, 26 de junho de 2023

PIERRE-HENRI GOUYON «O COLAPSO DA BIODIVERISADE»


 P-H Gouyon desanca as incongruências de «verdes» e «tecnocratas», muito preocupados em relação à crise ecológica global, mas que apenas acentuam os problemas porque somente conseguem «raciocinar» nas categorias que lhes ensinaram! 

Um enorme "pontapé" de um grande cientista, nos preconceitos que passam por «ciência».

Espetáculo «SCENA 06/26/2023», com CONJUNTO DE PERCUSSÕES e muito mais!

 


Um fantástico espetáculo artístico, mostrando uma perfeita coordenação entre os diversos executantes.

CRISE DE SUPERPRODUÇÃO DO VINHO

 https://www.zerohedge.com/commodities/europe-drowns-wine-eu-adopts-crisis-measures-rescue-producers



Em vários países europeus, o vinho estava mais ligado ao mercado externo do que ao consumo interno. O agravamento da crise reflete-se nos diversos países, no chamado consumo de luxo. Mesmo o vinho de média qualidade é considerado como luxo em países não tradicionalmente produtores, por exemplo os da Europa do Norte, da América do Norte e muitos países Africanos e Asiáticos. O mercado está saturado porque este produto tem tido uma expansão contínua desde há décadas, ora, apesar de novos países se abrirem ao consumo do vinho, uma expansão do mercado não pode durar sempre. Tem de vir um momento de contração.

No caso do vinho, essa contração coincide com a provocada pela inflação mundial, assim como as piores previsões económicas, relativas a países afluentes e que eram tradicionalmente consumidores de vinho dos países do Sul da União Europeia, como a Alemanha ou o Reino Unido.

Ao nível nacional, os portugueses têm diminuído o consumo de vinho, o que tem causas múltiplas, entre elas o acentuar da inflação (que toca mais os produtos não-essenciais), a diminuição do poder de compra das classes menos favorecidas e da classe média, a evolução do consumo das camadas mais jovens que se têm desviado para o consumo das cervejas (nomeadamente, as «artesanais») e para os álcoois fortes, ingredientes de cocktails ou «shots», muito em voga. 

 Dá-se a situação de retração simultânea nos mercados interno e internacional, em especial, para os países menos afortunados da UE, mas também em países beneficiando (ainda) de confortável nível de vida. 

As marcas de vinho deveriam ter visto esta crise chegar, mas - pelo menos em Portugal - insistiram em subir constantemente o preço dos vinhos nos supermercados, ao ponto de que, vinhos correntes passaram a ser algo que muitos agora consomem apenas em ocasiões especiais.  O setor vinícola, além de fundamental economicamente em várias zonas agrícolas do país, era também enorme fonte de divisas, não apenas na exportação, como no consumo dos turistas dentro de Portugal. 

As zonas do Sul da Europa já são as principais vítimas económicas do cerco contra a Rússia, mesmo antes do inicio da guerra imposta pelos belicistas da OTAN, assim como pelos globalistas:  

- Estes, não se importam com a sobrevivência económica dos mais fracos, preferindo até que haja muito desemprego, para manter as populações debaixo do jugo da necessidade. 

Estas populações serão «beneficiárias» do «Rendimento Mínimo Universal», em conjugação com a introdução das «Divisas Digitais dos Bancos Centrais». 

Tudo corre às mil maravilhas para os globalistas: Podem fazer «à saúde», erguendo os copos, cheios dos vinhos mais caros do mercado!

domingo, 25 de junho de 2023

«PAZ SOBRE A TERRA» (coro a capella) DE ARNOLD SCHÖNBERG

Friede Auf Erden Opus 13 · Laurence Equilbey ·

https://www.youtube.com/watch?v=-JNuDX_aH00&list=OLAK5uy_kZooPVjuZxew34bzTg3C-18ZPAncy8f9U

                                  Arnold Schönberg

https://www.antiwarsongs.org/canzone.php?lang=en&id=42044


PAZ SOBRE A TERRA*

[1886]‎

Letra de Conrad Ferdinand Meyer (1825-1898), escritor e poeta suíço.‎
Música de Arnold Schönberg "Friede auf Erden, op. 13", composto em 1907.

‎Quando os pastores abandonaram seus rebanhos
E trouxeram a mensagem do anjo
Atravessando a porta baixa
Para a mãe e a criança,‎
As gentes do céu continuavam
Cantando sem parar no firmamento
E o céu continuava vibrando:‎
‎« Paz, paz sobre a Terra ! »‎

Desde que os anjos lhe aconselharam,‎
Ó, quantas ações sangrentas
A disputa por esse cavalo selvagem
revestido duma couraça, se realizaram !‎
Em quantas noites de Natal
O coro dos espíritos aflitos cantou
Implorando premente, num gemido:‎
‎« Paz, paz sobre a Terra ! »‎


No entanto, existe uma fé eterna 
 Segundo a qual o fraco não será para sempre vítima
Do gesto mortífero atrevido
A cada vez:‎
Um pouco como a justiça
Vivendo e trabalhando na morte e no horror,‎
E um reino que se irá construir
Que procura a paz sobre a Terra.‎

Pouco a pouco vai tomando forma
A sua carga sagrada
Forjando armas sem perigo
As espadas de chamas para o Direito
E uma raça esplêndida
Irá florescer com filhos poderosos
Cujos sonoros clarins anunciarão :‎
‎« Paz, paz sobre a Terra ! »‎



[* traduzido para português por Manuel Banet]