segunda-feira, 19 de setembro de 2016

APRESENTAÇÃO DOS «CADERNOS SELVAGENS» Nº3

SÁBADO 24 DE SETEMBRO PELAS 18.30. 

(HAVERÁ JANTAR VEGETARIANO A SEGUIR - PRECISA SE INSCREVER EM FABRICA.DE.ALTERNATIVAS@GMAIL.COM)



Apresentação dos Cadernos Selvagens nº3

Na sequência da apresentação do 1º Nº dos Cadernos Selvagens – A Grande Ilusão, de Manuel Banet Baptista, e do debate sobre o tema «Escola sem Muros», em que também participou o João Mendes, a Fábrica de Alternativas vai servir de palco para a apresentação do Nº 3 dos Cadernos Selvagens.

Nesta edição, há rubricas tão distintas como contos/crónicas, prosa poética ou reflexões, que, sem pretensiosismo, queremos partilhar convosco.

O Manuel Banet Baptista, a Naná Rebelo e o João Mendes, co-autores desta edição, lançam-vos este desafio de falar “à desgarrada” e podem sair conversas interessantes, em jeito de tertúlia. Pese embora o facto de que as tertúlias estão na moda, e nós por cá não gostamos muito de modas, faz sempre bem a partilha de ideias e dar vida ao ditado que diz «as conversas são como as cerejas».

Venham ouvir contos, venham trocar ideias, venham participar no fabrico de novas ideias.

Às 20 horas haverá jantar vegetariano. Reservas para o mail
fabrica.de.alternativas
até sexta-feira dia 23.







domingo, 18 de setembro de 2016

MANUELA CARMENA: "UM ERRO É TAMBÉM APRENDIZAGEM"


«Gosto muito de falar de que os sucessos nascem sempre de erros...Não existe nada que acerte logo à primeira no alvo; temos de nos habituar à ideia de que em política temos de trabalhar com o erro e o sucesso. No entanto, habituaram-nos a um discurso político que vê o erro como um fracasso. Não; um erro é uma aprendizagem, também na política.»

Manuela Carmena, presidente do Município de Madrid

A ENTREVISTA «VALE O SEU PESO DE OURO», APENAS RECOLHI ESTAS PALAVRAS OU «PEPITAS» DE SABEDORIA ACIMA PARA INCITAR O LEITOR A VÊ-LA E OUVI-LA NA ÍNTEGRA...

domingo, 11 de setembro de 2016

O IMBRÓGLIO APPLE - IRLANDA




Como é que a Apple acaba por ser taxada com uma astronómica soma devida por impostos atrasados e seus juros?

Simplesmente porque a Irlanda, desleal em relação a seus parceiros da EU, aceitou que a Apple fosse considerada como «não residente» para efeitos de impostos, mas mantendo-se como «residente» no que toca a recebimento dos lucros de todas as suas sucursais europeias. 
- Assim, a Apple, com a colaboração da Irlanda, teve de pagar  apenas 0.04%  (sim!) da exportação dos seus lucros, em vez de 12.5%! 

Mas, como de costume, a media corporativa, em vez de nos dar os factos, os duros factos, vem com manchetes sensacionalistas, para  nos vender essas pseudonotícias que apenas são a espuma dos dias, mas que têm como efeito pernicioso e desejado justamente… a ocultação dos FACTOS!

… Aprendi a realidade do enredo Apple-Irlanda ouvindo o excelente show do «Max Keiser report», na RT.


sexta-feira, 9 de setembro de 2016

ALEGRIA DE VIVER - piano e percussões com Yuja Wang e Martin Grubinger




Ritmo, verdadeiro ritmo, percussão criativa, fusão de músicas do mundo e tudo isso na perfeição! 


A POESIA ESTÁ NO OLHAR



Meu tio-avô, Édouard Honoré Gandon, pintou este quadrinho, talvez por volta dos anos 50, do século passado. Ele tem-me acompanhado, como que a lembrar-me, permanentemente, como são maravilhosas as coisas mais simples: 
- Repare-se nesta fruta, um tomate e uma maçã, um copo de vinho tinto e uma toalha branca parcialmente arredada... Tudo o que há de mais banal, porém, como não ficarmos maravilhados perante tanta arte? 
- É que ele nos diz - ontém, hoje e sempre - que as coisas mais simples são as mais belas... e que as coisas às quais não damos grande importância, as coisas familiares, banais, podem ser fonte de uma inesgotável soma de prazeres. 
- Afinal, o que diziam os epicuristas? Para Epicuro, pão, umas fatias de queijo de cabra e uns copos de vinho, eram a substância do melhor banquete. Nada mais do que isto como manjar do corpo.   Quanto ao espírito, a companhia de amigos com uma conversa animada e agradável, enquanto comemos... que mais queremos nós da vida? 


Não podia estar mais de acordo com Epicuro, tanto mais que a filosofia silenciosa dos quadros de Édouard Gandon me tinham preparado, desde pequeno, para o prazer das coisas mais simples, do nosso entorno mais banal. 
É pela educação do olhar que ocorre a interorização da noção de belo e portanto, da beleza que existe no nosso entorno imediato. 
A beleza está afinal NO OLHAR. Está DENTRO. Nós somos a beleza do mundo, porque - na verdade - é nosso olhar que lhe confere beleza. A beleza não reside nas coisas, nos objectos, mas antes na nossa visão. 
Haverá maior consolo? Se compreendemos isto profundamente, veremos como a nossa vida se vai transmutar, mas sem ruído, sem espalhafato. As coisas simplesmente estão, existem por si próprias. 
Tenhamos então a sabedoria de ser COMO AS COISAS QUE VEMOS.

Por volta de 1984, no volume  de poemas «Estórias de Estar e de Ser», refletia sobre uma FILOSOFIA POÉTICA DO OLHAR.
Abaixo, dois textos do referido volume:


COISAS

 Agora sei que nada me move.
... o que se me afigura passível de explicação:

             Primeiro, devemos dizer que de nada vale contemplar o voo das aves se a sua nomeação fizer com que esqueçamos este simples facto: os objectos, as coisas, são.
             Segundo, devemos considerar que o nosso olhar reflecte os contornos pela luz que recebe e quem diz luz, diz sombra.
             Terceiro, não precisamos de filosofar a evidência do nosso olhar porque sabemos que é subjectivo e – logo – fugaz.
             Quarto, de bem pouco nos custa cerrar os olhos do espírito ao que nos cerca, para que não restem dúvidas de que “só vemos o que queremos ver”.

Agora sei que as coisas se movem.

           ... O meu espírito está dentro da sua gruta e olha para o exterior:

 Se as ideias fossem anteriores às imagens, nunca saberíamos distinguir uma árvore, concreta, real, da ideia de árvore, abstracta, metafísica.

Se as imagens não fossem, por virtude do espírito, transponíveis em ideias, que cego poderia jamais aprender?

Se as coisas ficam quando me ausento de sua presença, então não posso dizer que não existem independentemente de mim próprio.


(Mas então... para que certeza caminho, se a dúvida se instala a par e passo do meu passeio através do mundo das coisas?)



  


ESTAR


Estar atento ao ouvido do vento.
Estar nas horas de se perder o tempo na memória do ser.
Estar por debaixo da pele ou estar em posição horizontal ... de qualquer forma, estar em si.
Entende mais o silêncio quem vence o medo de Estar.
Não colhe os frutos verdes quem está deitado sobre nuvens.
Quem colhe os frutos verdes em cima do soalho azul, pode vir em Novembro, Janeiro ou Abril ... mas estará sempre prestes a nascer.
Estar no berço de espuma, por cima do ruído, em troca de um poema.
Estar em configuração astral dos olhos pouco fixos.
Estar no entrecruzar do desejo, sem que suba da carne o relento sofredor.
Estar como maresia e como urze.
Estar em fiel dissonância com o resto do Capítulo Social.
Estar ouvindo as pancadas das artérias, ouvindo o fluxo do sopro, ouvindo o caminhar do cristal.
Estar no centro ou estar na periferia, em todo o lado por onde se caminha, estar centrado.
Estar para si, nos outros, estar nos outros para os outros.
Estar ausente, mas por amor do presente.
Estar na dádiva da flor ou do insecto.
Estar na estação de mover as mós do rio, de colher os frutos das árvores, de estancar a sede dos poços,
Estar a si mesmo
Estar a sua estanquidade
Estar o Ser.






  









quinta-feira, 8 de setembro de 2016

REFLEXÃO SOBRE UM QUARTO DE SÉCULO DE ALHEAMENTO E O FIM DA URSS


Faz, por estas alturas, 25 anos que ruiu o império soviético.

O seu ocaso estava já bem visível mais de uma década antes, quando visitei a Polónia pela primeira vez, em 79 e verifiquei a vivacidade do movimento clandestino Solidarnosc.
Testemunhei que se tratava de muito mais do que uma onda passageira devida à eleição do papa João Paulo II. 
Porém, quando regressei a Varsóvia no ano seguinte, em 80, fui surpreendido pela amplidão e profundidade da revolução pacífica, que começou com a greve nos estaleiros de Gdansk em 1980. Este acontecimento iria inaugurar uma era de mudanças.
Tal como a Primavera de Praga, de 68/69, esta abertura seria fechada brutalmente pelo golpe militar do interior do próprio regime, liderado pelo general Jaruzelski.
Porém, as circunstâncias eram outras, diferentes da Checoslováquia, que eu tinha visitado, onde a opressão do partido «comunista» era bem visível em 75, nas ruas engalanadas com enormes dísticos vermelhos e dourados em louvor da ditadura do proletariado, no medo dos cidadãos em falar com os turistas e da omnipresença da polícia, em uniforme ou à paisana, em todo o lado.  
O triunfo do Solidarnosc acabou por ocorrer, poucos anos depois do golpe autoritário de Jaruzelki. Era o evidente sinal do fim da hegemonia soviética sobre os países do Leste europeu.
A tragédia de Chernobyl foi o seu golpe de misericórdia: este acidente nuclear numa zona da Ucrânia que ficou completamente inabitável e contaminou vastas zonas da Europa do Norte e do Centro, não foi apenas uma tragédia humana e ecológica, mas também uma tragédia política para os dirigentes soviéticos. Com efeito, a impossibilidade de funcionamento do regime tornou-se patente, visto que na génese deste acidente houve uma série de incompetências «convenientemente» ocultadas.
O regime soviético estava exausto pela guerra do Afeganistão, o «Vietname» soviético. Estava a ficar para trás na corrida aos armamentos face a um bloco Ocidental mais dinâmico e capaz de maior investimento na investigação estratégica de ponta. Para cúmulo, observava impotente a erupção de revoltas nos seus vassalos dos países do Pacto de Varsóvia. Em breve, outros povos tomariam o exemplo da Polónia, como foi o caso da Roménia e, por fim, da Alemanha de Leste, com a queda do muro de Berlim, em 89.
Não creio que devamos chorar pela queda da nomenklatura da URSS e países satélites. Mas, nem por isso ficamos felizes pela ascensão ao poder de uma outra cleptocracia, a das privatizações e das suas máfias.
A grande mentira do «comunismo» ou «socialismo» tinha historicamente que acabar. Mas este engano monstruoso, esta deturpação vil de ideais, muito válidos em si mesmos, não podia ser explicado por quase toda a esquerda ocidental. Ela estava infelizmente habituada a «fechar os olhos» aos sinais inquietantes que vinham constantemente mostrar que o tal «socialismo real» embora muito «real» não tinha grande coisa de socialismo. A esquerda autoritária precisava de um modelo mítico para poder avançar com a sua propaganda. Eles contribuíram para enganar as pessoas simples, os operários e trabalhadores que eles diziam defender. Muitos, cinicamente, diziam que «as massas» precisavam de ver uma concretização dos tais ideais comunistas ou socialistas, naquilo que eles – quadros dos partidos comunistas do Ocidente - sabiam que nunca tinham sido regimes assim, realmente.
Os regimes que foram varridos do mapa político eram totalitarismos, fascismos vermelhos. Usavam uma linguagem socialista nos discursos, na propaganda, na ideologia; nos factos eram indistinguíveis dos regimes autoritários fascistas de que tínhamos sido reféns na Península Ibérica, até há bem pouco tempo.
A mentira de que existiu um qualquer socialismo ou comunismo nesses países do Leste Europeu e do espaço da ex-URSS continua, não apenas mantido por nostálgicos do bolchevismo, mas também pelos arautos do chamado neoliberalismo. A razão destes é simples de se compreender: querem um espantalho para prevenir as pessoas de terem simpatias por correntes socialistas ou comunistas verdadeiras.
Aqueles poucos intelectuais que fundamentam as suas visões em raízes socialistas libertárias praticamente nada influenciam o pensamento contemporâneo, pois este está tomado pela comunicação de massas, serventuária do grande capital, proprietário dos grandes jornais e cadeias de informação.
Paradoxalmente, a queda de um poderoso império veio afinal hipertrofiar as tendências autoritárias ou mesmo totalitárias da nossa época. Triunfaram as forças portadoras de «não-valores», da ausência total de valores. Refiro-me aos adeptos da «ideologia de mercado», um totalitarismo de novo figurino, embora muito antigo na sua essência.

Servem-nos «o mercado» a toda a hora mas, às vezes, polvilham o seu discurso com açúcar dos direitos humanos. Assim se contribui para a continuidade da exploração dos humanos e da Natureza.