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quinta-feira, 16 de maio de 2019

DE ESCÂNDALO EM ESCÂNDALO SE VAI ESTE PAÍS



A propósito do escândalo das dívidas de Joe Berardo à CGD /Caixa Geral de Depósitos) ao BES (Banco Espírito Santo) e ao BCP (Banco Comercial Português), verifico que os interesses do Estado - portanto dos contribuintes, portanto do povo - foram e continuam a ser postos entre parêntesis ou mesmo arredados.
Alguma vez as pessoas acreditam que é possível - sem uma protecção especial do poder político e uma influência sobre a máquina judiciária - ficar a dever cerca de um milhar de milhões a bancos sem que estes executem as garantias que existem  como contrapartida destes empréstimos? A trapaça de mudar os estatutos da Fundação Berardo à revelia dos credores é - com certeza - uma manobra hábil, mas não há tribunal que não saiba reconhecer a ilegitimidade da mesma. É uma manobra grosseira para por a salvo património, que pode ser revertida/anulada num processo judicial devidamente instruído!

Há uma data de pessoas que ficaram «de tanga» porque se endividaram para comprar acções, que depois se desvalorizaram muitíssimo. O Sr. Berardo não é excepção; as acções do BCP que ele comprou graças aos empréstimos da CGD desvalorizaram-se imenso... pois bem, este era um risco que qualquer investidor tinha que assumir. Porque não o sr. Berardo? 

Faz algum sentido que o devedor Joe Berardo se mantenha incólume perante a justiça, venha pavonear-se no parlamento e tenha a «lata» de afirmar, à saída, que ele não possui nada?
Quem possui participações de controlo em várias empresas, as quais têm património e actividade comercial, não pode afirmar que não tem nada... A participação em empresas é uma forma de propriedade!

Estranho e preocupante é o facto de não haver uma iniciativa, de abertura de um processo contra este homem, na medida em que as suas participações nas referidas empresas foram dadas como aval para os empréstimos. As empresas não precisam ser desmembradas, postas em hasta pública ou coisa deste género, para que as somas devidas sejam recuperadas, pelo menos em parte. 

Há, com toda a evidência, aqui, uma inibição suspeita da parte da máquina da justiça. Por que razão não foi lançado um processo? Por que razão não foram arrestados os bens desse senhor? Por que razão se consideram intocáveis os patrimónios das empresas de Joe Berardo, se afinal, foram elas as entidades que nominalmente fizeram os empréstimos?

De todo este assunto, a imagem que fica é de que o Estado - sobretudo, através do seu banco público, a CGD - tem sido lesado, tem sido utilizado para troca de favores entre amigos, tem sido usado continuadamente para controlo de lugares-chave da administração e do sector empresarial do Estado.

Não existe nenhuma equidade ou sentido de justiça, quando certas personagens têm «direito» a tratamento especial, «audições parlamentares». Na verdade, são criminosos comuns, pois fazer dívidas, comprar acções conferindo participação na administração dum banco (BCP), graças a esses empréstimos e depois não pagar as dívidas aos bancos, não é um «pequeno pormenor»... Se fosse eu ou o leitor, teríamos os bens arrestados e -eventualmente - iríamos parar à prisão, caso o montante total desses bens não atingisse a soma em dívida! 

Por que razão Joe Berardo tem um tratamento especial? Por que motivo tudo se fica pela aparência? Porquê somente um «inquérito» parlamentar, sem nenhum poder na esfera jurídica?
As respostas a todas estas estas perguntas e mais aquelas que os leitores possam fazer sobre este caso, implicam um conhecimento dos meandros do poder político, financeiro e judicial, em Portugal deste século XXI.

sábado, 9 de fevereiro de 2019

ESCÂNDALO CGD - OU COMO O ERÁRIO PÚBLICO É TOSQUIADO

A relevância de toda a informação que pode ler na notícia do «Observador» abaixo, sobre a Caixa Geral de Depósitos (CGD), não pode ser minimizada:

Não irei reproduzir partes da peça jornalística, aliás de grande qualidade, de autoria de Nuno Vinha e Ana Suspiro, mas irei tecer comentários sobre o significado disto tudo.

Peço ao leitor para ler - se ainda não fez - a notícia acima mencionada.

- Joe Berardo tomou uma posição de controlo do BCP, graças aos empréstimos da CGD. O banco BCP, criado por Jardim Gonçalves tem uma longa história de proteccionismo e favoritismo do Estado culminando com a intervenção «salvadora» do mesmo (Millenium-BCP) para bem dos accionistas e clientes do referido banco, mas para prejuízo dos contribuintes. 

- O esquema que transparece das operações desastrosas da CGD, onde não faltaram avisos para maior cuidado das próprias estruturas internas do banco público, é o de uma intervenção politicamente motivada, ou seja, os investimentos e os empréstimos tinham, como pano de fundo, a pressão das entidades governativas sectoriais, para favorecerem e verem ganhar determinado grupo ou entidade, os tais favores.

- As operações no estrangeiro, nomeadamente em Espanha, só se compreendem como parte de estratégia (de tentativa) de tomada de controlo (falhada) de parte do sector financeiro do país vizinho. Esta estratégia é - a todos os títulos - inapropriada para um banco público português e mostra a ambição de «grande grupo internacional» dos gestores da CGD, em «roda livre», face a um poder político pusilânime, que lhes deixa a rédea mais ou menos solta, desde que eles vão fazendo os favores aos industriais e homens de negócios, que interessam (e financiam) aos partidos do poder.

- Toda esta trama, além de revelar uma gestão desastrosa do erário público tem indícios seguros de actividade criminosa. 
Com efeito, os membros do governo, os membros de empresas públicas, entre elas, os gestores da CGD, não têm a latitude de agir como se de uma empresa privada se tratasse.
 Alguém que seja sócio maioritário de uma empresa privada, pode, dentro de certos limites, fazer uma aposta arrojada, da qual a sua empresa poderá sofrer prejuízos. 
Mas, no Estado e sector público, um comportamento assim não é admissível. 
Trata-se de bens públicos, património do Estado, de todos os portugueses, incluindo os que virão no futuro! 

- A análise deste caso permite levantar a ponta do véu sobre como é que - praticamente desde o início da «era democrática» - o Estado tem sido sucessivamente utilizado para os maiores «cambalachos» e apropriações indevidas de verbas públicas.

- Veja-se ainda o caso do Novo Banco: Hoje, depois de uma venda, com perdas, a um grupo americano, está já de mão estendida (!) exigindo um empréstimo de mil milhões!

- Quanto mais o Estado português sustenta a parasitagem dos bancos, mais eles se sentem à vontade para continuar a extorquir (pois, o que é um empréstimo que eles e o próprio governo sabem nunca será pago?). 

- O povo português tem sido espoliado por uma casta de capitalistas, que tem no bolso os políticos, a todos os níveis: é fácil, dão uns trocos a uns políticos em ascensão dentro de um partido do «arco do poder» e ... já está!

Se as pessoas realmente compreendessem todo o mal que lhes tem sido feito, poderia haver uma revolução - a sério - no dia de amanhã...