A gestão das principais divisas ocidentais, tem como característica fundamental, nos últimos
anos, estas serem constantemente diluídas pela compulsiva impressão monetária
(de forma quase exclusivamente digital) pelos bancos centrais.
Por outro lado, a compressão
dos juros, ou mesmo os juros negativos, vai atribuir ao custo do dinheiro uma
valoração anómala. Isto impede que se tenha em conta a preferência
temporal: com efeito, (por hipótese) o emprestador aceita emprestar uma dada soma
a juro X, sendo esse valor X o que pensa (e o mercado em geral, pensa) ser a
justa compensação por diferir (por um certo prazo) a utilização desse mesmo
dinheiro.
Se o juro é praticamente
nulo, ou mesmo negativo, os mercados ficam automaticamente incapazes
de efectuar uma justa e apropriada avaliação de quaisquer investimentos. A
preferência por opções especulativas é - em grande parte- resultante desta
situação.
É o caso das acções,
obrigações e derivados: trata-se sempre de um jogo de soma zero, ou seja, não
existe, globalmente, qualquer acréscimo líquido de riqueza: o acréscimo de
riqueza de uns, equivale - estritamente- a uma perda de riqueza de outros.
Os juros de referência dos
bancos centrais, são os que eles podem realmente controlar. Estes,
realmente, são apenas e somente os juros de curto prazo (o que inclui o «repo market»).
Poucas pessoas se apercebem de que o juro de obrigações soberanas de
longo prazo está, de facto, fora da capacidade de controlo dos bancos
centrais.
[Fig.
1: gráfico retirado do blog de Martin Armstrong; vê-se a descida do intervalo do juro
de 10 anos para 2 anos até atingir uma inversão em Setembro de 2019]
A preferência temporal
obriga, em boa lógica, a que o emprestador de dinheiro a um prazo mais longo,
queira um juro mais alto, do que a um prazo mais curto. Mas, quando a curva dos
rendimentos (yield curve) se inverte, isso significa que os investidores têm grande desconfiança nas capacidades reais de pagamento das
entidades emissoras de obrigações, no curto prazo.
Foi exactamente o que
se passou em Setembro de 2019. De cada vez que isso acontece, tem havido uma
crise nos meses seguintes.
[Fig.2: gráfico retirado de artigo
de Zero Hedge; mostra que o FED de Nova Iorque tinha quase cessado a
intervenção no mercado de curto prazo, no final de Dez. de 2019. Mas, em Jan. 2020 voltou a colocar importâncias elevadas no mercado. No mercado de ainda mais curto prazo, o «over-night», a inversão é mais acentuada.]
Segundo Jamie Dimon,
director do banco JP Morgan, «os bancos estão cheios de cash, só que têm muitas
dúvidas sobre onde aplicá-lo». Traduzindo: a crise do mercado «repo» revela a
enorme desconfiança dos bancos uns em relação aos outros, no que toca à sua
liquidez ou mesmo, à sua solvabilidade. É esta a razão pela qual
eles não querem financiar-se uns aos outros, no curto prazo, como era costume e
normal fazerem antes.
A entrada da FED neste
mercado é muito reveladora: trata-se duma manobra de emergência para evitar o
congelamento do mercado do empréstimo inter-bancário de curto prazo. A FED quis evitar o que sucedeu logo no início da
grande crise de 2008: o congelamento dos mercados de empréstimo
inter-bancário.
Está patente o resultado
desastroso da política monetária dos bancos centrais ocidentais, após uma
década de «quantitative easing» e de supressão dos juros.
Mas, se o mercado de
capitais inter-bancário não funciona de forma satisfatória, o que é que poderá
funcionar «correctamente»?
Note-se que, numa economia
mundial onde domina largamente o capital financeiro, os fluxos de capital
monetário são de importância crítica para o funcionamento global do
sistema.
Note-se também, que o
mercado obrigacionista tem um volume dez vezes maior que o mercado das
acções.
Além disso, o preço do
dinheiro é indicador universal, quer para os Estados, quer para as empresas
ou para os particulares.
É sempre indispensável ter em conta o valor dos juros, na avaliação dum qualquer investimento. Estrategicamente, um bom investimento no curto prazo pode ser um desastre no futuro, se não houver uma boa estimativa da evolução mais provável dos juros.
É sempre indispensável ter em conta o valor dos juros, na avaliação dum qualquer investimento. Estrategicamente, um bom investimento no curto prazo pode ser um desastre no futuro, se não houver uma boa estimativa da evolução mais provável dos juros.
A partir do grande colapso
de 2007-2009, os bancos centrais decidiram fazer «experimentação monetária» em
larga escala. Encontram-se agora na situação proverbial do aprendiz de
feiticeiro: não sabem como retornar ao funcionamento normal dos mercados.
A crise, realmente, está em
marcha, mas o grande público continua na ignorância.
É uma crise real de todo o
sistema: maior que os bancos centrais, que os Estados, que o FMI.
O desencadear da guerra
entre o Irão e os EUA irá permitir efetuar o famoso «reset», em
benefício dos grandes bancos e transnacionais, e com a ruína das pequenas e
médias empresas, atribuindo as culpas do «crash» à guerra com o Irão e não à
completa insolvabilidade do sistema.