O que os bem informados não se apercebem, é que, em contraste com a «Guerra Fria Nº1», os poderes usam os avanços da tecnologia e da I.A. para fabricar uma falsa realidade, uma informação «cientificamente» manipulada. Isso, é uma situação inteiramente nova.
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sexta-feira, 5 de fevereiro de 2021

[Manlio Dinucci] A NATO ESTÁ MOLDANDO O NOSSO FUTURO



RETIRADO DE:

https://www.globalresearch.ca/towards-2030-nato-shaping-future/5736393?print=1

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A NATO está olhando para o futuro. Por este motivo, o Secretário-Geral Jens Stoltenberg convocou estudantes e jovens líderes dos países da Aliança por videoconferência em 4 de Fevereiro, propondo “novas ideias para a NATO 2030”. A sua iniciativa insere-se no crescente envolvimento com universidades e escolas, também com um concurso com o tema: “Quais serão as maiores ameaças à paz e segurança em 2030 e como se irá adaptar a OTAN para as enfrentar?”

Para levar a cabo o tema, os jovens já têm o seu livro: “NATO 2030 / Unidos para uma Nova Era”. O relatório foi apresentado por um grupo de dez especialistas nomeados pelo Secretário-Geral. Entre esses especialistas está Marta Dassù , que, depois de ser conselheira de política externa do ex-primeiro-ministro D'Alema durante a guerra da NATO na Jugoslávia, ocupou cargos importantes em governos sucessivos e foi nomeada pelo ex-primeiro-ministro Renzi para o conselho de administração da Finmeccanica ( agora Leonardo), a maior indústria de guerra italiana.

Qual é a “nova era” que o grupo de especialistas prevê? Depois de definir a NATO como “a aliança de maior sucesso da história”, que “pôs fim a duas guerras” (estas guerras contra a Jugoslávia e a Líbia foram desencadeadas pela NATO), o relatório pintou o quadro de um mundo caracterizado por «Estados autoritários que procuram expandir o seu poder e influência », colocando aos aliados da NATO« um desafio sistémico em todos os domínios da segurança e da economia ».

Invertendo os factos, o relatório afirmava que, enquanto a NATO estendia amigavelmente a sua mão à Rússia, a Rússia respondeu com “agressão na área euro-atlântica” e, na violação dos acordos “provocou o fim do Tratado sobre Forças Nucleares Intermédias“. A Rússia, apontaram os dez especialistas, é “a principal ameaça que a NATO enfrenta nesta década”.

Ao mesmo tempo - argumentaram - a NATO enfrenta crescentes “desafios de segurança colocados pela China”, cujas actividades económicas e tecnologias podem ter “um impacto na defesa colectiva e na preparação militar na área de responsabilidade do Comandante Supremo Aliado na Europa (O Comandante Supremo é sempre um general dos EUA nomeado pelo Presidente dos Estados Unidos).

Depois de dar o alarme sobre estas e outras “ameaças”, que viriam também do Sul do Mundo, o relatório dos dez peritos recomendava “cimentar a centralidade da ligação transatlântica”, ou seja, a ligação da Europa com os Estados Unidos na aliança sob o comando dos EUA.

Paralelamente, recomendou “o reforço do papel político da NATO”, sublinhando que “os Aliados devem fortalecer o Conselho do Atlântico Norte”, principal órgão político da Aliança que reúne a nível de Ministros da Defesa e dos Negócios Estrangeiros e dirigentes de Estado e Governo. Uma vez que o Conselho do Atlântico Norte toma as suas decisões, de acordo com as regras da NATO, não por maioria, mas sempre “por unanimidade e por acordo mútuo”, está basicamente de acordo com o que foi decidido em Washington, o fortalecimento do Conselho do Atlântico Norte significa mais enfraquecimento dos Parlamentos europeus, em particular do Parlamento italiano, já privado de verdadeiros poderes de decisão em matéria de política externa e militar.

Neste contexto, o relatório propõe o reforço das forças da NATO em particular no flanco oriental, dotando-as de “capacidades militares nucleares adequadas”, adequadas à situação criada com o fim do Tratado de Forças Nucleares Intermediárias (que foi dilacerado pelos NOS). Em outras palavras, os dez especialistas pediram aos Estados Unidos que acelerassem o tempo de implantação na Europa não apenas das novas bombas nucleares B61-12, mas também de novos mísseis nucleares de médio alcance semelhantes aos Euro -mísseis dos anos 1980.

Eles pediram especialmente para “continuar e revitalizar os acordos de compartilha nuclear”, que formalmente permitiam que países não nucleares, como a Itália, se preparassem para o uso de armas nucleares sob o comando dos EUA. Por fim, os dez especialistas lembraram que é fundamental que todos os aliados mantenham o compromisso, assumido em 2014, de aumentar o gasto militar para pelo menos 2% do PIB até 2024, o que significa que a Itália deve aumentar de 26 para 36 biliões de euros por ano. Este é o preço a pagar para desfrutar daquilo que o relatório chamou de “as vantagens de estar sob a égide da NATO”.

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Este artigo foi publicado originalmente em italiano no Il Manifesto.

Manlio Dinucci é Pesquisador Associado do Center for Research on Globalization.

quarta-feira, 15 de janeiro de 2020

[Manlio Dinucci] CHAMADA ÀS ARMAS, A NATO MOBILIZADA EM DUAS FRENTES

                                      

NATOME: Assim, o Presidente Trump, que se orgulha do seu talento para criar siglas, já baptizou o destacamento da NATO no Médio Oriente, por ele solicitado por telefone, ao Secretário Geral da Aliança, Stoltenberg. Este concordou imediatamente, que a NATO deveria ter “um papel cada vez maior no Médio Oriente, particularmente, nas missões de treino”. Ele participou, em seguida, na reunião dos Ministros dos Negócios Estrangeiros da UE, salientando que a União Europeia deve permanecer ao lado dos Estados Unidos e da NATO, porque “embora tenhamos feito progressos enormes, o Daesh pode regressar”. Os Estados Unidos procuram, deste modo, envolver os aliados europeus na situação caótica provocada pelo assassínio, autorizado pelo próprio Trump, do General iraniano Soleimani, logo que desembarcou no aeroporto de Bagdad. Depois do Parlamento iraquiano ter deliberado a expulsão de mais de 5.000 soldados americanos presentes no país, juntamente com milhares de pessoal militar de empresas privadas, contratados pelo Pentágono, o Primeiro Ministro Abdul-Mahdi, pediu ao Departamento do Estado para enviar uma delegação a fim de estabelecer o procedimento da retirada. Os EUA - respondeu o Departamento – irão enviar uma delegação “não para discutir a retirada de tropas, mas o dispositivo adequado de forças no Médio Oriente”, acrescentando que em Washington se está a ajustar “o reforço do papel da NATO no Iraque, alinhado com o desejo do Presidente de que os Aliados partilhem o fardo de todos os esforços para a nossa defesa colectiva”.


O plano é claro: substituir, totalmente ou em parte, as tropas USA no Iraque pelas dos aliados europeus, que se encontrariam nas situações mais arriscadas, como demonstra o facto de que a própria NATO, depois do assassínio de Soleimani, suspendeu as missões de treino no Iraque. Além da frente meridional, a NATO está a ser mobilizada na frente oriental. Para “defender a Europa da ameaça russa”, está a preparar-se o exercício Defender Europe 20 que, em Abril e Maio, terá o maior destacamento de forças USA na Europa, dos últimos 25 anos. Chegarão dos Estados Unidos 20.000 soldados, incluindo vários milhares de militares da Guarda Nacional dos 12 estados USA, que se juntarão aos 9.000 já presentes na Europa, elevando o total para cerca de 30.000 militares. A eles juntar-se-ão 7.000 soldados de 13 países europeus da NATO, entre os quais a Itália e 2 parceiros, a Geórgia e a Finlândia. Além dos armamentos que virão do outro lado do Atlântico, as tropas americanas empregarão 13.000 tanques, canhões auto-propulsores, veículos blindados e outros meios militares dos “depósitos pré-posicionados” dos USA na Europa. Comboios militares com veículos blindados percorrerão 4.000 km por 12 artérias, operando em conjunto com aviões, helicópteros, drones e unidades navais. Páraquedistas USA da 173ª Brigada e italianos da Brigada Folgore serão lançados em conjunto, na Letónia.


O exercício Defender Europe 20 assume maior relevo, na estratégia USA/NATO, após o agravamento da crise no Médio Oriente. O Pentágono que, no ano passado enviou 14.000 soldados para o Médio Oriente, está a desviar na mesma região, algumas forças que se estavam a preparar para os exercícios de guerra na Europa: 4.000 paraquedistas da 82ª Divisão Aerotransportada (incluindo algumas centenas de Vicenza) e 4.500 marinheiros e fuzileiros navais do navio de ataque anfíbio USS Bataan. Outras forças, antes ou depois do exercício na Europa, poderiam ser enviadas para o Médio Oriente. No entanto, o planeamento do Defender Europe 20, observa o Pentágono, permanece inalterado. Por outras palavras, 30.000 soldados dos EUA exercitar-se-ão a defender a Europa de uma agressão russa, um cenário que nunca poderia verificar-se porque no combate, usar-se-iam não tanques, mas mísseis nucleares. No entanto, é um cenário útil para semear tensões e alimentar a ideia do inimigo.


il manifesto, 9 de Janeiro 2020






DECLARAÇÃO DE FLORENÇA
Para uma frente internacional NATO EXIT, 
em todos os países europeus da NATO


Manlio DinucciGeógrafo e geopolitólogo. Livros mais recentes: Laboratorio di geografia, Zanichelli 2014 ; Diario di viaggio, Zanichelli 2017 ; L’arte della guerra / Annali della strategia Usa/Nato 1990-2016, Zambon 2016, Guerra Nucleare. Il Giorno Prima 2017; Diario di guerra Asterios Editores 2018; Premio internazionale per l'analisi geostrategica assegnato il 7 giugno 2019 dal Club dei giornalisti del Messico, A.C.

Tradutora: Maria Luísa de Vasconcellos 
Email: luisavasconcellos2012@gmail.com
Webpage: NO WAR NO NATO


terça-feira, 15 de outubro de 2019

MANLIO DINUCCI: A NATO POR TRÁS DO ATAQUE TURCO À SÍRIA

                                                     RETIRADO DE NO WAR NO NATO

                                     

                                                    



A Alemanha, a França, a Itália e outros países que, em trajes de membros da União Europeia, condenam a Turquia pelo ataque à Síria, são, juntamente com a Turquia, membros da NATO, a qual, quando já estava em curso o ataque, reiterou o seu apoio a Ancara. Fê-lo oficialmente, o Secretário Geral da NATO, Jens Stoltenberg, encontrando-se em 11 de Outubro na Turquia, com o Presidente Erdoğan e com o Ministro dos Negócios Estrangeiros, Çavuşoğlu.

“A Turquia está na primeira linha, nesta região muito volátil, nenhum outro Aliado sofreu mais ataques terroristas do que a Turquia, ninguém está mais exposto à violência e à turbulência proveniente do Médio Oriente”, disse Stoltenberg, reconhecendo que a Turquia tem preocupações “legítimas” com a sua própria segurança”. Depois de, diplomaticamente, tê-lo aconselhado a “agir com moderação”, Stoltenberg salientou que a Turquia é “um Aliado valoroso da NATO, importante para a nossa defesa colectiva”, e que a NATO está "fortemente empenhada em defender a sua segurança”. Para esse fim - especificou - a NATO aumentou a sua presença aérea e naval na Turquia e investiu mais de 5 biliões de dólares em bases e infraestruturas militares. Além do mais, colocou um comando importante (não mencionado por Stoltenberg): o LandCom, responsável pela coordenação de todas as forças terrestres da Aliança.
Stoltenberg evidênciou a importância dos “sistemas de defesa antimísseis” inseridos pela NATO para “proteger a fronteira sul da Turquia”, fornecidos em rotação pelos Aliados. A este respeito, o Ministro dos Negócios Estrangeiros, Çavuşoğlu agradeceu, em particular, à Itália. Desde Junho de 2016, a Itália instalou na província turca do sudeste, em Kahramanmaraş, o “sistema de defesa aérea” Samp-T, produzido em conjunto com a França. Uma unidade Samp-T compreende um veículo de comando e controlo e seis veículos lançadores, cada um armado com oito mísseis. Situados perto da Síria, eles podem abater qualquer avião no espaço aéreo sírio. Portanto, a sua função, é tudo menos defensiva. Em Julho passado, a Câmara e o Senado, com base na decisão das comissões estrangeiras conjuntas, deliberaram prolongar, até 31 de Dezembro, a presença da unidade de mísseis italiana na Turquia. Stoltenberg também informou que estão em curso negociações entre a Itália e a França, produtores conjuntos do sistema de mísseis Samp-T e a Turquia, que deseja comprá-lo. Neste ponto, com base no decreto anunciado pelo Ministro dos Negócios Estrangeiros, Di Maio, para bloquear a exportação de armas para a Turquia, a Itália deveria retirar imediatamente o sistema de mísseis Samp-T do território turco e comprometer-se a não vendê-lo à Turquia.
Continua, assim, o trágico teatro da política, enquanto na Síria o sangue continua a jorrar. Os que hoje ficam horrorizados com os novos massacres e pedem para bloquear a exportação de armas para a Turquia, são os mesmos que voltaram a cabeça quando o próprio New York Times publicou uma investigação detalhada sobre a rede da CIA, através da qual chegavam à Turquia, também da Croácia, rios de armas para a guerra camuflada na Síria (il manifesto, 27 de Março de 2013 e Réseau Voltaire). Depois de ter demolido a Federação Jugoslava e a Líbia, a NATO tentou a mesma operação na Síria. A força do choque era constituída por um exército agressivo de grupos islâmicos (até há pouco rotulados por Washington como terroristas) provenientes do Afeganistão, da Bósnia, da Chechénia, da Líbia e de outros países. Eles afluíam às províncias turcas de Adana e Hatai, na fronteira com a Síria, onde a CIA tinha aberto centros de formação militar. O comando das operações estava a bordo de navios da NATO, no porto de Alessandretta. Tudo isto é suprimido e a Turquia é apresentada pelo Secretário Geral da NATO como o Aliado “mais exposto à violência e à turbulência do Médio Oriente”.

il manifesto, 15 de Outubro de 2019