Muitas pessoas aceitam a situação de massacres de populações indefesas em Gaza e noutras paragens, porque foram condicionadas durante muito tempo a verem certos povos como "inimigos". Porém, as pessoas de qualquer povo estão sobretudo preocupadas com os seus afazeres quotidianos e , salvo tenham sido também sujeitas a campanhas de ódio pelos seus governos, não nutrem antagonismo por outro povo. Na verdade, os inimigos são as elites governantes e as detentoras das maiores riquezas de qualquer país. São elas que instigam os sentimentos de ódio através da média que controlam.

terça-feira, 5 de dezembro de 2023

LÉO FERRÉ : «PAUVRE RUTEBEUF»

«Rutebeuf» (ca. 1245 - 1285) é um pseudónimo derivado de «Rudebœuf» (boi vigoroso), que o próprio poeta utiliza na sua obra.
Era provavelmente originário da província de Champagne (descreve conflitos em Troyes, em 1249), mas viveu a maior parte da sua vida adulta em Paris. Ele era clérigo, ou seja, alguém que fez estudos, os quais preparavam, não apenas para funções eclesiásticas, como para funções laicas diversas. 
A sua obra rompe com a tradição cortesã dos trovadores do Norte (ou "trouvères"). É uma obra diversificada, que inclui poemas hagiográficos (vidas de santos) e obras de teatro, assim como poemas polémicos e satíricos, dirigidos contra os poderosos do seu tempo. É excecional - para produções daquela época - que subsistam 56 manuscritos originais dos seus poemas.
Rutebeuf foi um dos primeiros autores a falar na primeira pessoa na sua obra. É o caso do célebre poema «Complainte de Rutebeuf» ou «Pauvre Rutebeuf», adaptado e musicado por Léo Ferré. Esta peça, que podemos traduzir como «O lamento de Rutebeuf» faz parte da recolha dos «Poemas do Infortúnio».


Transponho abaixo uma versão modernizada do poema que se encontra em Poesie.net 


Que sont mes amis devenus
Que j'avais de si près tenus
Et tant aimés
Ils ont été trop clairsemés
Je crois le vent les a ôtés
L'amour est morte
Ce sont amis que vent me porte
Et il ventait devant ma porte
Les emporta

Avec le temps qu'arbre défeuille
Quand il ne reste en branche feuille
Qui n'aille à terre
Avec pauvreté qui m'atterre
Qui de partout me fait la guerre
Au temps d'hiver
Ne convient pas que vous raconte
Comment je me suis mis à honte
En quelle manière

Que sont mes amis devenus
Que j'avais de si près tenus
Et tant aimés
Ils ont été trop clairsemés
Je crois le vent les a ôtés
L'amour est morte
Le mal ne sait pas seul venir
Tout ce qui m'était à venir
M'est advenu

Pauvre sens et pauvre mémoire
M'a Dieu donné, le roi de gloire
Et pauvre rente
Et droit au cul quand bise vente
Le vent me vient, le vent m'évente
L'amour est morte
Ce sont amis que vent emporte
Et il ventait devant ma porte
Les emporta

  Rutebeuf (1230-1285)
Adaptation en Français moderne
de la Griesche d'Hiver.

 

Penso que os dois versos finais* da canção "Pauvre Rutebeuf" são de Léo Ferré, mas não tenho a certeza:

*) L'espérance de lendemain  /  Ce sont mes fêtes


2 comentários:

Manuel Baptista disse...

Anteriores artigos sobre Leo Ferré, neste blog:

https://manuelbaneteleproprio.blogspot.com/2023/11/arthur-rimbaud-par-leo-ferre-chanson-de.html

https://manuelbaneteleproprio.blogspot.com/2023/09/baudelaire-por-leo-ferre.html

https://manuelbaneteleproprio.blogspot.com/2023/01/les-corbeaux-arthur-rimbaud-leo-ferre.html

https://manuelbaneteleproprio.blogspot.com/2022/01/catherine-sauvage-blues-cancao-de-leo.html

Manuel Baptista disse...

A interpretação de Joan Baez é notável de qualidade:
https://www.youtube.com/watch?v=G77uaLh6XdA