quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

SE HÁ CASO EM QUE DETESTO TER RAZÃO...

Então, o caso é este:

A figura de Marine le Pen surge -por muito triste que isto seja - como uma tábua de salvação a muitos eleitores franceses, face à enorme podridão moral que infesta toda a casta política gaulesa. 

Como cidadão francês, causa-me especial nojo pensar que os socialistas abrigaram Cahuzac, o ministro das finanças, encarregue de perseguir pessoas culpadas de evasão ao fisco, sendo ele próprio um «belo» exemplo dessa mesma evasão! Ou agora, o candidato da direita, dita «civilizada» (supostamente republicana e gaullista), Fillon,  que dá o exemplo de «combate ao desemprego» recrutando sua esposa e filhos em empregos fictícios, pela bagatela dum milhão de euros  subtraídos ao erário público! 

Lamento dizê-lo, mas não existe possibilidade de outro desfecho senão a eleição de Marine le Pen. Não há hipótese de um sobressalto popular, pois o povo miúdo sente-se traído por um partido de «esquerda» que esqueceu completamente as suas raízes operárias e embarcou numa deriva de subserviência canina ao grande capital, ao imperialismo. 
Agora, parece-me inevitável que, em França, seja eleita como presidente alguém da extrema-direita. 
Este processo é «exemplar do que se não deve fazer». Os partidos tradicionais de esquerda e direita, com o seu comportamento deram a aparência de legitimidade à extrema-direita. 

Esta aparência de legitimidade foi potenciada pela política-espetáculo (= endoutrinamento massivo dos eleitores pela mass-media e sistema estatal), a qual foi habilmente utilizada pela extrema-direita, o que não surpreende, pois os seus inspiradores (Mussolini, Hitler, entre outros...) eram mestres em propaganda.

O resultado está aqui: 


Daqui a uns dias, o score para a faixa etária dos 18-35 anos será ainda mais negativo para os políticos «convencionais» e melhor para a candidata de extrema-direita. 
Remeto para o meu artigo de 18 de Janeiro deste ano. 

Escrevo isto com imenso pesar, porém sem aligeirar as responsabilidades das pessoas, organizações e dirigentes «de esquerda»!   

terça-feira, 31 de janeiro de 2017

QUANDO A ESQUERDA É PARTE DO PROBLEMA


O QUE CARACTERIZA A EVOLUÇÃO/CAPITULAÇÃO DA ESQUERDA NESTE SÉCULO É A SUA TOTAL RENDIÇÃO À POLÍTICA IDENTITÁRIA E TER DESERTADO O TERRENO DAS LUTAS DE CLASSE.

ABAIXO, PONTOS DE VISTA CONVERGENTES SOBRE A ESQUERDA PELOS AUTORES  Iman Safi e Paul Craig Roberts

«To say that the Western “left” merged into the establishment would be an understatement. If anything, it underpinned the establishment’s position by setting itself up as one of its corner stones. In more ways than one, the “left” in the West did not only merge into the so-called “Imperial Empire” it was meant stand up against, but also became its face and organ. It was no longer a force for the kind of change that was initially promised and expected, and thus has inadvertently lost its stature and very definition of being “left”.» (Iman Safi)


«The liberal/progressive/left is demonstrating a mindless hatred of the American people and the President that the people chose. This mindless hatred can achieve nothing but the discrediting of an alternative voice and the opening of the future to the least attractive elements of the right-wing.» (Paul Craig Roberts)



A cegueira da «esquerda» em relação aos crimes de guerra e contra a humanidade de Obama e seus antecessores, o embarcar em campanhas de ódio e de deslegitimação do novo presidente dos EUA; no caso da Europa, a intervenção criminosa na guerra imperialista de agressão contra a Líbia e o apoio a terroristas apelidados de «rebeldes» na Síria... depois vertendo lágrimas de crocodilo sobre os refugiados. 
A esquerda está completamente desautorizada. Não tem nenhuma legitimidade moral (aqui, ou do outro lado do Atlântico) para falar de defesa dos direitos humanos. 
A sua política é vesga; o seu pacifismo é vesgo; a sua preocupação humanitária é vesga. 
A esquerda está a entregar o «palco político» à direita, conservadora, xenófoba, nalguns casos fascizante, porque as pessoas encontram nesta mais bom senso e uma defesa dos seus interesses. 
A política identitária substituiu-se completamente à política de classe. A direita não se tornou mais inteligente e mais populista; a esquerda é que se tornou mais estúpida e mais elitista.






A GESTÃO DAS CRISES PELA ELITE

A elite do poder e do capital só tem uma verdadeira preocupação: sobreviver!

A técnica apurada de lançar sucessivos casos com que entreter a opinião pública, generosa, mas crédula, tem-se verificado nos últimos tempos... basta pensar em toda a histeria inflamada pela media (ao serviço da elite) em torno da eleição de Trump, ou nas inúmeras reportagens sobre os refugiados que são retidos nas fronteiras da Europa (refugiados causados pela destruição de países, pela NATO e seus aliados do Estado Islâmico, Al Quaida, e outros... como está mais que provado).
Assim a extrema direita ou extrema esquerda têm «água para o seu moinho»... Mas o principal não é colocado nas primeiras páginas dos jornais! Isso é cuidadosamente mantido nos segmentos de negócios e nas publicações especializadas em finanças. Falo do maior ataque à liberdade nos países «ocidentais», mas que ninguém considera como grave. O plano agora até já é oficial, na UE, mas não emociona as «massas» entretidas com causas humanitárias que parece terem sido infladas a preceito para que não olhem para onde deveriam olhar!

Trata-se de banir o «cash», o que já está em curso pela impossibilidade de se pagar somas em «cash» para além de um certo montante, variando de país para país. A fase seguinte é o desaparecimento de notas de elevado valor. Veja-se o caso da Índia; funcionou como balão de ensaio.
A oligarquia que nos rege diz que se trata de banir o «cash» para evitar a evasão fiscal e melhor lutar contra o terrorismo. Esta falsidade já foi desmontada por mim aqui, assim como por outros autores, porém este assunto não tem eco nenhum nos media, porque o que se vê são transcrições acríticas das decisões das «autoridades monetárias e outras». Volto a insistir porque quando os poderes apresentam uma coisa como sendo em benefício da população é preciso desconfiar. Neste caso há vastas razões fundamentadas de desconfiar, pois a luta contra a evasão fiscal é simplesmente uma anedota, estes anos todos, em que os muito ricos (incluindo governantes) têm contas off-shore em paraísos fiscais, com pleno conhecimento das autoridades fiscais, policiais e judiciais!
 Quanto ao combate ao terrorismo: acabem com o apoio em armas, material, fundos etc. ao ISIS e outros grupos e deixem de chamá-los «rebeldes moderados», podiam ter feito isso desde 2014 pelo menos, teriam evitado a tragédia da Síria. Já agora, expliquem-me porque votaram a Arábia Saudita (culpada de crimes de guerra contra os civis no Iemen!) para presidir à comissão dos direitos humanos da ONU??? 
São «pequenos» factos como estes que lhes «destapam a careca»... espero as pessoas de boa fé deixem de ser enganadas!
O problema de a totalidade das transações ser feita electronicamente é o seguinte: os governos vão ter um controlo a 100% SOBRE O QUE CADA CIDADÃO FAZ OU DEIXA DE FAZER. Ou seja, o sonho molhado de qualquer TOTALITARISMO. Pior ainda: vão poder «matar economicamente», bloqueando o  acesso às SUAS contas bancárias, qualquer indíviduo suspeito de «terrorismo»: pode ser qualquer pessoa, basta uma denúncia anónima... Tu, leitor/a, podes estar a ser discretamente investigado/a, as tuas contas devassadas, os teus mails lidos, os teus telefonemas escutados...sem saberes rigorosamente nada sobre isso.

Esta mortal ameaça à liberdade está a pairar sobre todos nós, assim a elite globalista terá maior controlo, garantindo a transição para o GOVERNO DA NOVA ORDEM MUNDIAL.  
É certo que eles não o instalam de uma só vez, este processo está em curso... fazem-no discreta e camufladamente. 


segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

«VOCALISE» & «NUVENS»

Rachmaninov escreveu esta célebre «Vocalise» e Kiri Te Kanawa interpretou-a com a beleza expressiva e a riqueza tímbrica de que esta peça precisa. 




                        NUVENS*


Relevo de corpos outonais
Nomeados pelo reflexo oblíquo
Do olhar múltiplo 
Perplexo
Forma de Guitarras
Criação das nuvens
Vagueando tão altas
No Zodíaco
Distantes espectros
Suspensos no fumo
Separados de meu crânio
Denso
Esfaqueado na certeza
De sonhar
Pan-lúdico
Assim
Nesta
Feminina
Matriz.

(* do livro «Exercícios Espirituais», ed. MIC, 1985)

domingo, 29 de janeiro de 2017

MON CIEL (DU RECUEIL «À VOIX HAUTE», 1977)

MON CIEL


 Soir et matin
      
 Parcheminé d’oiseaux
  
       Immense rivage bleu

               Augure chatoyant

                      Rimes d’écume


                             Écrin percé d’étoiles

sábado, 28 de janeiro de 2017

UMA «REVOLUÇÃO COLORIDA» ESTÁ EM CURSO, DESTA VEZ NOS EUA?

A violenta e incessante campanha, em todas as frentes, para deslegitimar Donald Trump, como 45º presidente dos EUA, está em curso, desde o momento da sua eleição e continua agora, para além da sua tomada de posse.
Como de costume, nas «revoluções coloridas» anteriores, as massas são manipuladas pelas ONGs ao serviço de interesses ocultos, financiadas discretamente por fundações Soros e outras. A própria CIA tem uma postura sediciosa, ao tomar a iniciativa de investigar pessoas altamente colocadas, da confiança do actual presidente. 
Não ficaria surpreendido se Donald Trump fosse deposto por um golpe palaciano. Não sei, de facto, qual o processo que irão utilizar, irão recorrer a todos os artifícios para fazer valer um «impeachment». 
Lamento o que acontece. Não por ter alguma simpatia pela política ou pela personagem de Trump. Mas porque sei que os neo-cons - instalados no «Estado profundo»-  estão interessados em verem-se livres de Trump para levar a cabo a sua política criminosa, belicista, e que irá fatalmente desembocar numa guerra mundial.
Esta realidade é obscurecida pela enorme onda de propaganda que serve sobretudo para neutralizar as massas de «esquerda». Elas estão a ser usadas como massa de manobra para alcançar objectivos dos quais não têm a mínima consciência
Foi assim, aliás, que muitos ucranianos fartos da corrupção no seu país, foram utilizados como massa de manobra para o golpe levado a cabo por neo-fascistas, em Kiev, com o apoio ativo de serviços secretos ocidentais.
A inteligência é não nos deixarmos embarcar por campanhas políticas de uns e de outros. 
As facções políticas conseguem fazer os seus golpes e manobras sujas, graças à inconsciência e impreparação de muitas pessoas generosas, mas iludidas, incapazes de ver o que se passa por detrás dos panos de cena.

Oxalá eu me engane, mas tenho tido lucidez bastante para prever, em textos anteriores a 2008, a ascenção da extrema-direita e a desagração das esquerdas, transformadas em meros peões dos grandes interesses corporativos. 
Também tive a lucidez para ver que a «Obama-mania»,  desde a sua primeira eleição, era completamente vazia de fundamento, sendo o «reinado» do anterior presidente o mais anti-paz no mundo que jamais existiu, nem sequer sendo favorável aos pobres do seu país, que ficaram em desemprego ou emprego precário, enquanto o seu mandato foi uma benesse para os muito ricos.
Previ, contra todos os vaticínios à minha volta, que o referendo pela saída do Reino Unido iria ser uma enorme derrota para o establishment britânico e da União Europeia. 
Por fim, devido a ter compreendido o porquê da campanha mediática contra Trump, estimei que este tinha reais hipóteses de ser eleito e disse-o em várias ocasiões.
Posso estar errado, mas parece-me que na Europa também, uma «esquerda pós-moderna» arrimada a um modelo de ativismo segundo «campanhas» identitárias, completamente divorciada das classes laboriosas, vai cair na mesma armadilha que a esquerda dos EUA, preparando o terreno para que Marine Le Pen e seus adeptos vençam as eleições.

Se assim fôr, o mais certo é que seremos nós a sofrer na pele as consequências da estupidez de outros!



ERIC SATIE: «LES OISEAUX» + MANUEL BANET: TRANSFIGURAÇÃO E INÉDITOS DE 1987





TRANSFIGURAÇÃO

O azul nascente do céu
Recobre de um véu
O corpo imaterial,
Imenso, imortal,
Do passado e do futuro
Ignoto.


VERSOS TRAZIDOS DE UM POÇO

Eu fui ao fundo do poço,
do poço do meu ser
e trouxe um lírio roxo,
roxo pra me conhecer.

O que pode uma vontade
de ferro em brasa?
Poderá varrer tua vaidade
de ter dos anjos a asa?

Não creio que me iludam
as lágrimas e os suspiros
Pois, quando os ventos mudam,
mudam-se dos meus retiros.
  

OS CORVOS DA MADRUGADA

Corvos brancos do mar
Tendes asas pra voar
No meio da tempestade

E eu, do cais
húmido do desejo
vos vejo, vos oiço...

Ó meus corvos negros
da madrugada!