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quarta-feira, 28 de junho de 2023

OLHANDO O MUNDO DA MINHA JANELA, PARTE XVII

             Se eu fosse um profissional de escrita e de política, se estivesse envolvido no jornalismo mediático, estaria a remoer o que poderia vender para o meu público, desde a minha última crónica. O meu ponto de observação, sendo de alguém muito pouco interessado na «agenda» de uns e de outros, é na verdade, o que realmente me interessa no tempo transcorrido entre a última crónica (a nº XVII) e a de hoje.

Primeiro, quero dizer-vos que não irei falar do golpe de Prighozin e de Wagner, por uma razão muito simples; estou farto de desinformação, de uns e de outros, não creio que nada de realmente novo possa ser dito sobre o ocorrido, pelo menos nos tempos mais próximos, até porque os arquivos (em geral, só abertos aos historiadores, passados 50 anos...) poderão fazer deitar por terra as versões de uns e de outros, e até mesmo dos que não estejam em nenhum campo. Dito isto, quero deixar claro que lamento o derrame de sangue ocorrido, a morte de aviadores russos; para eles e suas famílias é uma tragédia: Ainda por cima, sem-sentido. 

Olhar o Mundo, como gostaria que isso fosse possível, mas de longe, de muito longe; não no tempo, mas - pelo menos - no espaço!

Há quem diga que a História se repete, há quem atribua essa repetição à incapacidade de jovens gerações «se lembrarem» de eventos ocorridos antes delas serem adultas, ou mesmo de terem nascido. O estudo da História é levado a cabo com uma superficialidade enorme, mesmo entre muitos dos indivíduos que se dizem «cultivados». E, até os que se dignam debruçar sobre a História do Mundo, aprendendo o que ocorreu umas décadas antes de terem nascido, é quase certo que ingiram versões de História fabricadas para confortar esta ou aquela tese. Sabemos que não existe nenhum historiador, no presente ou passado, que não seja (... que não fosse) tendencioso. Todos têm a sua ideologia, todos interpretam os acontecimentos de acordo com os seus credos respetivos. Não posso atirar-lhes a pedra! Pois eu também vejo o presente e o passado de acordo com as minhas convicções e simpatias, ou seja, com subjetivismo.

No presente, eu seria um pouco como o herói de Stendhal, Fabrice (do romance «La Chartreuse de Parme»), no meio da confusão da batalha de Waterloo: 


Vê umas tropas a avançar, depois uma carga de cavalaria, soldados mortos e feridos por estilhaços de balas de canhões, um grande alarido... Mas, ele está tão perto do que se passa, que não consegue perceber nada. Nem quem está a perder, ou a ganhar; nem a lógica dos movimentos de uns e de outros. Nem as estranhas ordens gritadas no meio da confusão... Tudo lhe parece um enorme caos, que efetivamente terá sido. É sempre assim, para quem está metido no meio de uma batalha. 

O fresco magnífico de Victor  Hugo, sobre a mesma batalha, inserido na sua obra-prima («Les Misérables»), é muito diferente. Ele descreve em pormenor a carga da cavalaria pesada francesa, que se desenvolve colina acima, encontrando um inferno de metralha britânica pela frente.

 É, sem dúvida, um estilo épico, mas de certeza que não foi como tal, que o viveram ou sentiram os protagonistas do acontecimento (do lado napoleónico, ou britânico). 

Muito mais próxima da realidade é a descrição da batalha da Moskva, ou de Borodino, em 1812, entre «La Grande Armée», composta por tropas de toda a Europa ocidental e central e o exército russo, feita por Leão Tolstoi

no romance «Guerra e Paz», escrito cerca de meio-século depois da referida batalha. 

De qualquer maneira, o elemento épico dum combate, seja uma escaramuça ou uma batalha decisiva, está completamente ausente, na realidade: É a posteridade que elimina os casos que não satisfaçam os padrões, que não se coadunem com a «coragem» e o «heroísmo», do lado que se pretende glorificar.  Será surpreendente encontrar um escritor de uma dada nação, que faça a apologia do comportamento de militares da nação inimiga. Em geral, as cenas atrozes e reprováveis, são tidas como da responsabilidade do campo que mais se detesta. 

Os pacifistas verdadeiros, que não estão em nenhum dos campos, são considerados «traidores» ou «cobardes», por ambos os lados. Ficam sujeitos a levar um tiro na nuca, ou algo assim, pois estão «fora do quadro»; são uma «mancha» na pintura; quanto muito, serão «homenageados» depois de mortos mas, seu exemplo de retidão moral, de coerência e humanismo, não será cultivado pelas gerações vindouras.

Por estas razões, uma guerra, seja ela qual for, é sempre um recuo civilizacional. Não somente para as gerações que nela participam; também para a descendência de ambos os lados. Os vencedores, segregam um nacionalismo «otimista» e os vencidos um nacionalismo «pessimista».

Por isso, um ciclo de guerra recomeça, após cerca de uma centena de anos: Os horrores da guerra de 1914-18, já não são percetíveis às gerações que nasceram  por volta de 2000. 

Os Estados ergueram monumentos em memória dos soldados caídos nesta guerra chamada «A Grande Guerra», para os enterrar uma segunda vez, mais fundo ainda, no esquecimento. Os livros de história preocupam-se em fornecer causas económicas, aspetos ideológicos ou de geoestratégia, que permitam atribuir os motivos de tudo o que se passou. Mas, apenas alguns livros, romances quase esquecidos, detalham os horrores da tal «guerra para acabar com todas as guerras». 

E agora, temos os bisnetos dos combatentes da Iª Guerra mundial,  a deixarem arrastar-se pelo «fervor patriótico», ou pelo «terror do inimigo», para matar e morrer, como se isso fosse o maior e mais nobre dever. Como se as suas famílias devessem ficar eternamente gratas pelo seu sacrifício inútil! Todos os ditadores, seja qual for a sua tendência, gostam da guerra: ela permite forçar a «união sagrada» em torno dos regimes. Estes, supostamente, seriam a barreira para a «barbárie» (sempre a do outro).

Francamente, isto é realmente estúpido, primário e criminoso, ao ponto de despertar em mim um desejo de não ter nada que ver, de não querer saber de nada, de me retirar física e mentalmente para um refúgio onde possa ilusoriamente desfrutar de paz da alma. Mas, este desejo é contrariado pelo meu entendimento de que as pessoas mais sacrificadas são, quase sempre, as que menos responsabilidades têm no conflito. De que os poderosos - de um e do outro lado - estão a jogar as vidas dos seus soldados e civis, para engrandecer o seu nome e o seu regime... Não há os bons e os maus; há os poderosos e os humildes. Estes últimos, estão destinados a serem triturados sem piedade, para justificar sonhos megalómanos, seja de quem for. 

Não existe «causa justa» numa guerra: Ou melhor; a única causa que se deve considerar humanamente justa é a que defende o cessar-fogo imediato, a procura de uma resolução pacífica para o conflito. 

O que mantém uma guerra, embora reconhecida por todos como tragédia, é que as pessoas foram doutrinadas a considerá-la  «inevitável, por causa de X» (X= nome de Chefe-de-Estado e da Nação inimigos). É um truque muito velho, mas que funciona; e continua a funcionar, porque as pessoas preferem continuar dentro do rebanho, em vez de mostrarem independência, de terem a coragem de dizer «não!».

Não me compete dizer o que os outros têm de pensar ou fazer. Mas gostaria de ver pessoas de elevada estatura intelectual e moral, erguerem-se e denunciarem a barbárie. 

Voltando à Primeira Guerra Mundial, creio que a censura e o fanatismo xenófobo (em todos os países beligerantes), não conseguiram impedir que vozes de vários quadrantes políticos e ideológicos se pronunciassem, falassem contra a corrente: essas personalidades, terão sido mais tarde homenageadas em vida, ou depois de falecerem, por aqueles mesmos que os ignoraram ou insultaram, anos antes.  

Desculpem, mas o que saiu nesta prosa não é verdadeiramente o que deveria ser, ou seja, um relato do que se passou. Os meus leitores me desculpem. Eu realmente disse o que - a meu ver - não deveria ter acontecido, mas acontece e aquilo que eu gostaria de ver, mas que não vejo. Por este motivo, decidi chamá-la «UMA NÃO-CRÓNICA»


terça-feira, 9 de junho de 2020

REYNALDO HAHN - TROIS CHANSONS, TROIS POÈTES

R. Hahn, venezuelano naturalizado francês, teve uma carreira brilhantíssima. As suas peças vocais revelam uma profunda sensibilidade à melodia intrínseca da língua francesa.

L'HEURE EXQUISE - PAUL VERLAINE


La lune blanche
luit dans les bois. De chaque branche part une voix sous la ramée. O bien aimée. L’étang reflète, profond miroir, la silhouette du saule noir où le vent pleure. Rêvons, c’est l’heure. Un vaste et tendre apaisement semble descendre du firmament que l’astre irise. C’est l’heure exquise!

                             SI MES VERS AVAIENT DES AILES - VICTOR HUGO


















Mes vers fuiraient, doux et frêles,
Vers votre jardin si beau,
Si mes vers avaient des ailes,
Comme l’oiseau.
Ils voleraient, étincelles,
Vers votre foyer qui rit,
Si mes vers avaient des ailes,
Comme l’esprit.
Près de vous, purs et fidèles,
Ils accourraient nuit et jour,
Si mes vers avaient des ailes,
Comme l’amour.

                                                   A CHLORIS - THÉOPHILE DE VIAU                             
   
    
















S'il est vrai, Chloris, que tu m'aimes,
Mais j'entends, que tu m'aimes bien,
Je ne crois point que les rois mêmes
Aient un bonheur pareil au mien.
Que la mort serait importune
De venir changer ma fortune
A la félicité des cieux!
Tout ce qu'on dit de l'ambroisie
Ne touche point ma fantaisie
Au prix des grâces de tes yeux.