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domingo, 9 de novembro de 2025

PARA QUE SERVE A «IA» (INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL)



 Como qualquer novidade tecnológica, estes sistemas de busca e processamento na Rede, através de algorítmos têm  sido muito publicitados, têm-lhes sido atribuídos poderes miraculosos, a capacidade infinita de processar dados,  «inteligência» muito acima da simples humanidade... Porém, realisticamente, tem servido, no quotidiano, para muitas coisas, por ex.: Os trabalhos de casa de alunos, fazer uma revisão extensa e completa sobre um tópico que nos interesse... 

Algo que me parece muito interessante é o decifrar de antigas formas de escrita, de cuja «chave» nos falta (ou falta aos cientistas). Com o auxílio de IA, pode-se decifrar essas linguagens escritas e - a partir deste ponto - ler textos inscritos na pedra, em tábuas de argila, ou noutro suporte. 

A interpretação, usando os algorítmos de IA, de qualquer coisa que saia fora da experiência corrente deverá - porém - ser vista com cuidado. Com efeito, a IA processa apenas informação que está estocada em qualquer ponto da Rede, acessível pela Internet. Se houver um número vasto de artigos científicos que interpretam um fenómeno, basicamente da mesma maneira, creio que um relatório de «IA» vai enfatizar estes pontos de vista maioritários, talvez mencionando pontos de vista divergentes, mas sem verdadeiramente fazer a avaliação crítica dos mesmos. Com efeito, a estatística não nos diz nada sobre a correcção ou incorrecção de uma dada hipótese, de uma dada teoria. 

Do universo da IA está ausente o aspecto criativo. Compreende-se, pois a aventura criativa é justamente aquela em que se fazem hipóteses mais ou menos «anormais», fora da «média estatística». A criatividade, seja ela em que domínio for, parece-me continuar a ser exclusividade humana. Tanto nas ciências, como na criação literária, as capacidades que se devem conjugar situam-se a vários níveis. Desde o nível do conhecimento de dados em bruto, até ao nível da discussão sobre teorias concorrentes, sabendo quais os argumentos avançados pelos defensores de uma, ou de outra teoria. Nestes casos, a mente humana tem de exercitar o seu espírito de análise, de síntese, de crítica, de intuição, etc... Todas estas componentes têm de estar integradas, não somente em termos teóricos, como em termos de vivido. 

As tarefas repetitivas, enfadonhas, poderão ser reservadas para a IA. Aqui, será importante para os utilizadores saberem como tirar partido da "ferramenta" em suas mãos. Com efeito, de acordo com a forma concreta como é formulada uma pergunta, assim a pesquisa e a resposta de IA, serão orientadas. Mas, penso que é algo que se pode dominar, após alguns meses de treino de utilização de IA. 

Esta utilização da IA, permitiria utilizar as funções nobres em exclusivo para o cérebro, as funções que sempre foram apanágio da mente humana: A criatividade, seja em domínios científicos ou artísticos; ou a interacção com o mundo observado: A prova de uma teoria, não está na correcção formal do sistema de equações usado, mas nas observações e experiências controladas, permitindo confrontar o(s) modelo(s) proposto(s), com a realidade. 

A crença das pessoas em «virtudes supranaturais» de máquinas ou artefactos («Deus ex Machina») vai continuar, durante algum tempo. Isso irá dar oportunidade aos que controlam este mundo, de transformar algo que tem potencial libertador e potenciador da produtividade humana, em algo opressor: Com efeito, se as descobertas e inovações fossem postas ao serviço da humanidade inteira, haveria um efeito direto positivo na vida das pessoas comuns. Por exemplo, a produtividade dos trabalhadores, tendo aumentado devido às transformações tecnológicas, poderiam receber melhor salário, trabalhando as mesmas horas que antes, ou até menos horas. Ficariam assim com mais tempo livre para se dedicarem à família, ao lazer, à educação e à cultura... Mas, isso seria um problema para a classe patronal. Esta não teria indivíduos submissos, temerosos, etc... Indivíduos incapazes de resistência face ao arbítrio. Neste mundo de classes antagónicas, onde a classe dominante dispõe da propriedade e uso monopolístico dos meios de produção, a prioridade do patronato vai ser de transformar em seu em favor qualquer inovação ou aplicação, para que esta aumente o seu poder e o controlo sobre as classes dominadas.

A automatação, a robotização, a utilização de IA, etc... seriam bem-vindas numa sociedade onde os recursos e a produção estivessem repartidos de maneira equitativa. Tais inovações têm um potencial libertador, mas, para ser efetivo, é preciso que a sociedade - no seu todo - se organize de forma não opressiva, que a hierarquia não seja de poder, mas somente de função, em que a decisão se distribua por aqueles/as a quem um determinado processo, trabalho, ou tarefa, dizem respeito. Pressupõe o controlo dos trabalhadores, e de todo o povo, sobre a utilização daquilo que é colectivo. Mesmo guardando a propriedade privada em grande parte dos meios de produção, esta não poderá ser um meio de exerceer poder sobre a sociedade em geral. Ela terá de estar a produzir segundo o interesse coletivo. A propriedade intelectual não poderá ser instrumento de controlo e extorção sobre os outros, terá de haver justiça em remunerar os inventores, mas não tolerar que se apropriem de «bens intelectuais» como forma de capital, reservando para si os «direitos» de propriedade.  

Não há nada que o espírito humano não possa inquirir; não existe nenhum problema que esteja para além do alcance dos humanos. 

O Universo, que tudo produz e destroí, dará continuidade à aventura da tecnologia humana, se esta não for dominada por sociopatas e psicopatas (os «vencedores» nesta sociedade). Estes, são pessoas sem nenhuma empatia, sem sentimentos de solidariedade, centradas em si próprias e no seu poder. 

Mas, cabe a todos nós, nos apropriarmos das ferramentas (físicas e conceptuais), que nos podem libertar. 


quarta-feira, 8 de dezembro de 2021

«Do Outro Lado do Espelho» de Lewis Carroll


Se todos podem ler sobre as motivações e o duplo sentido da canção escrita por Grace Slick , poucos irão até ao fim da toca do coelho, para aí encontrar o «outro lado do espelho». 
Porque, hoje em dia, estamos num mundo invertido parecido com o «Do Outro Lado do Espelho», que Lewis Carroll genialmente descreveu neste segundo romance, na continuação de «Alice no País das Maravilhas». 
Aquilo que me interessa mais nesta canção, não é a velada referência a «viagens» com alucinogénios, que marcaram os anos 60, em particular em San Francisco e na Califórnia, donde provêm os Jefferson Airplane. É outra coisa: Uma obra literária tem sempre significados múltiplos; estes evoluem consoante a época histórica. A característica típica das grandes obras da literatura, é serem sempre atuais. 
Nesta reflexão, interessa-me, sobretudo, o facto de se abrirem as portas à imaginação. 

Vou confessar-vos uma coisa: Não tive televisão em casa até os 14 anos. Antes desta idade, ia a casa de vizinhos ver televisão e deliciar-me com desenhos animados e séries de cowboys, que todas as ex-crianças da nossa geração (as crianças dos anos 50-60) conhecem. 
Mas, hoje, considero-me com sorte porque, antes dos 14 anos - em vez de ter ficado somente a ver televisão - estive, muitas vezes, lendo histórias infantis, ou para «pessoas crescidas», mas adaptadas às crianças. Lembro-me de edições adaptadas e ilustradas da Bíblia, ou da Ilíada e Odisseia. Estas edições tinham uma larga parte de texto; as ilustrações pontuavam apenas os episódios. Não se tratava de «livros aos quadradinhos» ou «comics». Assim, as crianças tinham mesmo que ler por elas próprias ou, em alternativa, ouvir a história lida por algum adulto. Tanto num caso como  noutro, tinham de exercitar a imaginação para reconstituir mentalmente o que era descrito por palavras. 
Não creio que este tipo de relação com os livros para crianças, ou adaptados às crianças, esteja presente, ou desempenhe um papel relevante, no universo das crianças de hoje, independentemente do seu meio cultural e sócio- económico.
A necessidade de deixar a imaginação livre criar (ou recriar) os mundos de fantasia representa um importante papel dessas histórias, dos contos, das fábulas. Tal papel verificou-se desde os primórdios da humanidade, contando lendas e mitos da tribo em torno da fogueira. Nas diversas culturas passadas, as histórias que se perpetuavam por transmissão oral mantinham os grupos coesos pela partilha não só de contos fantásticos, como das narrativas da origem e as histórias do clã, da tribo ou nação. Mais tarde, foram elas transcritas e a tradição continuou mas, pela leitura do suporte escrito. 
As bugigangas eletrónicas e internéticas são incapazes de substituir o livro de contos. A questão do suporte (o «medium») como ensinava Marshall MacLuhan, é de importância fundamental. O livro infantil, com imagens, mas onde a parte escrita obriga a uma reconstituição dos conteúdos na imaginação do leitor/auditor, não pode ser vertido noutro «medium», sem se perder algo.  
Não sei o que possa fazer as vezes de estímulo das imaginações infantis de hoje. Porque os filmes e os vídeos capazes de encantar e entusiasmar os mais novos, são, muitas vezes, obras de arte, maravilhas técnicas e estéticas, capazes também de entusiasmar os adultos. Muito bem; mas onde está o espaço para a imaginação, o esforço individual da criança para recriar dentro da sua cabeça as cenas que lhes descrevem? Onde está a comunicação entre os adultos e as crianças, fator não menos importante que o despertar da curiosidade intelectual e imaginação? Com certeza que as crianças de hoje tenderão a reproduzir, quando elas próprias forem os pais e mães, os comportamentos dos adultos que as criaram. Eu noto uma frequente frieza das crianças atuais, um fechamento ao mundo, encerradas em mundos imaginários, mas constituídos por jogos e vídeos de histórias animadas. Os adultos que lhes oferecem estes brinquedos, querem o melhor para elas, querem que elas se divirtam e aprendam. Mas, eu digo-vos que um bom livro de histórias com algumas ilustrações, lido com irmãos e irmãs, ou com amigos e colegas, diante da lareira, nas férias de Natal, ou depois da sesta no Verão, é realmente muito melhor: reforça o desenvolvimento emocional, as capacidades de raciocínio e, sobretudo, a criatividade e imaginação.  Evidentemente, não digo que estes jogos vídeo, ou vídeos de desenhos animados, devam ser proibidos ou restringidos. Isso, nunca resultaria senão em frustração e revolta! Mas, gostaria que os adultos tentassem entusiasmar sua descendência, através de leituras apropriadas, antes do adormecer. Nada mais agradável do que ter à cabeceira a Mãe ou o Pai a contar-lhe uma história, antes de adormecer.

 

terça-feira, 29 de janeiro de 2019

INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E CRIATIVIDADE

Neste vídeo abaixo, o autor da série «Science Étonnante» coloca a questão de saber se a IA (Inteligência Artificial) se pode aparentar à nossa capacidade cerebral, não no aspecto quantitativo, mas qualitativo:
Ou seja, hoje é evidente que as capacidades de cálculo e velocidades dos computadores excedem em muito o equivalente em termos humanos. 
Mas será assim também em relação à criatividade? Oiça a discussão da questão, em termos bem humorados e esclarecedores!