Muitas pessoas aceitam a situação de massacres de populações indefesas em Gaza e noutras paragens, porque foram condicionadas durante muito tempo a verem certos povos como "inimigos". Porém, as pessoas de qualquer povo estão sobretudo preocupadas com os seus afazeres quotidianos e , salvo tenham sido também sujeitas a campanhas de ódio pelos seus governos, não nutrem antagonismo por outro povo. Na verdade, os inimigos são as elites governantes e as detentoras das maiores riquezas de qualquer país. São elas que instigam os sentimentos de ódio através da média que controlam.

segunda-feira, 6 de junho de 2016

[OBRAS DE MANUEL BANET] Canção: Um amor verdadeiro...


O mistério de dizer o indicível, moldar o etéreo, corporizar o transcendente... ambição de todos os verdadeiros amantes. 

Um amor verdadeiro não é - nunca!- ridículo!









                        Canção: «UM AMOR VERDADEIRO»* 



 
             Olhei para o mar, Amor
             e vi teus olhos
 
             Olhei para a areia, Amor
             e vi tua pele
 
             Senti o vento fresco, Amor
             e soube que eras tu
 
             Comigo passeias na praia
             comigo cantas baixinho  
 
             Contigo estou na onda, no vento
             na areia, no sol, nas aves, nas montanhas

             nos rios, nas fontes, na terra, nas árvores
             no sorriso e nas canções das crianças




*Amor, escrevi esta canção para ti, hà 22 anos! E não estou arrependido!

quinta-feira, 2 de junho de 2016

As Razões do Coração

De vez em quando, apetece-me regressar ao meu tempo de juventude. Estes foram alguns, dois entre muitos, dos trechos que moldaram o meu imaginário.

Pertenço à geração que participou na revolução do 25 de Abril, cheia de ilusões, entusiasta, por vezes incoerente, mas que acabou por transformar a realidade! 

Após tantas décadas, estas peças, musicalmente e poeticamente não envelheceram, mantêem a sua frescura. Porém, para apreciar plenamente estas canções, deve-se ter em conta o contexto da época (anos 1970) e as escolhas estéticas de um determinado número de criadores. 

Os cantores-autores desta geração foram beber ao folclore por um lado e à poesia contemporânea por outro, para afirmar a sua dissidência em relação ao regime caduco, que morreu às mãos dos militares do MFA.

Nós achávamos, por volta de 1970, que as formas «alienadas» que dominavam as rádios, televisão e espectáculos, deviam ser contrapostas por uma arte comprometida na transformação revolucionária.

Sem utopias, sem ilusões, não há  verdadeira transformação social. Isto é sempre válido, pois as pessoas precisam de mais do que meras razões «racionais» para se comprometerem numa militância, num ativismo.  São as razões do coração, as que verdadeiramente comandam o desejo e a vontade.


Zeca Afonso (Cantigas do Maio); Manuel Freire (Pedra Filosofal)






terça-feira, 31 de maio de 2016

O que é uma «ESCOLA SEM MUROS»? MEDITAÇÃO PEDAGÓGICA - PROVOCAÇÃO REFLEXIVA

NB: este texto serviu de base à minha intervenção no Debate na sequência da Conferência «sobre o Conceito de uma Escola Sem Muros», realizada a 28-05-2016 na «Fábrica de Alternativas», Algés 

      

O meu ponto de partida para esta ideia, foi o constatar que estamos (quase) todos concentrados numa ideia de «escola», vista como uma espécie de fábrica de «futuros trabalhadores e cidadãos», coisa que correspondeu à era Taylorista e Fordista do século XX. 
Porém, a escola como aparelho ideológico do Estado (sem dúvida permanece assim, mesmo em escolas privadas ou cooperativas) é uma realidade que esmaga o indivíduo, que o marca a ferrete como sendo «escolarizado» (ou não), detentor de «diplomas (ou não), ou seja como explorável, como «útil-utensílio» na forma última de alienação no trabalho e pelo trabalho.
A questão do trabalho-mercadoria ultrapassa então a questão laboral; não poderia ficar assim «limitada» ao que se passa no local de trabalho: Como Marx viu e muito bem, a alienação do trabalhador implica que esteja completamente destituído de poder, escravo à mercê de uma máquina impiedosa que fabrica «lucro» antes de produzir bens e serviços... Pois o fim último da produção desses bens e serviços é o lucro.
O homem é portanto reduzido a uma «variável ajustável» às conveniências da «empresa», do capital. O capital é que rege o nosso ser e devir de nós todos, produtores/consumidores que somos. Apenas teremos uma hipótese de nos emanciparmos: a de nos apossarmos de nosso ser, nossa inteligência, vontade, querer e «coração», para construir (ou reconstruir) um mundo onde o humano esteja no centro.
O mundo social é um mundo sempre construído por nós, mas o nosso «input» nele é variável. Podemos ter o input de «formigas» OU SEJA, DE AGENTES ANÓNIMOS intercambiáveis, exploráveis, recicláveis ou deitados fora, como lixo... ou- em alternativa - sermos PROTAGONISTAS da nossa própria vida, da nossa construção interior, da nossa educação, dos laços diversos que constituem a teia única de cada ser no seio da sociedade.
Podemos fazer isso, sem necessidade de grandes teatros e proclamações, de grandes manifestos e marchas, que -muitas vezes- apenas são encenações do capital, ou seja, formas dele nos ludibriar e nos convencer de que sim, estamos a fazer algo por vontade própria, que estamos a mexer com algo, que estamos a ser «agentes ativos» de mudança. Mas, na realidade, continuamos num estado alienado, desapoderado. Isto é: temos todos os sintomas de zombies sociais…
A condição primeira para a libertação, emancipação e autonomia, enquanto indivíduos, grupos, comunidades e sociedades em geral, é de uma tomada de consciência social.
Por oposição à consciência individual que está centrada no ego, a consciência social parte da existência dum «sofrimento social». Face a este sofrimento, a atitude ativa é a de descobrir, debater, analisar, procurar soluções dessa disfunção social.
O debate proposto, sobre o conceito de uma Escola Sem Muros, é um contributo para essa procura de soluções.






O MEU QUERIDO TON-TON ÉDOUARD



Tenho o grande privilégio de ter herdado muitos quadros deste meu tio pintor. A sua arte acompanhou-me sempre, em todas as etapas da minha vida, seja na casa de meus pais, seja na de minha avó Louise, seja mais tarde, quando tive casa própria. 







É com alguma mágoa, porém, que verifico que seu génio não tem grande público, hoje em dia! Não existe público para apreciar o realismo tranquilo, sereno, o domínio da técnica pictórica e a capacidade de transmitir a «vibração» do mundo. 
No entanto, as suas obras educaram o meu olhar. Se posso olhar esse mundo, directamente e usufruir do seu espectáculo como obra de arte natural, muito o devo ao meu Tio-avô. 


- Como poderia eu ser quem sou sem ti, Ton-Ton querido? Morreste quando eu tinha apenas oito anos. Porém, a tua influência em mim e teus ensinamentos ficaram para sempre. 


Olho para a arte, hoje em dia, com um sentido não construído pela frequência de cursos em faculdades ou academias. 

Porém, a fruição da arte, toda ela, e todos os estilos, é para mim coisa espontânea e natural; talvez porque internalizei a arte de um pintor, assimilei-a profundamente, puramente, por intuição. Compreendi a sua maneira de olhar o mundo, a natureza, e pessoas. 

Em 2009, já com a sua Filha Huguette muito doente, atrevi-me a fazer o catálogo da Obra do meu tio-avô. 

Eu sinto o dever (e tenho prazer) em preservar o património, não só familiar, mas de toda a gente, pois afinal a arte não se deveria deixar espartilhar por limitações de propriedade, pelo menos no que toca ao usufruto da mesma e do cultivar do gosto. 

Oxalá outras pessoas, que possuem em casa ou têm acesso a património artístico com valor, o publicitem como eu o fiz, em relação à obra de meu tio-avô. 

Pode-se  visitar uma «exposição virtual» no blogue IN MEMORIAM.

Acompanhei o lançamento do blog e do catálogo com um livrinho de divulgação, que mostrava uma pequena selecção de sua obra e fazia um esboço de biografia, como introdução.

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(Lisb. 1886 - Lisb. 1962)


Retratos 

LOUISE, Irmã do Pintor, quando jovem

Huguette, filha do pintor


Paisagens 

                   




Naturezas Mortas e Vasos Com Flores 



  

terça-feira, 24 de maio de 2016

CONTO: A ESTRELA DO MAR


Nasci aqui, aqui cresci.



A terra e o mar... tanto que ver, 
refletia, olhando o céu.



Cedo aprendi

que havia vida por todo o lado, 





                                                       até debaixo das rochas!




Um belo dia
saí de casa, fui ao mar alto



                                   Mas voltarei, outro dia.
                                   Outro dia darei à costa 


Estrela de luz
no céu 
das estrelas do mar...



PAISAGENS INTERIORES


«Paisagem interior», desenho a lápis sobre cartão, por Manuel Banet datado de 14-04-2016



   

sábado, 21 de maio de 2016

[NO PAÍS DOS SONHOS] Frottola «Vergene Bella», Bartolomeo Tromboncino





Versos a Afrodite, Deusa da Geração do Amor e da Vida

A cada passo meu, dentro deste jardim, se vai aproximando o coração da luz. Em ti encontrei o fruto escondido do amor sem pecado. Do amor que se estabelece entre dois seres de luz, fora do tempo e do espaço, porque estão no plano universal do amor de Deus.

As guerras que nos atormentavam, as de ferro e fogo, as de corações inflamados pelas paixões terrenas, não desapareceram, mas não nos causam já esse abalo que nos desvia de Ti.

No meu coração te transporto sem o dizer a ninguém, pois o que há de bom e precioso deve ser preservado do olhar cobiçoso.

O ouro que é meu, esse que é verdadeiro, não é o que se encontra nos cofres e nas baixelas. O ouro que está em mim, não reluz e nem se pode cambiar, tem só uma existência: a do espírito comparticipando no Todo.

Estou em comunhão contigo, Deusa, com a beleza imóvel e intensamente compassiva do teu olhar poisado sobre mim. Em teu coração eu me refugio, recebo tua proteção. Sou teu, dou-te a minha fidelidade e a verdade de meu ser.