Esta metáfora é usada, habitualmente, para designar uma situação de confronto em que existe uma disparidade manifesta nas forças em presença. Teve a sua razão de ser nos séculos passados e ainda se aplica hoje em dia em situações de "guerra assimétrica": Os Houthis contra as esquadras dos EUA e aliados; O Hamas contra o exército de Israel; inúmeras situações de guerrilha, no passado e no presente, quando umas escassas dezenas de guerrilheiros põem histéricos os poderosos exércitos e os governos .
Mas, infelizmente, a proporção das guerras assimétricas acima nomeadas não tem analogia com a sociedade de controle, onde os media gigantescos e o sistema escolar, dos quais ninguém escapa, são capazes de moldar a perceção do Mundo e das consciências de milhões de pessoas. Obviamente, elas não se apercebem, não têm consciência de serem manipuladas. Porém, alguém que desperta para a realidade tentacular destas autênticas prisões da consciência (como em «Matrix») vai quebrar «o encantamento», vai progressivamente aperceber-se que o que tem assimilado, desde criança e ao longo da sua vida, não é mais do que condicionamento massivo, originado pelos detentores do poder, em particular, pelos que o exercem através da media.
Com efeito, as agências de «inteligência» de diversos países, em particular os mais poderosos, vigiam cuidadosamente os media do seu país e de todos os outros. Estes instrumentos do Estado, discretamente, através de pessoas compradas por eles nos vários media, «sugerem» que se publique tal ou tal «informação», que pode muito bem ser desinformação; os chefes de redação e outros responsáveis por esses media, sabem perfeitamente do que se trata, quase nunca declinando satisfazer o pedido dos ditos serviços. Mas, além disso, os media mainstream, em qualquer país, vão examinar ao pormenor o curriculum de um/a candidato/a a jornalista, na sua instituição: Se o/ candidato/a se afasta da corrente dominante, é logo posto/a de lado, não importa qual o grau de qualificações, o talento, ou a experiência que exibe. A composição dos grandes media, que nós podemos comprar num quiosque ou obter por via digital, é sempre, invariavelmente selecionada pela enorme subserviência ao poder do dinheiro, em particular, que lhes paga a subsistência, através de anúncios, de doações, além de serem multimilionários, os proprietários ou acionistas principais desses media. Também, no dia-a-dia, os grandes media possuem laços privilegiados com determinadas personagens políticas, as quais lhes fornecem informações, que eles podem depois propagar como vindas de fontes anónimas. Há uma espécie de simbiose do jornalismo com políticos do poder e com os capitalistas.
Se a proverbial relação David contra Golias se aplica ainda no terreno da guerra assimétrica, creio que não se aplica já no caso da influência exercida sobre as massas de público pelos media corporativos (os Golias), em comparação com jornalistas não vinculados ao sistema (uma «molécula» do corpo de David).
Neste caso, por mais talentosos e corajosos que sejam (pois vão buscar a notícia onde as coisas se passam), dificilmente conseguem sobreviver economicamente, na generalidade dos casos, se eles efetivamente mantiverem a independência. Além do aspeto «alimentar», existe a questão do alcance das armas (os media alternativos para onde escrevem, ou filmam, etc.), da impossibilidade de alcançarem um público da mesma ordem de grandeza que o dos «mamutes dos media».
Por outras palavras: se a desproporção de meios e forças é demasiado grande, não existe já possibilidade efetiva de triunfo, sendo o combate demasiado «assimétrico». Estamos, globalmente, perante uma monstruosa e inédita ditadura, que nos escraviza os corpos e as mentes.
Caitlin Johnstone é uma jornalista australiana «ferozmente independente». Ela demonstra como, para além do controlo que os grandes partidos e seus «sponsors» possam ter sobre os mecanismos da votação, da escolha dos candidatos dentro dos partidos, ou da manipulação pelas doações chorudas que os capitalistas fazem com vista a favorecer determinados candidatos, para além de tudo isso, o fator decisivo é a média corporativa ao mando da oligarquia, que molda, ano após ano, decénio após decénio, a consciência do eleitor e a distorção da realidade que ele recebe como «informação», mas que é somente propaganda política disfarçada. Nestas circunstâncias, diz Johnstone, o eleitor vai votar de acordo com uma consciência alienada, não com a visão bem informada, objetiva da situação. Este fator, por si só, é mais potente que todas as outras corrupções juntas, mencionadas no início deste parágrafo.
Podemos dizer que nada disto é muito novo, apesar dos meios de difusão e receção da informação terem sofrido grandes transformações tecnológicas. Já Einstein, em 1949, alertava para a extrema gravidade do controlo dos media para os processos democráticos (ele tinha os EUA à frente dos olhos...).
No seu ensaio “Why Socialism?”, Einstein escreveu o seguinte para a National Review :
[citação de Caitlin Johnstone em: When The Powerful Control Public Opinion, Elections Aren't Real ]
“The result of these developments is an oligarchy of private capital the enormous power of which cannot be effectively checked even by a democratically organized political society. This is true since the members of legislative bodies are selected by political parties, largely financed or otherwise influenced by private capitalists who, for all practical purposes, separate the electorate from the legislature. The consequence is that the representatives of the people do not in fact sufficiently protect the interests of the underprivileged sections of the population. Moreover, under existing conditions, private capitalists inevitably control, directly or indirectly, the main sources of information (press, radio, education). It is thus extremely difficult, and indeed in most cases quite impossible, for the individual citizen to come to objective conclusions and to make intelligent use of his political rights."
Isto era verdade há 75 anos, quando Einstein o escreveu e permanece verdadeiro, hoje em dia.