Alvejar
Manifestantes Palestinianos Desarmados «Preserva os Valores de Israel»
PHILIP
GIRALDI • 21 de Maio, 2019
A imagem
pública de Israel, apoiada e propagada por uma rica e poderosa diáspora que tem
um controlo significativo sobre a media, insiste em que o país é a única
democracia no Médio Oriente, que opera em termos legais para todos os seus
cidadãos e que o seu exército é «o mais moral do mundo». Todas estas afirmações
são falsas. O governo de Israel favorece os cidadãos Judeus através de leis e
regulamentos que são definidos pela religião. De facto, identifica-se a si
próprio como o Estado dos Judeus com os cidadãos Cristãos e Muçulmanos tendo um
estatuto de segunda classe. O exército de Israel, entretanto, tem cometido
numerosos crimes de guerra contra populações civis largamente desarmadas, nos
passados setenta anos, tanto no Líbano como contra palestinianos na Margem
Ocidental e em Gaza.
Em resposta
à Grande Marcha pelo Retorno do ano passado, em que civis de Gaza protestaram
junto da vedação que os separa de Israel, os «snipers» do exército de
Israel alvejaram mortalmente 293 palestinianos e
feriram mais de sete mil. Outros vinte e dois mil foram atingidos por outras
armas usadas pelos israelitas, o que inclui os recipientes de disparos de
gases lacrimogéneo e balas de borracha. Os números incluem centenas de crianças
e de pessoal médico de primeiro socorro, que tentavam ajudar os feridos, os
quais foram - segundo os relatos – particularmente alvejados.
As Nações
Unidas relataram que muitos foram alvejados nas pernas, o que o exército de
Israel considera como “contenção” de sua parte. Muitos dos
feridos irão ter de ser amputados porque Gaza carece de meios
médicos necessários para tratar as suas feridas de forma apropriada. Israel
bombardeou hospitais e bloqueou a importação de aparelhos médicos em Gaza ao
mesmo tempo que não permitia que os habitantes de Gaza saíssem do enclave para
tratamento médico noutro sítio, no Médio Oriente.
Cento e
vinte amputações já foram realizadas este ano. Jamie McGoldrick, o Coordenador
Humanitário da ONU para os Territórios Ocupados explicou que “Existem 1700
pessoas com necessidade de cirurgias graves, complicadas, para que possam voltar
a andar… [exigindo] muito séria e complexa cirurgia com reconstrução óssea
durante um período de dois anos, antes de poderem começar a fase de
reabilitação.”
As Nações
Unidas gostaria de fornecer 20 milhões de dólares para assistência médica, em
vez de amputações, mas os EUA recusaram apoiar este financiamento de emergência
para os palestinianos através da agência de auxílio da ONU (UNRWA), uma posição
presumivelmente tomada para favorecer Israel em punir o povo palestino.
Interessantemente,
voltou à superfície um documento arrepiante descrevendo o ponto de vista do
Exército de Israel em relação a alvejar manifestantes árabes. Há um ano, o
ex-diplomata britânico Craig Murray publicou no seu blog, “Condemned By Their Own Words (Condenados pelas suas
próprias palavras)”, que fornecia uma tradução do hebreu para inglês
da transcrição de uma emissão de rádio israelita que tinha sido
efectuada a 21 de Abril. Um brigadeiro-general israelita, chamado Zvika Fogel,
estava a responder a notícias de ter sido morto um rapaz de catorze anos,
desarmado, pelos soldados. Ele explicou em detalhe, que os soldados estão a
fazer a coisa certa ao alvejarem e matarem palestinianos que se aproximam da
barreira separando Gaza de Israel.
Os
comentários do general Fogel são representativos do ponto de vista do governo
sobre como controlar o «problema palestiniano». Apenas os direitos dos judeus,
incluindo o direito à vida, são legítimos e os árabes deveria estar gratos por
aquilo que o Estado dos Judeus lhes permite ter.
Fogel respondeu ao entrevistador Ron Nesiel à primeira pergunta “Deveria o IDF [exército de Israel] repensar o uso de snipers?” dizendo que “Qualquer pessoa que se aproxima da vedação, qualquer pessoa que pudesse ser uma ameaça futura à fronteira do Estado de Israel e seus residentes, deveria pagar o preço dessa violação. Se aquela criança ou qualquer outra pessoa se aproxima para esconder aí um engenho explosivo ou ver se existe alguma zona não segura ou para cortar a vedação, de forma que alguém pudesse infiltrar-se no território do Estado de Israel e matar-nos…”
Nesiel:
“Então, o seu castigo é a morte?”
Fogel: “O
seu castigo é a morte. No que me diz respeito então sim, se for possível atirar
às pernas para pará-lo – óptimo. Mas se isso não é possível, então quer-se ver
qual dos dois sangues é mais espesso, se o deles se o nosso. É claro para nós
que, se alguém assim consegue ultrapassar a vedação, ou esconder um engenho
explosivo …”
Nesiel:
“Mas ensinaram-nos que fogo real é apenas usado quando os soldados enfrentam
perigo imediato … Não nos faz bem a nós, todas essas imagens que são
distribuídas pelo mundo fora.”
Fogel: “Eu
sei como essas ordens são dadas. Eu sei como é que um sniper faz os disparos.
Eu sei quantas autorizações ele precisa antes de receber uma autorização de
abrir fogo. Não é a fantasia de um sniper ou outro que identifica o frágil
corpo de um rapaz num dado momento e decide disparar. Alguém marca o alvo muito
claramente para ele e diz-lhe exactamente por que razão tem que disparar e qual
a ameaça vinda desse indivíduo. E com muita pena minha, às vezes mata-se um
pequeno corpo, quando se pretendia alvejar um braço ou ombro e o tiro vai
acima. A imagem não é bonita. Mas, se é o preço que temos de pagar para preservar a
segurança e qualidade de vida dos residentes do Estado de Israel, então seja
esse o preço.
“Olha, Ron,
até somos muito bons nisso [em suprimir essas imagens] Não há nada a fazer,
David tem sempre melhor figura que Golias. E, neste caso, somos Golias, não
somos David. Isso é perfeitamente claro para mim… Isto vai arrastar-nos para
uma guerra. Eu não quero estar no lado dos que são arrastados, quero estar do
lado dos que iniciam as coisas. Eu não quero esperar pelo momento em que o
inimigo encontra um ponto fraco e me ataca aí. Se amanhã vem a uma base militar
ou kibutz e mata pessoas e toma reféns, chame-se o que se quiser, estamos num novo
cenário. Eu quero que os líderes do Hamas acordem amanhã de manhã e pela
última vez na sua vida vejam as faces sorridentes do IDF. É isso que eu quero
que ocorra. Mas nós somos arrastados. Por isso estamos a colocar snipers, porque queremos preservar os valores nos quais
fomos educados. Não podemos sempre tomar uma única foto e colocá-la
em frente do mundo inteiro. Temos soldados aí, nossos filhos, que foram
enviados lá e recebem instruções muito precisas sobre quem alvejar para nos
protegermos. Vamos dar-lhes apoio.”
Pode-se
razoavelmente sugerir que os comentários de Fogel reflectem o consenso entre
israelitas sobre como lidar com os árabes. E os Estados Unidos são plenamente
cúmplices com a matança. O embaixador dos EUA em Israel, David Friedman, tem
repetidas vezes elogiado o comedimento das forças armadas de Israel e censurou
os habitantes de Gaza pelo seu comportamento. Os Estados Unidos continuam a
subsidiar colonatos israelitas ilegais que incendeiam o conflito e estão acabando de colocar os últimos retoques no plano de paz aprovado pelos
israelitas, que fará agora e para sempre dos palestinianos um não-povo, sem
nação própria e sem quaisquer esperanças para o futuro. Entretanto, continuam a
ser alvos dos snipers israelitas. O mundo deveria estar horrorizado pela
arrogância de Israel e os EUA deveriam encolher a cabeça de vergonha, de cada vez
que um político americano conivente viesse com o estribilho “Israel tem o
direito de se defender.”
Philip M. Giraldi, Ph.D., é director executivo do «Council for
the National Interest», councilforthenationalinterest.org, sua
morada é: P.O. Box 2157, Purcellville VA 20134 e seu email: inform@cnionline.org.
Traduzido
por Manuel Banet Baptista para o Observatório da Guerra e Militarismo
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