No recente artigo da jornalista independente Caitlin Johnstone, é dissecada aquela que -porventura- será a falácia mais comum, ou seja, um argumento que, não sendo válido, é apresentado como sendo, numa discussão. Se eu digo que «determinada informação ou opinião é inválida porque foi proferida por X (sendo X uma pessoa, ou uma entidade)» estou, na realidade a fugir a analisar e discutir o conteúdo dessa mesma informação ou opinião, estou desviando a atenção para um julgamento de valor sobre o emissor da mesma: neste exemplo, descreveria X como alguém 'com interesse em fazer a propaganda de um dado ponto de vista', ou X como alguém 'sem qualificações para emitir juízos sobre a matéria em causa', etc...
Este tipo de falácia chama-se «ad hominem», porque vai argumentar contra o emissor da opinião ou argumento, não contra o seu conteúdo. Não precisa ser um insulto, propriamente, pode ser uma recusa simples de discutir algo, só porque vem de determinada pessoa, de determinada fonte, de certo jornal, de certa corrente partidária, etc.
Na realidade, os políticos e as pessoas que passam por opinadores, especialmente neste Portugalzinho de «brandos» costumes, estão constantemente a fazer esse erro, a cometer esta falácia. Assim, costumam «argumentar», perante a opinião contrária, simplesmente emitindo um juízo de valor sobre quem (a pessoa ou a instituição) a emite: um apontar a dedo, que eles esperam fazer passar por argumento junto dum público apressado e pouco esclarecido nestes «truques». Assim, eles dão, a um certo número na audiência, a ilusão de que estão a debater a sério, seja que assunto for.
Como aconselha Caitlin Johnstone, a réplica a este tipo de ataques, não consiste em fazer como quem nos ataca desta forma, mas antes desmontar a falácia.
Mas é necessário que o público, não só os protagonistas, esteja consciente do seguinte:
Certas pessoas ou entidades, ao fazer passar por argumento, aquilo que na realidade é um ataque «ad hominem» estão a ser extremamente autoritárias, estão a desprezar o outro (como se alguém não tivesse direito a ter seus próprios pontos de vista) e a desprezar a audiência, o público. Com efeito, quem faz esse tipo de falácia nos debates, julga que o público é tão ignorante ou estúpido que engole estas acrobacias verbais, como se fossem argumentos reais e com interesse para o tema em debate.
Nota-se este comportamento em todo o espectro político e ideológico. Nota-se nos canais de media «mainstream» e também, em canais de media «alternativos».
O facto de ser tão banal, torna esta falácia ainda mais perigosa, pois ela surge como «natural», como «pecadilho».
Na verdade, não o é: porque, como refiro acima, é autoritária; exclui o debate; torna impossível qualquer diálogo; impossibilita que se vá ao cerne de um assunto; transforma um debate de ideias, num juízo sobre pessoas e virtudes ou pecados das mesmas. No fundo, é uma recusa em dialogar, não explicitamente assumida, uma hipócrita forma de rebaixar eventuais opositores.
Revela uma grande instabilidade e insegurança por parte de quem assim procede pois, quem está seguro dos argumentos que defende, não teme discuti-los.
Pelo contrário, quem teme o debate, esconde-se atrás de falácias. A mais corriqueira destas falácias consiste em «por em causa» o portador do argumento e não o argumento em si mesmo.
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