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quinta-feira, 9 de janeiro de 2020

[Manlio Dinucci] A China e não só o Irão, sob fogo no Médio Oriente

[Nota de Manuel Banet: também Federico Pieraccini refere a importância do papel da China, que explicaria a decisão, do «Estado profundo» americano, de assassinar Soleimani. Mas, Pieraccini refere também que o primeiro-ministro do Iraque estava a ser fortemente pressionado por Trump devido a ter adjudicado a reparação da rede eléctrica iraquiana aos chineses. Incapaz de conter o deslizar em direcção à China do Irão, Iraque, Síria, e até a Turquia e a Arábia Saudita, Washington opta por semear o caos na região, que já não consegue dominar]
                         

FRANÇAIS ITALIANO PORTUGUÊS
O assassínio do General iraniano Soleimani autorizado pelo Presidente Trump desencadeou uma reacção em cadeia que se propaga para além da região do Médio Oriente. Esse objectivo estava nas intenções daqueles que decidiram esse acto. Soleimani estava sob a mira dos Estados Unidos há muito tempo, mas os Presidentes Bush e Obama não haviam autorizado a sua morte. Por que é que o Presidente Trump o fez? Há vários motivos, incluindo o interesse pessoal do Presidente em salvar-se do ‘impeachment’, apresentando-se como um firme defensor da América diante de um inimigo ameaçador. O motivo fundamental da decisão de assassinar Soleimani, tomada pelo ‘Estado Profundo’ antes da Casa Branca, deve ser procurado num factor que se tornou crítico para os interesses dos EUA só nos últimos anos: a progressiva presença económica chinesa, no Irão.
O Irão desempenha um papel de primeira importância na Nova Rota da Seda, lançada em Pequim em 2013, numa fase avançada de realização: ela consiste numa rede rodoviária e ferroviária entre a China e a Europa através da Ásia Central, do Médio Oriente e da Rússia, combinada com uma rota marítima através do Oceano Índico, do Mar Vermelho e do Mediterrâneo. Para as infraestruturas rodoviárias, ferroviárias e portuárias em mais de 60 países, estão previstos investimentos de mais de 1 trilião de dólares. Neste contexto, a China está a efectuar um investimento no Irão, de cerca de 400 biliões de dólares: 280 na indústria petrolífera, do gás e da petroquímica; 120 em infraestruturas de transporte, incluindo oleodutos e gasodutos. Prevê-se que estes investimentos, realizados num período de cinco anos, sejam renovados sucessivamente.
No sector energético, a China National Petroleum Corporation, sociedade de propriedade estatal, recebeu do governo iraniano um contrato para o desenvolvimento da jazida ‘offshore’ de South Pars, no Golfo Pérsico, a maior reserva de gás natural do mundo. Além do mais, juntamente com outra empresa chinesa, a Sinopec (três quartos da mesma são propriedade estatal), está empenhada em desenvolver a produção dos campos petrolíferos de West Karoun. Desafiando o embargo USA, a China está a aumentar as importações de petróleo iraniano. Ainda mais grave para os USA é que, nesses e noutros acordos comerciais entre a China e o Irão, prevê-se o uso crescente do renminbi chinês e de outras moedas, excluindo cada vez mais o dólar.
No sector dos transportes, a China assinou um contrato para a electrificação de 900 km das linhas ferroviárias iranianas, como parte de um projecto que prevê a electrificação de toda a rede até 2025 e, provavelmente, também assinará um para uma linha de alta velocidade de mais de 400 km. As linhas ferroviárias iranianas estão ligadas à estrutura ferroviária de 2.300 km que, já a funcionar entre a China e o Irão, reduz o tempo de transporte de mercadorias para 15 dias, contra os 45 dias de transporte marítimo. Através de Tabriz, grande cidade industrial no noroeste do Irão - de onde parte um gasoduto de 2.500 km que chega a Ancara, na Turquia - as infraestruturas de transporte da Nova Rota da Seda, poderão alcançar a Europa.
Os acordos entre a China e o Irão não pressupõem componentes militares, mas, segundo uma fonte iraniana, para proteger as instalações serão necessários cerca de 5.000 guardas chineses contratados pelas empresas construtoras para os serviços de segurança. É significativo também o facto de que, no final de Dezembro, ocorreu no Golfo de Omã e no Oceano Índico, o primeiro exercício naval entre o Irão, a China e a Rússia.
Neste contexto, está claro por que razão, em Washington, foi decidido o assassínio de Soleimani: foi deliberadamente provocada a resposta militar de Teerão para reforçar o controlo sobre o Irão e poder atingi-lo, afectando o projecto chinês da Nova Rota da Seda, ao qual os USA não conseguem contrapor-se no plano económico. A reacção em cadeia desencadeada pelo assassínio de Soleimani também envolve a China e a Rússia, criando uma situação cada vez mais perigosa. 

il manifesto, 9 de Janeiro 2020






DECLARAÇÃO DE FLORENÇA
Para uma frente internacional NATO EXIT, 
em todos os países europeus da NATO


Manlio DinucciGeógrafo e geopolitólogo. Livros mais recentes: Laboratorio di geografia, Zanichelli 2014 ; Diario di viaggio, Zanichelli 2017 ; L’arte della guerra / Annali della strategia Usa/Nato 1990-2016, Zambon 2016, Guerra Nucleare. Il Giorno Prima 2017; Diario di guerra Asterios Editores 2018; Premio internazionale per l'analisi geostrategica assegnato il 7 giugno 2019 dal Club dei giornalisti del Messico, A.C.

Tradutora: Maria Luísa de Vasconcellos 
Webpage: NO WAR NO NATO