sexta-feira, 25 de dezembro de 2020

[OBRAS DE MANUEL BANET] OS ASTROS, INDIFERENTES

                 



Os astros, indiferentes, olham para a Terra

Desde suas órbitas e dialogam uns com os outros.

Na conversa, ritmada pelos rodopios dos planetas,

Lançam, entre si, meteoros, ondas magnéticas.

Assim, trocam argumentos e pontos de vista

E, que dizem eles:


- Nada mais cómico do que ver a humanidade, estas formigas que se tomam por deuses: Estão tão convencidas da sua importância, que julgam que nós existimos para elas e suas paixões! Estão convencidas que os nossos percursos no espaço são apenas sinais de aquilo que os preocupa!

- É realmente cómico verificar que os desta espécie, incompletamente amadurecida, têm constantes atitudes de total irracionalidade e - no entanto - se auto-intitulam de «animais racionais». 

- Mas, não se ficam por aí pois, no meio das desgraças, ainda têm energia para fabricar narrativas míticas onde deuses (nós!) se iriam imiscuir nas suas vidas de térmitas, de formigas, de bactérias...

- Sua soberba não tem paralelo, a não ser com a sua parcialidade. Consoante estejam a favor ou contra alguma nação, ou algum grupo dentro dela, designarão tal grupo ou nação de «bom» ou «mau», «justo» ou «pecador», «progressivo» ou «reaccionário». Enfim, seus juízos são sempre absurdos e sem qualquer justiça. 

- Gostam de revestir-se dos mantos da legalidade e das leis. Deste modo, com esses mantos ilusórios, designam o «bode expiatório», do momento. Graças essa capa, vão cometendo os piores massacres e barbaridades, sempre com boa consciência. 

- Não aprendem nada, pois vão repetindo até ao infinito as piores travessuras e os erros mais graves, cometidos ao longo da sua história. Têm conhecimento do passado, conhecem mesmo as causas das suas desgraças passadas. Mas têm uma doença estranha - amnésia social e colectiva. Basta uma geração, para que repitam os mesmíssimos erros do passado, que conhecem e às suas nefastas consequências.

- Que erijam alguns de sua tribo em profetas salvadores, nas suas variadas religiões, não surpreende por aí além. O que surpreende é que façam tudo para transgredir os ensinamentos e mandamentos das mesmas, e dos seus profetas respectivos. Então, que sentido faz adorarem esses profetas, esses ditos mensageiros dos deuses ...

Assim dialogam entre si os Corpos Astrais que sulcam o Cosmos, deveras divertidos com a grotesca farsa que os humanos representam, milénio após milénio, atribuindo as «culpas» aos astros, aos deuses ou às «forças malignas»!

Claro, eles próprios, humanos, causam suas desgraças, seus fracassos e infortúnios. Mas a sua vaidade e egoísmo tem de os «isentar» - a todo o custo - de se verem eles próprios ao espelho de sua consciência!!!

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Murtal, 25 Dez. 2020

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