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segunda-feira, 27 de novembro de 2023

INSTINTO DE CANÍDEO [OBRAS DE MANUEL BANET]




Eu aprecio os seres humanos. 
- Sim, eu que nem sou humano, apenas um canídeo dentro dum corpo humano. Ser canídeo é algo concreto; é seguir o instinto e confiar no bom-senso rude dos sentidos. Não me falem de «cínicos», pois estes filósofos apenas pretendiam ser cães. Eles atribuíam aos cães, características humanas. Se eu bem entendi «ser cínico» é tudo, menos ser cão. O cão é que dá lições de ética aos «cínicos» e aos outros filósofos.
O cão vive no imediato. Confia nos seus instintos e não tenta enganar os outros, da sua espécie, como fazem muitos humanos. Um cão está sempre atento ao dono, observa-o com a maior atenção. De facto, não possui uma filosofia e não precisa. A sua «filosofia», não é filosofia nenhuma: é seguir a Natureza.

O ser humano afastou-se da Natureza; todos os humanos que queiram reatar com Ela, refazer a ligação quebrada, custa-lhes um grande esforço. Podem não conseguir fazê-lo: Podem estar convencidos de que reataram esta união, mas estarem autoiludidos.
Os humanos, em geral, são olhados com medo e estranheza pelos animais não domesticados. Não acredito na bondade do género humano. Há pessoas concretas que são boas, genuinamente boas. Mas se o são, não é apropriado dizer-se delas, que sejam «humanas».
Já agora, direi o que penso sobre os humanos e a humanidade, essas infelizes criaturas que surgiram - quase por acidente - há uns trezentos mil anos: Vejo-os como animais bípedes, que se tomam por algo especial e se julgam donos da Terra. Estes infelizes, nos últimos tempos, só sabem colocar em risco o Planeta. Afinal, eles são símios degenerados, drogados, enfermiços da cabeça. Basta ver como eles se dedicam a 'serrar o ramo em cima do qual estão pousados'.

Os canídeos têm um código de conduta muito claro. E, ai daquele que não cumpra seu dever! Todos estão plenamente conscientes dos valores morais e éticos da sua espécie. 
Existem várias espécies sociais, não- domésticas, como os lobos, os coiotes, os chacais. Todas elas são exemplos notáveis de mamíferos sociais. Como, aliás, diversas espécies de símios, em particular, os antropoides: chimpanzés, gorilas, orangotangos, etc.
Quem estuda etologia, sabe que as espécies sociais - naturalmente - têm um código comportamental rigoroso, orientado para a sobrevivência e coesão social do grupo a que pertencem. 
Embora me tomem por um ser humano, tenho essa aparência, não tenho - porém- orgulho nisso. Realmente, as sociedades animais são muito mais aperfeiçoadas que as humanas, em qualquer época. 
Note-se que o bando, a manada ou a alcateia, são estruturados de tal maneira que, não só criam as condições de existência aos indivíduos, como maximizam as interações positivas entre eles, e com o ambiente.

terça-feira, 3 de agosto de 2021

HIPÓTESE SOBRE COEVOLUÇÃO HOMEM / CÃO

                             

                                Foto: alcateia de lobos ou matilha de cães?

Costuma-se dizer que o cão é o melhor amigo do homem; mas, não se está - no entanto - sempre consciente da profundidade da relação cão-homem. É que se trata propriamente de coevolução, de simbiose.
Como somos extremamente vaidosos da nossa «superioridade racional», não nos apercebemos como existem inúmeras instâncias em que o cão não apenas nos ajuda, como inclusive nos induz determinados comportamentos. Ou seja, a domesticação exercida pelos homens sobre os cães, não é unívoca. Existe um conjunto de comportamentos, de atitudes, de posturas, que os cães adotam - isto de forma instintiva e como tal, geneticamente transmitida - cuja finalidade ou o resultado efetivo é desencadear nos humanos um dado comportamento.
Por vezes, esse comportamento animal é tão sedutor, tão apropriado ao dono, que denota um profundo conhecimento do mesmo. Sabemos que o cão sabe ler as expressões faciais do dono, que ele observa sempre atentamente as expressões e os gestos deste.

                   
                                              Ossadas de cães com mais de 6000 anos

As diversas raças de cães existentes no mundo são muito modificadas, em relação às duas subespécies de lobos que se crê estiveram na origem de todos os cães atuais. Trata-se de 2 subespécies de lobos, agora extintas, uma da Ásia central e a outra da Europa Central e Norte.

A domesticação do lobo, transformando-o em cão doméstico, não foi - provavelmente - um processo muito longo. Primeiro, os lobos rondavam os acampamentos humanos. Depois, alguns humanos verificaram que os lobos podiam ajudar a manter à distância outros carnívoros, bem mais perigosos. Os lobos contentavam-se em comer os restos deixados pelos humanos. E assim, a pouco e pouco, os humanos foram domesticando os lobos, lançando-lhes os restos de comida. A adoção, pelo bando humano, de algum bébé lobo, cuja mãe loba tivesse morrido, terá proporcionado os primeiros passos para a domesticação propriamente dita.

Os lobos são animais gregários, organizados em sociedades altamente hierarquizadas. Portanto, não era difícil uma cria de lobo ser adotada, pois ela própria se assumiria como integrando o bando dos humanos, devendo obediência ao «macho alfa» e à «fêmea alfa» do mesmo. A partir deste ponto, iria tornar-se um auxiliar nas diversas atividades do grupo: Desde guarda do local onde o bando semi-nómada pernoitava, até um excelente ajudante para «levantar» a caça, ou para a perseguir e matar.
Lembremos que os humanos não caçavam isoladamente, mas em grupo. Neste grupo, os papéis estavam bastante estruturados. As presas eram perseguidas até atingirem um ponto de exaustão. Nesse momento, estariam muito cansadas e incapazes de se defenderem dos golpes dos caçadores. Em tal perseguição e no cerco final e morte, os cães desempenhavam um papel central. Sem eles, a caça não é impossível, mas será muito mais difícil e aleatória. A aumentada eficácia na caça foi um fator que permitiu, não apenas que o cão se tornasse um valioso auxiliar do homem, como também que a nutrição do bando fosse mais eficiente, sendo mais eficaz a obtenção dos recursos alimentares, em todas as estações.
Tem sido atribuída uma data em torno de 15 mil anos, para a origem da domesticação do cão. Esta época antecede os primórdios da revolução agrícola, do neolítico, em cerca de 3.000 anos. Porém, a presença muito mais antiga (cerca de 30 mil anos) de ossos fossilizados de cães, não de lobos, em conjunto com restos humanos fossilizados, vem mudar a perspetiva. Igualmente, a descoberta recente de uma cria de lobo congelada com cerca de 20 mil anos, na Sibéria, talvez não corresponda a um lobo selvagem, mas a um lobo domesticado.

Se nós pensarmos que o aparecimento do homem «moderno» no continente euro-asiático é contemporâneo deste período, poderemos estar perante um dos fatores realmente decisivos para a espécie H. sapiens se ter expandido tanto, deslocando as populações autóctones neandertais.
O seu uso sistemático do cão pode ter sido muito importante em termos de competição com os seus «primos» neandertais: Estes tinham adaptações anatómicas que lhes conferiam a robustez indispensável à sobrevivência no rude clima da era glaciar, há 60 mil anos.
A última glaciação durou até há cerca de 15 mil anos, pouco antes do início do neolítico. Quanto ao «homem de Cromagnon» ou homem moderno, H. sapiens, a sua migração para fora de África teria começado pelo Levante, há cerca de 60 mil anos. Mas, a sua distribuição - ao longo do Mediterrâneo e na Europa Central - terá demorado, dado que os indícios seguros da sua presença em vários pontos do centro e norte europeu, datam somente de 40 ou 30 mil anos.
Creio que homens vindos de África, estariam muito menos adaptados, inicialmente, para enfrentar os rigores do clima, que os neandertais. Porém, uma capacidade superior na caça, pode-lhes ter permitido sobreviver nas regiões mais frias, obtendo um suprimento de calorias suficiente.
Os neandertais, por muito exímios caçadores que fossem, não tinham amestrado o cão, estando portanto em desvantagem na obtenção de recursos de caça. Teria sido assim? Teria sido o cão um fator importante na competição dos dois grupos humanos (subespécies)?
Naturalmente, esta hipótese já foi emitida, mas as descobertas recentes poderão eventualmente dar-lhe maior consistência.
O que sei é que as teorias sobre a falta de inteligência, de habilidade, etc., dos neandertais, relativamente aos homens «modernos», estão completamente postas de lado. Quanto à constituição anatómica, como disse acima, se houve diferença significativa, ela deve ter favorecido os neandertais.
Nos vastos territórios europeus, essencialmente vazios de humanos, os pequenos grupos estavam dependentes da sua habilidade em obter a alimentação, condição primordial para conseguirem sobreviver. Isto seria ainda mais difícil na estação fria, sabendo-se que, na Europa Central, prevalecia então um clima semelhante aos climas das zonas setentrionais da Escandinávia, da Rússia e da Sibéria, de hoje.

Pode ter sido decisivo para a sobrevivência do homem «moderno», a sua acrescida eficácia na caça, e o sucesso na competição com a espécie autóctone, os neandertais, apesar desta estar bem adaptada em termos anatómicos e de comportamento aos ambientes da era glaciar, porém sem ter o auxílio precioso do cão doméstico.

terça-feira, 1 de setembro de 2020

CÃES CANTADORES DA NOVA GUINÉ ... UMA ESPÉCIE PRÓXIMA DA EXTINÇÃO

                  Scientists investigating sightings of possible New Guinea Singing Dogs on Papua New Guinea were able to retrieve DNA samples from trapped wild dogs in 2018.

                           Cães selvagens visitam uma mina de ouro, na Nova Guiné


Já tinha conhecimento dos cães cantadores? 

- Estes cães têm características muito próprias. Além de serem caracterizados pela voz ululante aguda, que foi designada por «canto» (ver aqui vídeo de cadela da Nova Guiné, num zoo), têm a capacidade de trepar às árvores, para caçar pequenos mamíferos e aves, como se fossem gatos.

Infelizmente, apenas restam cerca de 200 cães cantadores, em diversos zoos. A espécie podia considerar-se quase extinta, pois já não são assinalados exemplares, no estado selvagem, no seu habitat de origem.

Recentemente, na Nova Guiné, uma equipa de naturalistas conseguiu obter amostras de sangue de um grupo de cães selvagens, muito semelhantes aos cães cantadores. Estes cães selvagens vivem perto de uma mina de ouro, numa zona remota da ilha. A sua existência foi revelada pelo facto de frequentarem o local da mina.

Notaram coincidências muito grandes do seu genoma, com o dos cães cantadores cativos, apenas se notando divergência nalguns traços de ADN devidos a cruzamentos com cães domésticos de aldeias vizinhas. 

Esta descoberta permitirá - talvez-  obter a reintrodução dos cães cantadores no seu habitat natural, fortificando o seu património genético. Este poderá ser diversificado por cruzamento dos exemplares mantidos em diversos zoos, com exemplares deste grupo de cães selvagens, agora descoberto.