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sexta-feira, 3 de março de 2023

HOJE QUERO-TE FALAR [OBRAS DE MANUEL BANET]

... ao som de «Deve ser Amor»*

 Hoje quero-te falar

Da nostalgia do tempo

Do tempo que não vivi

E que ressinto

Como se fosse este

O tempo certo


Para me espairecer

Nada poderá fazer 

Aquele que persegue

O tempo sem descanso


Eu prefiro ficar 

No doce remanso

Apreciando aquele

Charme indefinido

Que se desprende

De uma canção

De uma foto

Duma recordação


Pudera eu voltar

Ao tempo antigo

E que faria?

Seria como pássaro

Fora do céu, ou peixe

Fora de água?

Tomaria logo 

O jeito de falar e de ser

Nesse tempo doirado

Que não foi meu?


Há quem viva em sonho

Eu vivo em recordação

Tenho na arte

Mas a arte que me toca

O refúgio mais seguro

A barreira estanque

Contra a fealdade da vida


Outros terão as suas

E não lhes levo a mal

Mas eu gosto demais

Do passado, por opção


Não deixo de olhar

O presente, mas pouco

Só para ficar à tona

Só para não tropeçar

Só o passado que amo

Não se esfuma

Ele dá a batida

Certa do coração


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*Retirado do álbum Recorded in Rio de Janeiro Herbie Mann , João Gilberto, António Carlos Jobim






quarta-feira, 23 de setembro de 2020

[NO PAÍS DOS SONHOS] HERBIE MANN: BATTLE HYMN OF THE REPUBLIC


 Acordou nu, com a claridade difusa permeando os cortinados. Voltou-se e continuou a sonhar...

Algures numa planície, caminhava no meio de prados e de campos de trigo. O coração como que lhe saltava da caixa - de emoção - mas não sabia porquê.

A pouco e pouco, foi vendo a linha diáfana do horizonte e do dia a nascer. Parecia que tudo se ia tornar  claro. 

Porém, a claridade tão desejada não lhe trouxe senão os silvos das balas e o estrondo dos canhões. 

A mortífera guerra civil era o cenário no qual estava  marchando novamente, com os seus companheiros. Marchavam ao encontro dos do outro lado, que faziam exactamente como ele. 

Sentiriam eles o mesmo que ele? Certamente! 

Todos sabiam que este morticínio entre irmãos era a maior estupidez e acto criminoso, que se podia conceber. Mas, ele não tinha coragem para desertar. A probabilidade de ser apanhado era alta. Isso equivalia a morrer e da pior forma. 

Mas, depois de ter visto o que a guerra realmente era, a única vitória que almejava era a da Paz. Era essa, somente, a esperança de sobreviver, de regressar para junto dos seus, de participar na reconstrução da casa, longe dos campos de batalha, para onde o arrastaram. 


Acabou por acordar, rememorando o que sonhara antes: então, inventou nova versão do «Battle Hymn Of The Republic», com flauta e tantos outros instrumentos, mas sem letra:  um Novo Hino... um hino à Paz e ao que nos une, humanos de todas as raças e crenças.