Pode parecer um pouco estranho que um grupo se denomine de «marxista» e não seja membro do PC Chinês ou das suas diversas organizações de juventude e estudantes, sobretudo num regime que erigiu como doutrina de Estado o marxismo-leninismo interpretado à maneira de Mao.
Mas é isso que acontece, com um grupo que tem dado que falar e tem incomodado as autoridades académicas e outras.
Este grupo defende lutas de trabalhadores e põe acima do sucesso nos estudos e da ascensão na carreira, a dedicação à causa do proletariado, como dificilmente conseguimos vislumbrar em qualquer faculdade do «Ocidente», nos dias que correm. Tem denunciado casos de assédio, de corrupção e incompetência, de abusos de poder e portanto, não podem ser «bem vistos» pela hierarquia.
Tive conhecimento de que este grupo sofreu repressão e - por isso - penso ser importante divulgar estas notícias. Com efeito, duas destacadas activistas foram «desaparecidas»(*) e ninguém - nem os colegas, nem a família - sabem do seu paradeiro.
É preciso não esquecer que a maior concentração de riqueza - colectivamente - são as famílias dos altos dignitários do regime. Muitos deles netos e bisnetos de líderes da época «heróica», são como uma espécie de aristocracia nascente, a qual controla sectores inteiros de indústria, tendo também fortunas no exterior da China, espalhadas por inúmeros activos - imobiliários e outros - como é do conhecimento geral.
Por isso, não será fácil propagar e fazer sua a causa da emancipação do proletariado, nas condições reais, materiais, do regime chinês. Há muitas contradições entre o poder que se estabeleceu e a generalidade do povo trabalhador. O resultado disso, a mais breve ou longo trecho, será uma revolução, quando se tornar impossível continuar uma expansão (capitalista) da economia chinesa, tal qual tem ocorrido nestes três últimos decénios.
Gostaria que as pessoas com ilusões sobre a China, enquanto sociedade socialista, como existem muitas em Portugal nas fileiras de partidos de esquerda e extrema-esquerda, se dessem ao trabalho de ver a realidade para lá dos slogans.
Temos - enquanto país - todas as vantagens em ter um bom relacionamento com a República Popular da China, disso não tenho dúvidas. Porém, também me parece evidente a necessidade de um olhar crítico sobre o que se passa nesse imenso país.
(*) Segundo as informações do artigo de «supchina» as militantes do grupo Yue e Gu continuavam desaparecidas à data da sua publicação, 15 de Novembro deste ano.