A IIIª Guerra Mundial tem sido, desde o início, guerra híbrida e assimétrica, com componentes económicas, de subversão, desestabilização e lavagens ao cérebro, além das operações propriamente militares. Este cenário era bem visível, desde a guerra na Síria para derrubar Assad, ou mesmo, antes disso.
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terça-feira, 16 de julho de 2019

A NOVA DROGA SOCIAL

      



Vão considerar talvez, mesmo os meus amigos, que eu estou a ficar «chalupa». Mas, não! Estou absolutamente lúcido e tenho o distanciamento crítico para julgar a adequação do que escrevi em título.

Com efeito, digam-me se não se trata da «perfeita droga»?!
. não se traduz em intoxicação química (haverá apenas a estimulação dos circuitos cerebrais do prazer...),
. tem um custo comportável (preço dum smartphone e dum contrato com conexão à Internet, mesmo para pessoas com fracos rendimentos nos países «ocidentais»), 
. pode ser utilizada em quaisquer momentos e lugares, 
. não é estigmatizada socialmente... 
  
O benefício para as pessoas é ilusório; elas pensam que estão numa esfera «avançada» de comunicações, de contacto com o mundo, etc., porém, na realidade, ficam encerradas num mundo muito mais restrito para interagirem, empobrecido do ponto de vista informacional, sensorial e emocional. 

Como todas as drogas, pode ser considerado um «refúgio», mas pela pessoa adita ou dependente da referida droga... mas, um olhar clínico de alguém exterior ao fenómeno, verá nisso uma fuga à realidade.

As drogas «clássicas», como o cannabis (erva, maconha, hash...), a heroína (e outros opióides), etc., têm efeitos euforizantes ou anestesiantes, consoante as pessoas e as circunstâncias em que são usadas. O mesmo se passa com o smartphone. Com certeza, já tiveram ocasião de ver alguém, na rua ou no metro, ter um comportamento exuberante de alegria ao olhar para a maquineta; ou estar possuído de uma autêntica verborreia, em plena rua ou noutro local público.

As drogas «químicas» (naturais ou sintéticas) - no passado - foram severamente sancionadas e ilegalizadas, pois tinham uma componente anti-social. As pessoas -agora - são estimuladas a usar e abusar da droga smartphone, sem restrições verdadeiras. 

De facto, a sua utilização permite uma perfeita conformidade ao convencionalismo social, não inibe as pessoas de trabalhar e de fazer todas as coisas que mantêm a sociedade a funcionar normalmente. 

Se esta utilização é muito estimulada pelos poderes, deve ser devido a muito mais que um simples efeito de aumento de lucros. 

Embora a publicidade on-line esteja em crescimento (e toda a parafernália de novos softwares e hardwares), a grande vantagem, que quase ninguém vislumbra, é a do controlo
Sim, o controlo a todos os níveis: 
- desde o do comportamento, ao do condicionamento. Ou seja, a auto «injecção» de hormonas condicionando o comportamento, que opera em todos os níveis, com todos os tipos de personalidades, estatutos sociais, idades. 
Quanto ao género, o género feminino parece muito mais «apanhado» pela adição do que o masculino. 

Mas, os estudos sociológicos, descrevendo o comportamento do consumidor típico de Internet móvel, não são difundidos: são guardados e vendidos pelos autores a empresas especializadas em lobotomias electromagnéticas: google, facebooks, etc, estão com certeza  muito cientes de todos estes padrões comportamentais e suas variações: o seu negócio é essencialmente o de vender a atenção do utilizador de smartphone a anunciantes... Também vendem as informações coligidas a agências governamentais, que fazem a armazenagem em massa dos dados, realizando assim a distopia social que Huxley e Orwell anteviram, lúcidos observadores do comportamento humano. 

Só existe um modo eficaz de combater esta epidemia: 
- Ao nível individual, estar fora do alcance dos «phones», ou - pelo menos - apenas os usar, moderadamente, como simples telefones portáteis, como meras ferramentas de comunicação. 
- Além disso, estar interessado em enriquecer o cérebro, a imaginação com o real. Fazer passeios na natureza, olhando as coisas belas, desde o ínfimo, até à grandiosidade de um céu. Ouvir os sons naturais, seja o vento nas folhagens ou as ondas, que deslocam os seixos à beira-mar. 
- Exprimir por escrito, num caderno (com papel e lápis) uma ideia, que pode ser filosófica, ou poética, ou doutra índole, de forma meditada, ou seja, depois de ter longamente reflectido sobre a melhor maneira de exprimir tal pensamento, ou sentimento, de forma clara, elegante, profunda... 
- Ler muito, em silêncio, sem música de fundo, sem outros ruídos que perturbem a concentração, mas ler algo que esteja desejoso em conhecer. Mas pode também ser algo que já tenha lido; uma segunda leitura poderá revelar aspectos que lhe passaram despercebidos, ou reforçar o encanto da primeira leitura. Em todo caso, só ler livros em papel, que são perfeitamente portáteis e não estragam a vista, tanto como os tablets ou smartphones electrónicos.

Tomem consciência e acordem!
- Como em relação a todas as adições, é possível - com força de vontade - domá-la e controlá-la, para não seres escravo desta nova droga!

sábado, 23 de março de 2019

REFLEXÃO: O CONTRÁRIO DO AMOR...

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O contrário do amor não é o ódio, apesar de ser isto que as pessoas geralmente respondem, se lhes perguntarmos qual o oposto semântico de amor.

O oposto do amor é a indiferença. 
Embora pareça estranho que não seja o ódio ou o desamor, de facto, não é: ódio e desamor são, muitas vezes, consequência de um desespero de amor, de um amor não correspondido, ou de alguém se sentir despeitado/a.

Ora, a nossa sociedade contemporânea tem muito ódio escondido, muito desamor reprimido, porém muito pouca manifestação genuína de amor, em todos os sentidos da palavra.
Parece que a civilização do consumo e da mercadoria recalca (ou extirpa?) aquilo há de mais humano no ser humano, a empatia e a compaixão. 
Falta empatia e assim coexistem bairros de lata ao lado de condomínios de luxo. Falta empatia e as pessoas passam  por pedintes ou sem abrigo, nas ruas mais comerciais de capitais dos países afluentes com total indiferença, sem verem, sem notarem. Falta empatia; porém, as pessoas «emocionam-se» com algo que vêem nos pequenos ecrãs e até se «mobilizam», solidárias com causas distantes, a muitas centenas ou milhares de quilómetros.

A questão importante e prévia, é saber:
- Será inevitável esta mudança comportamental individual e colectiva, correlacionada com a progressão (que não progresso) da civilização tecnológica, que satura os indivíduos com bens materiais, enquanto os esvazia de empatia autêntica, de densidade humana, de espiritualidade? 
- Ou será possível reverter isso?
Na hipótese de que será possível essa reversão, como é que se pode conceber que tal aconteça? Quais os aspectos fundamentais, que a tornarão possível? 

Não sei, mas no caso de haver saída disto tudo, ela terá que ser não compatível com os valores desta sociedade, portanto em ruptura com os mesmos. Que esta ruptura seja brusca ou suave, não posso adivinhá-lo. 
Mas, aquilo que sei, é que este estado de coisas piora a humanidade em todos os aspectos, desde a dignidade das pessoas (individualmente tomadas), até ao próprio sentido da vida (na sua dimensão global e social). 

E a indiferença, então? Sim, o contrário do amor, que fazer dela, no meio disto tudo? 
- Creio que, na verdade, as pessoas mascaram de indiferença, fingem não ver, aquilo que lhes causa medo, pavor: o facto de se ver um sem-abrigo causa pavor, na medida em que - lá no fundo - se teme que isso nos possa acontecer. Uma tal eventualidade é vista como o atingir da degradação última.
A indiferença é então sinónimo de medo, de intimidação, de estar em «denegação», até mesmo, duma forma atenuada de esquizofrenia.  
A «arma» que o amor pode usar, é mostrar que não há que ter medo, que podemos abordar as questões por outro ângulo, aquele que - justamente - a media corporativa e todos os pregadores de moral se esforçam por não nos mostrar. 
Este ângulo é o seguinte: tudo tem uma ou várias causas, tudo tem a sua origem. Sabendo-se qual ou quais as causas, temos meio-caminho andado para as extirpar. O outro meio-caminho, será o procurar meios adequados para esse fim.

Todas as pessoas que sofrem e têm medo, no fundo, anseiam libertar-se desses males. 
A sua libertação passa por uma auto-educação, pelo seu apoderamento, mas tal só é viabilizado se estiverem construindo, em simultâneo, novas formas de estar e de conviver. 
Os novos valores, ou a reafirmação e plena compreensão de valores ancestrais, terão de emergir, na negação dialéctica dos quadros mentais que nos foram impostos.   

domingo, 18 de novembro de 2018

NÓS, OS PEQUENOS DEUSES (nº1)

Chegámos ao cúmulo da contradição capitalista. A contradição não significa que ele esteja em vésperas de se desmoronar. Com efeito, não é um regime ou um edifício que se poderia simplesmente derrubar ou desmontar, mas antes um modo de produção, algo que penetra em todos os «poros» da sociedade. 
Seria um trabalho gigantesco e completamente fora das minhas forças retraçar a história da humanidade desde os seus primórdios, até aos nossos dias. Outros o fizeram e seus grandes frescos tornaram-se obsoletos, em pouco tempo. Aliás, assiste-se hoje à constante renovação de conceitos e noções na História, em particular da História dos povos sem escrita mas, igualmente, em novas abordagens do passado mais recente. 

Porém tento, através de um olhar de biólogo, esclarecer alguns aspetos da questão. 
O fenómeno antropológico mais notório, na minha perspetiva, é a sobredimensão da intervenção humana nos ecossistemas. 
Ela teve efeitos catastróficos já desde muito cedo, nos tempos do Neolítico, em que imensas florestas foram simplesmente queimadas para dar lugar a solos agrícolas. No entanto, a tendência depredadora acentuou-se nos últimos cem ou duzentos anos, por comparação com os dez ou doze mil anos desde o neolítico. Houve uma real transformação em todos os ecossistemas e no ecossistema planetário. O fenómeno atingiu um novo patamar, em que os mecanismos essenciais para a renovação dos equilíbrios naturais deixam de funcionar. 
Por outras palavras, assiste-se a uma catástrofe de grandes dimensões e gravidade para a própria existência da humanidade enquanto tal, para a existência de civilização. 
Mas, isso deixa indiferentes grandes e pequenos, poderosos e humildes, mesmo que - no fundo - o saibam. 
Escudam-se numa atitude fatalista - «é assim, é verdade, mas nada de significativo podemos fazer para inverter a marcha» - ou numa denegação - «haverá sempre saída, uma transformação pela tecnologia, que resolverá esses problemas». Ambas as atitudes mentais fornecem o alibi para as pessoas continuarem a consumir e a sacrificar ao deus do dinheiro a melhor parte das suas vidas.  

A existência de uma enorme força entrópica, destruidora, devido à atividade humana, tem sido expulsada para as margens do sistema. O sistema não nos parece entrópico, pois nele estamos banhados e visto que a entropia aumenta, não no nosso entorno imediato, mas nas suas margens. Por margens, aqui, entenda-se os ecossistemas naturais e o seu funcionamento, cada vez mais defeituoso, ao ponto de que certas partes experimentam degradações irreversíveis; extinção de espécies em escala semelhante à de outras grandes extinções geológicas, a contaminação dos oceanos e dos solos com todo o tipo de poluentes, pondo em risco a manutenção da própria vida em geral . 
Mas também, o caos/entropia tem sido relegado para uma marginalização dos próprios humanos nas sociedades; a indiferença do chamado «Primeiro Mundo» à crescente pauperização nos «Terceiro e Quarto Mundos». Na própria periferia das sociedades ditas afluentes, reproduz-se esse fenómeno, um número crescente de pessoas que não têm o suficiente para sustentar uma vida digna, cujas vidas foram destroçadas pelo desemprego, a violência social e moral, com o seu cortejo de sequelas, o alcoolismo, as drogas, etc... Estas pessoas são simplesmente «ignoradas», enquanto as restantes continuam nas suas atividades, no seu quotidiano. 

No próprio interior dos indivíduos, esconde-se o medo, o medo de ser excluído, de não corresponder ao padrão de exigência que se impõe a todos, através duma norma social não escrita. 
Observa-se o crescimento das neuroses e psicoses, além de novas patologias sociais, com a criação e reforço de todo um conjunto de reflexos ou padrões comportamentais: 
- A excessiva preocupação com a estética pessoal, a formatação mental completa por imersão em «lixo informativo», em videojogos que mergulham as pessoas em universos ficcionais, uso aditivo e compulsivo de telemóveis, etc. Estas novas patologias, somam-se às mais «tradicionais» frequentemente, num mesmo indivíduo.
Em tal sociedade, o «ecossistema interno» dos indivíduos, à imagem do ecossistema exterior em que estão inseridos, acaba por se tornar disfuncional, em todos os planos: na psique, nos afetos, na mente, na razão, no senso moral, na ética. 

A mais vulgar reação, quando as pessoas se apercebem de que «qualquer coisa vai mal» é apelarem para um sistema de explicação mítica global, seja duma religião organizada no sentido tradicional, ou outro sistema de crenças sem explícita referência ao divino, como as ideologias. Assim, libertam-se de parte das suas angústias, mas à custa da perda da sua auto-determinação, da sua capacidade de examinar livre e maduramente as causas dos males que as afligem.
As pessoas, cujas vidas se tornaram horrivelmente solitárias e depressivas, vão procurar satisfação e proteção em grupos «tribais»: por exemplo, os grupos de adeptos dos clubes de futebol (as claques), onde partilham símbolos, mitos, cerimónias religiosas, comportamentos ritualizados, etc.  
Mas também se pode verificar os mesmos reflexos noutras tribos urbanas, desde grupos de afinidade partilhando espaços e um modo de vida alternativo, até aos gangs de delinquentes, ou grupos paramilitares neonazis.
Todas estas pseudorespostas, são afinal tentativas não conscientes de superar  simbolicamente o que há de disfuncional em suas vidas, no seu sentir e pensar.

Há uma evidência, que todos os poderes se esforçam por ocultar: São, justamente,  as condições dessa violência disseminada por toda a sociedade, que permitem a continuidade e reforço da exploração. 
Os fenómenos, individuais ou sociais, acima mencionados, são consequência dessa tal violência social surda, dessa exclusão de um estatuto de cidadania real e da dignidade humana na sua plenitude, em milhões de indivíduos. 

O medo é o principal factor «organizador» desta sociedade. 
As pessoas encontram-se - sem perceberem porquê, nem como - isoladas, sem vínculos, sem trabalho regular, sem reais hipóteses de melhorar.  
A escola tem como função fazer com que a maioria se resigne a essa marginalização, tem como função criar o fracasso, o insucesso. A interiorização do fracasso é condição para a manutenção das desigualdades sociais, para a imposição da exploração.




terça-feira, 26 de dezembro de 2017

O «ADMIRÁVEL MUNDO NOVO» DA AI

AI (Artificial Inteligence; Inteligência Artificial) é um assunto que constantemente assola o público, cativando-o pelo fascínio de uma futurologia baseada em romances de ficção científica. Mas os elementos mais evidentes dessa AI e das suas aplicações são bem visíveis e banais, no presente, com os algoritmos de busca e de captação das preferências individuais de milhões (ou milhares de milhões) de  pessoas que utilizam quotidianamente os motores de busca na Internet, as redes sociais, como nos diz, na conferência TED, a socióloga Zeynep Tufecki.
Mas serão estas ações inócuas? Que estrutura está sendo construída?
- Vejam o vídeo abaixo: