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segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

O TERRAMOTO, NA FILOSOFIA, NA TEOLOGIA E NAS ARTES

Vem esta crónica a propósito da exposição «anatomia de uma pintura» (1) que está em exibição no Museu Nacional de Arte Antiga.  

                                  

Esta pintura do célebre pintor da época, João Glama (c.1708-1792), descreve a sua memória do que presenciou; é o melhor testemunho directo, visto que não existia fotografia, nem registo sonoro, apenas os esquissos de artistas poderiam dar conta, para as gerações futuras, da catástrofe e das suas consequências.

                      

Para além do momento, para além da geografia, este terramoto, marcou uma ruptura. 
Por essa altura, a intelectualidade erudita da Europa, aquela que «pensava o mundo», estava envolvida em polémica, uma guerra de ideias. 
Os autores libertinos de espírito, mais ou menos deístas (como Voltaire) ou mais ou menos ateus (como Diderot), esgrimiam-se contra a Igreja católica e contra a religião instituída, em geral. 
Tudo servia como argumento para destronar as visões teológicas de uma «Causa Divina» ou «Providência», para os acontecimentos deste mundo. 
Voltaire difundia, nos seus panfletos, a ideia de que Deus fez o mundo, como uma máquina, dotada de leis maravilhosas e simples, como ensinara Newton, mas não se inquietou em o manter em funcionamento (a metáfora do Grande Relojoeiro). 
Outros, clandestinamente, tentavam provar que não existia Deus, que o Universo se poderia explicar simplesmente pelas forças materiais e pela conjugação dos átomos, retomando o modelo do atomismo grego (Demócrito) e tentando demonstrar que não é necessária a hipótese de Deus para compreender o mundo, que todos os fenómenos tinham uma causa natural.
Aquando do Terramoto de Lisboa, acontecimento terrível que parecia castigar sem piedade um reino inteiro e sua população, logo saltaram os habituais predicadores da moral dizendo que se tratava de um castigo, da «Providência divina». 
Nessa ocasião, a crença em Deus ainda estava profundamente ancorada nas mentes da pessoas. Não era como agora, em que acreditar em Deus e afirmá-lo é quase um acto heróico, pelo menos em certos meios. 

Leibniz salvaguardava Deus no concerto universal, afirmando que tudo estava feito desde o início, segundo «o melhor dos mundos possíveis», projectando a Providência divina para a eternidade, pelo que aquilo que nos pareciam crueldades e imperfeições da Natureza, na realidade, não o eram, mas apenas consequências, fenómenos inevitáveis da divina obra global, mas cujo plano e desígnio estavam para além da humana compreensão.
O debate entre filósofos centrava-se em torno da questão de saber se existia, ou não, uma «divina providência» e o terramoto de Lisboa serviu como argumento, pela impressão profunda de horror, de absurdo existencial («avant la lettre» !) que se desprendia de tal destruição. 
Não! A Natureza, nem sempre era boa e generosa, também era capaz de - num instante - destruir vidas inocentes, de riscar povoações inteiras do mapa, transformar em montão de ruínas as cidades mais formosas.

Carlos Maria Bobone escreveu um artigo (2) bastante aprofundado, muito legível, sobre esta relação do debate filosófico no século das luzes com o grande terramoto de Lisboa de 1755.

Embora de um período mais tardio ( cerca de 1790), a peça para órgão de Mozart (3), pode ilustrar este tema, pela profundidade trágica que emana dos seus acordes.


    
  

Mozart era mação, tinha uma visão da Divindade  como «O Grande Arquiteto». Deixou-nos, além dessa obra-prima imortal, A Flauta Mágica, algumas obras abertamente maçónicas, destinadas a lojas que frequentava. 
Viena dessa época era tanto mais tolerante para com a maçonaria, que ela estava imiscuída nas mais altas esferas do poder político. 
Porém, Mozart não renegou o catolicismo; deixou-nos muita música sacra em conformidade com o rito católico, de profunda inspiração espiritual.



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(1) http://www.museudearteantiga.pt/exposicoes/anatomia-de-uma-pintura

(2) http://observador.pt/especiais/terramoto-de-1755-a-tragedia-que-arrasou-lisboa-e-tambem-mudou-o-mundo/

(3) https://www.youtube.com/watch?v=Q9WHeha80RA

quinta-feira, 23 de novembro de 2017

A FLAUTA MÁGICA [excertos e comentários]

                                 


A«Flauta Mágica» é muito exigente no plano musical, necessita de: 
- Um grande rigor e clareza de articulação, que ajudem a compreender as palavras do texto, coisa que me parece sempre desejável. 
- No plano instrumental, a interpretação deve ser igual ao valor dos cantores. Desde a Abertura até cada ária acompanhada,  tudo deve ser servido por uma excelente orquestra.

Mozart merece o melhor. Pela minha parte, não me canso de prestar ouvido atento às suas composições: Ao seu excelente sentido melódico, aliado de uma grande frescura expressiva! O seu sentido do humor e uma densidade humana inegável... enfim, um montão de qualidades. 
Porém, há certamente razões pessoais para eu ter uma adoração especial pela «Flauta Mágica», maior que qualquer outra obra, por mais genial que seja.
Esta obra, por sinal, é inesgotável: sim, podemos relacioná-la com uma simbologia maçónica, apenas velada; sim, podemos dizer que está na origem da ópera germânica propriamente dita; e sim, esta obra pode ser lida a vários níveis. Mas é inesgotável, podemos ouvi-la sempre com prazer!

Sempre me acompanhou, na minha vida: posso dizer que constitui um «refúgio»... mas refúgio de quê? - Da fealdade e da estupidez...
... Retemperado pelos acordes solenes ou esfuziantes da «Zauberflöte», fico em muito melhor condição para os «monstros» que tenho de enfrentar, às vezes ! 

sábado, 14 de outubro de 2017

«LACRIMOSA» - REQUIEM DE MOZART


Wolfgang Amadeus Mozart - Requiem, K. 626 - Lacrimosa Claudio Abbado, maestro, com a orquestra do festival de Lucerna e
Coro da Rádio da Baviera e
Coro da Rádio Sueca
Concerto gravado no festival de Lucerna, em Agosto 8, 2012.

sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

QUARTETO «DISSONÂNCIAS» DE MOZART

Este é um dos quartetos dedicados ao seu amigo e colega Hadyn. 

A peça explora a dissonância, discursando em todo o esplendor das sonoridades graves (violoncelo) e das contrastantes cordas agudas, numa réplica optimista, como quem diz... "afasta os maus pensamentos e olha a beleza da Natureza!" 
Sim, parece mesmo ser isso que esta música me transmite. Uma filosofia de vida, cheia de sereno optimismo, em face das mais penosas ou menos felizes ocasiões das nossas vidas.
Estas cordas que «falam ao coração», são um discurso pleno de sentido, dos sentidos que naturalmente se enunciam com esta naturalidade divinal do génio mozartiano.   


                            



Não existe, porventura, algo mais transcendente, que eu conheça, em toda a literatura para quarteto de cordas. 
Para mim, este quarteto ressoa de modo muito particular pois me acompanhou desde os tempos da minha juventude. Costumava colocar o disco vinil no gira-discos, quando sentia necessidade de me revigorar, de espantar ideias pessimistas, de tomar coragem e seguir em frente.
Parece difícil de transmitir a beleza e a força da música clássica? Creio que não, creio que as pessoas que se dão ao trabalho de escutar, não apenas ouvir, verão que merece a atenção prestada. 

quarta-feira, 26 de outubro de 2016

HOJE, COMO SEMPRE ... MOZART!


Mozart - Piano Concerto No. 21 in C, K. 467 







Perante a estupidez humana, não há nada a fazer, senão observar com nostalgia as raras instâncias em que o espírito humano se uniu com a divindade e ser paciente.

Na época em que vivemos, a loucura suicida dos humanos excede tudo o que se possa dizer ou pensar. Só resta o refúgio da arte. Para mim este refúgio ainda existe, espero sinceramente que possa abrigar também o leitor/auditor.

A alegria, a tristeza, o entusiasmo e a nostalgia, tudo isso se exprime de dentro destas notas musicais que Mozart nos legou.

Serei parcial, mas paciência... Nunca - penso eu - a música terá atingido cumes mais altos que nas obras do mago de Salzburgo.

O que distingue o génio, do simples engenho?

- A música transporta em si sentimentos, para além das óbvias sensações auditivas. Ou seja, a música é moral. Não se limita a sensações físicas. Então, o génio consegue transportar-nos para um universo de sentimentos e não apenas nos transmite sensações físicas. 
Porém, uma música que apenas resulta do engenho, pode transmitir sensações muito prazenteiras; mas não passa disso...